Livro dos Números
Números (no latim da Vulgata: Numeri, do
grego bíblico Αριθμοί, Arithmoí; em hebraico: במדבר,
Bəmidbar, "no deserto [de]") é o quarto livro da Bíblia, vem depois
do livro de Levítico e antes de Deuteronômio. Faz parte do Pentateuco
(conhecida pelos judeus como Torá), os cinco primeiros livros bíblicos, cuja
autoria é, tradicionalmente, atribuída ao patriarca Moisés. Um dos livros do
Antigo Testamento da Bíblia, possui 36 capítulos e recebe esse nome por causa
dos censos relatados. A época da escrita, segundo a crença religiosa, seria por
volta de 1470 a.C.. Acadêmicos, no entanto, datam a escrita do livro bem mais
recentemente. À luz da hipótese documental, que aborda a Torá como o compilado
de diversas narrativas paralelas e não-correlatas, Julius Wellhausen concluiu
que os números tem origem predominante na fonte sacerdotal e que foi escrito
durante o sexto século d.C. com material adicional (incluindo a história de
Balaam) do documento eloísta datado de 850 d.C. e javista de 950 d.C.
Acadêmicos posteriores, seguindo os pressupostos de Wellhausen, tendem a ver o
íntegro texto do Pentateuco como feito da sedimentação de numerosos textos
acrescentados ao longo do tempo de difícil datação. Eles concordam, no entanto,
que o Pentateuco não recebeu sua redação final antes do século quinto d.C.
Outros estudos modernos, no entanto, são cautelosos com a hipótese documental.
Acadêmicos mais liberais afirmam que o livro possui muitos autores e é o
produto dos períodos de exílio e do período persa (sexto e quinto século d.C.).
Acadêmicos mais conservadores, em contraste, tendem a aceitar a hipótese de que
o livro foi escrito por um único autor, não necessariamente Moisés, e que foi
escrito não muito tempo depois dos tempos de Moisés. Eles concordam que o livro
foi sujeito a alterações posteriores.
Origem
do nome
O quarto livro do Pentateuco deriva seu
nome dos dois censos de Israel mencionados no livro. Narra eventos que
ocorreram na região do monte Sinai, durante as peregrinações dos israelitas no
ermo e Moabe. Este nome Números foi usado pela primeira vez na tradução grega
da versão LXX, sendo bastante adequado, pois todo o livro esta repleto de
números.
Mais de uma vez explica que Moisés se
dedicou a registrar cada lugar onde os hebreus acampavam, todos os oásis e cada
acampamento, e as palavras concludentes do livro também indicam ser ele o
escritor do relato. — 36:13. Estas alusões explicam perfeitamente como estas
antiquíssimas descrições puderam chegar a nós, intactas.
Conteúdo
A narrativa abrange um período de 38
anos, entre 1512 a 1473 a.C. (Números 1:1; Deuteronômio 1:3, 4) Estas
descrições incluem os acampamentos das tribos (1:52, 53), a ordem de marcha
(2:9, 16, 17, 24, 31) e os sinais de trombeta para a assembleia e o acampamento
(10:2-6). A lei sobre a quarentena. (5:2-4) Diversas outras ordens são dadas: o
uso de trombetas (10:9), a separação das cidades para os levitas (35:2-8), a
ação contra a idolatria e os cananeus (33:50-56), a escolha das cidades de
refúgio, instruções sobre como lidar com homicidas acidentais (35:9-33), e leis
sobre heranças e o casamento. (27:8-11; 36:5-9).
O agrupamento dos elementos do livro foi
elaborado em torno dos principais textos, tarefa esta extremamente difícil. Por
isso historicamente tem-se buscado estabelecer uma divisão mais simples, como
por exemplo, segundo a região onde sucederam os acontecimentos.
Assim, podem-se dividir Números em três
partes principais:
1.No Sinai: 1:1-10:10
2.No deserto de Cades-Barneia: 10:11-22:1
3.Nas planícies de Moabe: 22:2-36:13
Natureza
e organização
Como é habitual aos livros do Antigo
Testamento, que pertencem a série de Livros históricos do Antigo Testamento, o
tema principal é descrever os tempos passados e os atos do Deus de Israel e seu
povo. A Respeito de Cades, nada se conta em Números sobre os 38 anos que
passaram naquele lugar. Em todo o livro, Moisés mantém a narração, apenas a
interrompendo-a para inserir textos jurídicos.
Sentido
religioso
O grande criador dos pesos e medidas é
YHVH. Números conta como Deus organizou o seu povo em Doze tribos de Israel,
descendentes dos doze filhos varões de Jacó, e como este a transformou numa
assembleia santificada.
Com o tempo, seriam reconhecidos como
"filhos de Abraão" pela religião e a espiritualidade. A sociedade
israelita e o autor não faziam distinção entre os israelitas e imigrantes:
todos os que viviam na Terra Prometida em obediência e observação das leis de
Deus deviam ser irmãos entre si.
As doze tribos de Israel são registradas
e organizadas. Os israelitas recebem ordens relacionadas a sua adoração e seus
tratos com outros, mas há falta de respeito para com os representantes Deus e
desobedecem às suas ordens. YHVH abençoa Israel, mas insiste na adoração
exclusiva ao passo que a nação se prepara para entrar em Canaã.
A Edição Pastoral da Bíblia destaca que o
tempo em que o povo de Deus esteve no deserto foi um tempo de grande disciplina
e pedagogia para aquele povo aprender que não basta estar livre: é preciso
aprender a viver a liberdade e conquistá-la continuamente, para não voltar a
ser escravo outra vez, e, que, no deserto o povo teve que superar muitas
tentações: acomodação, desânimo, vontade de voltar para trás, desconfiança de
Javé e dos líderes. Foi no confronto com essas situações que ele descobriu o
que significa ser livre para construir uma sociedade justa e fraterna,
alicerçada na liberdade e voltada para a vida, portanto, o Livro dos Números
nos ensina que qualquer transformação profunda exige um longo período de
educação e amadurecimento.
Um pouco mais sobre Números...
Integrado no grande bloco da Torá ou
Pentateuco, o livro dos NÚMEROS recebeu este nome na tradução grega dos
Setenta, por abrir com os números do recenseamento do povo hebraico e, depois,
apresentar outros recenseamentos ao longo da narrativa (cap. 1-4 e 26).
Relacionados com este título podem estar ainda os números das ofertas dos
chefes (cap. 7), das ofertas, libações e sacrifícios a oferecer pelo povo (cap.
15 e 28-29). Trata-se, porém, de um livro narrativo com alguns trechos
legislativos, que se enlaça com o Êxodo, do qual está literariamente separado
pelo código legislativo do Levítico.
CONTEÚDO
E DIVISÃO
O conteúdo deste livro abrange as
peripécias ou vicissitudes da caminhada pelo deserto, desde o Sinai até às
margens do rio Jordão, fronteira oriental da Terra Prometida. No aspecto
histórico, a narrativa pode dividir-se em três grandes sequências literárias:
I. No deserto do Sinai (1,1-10,10).
Referem-se as ordens de Deus para a caminhada através do deserto com a
disposição do acampamento das tribos, os deveres dos levitas e outras leis de
carácter ritual. II. Do Sinai a Moab (10,11-21,35). Os acontecimentos mais
importantes desta segunda parte estão marcados por etapas geográficas, algumas
das quais são difíceis de identificar. Descreve-se a caminhada directa para
Cadés-Barnea, mesmo na fronteira sul de Canaã e, depois, a inflexão para
oriente e a errância penosa durante quarenta anos através do deserto até à
chegada a Moab, já na fronteira da Terra Prometida. III. Na região de Moab
(22,1-36,13).
Começando com a bênção de Balaão, as narrativas desta terceira
parte apresentam um novo recenseamento dos israelitas, descrevem a nomeação de
Josué para substituir Moisés, contêm algumas prescrições de carácter cultual,
narram a luta contra os madianitas e a partilha de Canaã com a instalação das
tribos de Rúben, Gad e parte de Manassés em Guilead, na Transjordânia, e a
recapitulação das etapas do Êxodo.
Como tal, no seu encadeamento histórico,
o livro dos NÚMEROS é inseparável da epopeia do Êxodo. Mas, também nele, é
preciso ter presente que as narrativas foram redigidas bastante depois dos
acontecimentos históricos, à luz da perspectiva da fé e da celebração litúrgica
do templo de Jerusalém, já na Terra Prometida.
A redacção definitiva deste livro deve
colocar-se em data posterior ao exílio da Babilónia. Certas leis, sobretudo,
são determinadas pela prática ritual estabelecida pelos sacerdotes após o
Exílio (séc. VI-V). De resto, só bastante tardiamente, graças a tradições orais
muito antigas de proveniência diversa e a fontes documentais variadas,
transmitidas como “memória do passado histórico”, é que terá sido possível
cerzir em unidade literária o conjunto das leis e a sequência dos
acontecimentos.
TEOLOGIA
Como quer que seja, toda a narrativa está
articulada dentro do binómio da fidelidade-infidelidade à Aliança, evidenciando
o movimento quaternário da História da Salvação: o povo peca, Deus castiga, o
povo arrepende-se, Deus perdoa. Nos interlúdios do contrastante claro-escuro
que as tentações acarretam, surge o difícil papel de Moisés, como mediador das
exigências de Deus e advogado das necessidades e angústias do povo; mas, até
ele acaba por sofrer um castigo, sendo privado de entrar na Terra Prometida, já
com ela à vista. É a lei da pedagogia divina, a que até os homens de Deus têm
de se sujeitar.
Afinal, o Livro dos NÚMEROS não é
factualmente histórico; apresenta uma narrativa historicizante de acentuado
valor didáctico-pragmático para que, no drama dos seus antepassados através do
deserto, o povo eleito, já na Terra Prometida, soubesse enfrentar os desafios e
as esperanças do seu futuro, tal como o pagão Balaão, qual profeta inspirado de
Israel, o soube prognosticar (cap. 23-24).
LEITURA
CRISTÃ
Este foi um dos livros da Bíblia que não
mereceu especial atenção na tradição da Igreja. No entanto, os modernos estudos
sobre a Aliança e sobre a História da Igreja estão a fazer-lhe justiça. Apesar
de não aparecerem aqui explicitamente alguns dos grandes temas do Pentateuco
(Criação, Eleição, Promessa, Aliança, Lei), o livro dos NÚMEROS é já a
realização da Aliança de Deus com o seu povo, por meio do culto.
O tema da bênção, de que o povo é
depositário nos quatro oráculos de Balaão (23-24), anuncia a eleição da dinastia
davídica (24,17).
Importante é ainda o tema da Tenda, lugar
da Presença (Shekkinah) do Senhor, que caminha no meio do seu povo.
O tema do Deserto é também fundamental
neste livro e foi dos que teve maior ressonância, tanto no resto do Antigo
Testamento como no Novo: o povo de Israel, peregrino pelo deserto durante
“quarenta anos”, tornou-se o protótipo do novo povo de Deus, guiado por Jesus
Cristo, que também foi ao deserto (Mt 4,1-11; Mc 1,12-13; Lc 4,1-13). Jesus
Cristo é, para este novo povo liberto, a água viva (20,2-13; e Jo 4,1-26), o
verdadeiro maná (11,6-9; e Jo 6,26-58), a verdadeira serpente de bronze que
salva o seu povo (21,4-9; e Jo 3,13-15; 1 Cor 10,9-11).
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