segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Deuteronômio


 
Deuteronômio

Deuteronômio (português brasileiro) ou Deuteronômio (português europeu) é o quinto livro da Bíblia, vem depois do Livro dos Números e antes do Livro de Josué. Faz parte do Pentateuco, os cinco primeiros livros bíblicos, cuja autoria é, tradicionalmente, atribuída a Moisés. É um dos livros do Antigo Testamento da Bíblia e possui 34 capítulos.

Contém os discursos de Moisés ao povo, no deserto, durante seu êxodo do Egito à Terra Prometida por Deus. O nome é de origem grega e quer dizer segunda lei ou repetição da lei (Dt 17,18).

Os discursos contidos nesse livro, em geral, reforçam a ideia de que servir a Deus não é apenas seguir sua lei. Moisés enfatiza a obediência em consequência do amor: "Amarás a Javé teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e com todo o teu entendimento". Também é enfatizado o "caminho da bênção e da maldição", no qual Deus previne o povo a seguir seus mandamentos, pelos quais o povo ou seria abençoado, ou receberia maldições (porém, caso se arrependesse e voltasse a seguir de coração a Deus, Ele se arrependeria e perdoaria o povo, ou então exigiria um sacrifício de sangue, em geral a morte de quem "pecou" contra Ele ou Israel, e em seguida, após tal sacrifício, o restante do povo seria perdoado. Conforme várias passagens da "ira de Deus" contra os "rebeldes" demonstradas no Levítico, Êxodo e Números).

Nome hebraico

O nome hebraico deste quinto livro do Pentateuco é Deva•rím (Coisas), tirado da frase inicial do texto hebraico. O nome "Deuteronômio" deriva do título grego na Septuaginta, Deu•te•ro•nó•mi•on, que significa literalmente "segunda lei", "repetição da lei". Vem da tradução grega duma frase hebraica no Deuteronômio 17:18, mish•néh hat•toh•ráh, corretamente traduzida por "cópia da lei".

Autenticidade

A autenticidade do Deuteronômio como livro do cânon da Bíblia e de Moisés ser o escritor dele acha-se bem alicerçada no fato de que Deuteronômio sempre foi reputado pelos judeus como parte da Lei de Moisés. A evidência da autenticidade do Deuteronômio, em geral, é a mesma que a dos outros quatro livros do Pentateuco.

No Novo Testamento cristão, Jesus é a principal autoridade que atesta a autenticidade de Deuteronômio, citando-o três vezes ao repelir as tentações de Satanás, o diabo. (Mateus 4:1-11; Deuteronômio 6:13-16, Deuteronômio 8:3). Também, Jesus respondeu à pergunta quanto a qual era o maior e o primeiro mandamento citando Deuteronômio 6:5 em Marcos 12:30.

E Paulo cita Deuteronômio 30:12-14 e Deuteronômio 32:35-36 em Romanos 10:6-8 e Hebreus 10:30.

Entretanto, segundo a Edição Pastoral da Bíblia, trata-se de uma reapresentação e adaptação da Lei em vista da vida de Israel na Terra Prometida, portanto, este livro nasceu muito tempo depois da situação histórica que relata (discurso de Moisés antes da entrada na Terra), e passou por um longo período de formação.

O tempo do Deuteronômio

O tempo abrangido pelo livro de Deuteronômio é um pouco superior a dois meses, no ano de 1473 a.C. Foi escrito nas planícies de Moabe, e consistem em quatro discursos, um cântico e uma bênção, da parte de Moisés, enquanto Israel acampava nas fronteiras de Canaã, antes de entrar nessa terra. (Deuteronômio 1:3; Josué 1:11, 4:19)

Objetivo
 
O objetivo central é a promoção da fidelidade à aliança com Deus, também traz outra versão dos 10 mandamentos (5,1-22) e mostra que o comportamento fundamental do homem para com Deus é o amor com todo o ser (6,4-9).


Um pouco mais sobre o Deuteronômio...

Das cinco narrativas históricas que integram o Pentateuco, o DEUTERONÔMIO constitui a unidade literária mais heterogénea e diferenciada. Com razão, os exegetas falam de uma nova tradição ou fonte documental, que se distingue das outras fontes do Pentateuco por motivos de estilo e de teologia e se prolonga até ao fim do 2.° Livro dos Reis, formando a “Fonte ou História Deuteronomista”.

NOME

“Deuteronômio” quer dizer “segunda Lei”. Foi o nome dado a este livro nas traduções grega e latina, porque se apresenta como a reedição ou síntese dos textos legislativos anteriores, enquadrada por um estilo diferente. Na tradição hebraica, chama-se apenas “Debarim” (Palavras), pelo modo como o texto começa: «Estas são as Palavras». Mas a designação greco-latina sintetiza bem o conteúdo deste livro, o qual, mais do que um final do Pentateuco, parece representar sobretudo o começo de uma nova maneira de escrever a História do Povo Eleito.

TEXTO E CONTEXTO

O texto deste livro teve uma história complicada. A sua origem é geralmente colocada no Reino do Norte, antes da conquista da Samaria, em 722, aquando da invasão dos assírios. Na bagagem dos levitas do Norte terá vindo uma primeira redacção do DEUTERONÓMIO, que teria como esquema base uma celebração litúrgica da Aliança (ver a aliança de Siquém: Js 24). Curiosamente, um século mais tarde, foi encontrado no templo de Jerusalém o «Livro da Lei do Senhor» ou «Livro da Aliança» (2 Rs 22,8.11; 23,2.21). O rei Josias começou imediatamente a pôr esta Lei em prática, fazendo uma reforma do culto (2 Rs 23,3-20). A relação entre esta reforma e o DEUTERONÓMIO encontra-se na insistência da centralização do culto em Jerusalém e na destruição dos cultos idolátricos.

Mas a Lei encontrada no templo poderá ter sido uma redacção posterior ao “esquema da aliança” que veio do Norte, onde a temática da Palavra, do profeta, da Aliança e do Sinai-Horeb se sobrepunham à temática do culto e do sacerdócio, que prevaleciam – como era natural – em Jerusalém. No Sul, deve ter sido feita uma primeira redacção elaborada depois da falhada reforma de Ezequias, ou seja, a meados do séc. VII a.C.. A última redacção deve ter acontecido aquando da redacção final do Pentateuco: séc. V-IV a.C.. Tudo isto denota um contexto posterior e uma finalidade catequética.

É no contexto destas diferentes etapas da redacção do DEUTERONÓMIO que deve entender-se o constante vaivém do tu e do vós no discurso de Moisés, quando se dirige ao povo de Israel (ver 6,1-3). Apesar desse tu e vós parecer por vezes ilógico, na nossa tradução preferimos respeitar o estilo do texto original hebraico.

DIVISÃO

Em três grandes discursos atribuídos a Moisés. Com estilo directo, num tom exortativo e profético, usando temas e frases estereotipadas e repetitivas, o redactor final sintetiza o programa ou projecto que torna possível fazer de Israel uma nova sociedade, segundo os ideais dos tempos puros da caminhada pelo deserto, num “hoje” de eterno presente. Assim, temos:

I. Primeiro Discurso (1,6-4,43): de forma historicizante, recapitula o passado, desde a planície desértica da Arabá até à entrada na Terra Prometida de Canaã. II. Segundo Discurso (4,44-28,68): Moisés apresenta os fundamentos da Aliança e as determinações da Lei. Código Deuteronómico: 11,29-26,15. III. Terceiro Discurso (28,69-30,20): últimas instruções de Moisés. IV. Apêndice (31,1-34,12): narra os últimos dias de Moisés, com cânticos e bênçãos, bem como a sua morte.

Os exegetas apresentam ainda uma outra divisão, atendendo à estrutura da Aliança que percorre o DEUTERONÓMIO do princípio ao fim:

Introdução: 1,1-5 1. Recordação do passado e exortação a servir o Senhor: 1,6-11,28 2. Proclamação da Lei da Aliança: 11,29-26,15 3. Compromisso mútuo entre Deus e Israel: 26,16-19 4. Bênçãos e maldições: 27,1-30,18 5. Testemunhas da Aliança: 30,19-20.

Este esquema vem confirmar que estamos perante o livro da Aliança por excelência.

TEOLOGIA

O DEUTERONÓMIO é, sem dúvida, um livro de grande riqueza doutrinal, sempre preocupado em inculcar a fidelidade de Israel a Deus, que é chamado Pai (1,31), e a estabelecer entre os membros do povo escolhido uma verdadeira fraternidade.

Defende a centralização do culto, dentro do princípio da aliança, que os profetas evidenciaram. Mesmo insistindo na observância das leis, não deixa de salientar a responsabilidade da consciência individual e o compromisso pessoal, que a fé no Deus único exige.

Apesar da visão profundamente religiosa e das preocupações teológicas mais voltadas para os problemas institucionais e nacionais, não deixa de reclamar o amor fraterno e a justiça social, apresentando leis verdadeiramente humanitárias.

Pela sua intenção de recapitular a Lei e repropor o conceito de aliança, e pela influência que teve na reflexão sobre a História de Israel, o livro do DEUTERONÓMIO ocupa um lugar central dentro da Bíblia. E é, por conseguinte, de primeira importância para qualquer tentativa de sistematização de uma teologia bíblica.


 

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