quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Judite


Judite

Este livro, cujo nome é o da sua figura principal, mostra-nos como Israel domina todas as dificuldades quando obedece ao Senhor. As pessoas e os lugares nele descritos fazem crer que o autor pretendeu dar-lhes nomes fictícios, embora não se saiba exatamente porquê. O significado de alguns deles enquadra-se bem no próprio conteúdo do livro. O nome da heroína, Judite, que lhe serve de título, simboliza “a judia”, expressão frágil e desamparada do próprio Israel, sob a ameaça dos inimigos. O importante, contudo, é a lição que nos é dada pelo seu cântico: só os que temem o Senhor podem ser grandes em todas as coisas.

TEXTO

Aquele que terá sido o texto original hebraico ou aramaico do Livro de Judite há muito que desapareceu. O testemunho escrito que chegou até nós era constituído por três recensões gregas, uma versão siríaca, a antiga versão latina e a tradução latina feita por São Jerônimo. As poucas recensões hebraicas que se conhecem são consideradas pouco fidedignas para nos darem a conhecer o texto original, uma vez que se apresentam como elaborações livres feitas sobre o mesmo texto.

Segundo Orígenes e São Jerônimo, este livro não era considerado canônico pelos judeus da Palestina. Entretanto, foi traduzido pelo Targum, e o Talmude atribuiu-lhe um grau inferior de inspiração. Contudo, no séc. I d.C. o livro fazia parte do cânone dos judeus de Alexandria. Tudo isto contribuiu para o fato de alguns Padres da Igreja terem posto em causa, e mesmo negado, a sua inspiração.

O texto desta Bíblia foi traduzido a partir da edição crítica dos Setenta de A. Rahlfs, Septuaginta, elaborada com os textos gregos recolhidos dos códices Vaticano, Sinaítico e Alexandrino.

CONTEXTO HISTÓRICO

Estamos, muito provavelmente, diante de um texto parenético e didático, composto a partir de um núcleo original. Com efeito, o texto que chegou até nós apresenta dados históricos e geográficos que põem muitos problemas, quer de situação, quer de identificação. Por exemplo: Nabucodonosor é posto a lutar contra um Medo, de nome Arfaxad, que não se sabe exatamente quem é. Diz-se, igualmente, que conquistou Ecbátana, quando se sabe que ele nunca conquistou esta cidade nem combateu os Medos. A cidade de Betúlia, o Sumo Sacerdote Joaquim e a própria Judite, excetuando a filha de Jacob e Lia, não aparecem referidos em nenhum outro texto do Antigo Testamento.

DIVISÃO E CONTEÚDO

O livro de Judite divide-se em duas partes:

I. Antecedentes do cerco a Betúlia (1,1-6,21): o poder de Nabuco­dono­sor (1); expedição de Holofernes (2); procedimento das nações gentias (3); os judeus preparam-se para a guerra (4); discurso de Aquior a Holofernes (5); resposta de Holofernes (6).

II. Vitória dos judeus (7,1-16,25): a situação torna-se difícil em Betúlia (7); Judite diante dos chefes do povo (8); a oração de Judite (9); a caminho do acampamento assírio (10); na presença de Holofernes (11); Judite na ceia de Holofernes (12); regresso triunfante à cidade (13); ataque contra os assírios (14); vitória completa dos Judeus (15); cântico de Judite (16,1-17); conclusão da história de Judite (16,18-25).

TEOLOGIA

Quando Holofernes e os assírios sitiaram Betúlia, esgotou-se a água na cidade, e os seus habitantes estavam na iminência de perecer. Foi então que uma viúva, chamada Judite, traçou e pôs em prática um plano, que levou os sitiantes à debandada e deu a vitória final aos israelitas.

Como quer que seja, e para além dos pormenores históricos e geográficos, a doutrina do livro merece a nossa atenção. Estamos diante da afirmação de verdades que em nada põem em causa o conjunto da teologia do AT: proclama-se a providência de Deus para com o seu povo; a omnipotência, realeza e sabedoria universal de Deus; a ideia da dor e do sofrimento como prova; a centralidade, reverência e valor do templo; o valor do jejum, da oração e dos atos de penitência.

Este livro manifesta, sobretudo o amor de Deus pelos pequenos, servindo-se de todos os meios para os defender. Neste caso, de uma mulher, que nunca tinha participado numa guerra.

Nenhum comentário:

Postar um comentário