Pentateuco
Este nome grego significa “cinco rolos”,
ou livros, e inclui Génesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronómio. A autoria
do Pentateuco, tradicionalmente considerado como Lei de Moisés, foi atribuída a
este grande líder do povo hebreu tanto pelo judaísmo como pelo cristianismo
antigos. Hoje, sabe-se que nenhum destes livros se pode atribuir a um único
autor e menos ainda a Moisés, pois todos tiveram uma história literária
complexa, como veremos.
Para além desta referência a Moisés, os
livros do Pentateuco têm uma certa sequência temática, pois descrevem as
origens do povo de Israel até à sua definitiva instalação em Canaã.
Nomeadamente: a origem da humanidade e do próprio povo hebreu na época
patriarcal, a saída do Egipto e a longa travessia do deserto; é nesta última
fase que aparecem enquadradas as leis fundamentais para a vida religiosa e
social dos israelitas. Longas secções narrativas alternam com grandes conjuntos
de leis.
O modo de escrever daquele tempo,
misturando História, Direito e Liturgia, não coincide com o nosso modo de fazer
História; ao mostrarem a intervenção de Deus nessa História, os autores do
Pentateuco pretendem também apresentá-la como modelo da presença de Deus na
História de cada povo.
FORMAÇÃO DO PENTATEUCO
Segundo alguns estudiosos, o texto atual
deste conjunto resultaria de uma história literária anterior, a que chamam
“fontes” ou “documentos” conhecidos com o nome de Javista (J), Eloísta (E),
Sacerdotal (P) e Deuteronomista (D).
De qualquer modo, o Pentateuco não foi
escrito de uma só vez nem é obra de um único escritor. Foi escrito a partir de
tradições orais e escritas que se foram juntando progressivamente e formando
unidades maiores ao longo da história. A junção de todo o material só se deu na
época pós-exílica, altura em que se pode falar da redação final do Pentateuco.
Certamente que o período à volta do Exílio influenciou a leitura de todo esse
patrimônio histórico e religioso; mas, as tradições e outros materiais podem
ser bastante antigos e manter, na sua forma final, os traços dessa antiguidade.
Provavelmente, o processo de formação dos
cinco primeiros livros da Bíblia desenvolveu-se, nas suas linhas gerais, em
vários períodos.
No início estaria um núcleo narrativo
histórico bastante restrito, da época de Salomão. Este núcleo é depois retomado
e ampliado por volta dos finais do séc. VIII a.C., recolhendo tradições e
fragmentos do reino do Norte e relendo tradições antigas numa nova perspectiva.
No séc. VIII aparece o Deuteronômio
primitivo, descoberto no tempo de Josias (622 a.C.) e incluindo essencialmente
leis e um pequeno prólogo. É depois ampliado para dar o texto atual de Dt 1-28.
As questões levantadas pelo Exílio fazem
aparecer a grande obra histórica «deuteronomista» que se vai elaborando ao
longo de várias fases, integrando, de algum modo, todos os materiais já
recolhidos anteriormente. Esta grandiosa reconstrução provoca uma série de
retoques «deuteronomistas», ao longo de todo o texto do Pentateuco, que já
estaria redigido.
No exílio da Babilônia aparece o «escrito
sacerdotal primitivo», obra dos sacerdotes exilados.
Depois do regresso do Exílio, no séc. V,
este escrito é combinado com os precedentes, retocado e aumentado nalguns
aspectos e vai ocupar um lugar dominante no conjunto da narração. A esta redação
final se deve o termo de toda a trama narrativa na morte de Moisés e,
logicamente, a delimitação do Pentateuco, separando o Deuteronômio do resto da
história deuteronomista. Este trabalho deve ter sido concluído por volta do ano
400 a.C..
O PENTATEUCO E A HISTÓRIA DE ISRAEL
O Pentateuco recebeu inegáveis
influências de todos estes documentos ou tradições e de muitos outros fatores
ligados à História e à religião de Israel. Mas, o que os autores do Pentateuco
pretendem manifestar nesta História Sagrada não é tanto o povo com as suas
virtualidades e peripécias históricas, mas o domínio absoluto de Deus sobre
todas as coisas e sobre todas as instituições humanas, incluindo a realeza, que
no Médio Oriente era considerada de origem divina. O poder vem de Deus e da sua
Palavra, transmitida pelos seus intermediários.
Esta “Lei” não é um simples conjunto de
leis humanas; é um “ensinamento” para viver segundo a vontade de Deus, um
chamamento à perfeição e à santidade: «Porque Eu sou o Senhor que vos fez sair
do Egipto, para ser o vosso Deus. Sede santos, porque Eu sou santo.» (Lv 11,45)
O Pentateuco é a Carta magna do judaísmo
pós-exílico. Após esta difícil mas frutífera experiência, o Estado judaico,
antes apoiado nas estruturas da monarquia davídica, passa a reger-se unicamente
pela “Lei” de Deus e deixa-se orientar pelos que detêm o monopólio do culto, os
sacerdotes. Uma comunidade monárquica transforma-se numa comunidade cultual em
honra do Deus da Aliança. São os sacerdotes que editam e reeditam a Lei.
Sendo uma História Sagrada em que se
manifesta a presença do Deus da Aliança na vida do seu povo, o Pentateuco desenvolve-se
a partir de três fatores principais: a epopéia do Êxodo, a Lei do Sinai e a fé
num Deus único. Por isso, mais tarde, e diferentemente de outros povos, Israel
não necessitou da monarquia para sobreviver.
LEITURA CRISTÃ DO PENTATEUCO
O Pentateuco é uma história nunca
terminada, mas sempre aberta às infinitas possibilidades do Senhor da História.
Podemos, pois, dizer que o resto do Antigo Testamento é, de algum modo, uma
releitura contínua do Pentateuco à luz de novos acontecimentos da História de
Israel e do mundo que o rodeia.
Mas o Pentateuco também aponta para um
novo Êxodo, para uma outra Terra Prometida, para uma outra presença de Deus
Jesus Cristo. Ele é a nova Lei, a nova manifestação de um Deus que nunca cessa
de renovar a Aliança com o seu povo. Cristo e os primeiros discípulos leram o
Pentateuco como uma história aberta que se completa na vinda do Messias. A
partir daí, a relação do homem com Deus já não passa pela observância material
da Lei, mas pelo seguimento de Cristo. Porém, aquilo que se põe de lado não é o
Pentateuco, mas apenas a interpretação fechada que dele fez o judaísmo
rabínico.
Assim, o Pentateuco não só não impede,
mas ajuda a compreensão de Cristo e do seu Evangelho: ao lê-lo, pensamos no
Evangelho, e quando lemos o Evangelho, encontramos as suas raízes no
Pentateuco; não se pode ler os mandamentos da Lei, sem os comparar com os
mandamentos da Nova Lei as Bem-aventuranças. Os cristãos reconhecem em Cristo a
Palavra de Deus encarnada, e no Evangelho, a Nova Lei; Lei que não vem abolir a
antiga, mas dar-lhe toda a perfeição (Mt 5,17-18). Cristo, de que Moisés era
apenas uma figura, veio fundar um novo povo, uma nova comunidade, liberta na
Páscoa da sua Paixão-Ressurreição. Numa palavra, Cristo é, para os seus
discípulos, a nova Lei, a nova Páscoa, o novo Templo de Deus entre os homens
(Jo 2,21; Ap 21,3.22), a nova Aliança, não apenas com um povo, mas com toda a
Humanidade.
Pentateuco
Livro do Gênesis
Livro do Êxodo
Livro do Levítico
Livro dos Números
Livro do Deuteronômio
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