Judite
Este livro, cujo nome é o da sua figura
principal, mostra-nos como Israel domina todas as dificuldades quando obedece
ao Senhor. As pessoas e os lugares nele descritos fazem crer que o autor pretendeu
dar-lhes nomes fictícios, embora não se saiba exatamente porquê. O significado
de alguns deles enquadra-se bem no próprio conteúdo do livro. O nome da
heroína, Judite, que lhe serve de título, simboliza “a judia”, expressão frágil
e desamparada do próprio Israel, sob a ameaça dos inimigos. O importante, contudo,
é a lição que nos é dada pelo seu cântico: só os que temem o Senhor podem ser
grandes em todas as coisas.
TEXTO
Aquele que terá sido o texto original
hebraico ou aramaico do Livro de Judite há muito que desapareceu. O testemunho
escrito que chegou até nós era constituído por três recensões gregas, uma
versão siríaca, a antiga versão latina e a tradução latina feita por São
Jerônimo. As poucas recensões hebraicas que se conhecem são consideradas pouco
fidedignas para nos darem a conhecer o texto original, uma vez que se
apresentam como elaborações livres feitas sobre o mesmo texto.
Segundo Orígenes e São Jerônimo, este
livro não era considerado canônico pelos judeus da Palestina. Entretanto, foi
traduzido pelo Targum, e o Talmude atribuiu-lhe um grau inferior de inspiração.
Contudo, no séc. I d.C. o livro fazia parte do cânone dos judeus de Alexandria.
Tudo isto contribuiu para o fato de alguns Padres da Igreja terem posto em
causa, e mesmo negado, a sua inspiração.
O texto desta Bíblia foi traduzido a
partir da edição crítica dos Setenta de A. Rahlfs, Septuaginta, elaborada com
os textos gregos recolhidos dos códices Vaticano, Sinaítico e Alexandrino.
CONTEXTO
HISTÓRICO
Estamos, muito provavelmente, diante de
um texto parenético e didático, composto a partir de um núcleo original. Com
efeito, o texto que chegou até nós apresenta dados históricos e geográficos que
põem muitos problemas, quer de situação, quer de identificação. Por exemplo:
Nabucodonosor é posto a lutar contra um Medo, de nome Arfaxad, que não se sabe
exatamente quem é. Diz-se, igualmente, que conquistou Ecbátana, quando se sabe
que ele nunca conquistou esta cidade nem combateu os Medos. A cidade de
Betúlia, o Sumo Sacerdote Joaquim e a própria Judite, excetuando a filha de
Jacob e Lia, não aparecem referidos em nenhum outro texto do Antigo Testamento.
DIVISÃO
E CONTEÚDO
O livro de Judite divide-se em duas
partes:
I. Antecedentes do cerco a Betúlia
(1,1-6,21): o poder de Nabucodonosor (1); expedição de Holofernes (2);
procedimento das nações gentias (3); os judeus preparam-se para a guerra (4);
discurso de Aquior a Holofernes (5); resposta de Holofernes (6).
II. Vitória dos judeus (7,1-16,25): a
situação torna-se difícil em Betúlia (7); Judite diante dos chefes do povo (8);
a oração de Judite (9); a caminho do acampamento assírio (10); na presença de
Holofernes (11); Judite na ceia de Holofernes (12); regresso triunfante à
cidade (13); ataque contra os assírios (14); vitória completa dos Judeus (15);
cântico de Judite (16,1-17); conclusão da história de Judite (16,18-25).
TEOLOGIA
Quando Holofernes e os assírios sitiaram
Betúlia, esgotou-se a água na cidade, e os seus habitantes estavam na iminência
de perecer. Foi então que uma viúva, chamada Judite, traçou e pôs em prática um
plano, que levou os sitiantes à debandada e deu a vitória final aos israelitas.
Como quer que seja, e para além dos
pormenores históricos e geográficos, a doutrina do livro merece a nossa
atenção. Estamos diante da afirmação de verdades que em nada põem em causa o
conjunto da teologia do AT: proclama-se a providência de Deus para com o seu
povo; a omnipotência, realeza e sabedoria universal de Deus; a ideia da dor e
do sofrimento como prova; a centralidade, reverência e valor do templo; o valor
do jejum, da oração e dos atos de penitência.
Este livro manifesta, sobretudo o amor de
Deus pelos pequenos, servindo-se de todos os meios para os defender. Neste
caso, de uma mulher, que nunca tinha participado numa guerra.
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