Budismo
Budismo (páli/sânscrito: बौद्ध धर्म Buddha Dharma) é uma filosofia ou religião não
teísta que abrange diversas tradições, crenças e práticas geralmente baseadas
nos ensinamentos de Buda. Engloba escolas como o Teravada, Zen, Terra Pura e o
budismo tibetano, se espalhou mais pelo Tibete, China e Japão. Várias fontes
colocam o número de budistas no mundo entre 230 milhões e 500 milhões, sendo
assim a quinta maior religião do mundo.
As escolas budistas variam sobre a
natureza exata do caminho da libertação, a importância e canonicidade de vários
ensinamentos e, especialmente, suas práticas. Entretanto, as bases das
tradições e práticas são as Três Joias: O Buda (como seu mestre), o Dharma
(ensinamentos baseados nas leis do universo) e a Sangha (a comunidade budista).
Encontrar refúgio espiritual nas Três Joias ou Três Tesouros é, em geral, o que
distingue um budista de um não budista. Outras práticas podem incluir a
renúncia convencional de vida secular para se tornar um monge (sânscrito; páli:
bhikkhu) ou monja (sânscrito; páli: bhikkhuni).
A
vida de Buda
De acordo com a narrativa convencional, o
Buda nasceu em Lumbini (hoje, patrimônio mundial da Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) por volta do ano 566 a. C. e
cresceu em Capilvasto: ambos, atuais localidades nepalesas. Logo após o
nascimento de Sidarta, um astrólogo visitou o pai do jovem príncipe,
Suddhodana, e profetizou que Sidarta iria se tornar um grande rei e que
renunciaria ao mundo material para se tornar um homem santo, se ele, por
ventura, visse a vida fora das paredes do palácio.
O rei Suddhodana estava determinado a ver
o seu filho se tornar um rei, impedindo, assim, que ele saísse do palácio. Mas,
aos 29 anos, apesar dos esforços de seu pai, Sidarta se aventurou por além do
palácio diversas vezes. Em uma série de encontros (em locais conhecidos pela
cultura budista como "quatro pontos"), ele soube do sofrimento das
pessoas comuns, encontrando um homem velho, um outro doente, um cadáver e,
finalmente, um asceta sadhu, representando a busca espiritual. Essas
experiências levaram Gautama, eventualmente, a abandonar a vida material e ir
em busca de uma vida espiritual.
Sidarta Gautama estudou sob diferentes
mestres e desencantou-se com o resultado alcançado pelo que ensinavam. Chegou a
praticar ascese rígida, como jejum prolongado, restrição da respiração, e
outras formas de exposição a dor, muito comum naquele tempo na Índia, e quase
morreu ao longo do processo. Mas, houve um episodio que uma jovem lhe ofereceu
comida e ele aceitou, isso marcou sua renuncia a tais praticas. Concluiu que as
práticas ascéticas extremas não traziam os resultados que buscava. Deduziu,
então, que as práticas eram prejudiciais aos praticantes. Ele abandonou o
ascetismo, concentrando-se na meditação anapanasati, através da qual descobriu
o que hoje os budistas chamam de "caminho do meio": um caminho que
não passa pela luxúria e pelos prazeres sensuais, mas que também não passa
pelas práticas de mortificação do corpo. Em outras palavras, o caminho do meio
não seria o caminho do apego a qualquer coisa, nem também o caminho da negação
ou aversão a qualquer coisa e sim uma terceira via.
Gautama com seus cinco companheiros, que,
mais tarde, compuseram a primeira Sangha (comunidade monástica budista).
Pintura da parede de um templo no Laos. Quando tinha 35 anos de idade, Sidarta
sentou-se embaixo de uma figueira-dos-pagodes (Ficus religiosa) hoje conhecida
como árvore de Bodhi, localizada em Bodh Gaya, na Índia e prometeu não sair
dali até conseguir atingir a iluminação espiritual.
A lenda diz que Sidarta conheceu a dúvida
sobre o sucesso de seus objetivos ao ser confrontado por um demônio chamado
Mara, que simboliza o mundo das aparências, a tentação, comparado ao papel de
Satanás no cristianismo, muitas vezes representado por uma cobra naja. Mara
teria oferecido todos os tipos de prazeres e tentações a Sidarta, que
implacavelmente repeliu Mara. Vencido Mara, Sidarta acordou para a Verdade, a
Verdade da origem, da cessação e do caminho que levava ao fim do sofrimento, e
se iluminou. Assim, por volta dos quarenta anos, Sidarta se transformou no
Buda, o Iluminado.
Logo atraiu um grupo de seguidores e
instituiu uma ordem monástica. A partir de então, passou seus dias ensinando o
darma, viajando por toda a parte nordeste do subcontinente indiano. Ele sempre
enfatizou que não era um deus e que a capacidade de se tornar um buda pertencia
ao ser humano. Faleceu aos oitenta anos de idade, em 483 a. C., em Kushinagar,
na Índia.
Os estudiosos se contradizem em relação
às afirmações sobre a história e os fatos da vida de Buda. A maioria aceita que
ele viveu, ensinou e fundou uma ordem monástica, mas não aceita de forma
consistente os detalhes de sua biografia. Segundo o escritor Michael
Carrithers, em seu livro O Buda, o esboço de uma vida tem que ser verdadeiro: o
nascimento, a maturidade, a renúncia, a busca, o despertar e a libertação, o
ensino e a morte.
Ao escrever uma biografia sobre Buda,
Karen Armstrong disse: "É obviamente difícil, portanto, escrever uma
biografia de Buda, atendendo aos critérios modernos, porque temos muito pouca
informação que pode ser considerada 'histórica'... mas podemos estar
razoavelmente confiantes, pois Siddhartta Gautama realmente existiu e os seus
discípulos preservam a sua memória, sua vida e seus ensinamentos".
Carma:
lei de causa e efeito
No budismo, o Carma (do sânscrito कर्म, transl. karmam, e em pali,
kamma, "ação") é a força de samsara sobre alguém. Boas ações (páli:
kusala), e/ou ações ruins (páli: akisala) geram "sementes" na mente,
que virão a aflorar nesta vida ou em um renascimento subsequente. Com o
objetivo de cultivar as ações positivas, o sila é um conceito importante do
budismo, geralmente, traduzido como "virtude", "boa
conduta", "moral" e "preceito".
O carma, na filosofia budista, refere-se
especificamente a essas ações (do corpo, da fala e da mente) que brotam da intenção
mental (páli: cetana) e que geram consequências (frutos) e/ou resultados
(vipaka). Cada vez que uma pessoa age, há alguma qualidade de intenção em sua
mente e essa intenção muitas vezes não é demonstrada pelo seu exterior, mas
está em seu interior e determinará os efeitos dela decorrentes.
No budismo Teravada, não pode haver
salvação divina ou perdão de um carma, uma vez que é um processo puramente
impessoal que faz parte do Universo. Outras escolas, como a Maaiana, porém, têm
opiniões diferentes. Por exemplo, os textos dos sutras (como o Sutra do Lótus,
Sutra de Angulimala e Sutra do Nirvana) afirmam que, recitando ou simplesmente
ouvindo seus textos, as pessoas podem expurgar grandes carmas negativos. Da
mesma forma, outras escolas, Vajrayana por exemplo, incentivam a prática dos
mantras como meio de cortar um carma negativo.
Renascimento
Renascimento se refere a um processo pelo
qual os seres passam por uma sucessão de vidas como uma das muitas formas
possíveis de senciência. Entretanto, o budismo, natural da Índia, rejeita
conceitos de "autoestima" permanente ou "mente imutável",
eterna, como é chamada no cristianismo e até mesmo no hinduísmo, pois, no
budismo, existe a doutrina do anatta, sobre a inexistência de um "eu"
permanente e imutável.
De acordo com o budismo, o renascimento
em existências subsequentes deve antes ser entendido como uma continuação
dinâmica, um constante processo de mudança - "originação dependente"
(sânscrito: pratītya-samutpāda) - determinado pelas leis de causa e efeito
(carma), em vez da noção de um ser encarnado ou transmigrado de uma existência
para outra.
Cada renascimento ocorre dentro de um dos
seis reinos, de acordo com os nossos reinos de desejos, podendo variar de acordo
com as escolas:
1.seres dos infernos: aqueles que vivem
em um dos muitos infernos;
2.preta: o reino de seres que padecem de
necessidades sem alívio, sofrimento, remorsos, fome, sede, nudez, miséria,
sintomas de doenças, entre outros;
3.animais: um espaço de divisão com os
humanos, mas considerado como outra vida;
4.seres humanos: um dos reinos de
renascimento, em que é possível atingir o nirvana.
5.semideuses: variavelmente traduzido
como "divindades humildes", titãs e antideuses; não é reconhecido
pelas escolas Teravada e Maaiana, que os consideram como devas de nível mais
baixo;
6.deva: comparado ao paraíso;
O renascimento em alguns dos céus mais
altos, conhecido como o mundo de Śuddhāvāsa (moradas puras), pode ser alcançado
apenas por pessoas com enorme realização espiritual, conhecidos como não
regressistas (sânscrito: anāgāmis). Já o renascimento no reino sem forma
(sânscrito: arupa-dhatu) pode ser alcançando apenas por aqueles que podem
meditar sobre o arupajhanas, o maior objeto de meditação.
De acordo com o budismo praticado no
leste asiático e o budismo tibetano, há um estado intermediário (o bardo) entre
uma vida e a próxima. A posição Teravada ortodoxa rejeita esse conceito, no
entanto existem passagens no Samyutta Nikaya do Cânone Páli (coleção de textos
em que a tradição Teravada é baseada) que parecem dar apoio à ideia de que o
Buda ensinou que existe um estado intermediário entre esta vida e a próxima.
O
ciclo de samsara
Samsara é o ciclo das existências nas
quais reinam o sofrimento e a frustração engendrados pela ignorância e pelos
conflitos emocionais que dela resultam. O samsara compreende os três mundos
superiores (deva, espiritual e seres humanos) e os três inferiores (seres
ignorantes, inferiores e animais), julgados não por um valor, mas em função da
intensidade de sofrimento.
Os budistas acreditam, em sua maioria, no
samsara. Este, por sua vez, é regido pelas leis do carma: a boa conduta
produzirá bom carma e a má alma produzirá carma maléfico. Assim como os hindus,
os budistas interpretam o samsara não esclarecido como um estado de sofrimento.
Só nos libertaremos do samsara se atingirmos o estado total de aceitação, visto
que nós sofremos por desejar coisas passageiras, e alcançarmos o nirvana ou a
salvação.
Sofrimento: causas e soluções
As
Quatro Nobres Verdades
De acordo com o Cânone Páli, As Quatro
Nobres Verdades foram os primeiros ensinamentos deixados pelo Buda depois de
atingir o nirvana. Algumas vezes, são consideradas como a essência dos
ensinamentos do Buda e são apresentadas na forma de um diagnóstico médico:
1.a vida como a conhecemos é finalmente
levada ao sofrimento e/ou mal-estar (dukkha), de uma forma ou outra;
2.o sofrimento é causado pelo desejo
(trishna). Isso é, muitas vezes, expressado como um engano agarrado a um certo
sentimento de existência, a individualidade, ou para coisas ou fenômenos que
consideramos causadores da felicidade e infelicidade. O desejo também tem seu
aspecto negativo;
3.o sofrimento acaba quando termina o
desejo. Isso é conseguido através da eliminação da ilusão (maya)[desambiguação
necessária], assim alcançamos um estado de libertação do iluminado (bodhi);
4.esse estado é conquistado através dos
caminhos ensinados pelo Buda.
Esse método é descrito por alguns
acadêmicos ocidentais e ensinado como uma introdução ao budismo por alguns
professores contemporâneos do Maaiana, como por exemplo o 14º Dalai Lama,
Tenzin Gyatso.
De acordo com outras interpretações de
mestres budistas e eruditos, e recentemente reconhecidas por alguns estudiosos
ocidentais não-budistas, as "verdades" não representam meras
declarações e/ou indicações, entretanto estas podem ser agrupadas em dois
grupos:
1.o sofrimento e as causas do sofrimento;
2.a cessação do sofrimento e os caminhos
para a libertação.
Assim, a Enciclopédia Macmillan de
Budismo simplifica As Quatro Nobres Verdades, deixando-as da seguinte maneira:
1."A Verdade Nobre Que Está
Sofrendo";
2."A Verdade Nobre Que É O
Surgimento do Sofrimento";
3."A Verdade Nobre Que É O Fim do
Sofrimento";
4."A Verdade Nobre Que Produz o
Caminho para o Fim do Sofrimento".
A compreensão tradicional do Teravada
sobre As Quatro Nobres Verdades é que estas são um ensino avançado para aqueles
que estão "prontos". A posição Maaiana é que eles são ensinamentos
prejudiciais para as pessoas que ainda não estão prontas para ensinar. No
Extremo Oriente, os ensinamentos são pouco conhecidos.
O
Nobre Caminho Óctuplo
O Nobre Caminho Óctuplo - A Quarta Nobre
Verdade do Buda - é o caminho para a o fim do sofrimento (dukkha). Tem oito
seções, cada uma começando com a palavra samyak (que em sânscrito significa
"corretamente" e "devidamente"), e são apresentadas em três
grupos:
prajna: é a sabedoria que purifica a
mente, permitindo-lhe atingir uma visão espiritual da natureza de todas as
coisas. Engloba:
1.dṛṣṭi (ditthi): ver a realidade como
ela é, não apenas como parece ser;
2.saṃkalpa (sankappa): a intenção de
renúncia, de liberdade e inocuidade.
sila: é a ética ou moral, a abstenção de
atos nocivos. Engloba:
3.vāc vāc (vāca): falando de uma maneira
verdadeira e não ofensiva;
4.karman (kammanta): agir de uma maneira
não prejudicial;
5.ājīvana (ājīva): o meio de vida deve
seguir os preceitos citados anteriormente[38] .
samadhi: é a disciplina mental necessária
para desenvolver o domínio sobre a própria mente. Isso é feito através de
práticas. Engloba:
6.vyāyāma vyāyāma (vāyāma): fazer um
esforço para melhorar;
7.smṛti (sati): ver as coisas como elas
estão com a consciência clara da realidade presente dentro de si mesmo, sem
desejo ou aversão;
8.samādhi (samādhi): meditar ou
concentrar-se de maneira correta.
A prática do Caminho Óctuplo é
compreendida de duas maneiras: desenvolvimento simultâneo dos oito itens
paralelamente, ou como uma série progressiva pela qual o praticante se move, ao
conquistar um estágio. Contudo, os quatro nikāyas principais e o Caminho
Óctuplo, geralmente, não são ensinados para leigos e são pouco conhecidos no
Extremo Oriente.
Os oito itens do caminho normalmente são
apresentados em três divisões (ou treinamentos elevados).
Caminho
do Meio
Um importante princípio orientador da
prática budista é o Caminho do Meio, que se diz ter sido descoberto pelo Buda,
antes de sua iluminação. O Caminho do Meio tem várias definições:
1.a prática de não extremismo: um caminho
de moderação e distância entre a autoindulgência e a morte;
2.o meio-termo entre determinadas visões
metafísicas;
3.uma explicação do nirvana (perfeita
iluminação), um estado no qual fica claro que todas as dualidades aparentes no
mundo são ilusórias;
4.outros termos para o sunyata, a última
natureza de todos os fenômenos (na escola Maaiana).
A
forma como as coisas são
Estudiosos budistas têm produzido uma
quantidade notável de teorias intelectuais, filosóficas e conceitos de visão do
mundo (por exemplo: filosofia budista, abhidharma e a realidade no budismo).
Algumas escolas do budismo desencorajam estudos doutrinários, algumas os
consideram como essenciais, pelo menos para algumas pessoas em algumas fases do
budismo.
Nos primeiros ensinamentos budistas, de
certa forma, compartilhado por todas as escolas existentes, o conceito de
libertação (nirvana) está intimamente ligado com a correta compreensão de como
a mente lida com o estresse. Ao termos conhecimento sobre o apego, um
sentimento de desapego é gerado e se é liberado do sofrimento (dukkha) e do
ciclo de renascimento (samsara). Para esse efeito, o Buda recomendou ver as
coisas através das três marcas da existência.
Impermanência,
sofrimento e não eu
Anicca é uma das três marcas da
existência. O termo exprime o conceito budista de que todas as coisas são
compostas ou fenômenos condicionados, sendo estes, inconstantes, instáveis e
impermanentes. Tudo o que podemos experimentar através dos nossos sentidos é
composto de peças e sua existência depende de condições externas. Tudo está em
fluxo constante e, assim, as condições e coisas em si estão mudando
constantemente. As coisas estão vindo constantemente a ser e deixar de ser.
Como nada dura, não há nenhuma natureza inerente ou fixada em qualquer objeto
ou experiência.
Segundo a doutrina da impermanência, a
vida humana incorpora esse fluxo no processo de envelhecimento, no ciclo de
renascimento e em qualquer existência de perda. A doutrina afirma ainda que,
pelo fato de as coisas serem impermanentes, o apego a elas é inútil e leva ao
sofrimento (dukkha).
Dukkha ou sofrimento (pāli दुक्ख; sanskrit दुःख duḥkha) é um dos conceitos
centrais do budismo. A palavra pode ser traduzida de diversas maneiras,
incluindo sofrimento, dor, insatisfação, tristeza, angústia, ansiedade,
desconforto, estresse, infelicidade e frustração, por exemplo. Apesar disso,
dukkha é traduzido, muitas vezes, como "sofrimento", o seu
significado filosófico é mais semelhante a "inquietação", como na
condição de ser perturbado[39] . Devido a isso, algumas literaturas preferem
não traduzir o verbete, como é o caso do inglês, com o objetivo de englobar em
uma palavra todos os significados.
Anatta, ou anatman, refere-se à noção da
inexistência de um "eu". Após uma análise cuidadosa, verifica-se que
nenhum fenômeno é realmente "eu" ou "meu", estes conceitos
são, na realidade, construídos pela mente. Nos nikayas, o anatta não é
entendido como uma afirmação metafísica, mas como uma aproximação para ganhar a
libertação do sofrimento. O Buda rejeitou ambos os conceitos, afirmando que
eles nos ligam ao sofrimento.
Originação
dependente
A doutrina do pratītyasamutpāda é uma
parte importante da metafísica budista. Ela afirma que os fenômenos surgem
juntos em uma teia interdependente de causa e efeito. É variavelmente traduzida
como "orientação dependente", "gênese condicionada",
"codependente decorrentes" ou "emergência".
O conceito mais conhecido e aplicado do
pratītyasamutpāda é o regime dos Doze Nidānas (do páli: nidāna, que significa
"provocar", "fundação", "fonte" e
"origem"), que explicam a continuação do ciclo de sofrimento e
renascimento em detalhe. Os Doze Nidānas descrevem uma relação entre as
características subsequentes, cada uma dando origem ao nível seguinte:
1.Avidyā: ignorância (especificamente
espiritual)
2.Saṃskāras: formações;
3.Vijñāna: consciência;
4.Nāmarūpa: nome e forma (refere-se à
mente e ao corpo);
5.Ṣaḍāyatana: suas bases dos sentidos
(olhos, nariz, ouvidos, língua, corpo e mente);
6.Sparśa: contato (traduzido, também,
como "impressão" ou "estimulo" por um objeto);
7.Vedanā: sensação, traduzida como algo
"desagradável", "agradável" ou neutro;
8.Tṛṣṇā: sede, mas, no budismo, refere-se
ao desejo;
9.Upādāna: apego ou apreensão;
10.Bhava: ser (existência) ou se tornar
(no Teravada possui dois significados: o carma, que produz uma nova existência,
e a existência em si);
11.Jāti: nascimento (entendido como ponto
de partida);
12.Jarāmaraṇa: velhice e morte, também
traduzida, através do śokaparidevaduḥkhadaurmanasyopāyāsa, como tristeza,
lamentação, dor e miséria.
Sunyata
O budismo Maaiana foi fundado baseado nas
teorias de Nagarjuna, provavelmente o estudioso mais influente dentro das
tradições da escola budista. A principal contribuição do filósofo budista foi a
exposição sistemática do conceito de sunyata, ou "vazio", comprovada
amplamente nos sutras, como Prajnaparamita, importantíssimos na época.
O conceito de "vazio" reúne as
outras principais doutrinas budistas, particularmente a anatta e a
pratītyasamutpāda (orientação dependente), para refutar a metafísica da
Sarvastivada e Sautrāntika (não extintas da escola Maaiana). Para Nagarjuna,
não são apenas os seres sencientes que estão vazios de atman; todos os
fenômenos (dharmas) são, sem qualquer svabhava (literalmente "própria
natureza" ou "autonatureza") e, portanto, sem qualquer essência
fundamental, pois eles são vazios de ser independentes, assim, as teorias
heterodoxas de Svabhava, circuladas na época, foram desmentidas com base nas
demais doutrinas budistas.
Os pensamentos de Nagarjuna são
conhecidos como Madhyamaka. Alguns dos escritos atribuídos a Nagarjuna fazem
referências explícitas aos textos de Maaiana, mas sua filosofia foi argumentada
dentro dos "parênteses" estabelecidos pela ágama. Ele pode ter
chegado à sua posição a partir de um desejo de alcançar uma exegese coerente da
doutrina do Buda, tal como o Canon. Aos olhos de Nagarjuna, o Buda não era
apenas um precursor, mas o próprio fundador do sistema Madhyamaka.
Os ensinamentos sarvastivada, que foram
criticados por Nagarjuna, foram reescritos por estudiosos como Vasubandhu e
Asanga e foram, posteriormente, adaptados para a prática do Yoga (sânscrito:
Yogacara). Enquanto a escola Madhyamaka declarou que afirmar a existência ou a
inexistência de qualquer coisa, em última análise, era inadequado, contudo,
alguns expoentes da Yogacara afirmaram que a mente, e só a mente, é real (doutrina
conhecida como consciência). Entretanto, nem todos dentro do Yogacara
consideram essa afirmação; Vasubandhu e Asanga, em particular, são um exemplo.
Além do vazio, a escola Maaiana, muitas
vezes, dá ênfase nas noções de discernimento espiritual pleno (prajnaparamita)
e na natureza búdica (tathagatagarbha, que significa "embrião
budista"). De acordo com o sutras de tathagatagarbha, o Buda revelou a
realidade da imortal natureza budista, que se diz ser inerente a todos os seres
vivos e permite que todos eles, eventualmente, atinjam a iluminação completa,
ou seja, tornando-se Budas.
Especulações
contra a existência direta na epistemologia budista
A distinção entre o budismo e outras
escolas filosóficas indianas é uma questão da justificação da epistemologia.
Apesar de todas as escolas de lógica indiana reconhecerem vários conjuntos das
justificativas válidas para o conhecimento (pramana), o budismo, por sua vez,
reconhece um conjunto menor do que os outros. Todos aceitam a percepção e a
inferência, por exemplo, mas, algumas escolas budistas não.
De acordo com as escrituras, durante a
sua vida, o Buda permaneceu em silêncio quando questionado sobre várias
questões metafísicas, conhecidas como "Questões avyākata". São perguntas
como: se o universo é eterno ou não (ou se é finito ou infinito), se há unidade
ou separação do corpo e do atman, a inexistência completa de uma pessoa depois
do nirvana, entre outros. Uma explicação para esse silêncio é que tais questões
atrapalham a atividade prática para o bodhi e trazem o perigo de substituir a
experiência de libertação através da compreensão conceitual da doutrina ou pela
fé religiosa.
Escolas
A sangha original, após a realização de
um concílio no século IV a.C., dividiu-se em duas escolas de pensamento:
Mahasanghika e Sthaviravada. Desses dois troncos, a única escola remanescente é
a Theravada. Os três veículos principais são: Escolas Antigas, Escolas Mahayana
e Escolas Vajrayana:
Escolas
Antigas: Ch'eng-shih, Chu-she, Jôjitsu, Kusha, Lü-tsung, Mahasanghika,
Pudgalavada, Ritsu, Sarvastivada, Sautrantika, Sthaviravada, Theravada e
Vaibhashika;
Escolas
Mahayana: Ch'an, Ching-t'u, Chittamatra, Fa-hsiang, Hossô, Hua-yen, Ji-shû,
Jnanavada, Jôdo, Jôdo Shin, Kegon, Madhyamaka, Madhyamika, Nichiren, Nieh-p'an,
San-lun, Sanron, Tathagatagarbha, Ti-lun, Won, Yogachara, Yün-chi e Zen;
Escolas
Vajrayana: Nyingma, Gelug, Sakya, Jonang, Kadam, Kagyü, Mi-tsung, Shingon,
Tendai e T'ien-t'ai.
Nirvana
O nirvana é:
1.É a meta do budismo.
2.É o apagar do fogo das paixões e a
extinção do ego.
3.É não necessitar mais reencarnar.
4.É o que todo budista procura por toda
vida, a paz absoluta.
5.É o que faz do homem comum um Buda.
6.É a iluminação.
7.É a extrema paz.
Origens
Historicamente, as raízes do budismo se
encontram no pensamento religioso da Índia antiga durante a segunda metade do
primeiro milênio antes de Cristo. Esse foi um período de turbulência social e
religiosa, já que havia um significante descontentamento com os sacrifícios e
rituais do bramanismo védico. Ele foi desafiado por vários novos ensinamentos e
grupos ascéticos, religiosos e filosóficos que romperam com a tradição brâmane
e rejeitaram a autoridade dos Vedas e dos brâmanes.
O budismo formou-se no nordeste da Índia,
entre o século V e IV a.C.. Este período corresponde a uma fase de alterações
sociais, políticas e econômicas nessa região do mundo. A antiga religiosidade
bramânica, centrada no sacrifício de animais, era questionada por vários grupos
religiosos, que geralmente orbitavam em torno de um mestre.
Um desses mestres religiosos, como visto
acima com mais detalhes, foi Sidarta Gautama, o Buda, cuja vida a maioria dos
acadêmicos ocidentais e indianos situa entre 563-483 a.C., embora os acadêmicos
japoneses considerem mais provável as datas 448 a 368 a.C. Sidarta nasceu na
povoação de Kapilavastu, que se julga ser a aldeia indiana de Piprahwa, situada
perto da fronteira indo-nepalesa. Pertencia à casta guerreira (ksatriya).
Várias lendas posteriores afirmam que
Sidarta viveu no luxo, tendo o seu pai se esforçado por evitar que o seu filho
entrasse em contato com os aspectos desagradáveis da vida. Por volta dos 29
anos, o jovem Sidarta decidiu abandonar a sua vida, renunciando a todos os bens
materiais e adotando a vida de um renunciante. Praticou o ioga (numa forma que
não é a mesma que é hoje seguida nos países ocidentais) e seguiu práticas
ascéticas extremas, mas acabou por abandoná-las, vendo que não conseguia obter
nada delas. Segundo a tradição, ao fim de uma meditação sentado debaixo de uma
figueira, descobriu a solução para a libertação do ciclo das existências e das
mortes que o atormentava.
Pouco depois, decidiu retomar a sua vida
errante. Chegou a um bosque perto de Benares, onde pronunciou um discurso
religioso diante de cinco jovens, que convencidos pelos seus ensinamentos, se
tornaram os seus primeiros discípulos e com quem formou a primeira comunidade
monástica (sangha). O Buda dedicou, então, o resto da sua vida (talvez trinta
ou cinquenta anos) a pregar a sua doutrina através de um método oral, não tendo
deixado quaisquer escritos.
Sidarta Gautama, sem dúvida familiar com
os pensamentos de sua era e região, ensinou o Caminho do Meio entre a
indulgência sensual e o severo ascetismo encontrado no movimento Śramaṇa, comum
na região. Como a principal figura do Budismo, os acontecimentos de sua vida,
seus discursos e as regras monásticas que ele criou foram compilados após a sua
morte e memorizados por seus seguidores. Várias coleções de ensinamentos
atribuídas a ele foram preservadas e transmitidas via tradição oral e
primeiramente fixadas por escrito cerca de 400 anos depois.
Cosmologia
A cosmologia budista considera que o
Universo é composto por vários sistemas mundiais, sendo que cada um desses
possui um ciclo de nascimento, desenvolvimento e declínio que dura bilhões de
anos. Num sistema mundial existem seis reinos, que por sua vez incluem vários
níveis, num total de trinta e um.
O reino dos infernos situa-se na parte
inferior. A concepção do inferno budista é diferente da concepção cristã, na
medida em que o inferno não é um lugar de permanência eterna nem o renascimento
nesse local é o resultado de um castigo divino; os seres que habitam no inferno
libertam-se dele assim que o mau karma que os conduziu ali se esgota. Por outro
lado, o budismo considera que existem não apenas infernos quentes, mas também
infernos frios.
Acima do reino dos infernos pelo lado
esquerdo, encontra-se o reino animal, o único dos vários reinos perceptível aos
humanos e onde vivem as várias espécies. Acima do reino dos infernos pelo lado
direito, encontra-se o mundo dos espíritos ávidos ou fantasmas (preta). Os
seres que nele vivem sentem constantemente sede ou fome, sem nunca terem essas
necessidades saciadas. A arte budista representa os habitantes desse reino como
tendo um estômago do tamanho de uma montanha e uma boca minúscula.
O reino seguinte é o dos Asura (termo
traduzido como "Titãs" ou dos antideuses). Os seus habitantes ali
nasceram em resultado de acções positivas realizadas com um sentimento de
inveja e competição e vivem em guerra constante com os deuses.
O quinto reino é o dos seres humanos. É
considerado como um reino de nascimento desejável, mas ao mesmo tempo difícil.
A vida enquanto humano é vista como uma via intermédia nessa cosmologia, sendo
caracterizada pela alternância das alegrias e dos sofrimentos, o que, de acordo
com a perspectiva budista, favorece a tomada de consciência sobre a condição
samsárica.
O último reino é o dos deuses (deva) e é
composto por vários níveis ou residências. Nos níveis mais próximos do reino
humano, vivem seres que, devido à prática de boas acções, levam uma vida
harmoniosa. Os níveis situados entre o vigésimo terceiro e o vigésimo sétimo
são denominados como "Residências Puras", sendo habitadas por seres
que se encontram perto de atingir a iluminação e não voltarão a renascer como
humanos.
Escrituras
Buda não deixou nada escrito. De acordo
com a tradição budista, ainda no próprio ano em que o Buda faleceu, teria sido
realizado um concílio na cidade de Rajaghra, onde discípulos do Buda recitaram
os ensinamentos perante uma assembleia de monges que os transmitiram de forma
oral aos seus discípulos. Porém, a historicidade desse concílio é alvo de
debate: para alguns, esse relato não passa de uma forma de legitimação
posterior da autenticidade das escrituras.
Por volta do século I, os ensinamentos do
Buda começaram a ser escritos. Um dos primeiros lugares onde se escreveram
esses ensinamentos foi no Sri Lanka, onde se constituiu o denominado Cânone
Páli. O Cânone Pali é considerado pela tradição Theravada como contendo os
textos que se aproximam mais dos ensinamentos do Buda. Não existem, contudo, no
budismo um livro sagrado como a Bíblia ou o Alcorão, que seja igual para todos
os crentes; para além do Cânone Pali, existem outros cânones budistas, como o
chinês e o tibetano.
O cânone budista divide-se em três grupos
de textos, denominado "Triplo Cesto de Flores" (tipitaka em pali e
tripitaka em sânscrito):
1.Sutra Pitaka: agrupa os discursos do
Buda tais como teriam sido recitados por Ananda no primeiro concílio. Divide-se
por sua vez em vários subgrupos;
2.Vinaya Pitaka: reúne o conjunto de
regras que os monges budistas devem seguir e cuja transgressão é alvo de uma
penitência. Contém textos que mostram como surgiu determinada regra monástica e
fórmulas rituais usadas, por exemplo, na ordenação. Estas regras teriam sido
relatadas no primeiro concílio por Upali;
3.Abhidharma Pitaka: trata do aspecto
filosófico e psicológico contido nos ensinamentos do Buda, incluindo listas de
termos técnicos.
Quando se verificou a ascensão do budismo
Mahayana, essa tradição alegou que o Buda ensinou outras doutrinas que
permaneceram ocultas até que o mundo estivesse pronto para recebê-las; dessa
forma a tradição Mahayana inclui outros textos que não se encontram no
Theravada.
Difusão
do budismo
A partir do seu local de nascimento no
nordeste indiano, o budismo espalhou-se para outras partes do norte e para o
centro da Índia. Durante o reinado do imperador máuria Asoka, que se converteu
ao budismo e que governou uma área semelhante à da Índia contemporânea (com
excepção do sul), essa religião consolidou-se. Após ter conquistado a região de
Calinga pela força, Asoka decidiu que a partir de então governaria com base nos
preceitos budistas. O imperador ordenou a construção de hospedarias para os viajantes
e que fosse proporcionado tratamento médico não só aos humanos, mas também aos
animais. O rei aboliu também a tortura e provavelmente a pena de morte. A caça,
desporto tradicional dos reis, foi substituída pela peregrinação a locais
budistas. Apesar de ter favorecido o budismo, Asoka revelou-se também tolerante
para com o hinduísmo e o jainismo.
Asoka pretendeu também divulgar o budismo
pelo mundo, como revelam os seus éditos. Segundo estes, foram enviados
emissários com destino à Síria, Egito e Macedónia (embora não se saiba se
chegaram aos seus destinos) e para o oriente, para um terra de nome
Suvarnabhumi (Terra do Ouro) que não se conseguiu identificar com segurança.
O Império Máuria chegou ao fim em finais
do século II a.C.. A Índia foi então dominada pelas dinastia locais dos Sunga
(185–173 a.C.) e dos Kanva (c.73–25 a.C.), que perseguiram o budismo, embora
este conseguisse prevalecer. Perto do início da era actual, o noroeste da Índia
foi invadido pelos citas, que formariam o Império Kushana. Um dos mais
importantes reis desta dinastia, Kanishka (c. 127-147), foi um grande
proselitista do budismo.
Durante a era da dinastia Gupta
(320-540), os monarcas favorecem o budismo, mas também o hinduísmo. Em meados
do século VI, os Hunos Brancos, oriundos da Ásia Central, invadem o noroeste da
Índia, provocando a destruição de inúmeros mosteiros budistas. A partir de 750,
a dinastia Pala governou no nordeste da Índia até ao século XII, apoiando os
grandes centros monásticos budistas, entre os quais o de Nalanda. Contudo, a
partir do século XII, o budismo entra num declínio definitivo devido a vários
factores. Entre estes, encontravam-se o revivalismo hindu, que se manifestou
com figuras como Adi Shankara e pelas invasões dos muçulmanos dos séculos XII e
XIII.
Embora o budismo tenha passado por uma
verdadeira renovação a partir de 1959, ano em que o Dalai Lama escolhe o
exílio, ele parece quase ausente da Índia, a ponto de termos, muitas vezes, de
seguir turistas estrangeiros para localizar os lugares santos de antigamente.
Nesse percurso, ao longo dos séculos, o budismo suscitou desvios, heresias,
seitas.
Sri
Lanka e Sudeste da Ásia
A tradição cingalesa atribui a introdução
do budismo no Sri Lanka ao monge Mahinda, filho de Asoka, que teria chegado à
ilha em meados do século III a.C., acompanhado por outros missionários. Esse
grupo teria convertido ao budismo o rei Devanampiya Tissa e grande parte da
nobreza local. O rei ordenou a construção do Mahavihara ("Grande
Mosteiro" em pali) na então capital do Sri Lanka, Anuradhapura. O
Mahavihara foi o grande centro do budismo Theravada na ilha nos séculos
seguintes.
Foi no Sri Lanka que, por volta do ano 80
a.C., se redigiu o Cânone Pali, a colectânea mais antiga de textos que
reflectem os ensinamentos do Buda. No século V, chegou à ilha o monge Budagosa,
responsável por coligir e editar os primeiros comentários feitos ao Cânone,
traduzindo-os para o pali.
Na Tailândia, o budismo lançou raízes no
século VII nos reinos de Dvaravati (no sul, na região de Banguecoque) e de
Haripunjaya (no norte, na região de Lamphun), ambos reinos da etnia Mon. No
século XII, o povo Tai, que chegou ao território vindo do sudoeste da China,
adoptou o budismo Theravada como a sua religião.
A presença do budismo na península Malaia
está atestada desde o século IV, assim como nas ilhas de Java e Sumatra. Nessas
regiões, verificou-se um sincretismo entre o budismo Mahayana e o xivaísmo, que
está ainda hoje presente em locais como a ilha de Bali. Entre o século VII e o
IX, a dinastia budista dos Xailendra governou partes da Indonésia e a península
Malaia, tendo sido responsável pela construção de Borobudur, uma enorme estupa
que é o maior monumento existente no hemisfério sul. O islamismo chegou à
Indonésia no século XIV, trazido pelos mercadores, acabando por substituir o
budismo como religião dominante. Atualmente o budismo é principalmente
praticado pela comunidade chinesa da região.
China
A tradição atribui a introdução do
budismo na China ao imperador Ming de Han (25-220 d.C.), o segundo imperador da
dinastia Han do leste. Este imperador teve um sonho no qual viu um ser voador
dourado, interpretado por seus conselheiros como uma visão do Buda. O imperador
enviou emissários a outros países, a oeste da China, para obter informações
sobre a doutrina de Buda.
Escrituras budistas teriam sido trazidas
à China, nas costas de cavalos brancos, por Dharmarakṣa e Kaśyapa Mātaṅga, dois
grandes monges indianos. Então o imperador ordenou a construção do primeiro
templo budista da China, o monastério Baima, na atual cidade de Luoyang, na
província de Henan. Os monges levaram, para a China, 42 sutras, contendo 600
000 palavras em sânscrito.
Independentemente da tradição, o budismo
só se espalhou na China nos séculos V e VI com o apoio das dinastias Wei e
Tang. Durante este período, estabeleceram-se, na China, escolas budistas de
origem indiana ao mesmo tempo em que se desenvolveram escolas próprias
chinesas.
Coreia
e Japão
O budismo entrou na Coreia no século IV.
Nesta altura, a Coreia não era um território unificado, encontrando-se dividida
em três reinos rivais: o reino de Koguryo no norte, o reino de Paekche no
sudoeste e o reino de Silla no sudeste. Estes três reinos reconheceriam o
budismo como uma religião oficial, tendo sido o primeiro a fazê-lo Paekche
(384), seguindo-se o Koguryo (392) e Silla (528). Em 668, o reino de Silla
unificou a Coreia sob o seu poder e o budismo conheceu uma era de
desenvolvimento. Foi nesse período que viveu o monge Wonhyo Daisa (617-686),
que tentou promover um budismo do qual fizessem parte elementos de todas as
seitas. No século VIII, foi difundido na Coreia o budismo da escola chinesa
Chan[desambiguação necessária], denominado son (ou seon)em coreano e que se
tornou a escola dominante. O budismo continuou a florescer durante a era Koryo
(935-1392), até que a dinastia Li (1392-1910) favoreceu o confucionismo.
A partir da Coreia e da China, o budismo
foi introduzido no Japão em meados do século VI. Em 593, o príncipe Shotoku
declarou-o como religião do Estado, mas o budismo foi até à Idade Média um
movimento ligado à corte e à aristocracia sem larga adesão popular (os
missionários coreanos tinham apresentado à corte japonesa o budismo como
elemento de protecção nacional). Durante a era Nara (710-794)-Héian (794-1185),
várias seitas de expressão chinesa começaram a implantar-se no Japão. São deste
último período a escola Shingon e Tendai (Tien Tai). Durante a era Kamakura
(1185-1333), o budismo populariza-se finalmente com as escolas Terra Pura,
Nichiren e Zen (Chan) nas suas principais vertentes chinesas das escolas Rinzai
(Linji) e Soto (Caodong).
Tibete
No Tibete, o budismo propagou-se em dois
momentos diferentes. O rei Srong-brtsan-sgam-po (Songtsen Gampo, c.627-c.650),
influenciado pelas suas duas esposas budistas, decidiu mandar chamar ao Tibete
monges indianos para ali difundirem a religião. Durante o reinado de Khri-srong-lde-btsan
(Trisong Deutsen), construiu-se o primeiro mosteiro budista tibetano e em 747
chegou ao território o notável iogue indiano Padmasambhava, que organizou o
budismo tibetano e fundou a escola hoje conhecida como Nyingma (ou "escola
da tradição antiga", em relação às posteriores escolas estabelecidas por
outros professores). Contudo, uma reação hostil da religião nativa, o Bön,
levaria ao declínio do budismo nos dois séculos seguintes.
O budismo seria reintroduzido no Tibete a
partir do século XI, com a ajuda do monge indiano Atisa, que chegou ao
território em 1042. Com o passar do tempo, formaram-se quatro escolas: Sakyapa,
Kagyupa, Nyingmapa e Gelugpa. Em 1578, membros desta última escola converteram
o mongol Altan Khan à sua doutrina. Alta Khan criou o título de Dalai Lama, que
concedeu ao líder da escola Gelugpa. Em 1641, com ajuda dos mongóis, o quinto
Dalai Lama derrotou o último príncipe tibetano e tornou-se o líder temporal do
Tibete. Os seguintes dalai lamas foram na prática os governantes do Tibete até
à invasão chinesa. O quinto dalai lama criou o cargo de Panchen-lama, que
reside no mosteiro de T-shi-lhum-po e que foi visto como uma encarnação do
Amitabha.
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