Gênesis
Gênesis (português brasileiro) ou Génesis
(português europeu) (do grego Γένεσις, "origem",
"nascimento", "criação") é o primeiro livro tanto da Bíblia
Hebraica como da Bíblia cristã, antecede o Livro do Êxodo. Faz parte do
Pentateuco e da Torá, os cinco primeiros livros bíblicos. Gênesis (do grego
Γένεσις, "nascimento", "origem") é o nome dado pela
Septuaginta ao primeiro destes livros, ao passo que seu título hebraico
Bereshit (בְּרֵאשִׁית,
B'reishit, "No princípio") é tirado da primeira palavra de sua
sentença inicial. Narra uma visão mitológica desde a criação do mundo na
perspectiva hebraica, genealogias dos Patriarcas bíblicos, até à fixação deste
povo no Egipto através da história de José. A tradição judaico-cristã atribui a
autoria do texto a Moisés enquanto a crítica literária moderna prefere descrevê-lo
como compilado de texto de diversas mãos.
Composição
Embora o texto não contenha relatos internos
de quem foi o autor, a autoria foi tradicionalmente atribuída pela tradição
judaico-cristã a Moisés, um profeta e legislador hebraico. Esta tradição é
baseada um diversas passagens da Bíblia Hebraica que retratam Moisés
"escrevendo". Deuteronômio 31:9 e Deuteronômio 31:24-26 descreve como
Moisés escreve a Torá (lei) e a coloca ao lado da Arca da Aliança. O livro de
Levítico 26:46 diz "Estes são os estatutos, juízos e leis que Jeová deu
entre si e os filhos de Israel no monte Sinai por intermédio de Moisés."
Passagens similares incluem Êxodo 17:14, "disse Jeová a Moisés: Escreve
isto para memorial num livro, e faze-o ouvir a Josué; porque eu hei de
extinguir totalmente a memória de Amaleque de debaixo do céu.;" Êxodo 24:4
"Moisés escreveu todas as palavras de Jeová e, tendo se levantado de manhã
cedo, erigiu um altar ao pé do monte, e doze colunas segundo as doze tribos de
Israel.;" Esta visão é retratata em diversos trechos do Novo Testamento
como Mateus 19:8, Lucas 24:27, João 5:45-47, Atos 3:22, Romanos 10:5 e
Apocalipse 15:3.
A crítica literária moderna descreve o
Livro do Gênesis como um compilado de material escrito a diversas mãos , tendo
assimilado mitos da Suméria, da Babilônia e de Ugarit, especialmente os poemas
da Criação, Enuma Elish e Atrahasis, a influência da Epopeia de Gilgamesh está
também presente no relato do Dilúvio. Não há consenso sobre quando o Gênesis
foi escrito, mas alguns anacronismos apontam que sua redação final aconteceu no
primeiro milênio. As teorias mais recentes colocam a redação final do texto em
torno do século 5 aC, durante o período pós exílio quando a comunidade judia se
adaptava à vida sob o império persa.
Várias tentativas foram feitas para
reconciliar o resultado da análise moderna com a crença tradicional de que
Moisés haveria escrito a Torá. Por exemplo, Mordechai Breuer acredita que
"A Torá deve falar na linguagem do homem." Portanto Breuer postula
que a Torá recorre a uma técnica de comunicação multi-vocal: a soma de textos que
parece dissonante de fato oferece um contraponto poderoso. Similarmente,
erudito judeu Menachem Mendel Kasher acredita que certas tradições da Torá Oral
que descrevem Moisés citanto o texto do Gênesis antes do evento do Monte Sinai;
baseadas em diversos versos bíblicos e afirmações rabínicas - sugerem que
Moisés tinha certos documentos escritos pelos patriarcas quando escreveu o
livro. Alguns judeus e cristãos conservadores, que consideram a inerrância
bíblica, mesmo quando em contradição com as evidências científicas e
históricas, mantêm a crença na autoria mosaica. Argumentam que o escritor do
livro teria familiaridade com a geografia e cultura egípcia, levando em conta o
fato de que Moisés teria sido criado na casa do Faraó no Egito segundo os
versos 45:10 e 47:11 do livro do Gênesis. Detratores da Bíblia, no entanto,
sugerem que alguém versado em história Egípcia teria datado a história do
dilúvio antes das dinastias egípcias. Ainda assim, mesmo conservadores
acreditam que alguns trechos possam ter sido acrescentados e modificados por
outros escritores no período de divisão dos reinos (Gn 36) e (ou) no processo
de cópia dos manuscritos. Tais modificações explicariam os anacronismos
presentes no texto, como a lista dos reis de Israel no período da monarquia
israelita e o fato de algumas cidades serem chamadas por nomes do período da
monarquia em vez do período dos Patriarcas bíblicos. Tais alterações teriam o
objetivo de melhorar a clareza para leitores contemporâneos àquele período.
Cristãos e judeus liberais em geral
rejeitam a teoria da autoria mosaica com base na análise literária moderna.
Narrativa
A
história da criação
A história da criação encontrada nos dois
primeiros capítulos do livro do Gênesis descreve um começo sobrenatural para a
Terra e a vida.
O capítulo 1 descreve a criação do mundo
por Deus (Elohim) através da fala divina culminando com a criação da humanidade
à imagem de Deus e a designação do sétimo dia como Sabbath, um dia de descanso
ordenado por Deus. No segundo capítulo, Deus (Iavé) cria primeiro o homem, na
figura de Adão e, depois, a mulher, Eva, que é criada a partir de uma costela
de Adão. Termina com uma afirmação referente ao casamento entre o homem e a
mulher. A visão de mundo por trás desta história é o da cosmologia comum no
Antigo Oriente Médio, que concebe a Terra como disco plano com infinita água
acima e abaixo. Acreditava-se que o céu era formado por um firmamento sólido e
metálico (lata de acordo com os sumérios e ferro conforme os Egípcios)
separando o mundo habitado das águas que o rodeavam. As estrelas estavam
incrustadas na superfície inferior deste domo, com portões que permitiam a
passagem do Sol e da Lua. O disco da Terra era visto como um continente-ilha
único rodeado por um oceano circular, que era ligado aos mares conhecidos - mar
Mediterrâneo, golfo Pérsico e o mar Vermelho. Como mito de criação, é similar a
outras histórias da mitologia babilônica antiga, como o Enuma Elish diferindo
delas em seu aspecto monoteísta.
As passagens têm uma longa e complexa
história de interpretação. Até a última metade do século 19, elas eram vistas
como um contínuo uniforme: Gênesis 1:2:6 descrevendo as origens do mundo e
Gênesis 2:2:25 mostrando uma pintura mais detalhada da criação da humanidade.
Estudos modernos observaram o uso de nomes distintos para Deus nas narrativas
(Elohim versus Iavé), diferentes ênfases (física versus moral) e divergência na
ordem de criação (ex. plantas antes de humanos versus humanos antes de plantas)
e concluíram que estes textos possuem origens distintas.
Primeiro
relato da criação
O primeiro relato da criação começa com o
período indeterminado em que Deus (aqui chamado de Elohim) cria os céus e a
terra a partir do nada (ex nihilo) ou das águas primordiais (tehom)/caos.
Depois descreve a transformação da criação em seis dias do caos até o estado de
ordem que culmina com a criação dos humanos à sua própria imagem. O sétimo dia
é santificado como um dia de descanso.
A semana de criação consiste em 8
comandos divinos, dados em seis dias, seguido de um dia de descanso.
Primeiro dia: Deus cria a luz (O primeiro
comando é "Haja luz"). A luz é separada da escuridão.
Segundo dia: Deus cria um firmamento (o
segundo comando é "Faça-se um firmamento no meio das águas, e haja
separação entre águas e águas").
Terceiro dia: Deus manda as águas se
juntarem em um lugar e a terra seca aparecer (o terceiro comando é
"Ajuntem-se num só lugar as águas, que estão debaixo do céu, e apareça o
elemento seco"). Deus manda a terra fornecer ervas, plantas e árvores
frutíferas (o quarto comando é "Produza a terra relva, ervas que dêem
semente, e árvores frutíferas que, segundo as suas espécies, dêem fruto que
tenha em si a sua semente, sobre a terra").
Quarto dia: Deus cria luzes no firmamento
para separar a luz da escuridão e marcar dias, estações e anos. Dois grandes
luzeiros são criados (provavelmente o Sol e a Lua) e as estrelas. (o quinto
comando é "Haja luzeiros no firmamento do céu, que façam separação entre o
dia e a noite; sejam eles para sinais, e para tempos determinados, e para dias
e anos; e sejam para luzeiros no firmamento do céu a fim de alumiar a
terra").
Quinto dia: Deus manda o mar se encher de
criaturas vivas e pássaros voarem pelos céus (o sexto comando é "Produzam
as águas enxames de seres viventes, e voem as aves acima da terra no firmamento
do céu."). Deus cria pássaros e criaturas e os manda serem frutíferos e se
multiplicarem (o sétimo comando é "Frutificai, multiplicai-vos e enchei as
águas nos mares, e multipliquem-se as aves sobre a terra.")
Sexto dia: Deus manda a terra produzir
criaturas vivas (o oitavo comando é "Produza a terra seres viventes
segundo as suas espécies: animais domésticos, répteis e animais selvagens
segundo as suas espécies"), fez feras selvagens, animais e répteis. Cria,
então, a humanidade à sua própria imagem e semelhança (o nono comando é
"Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança: domine ele
sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos,
sobre toda a terra e sobre todo o réptil que se arrasta sobre a terra.").
O décimo comando é "Frutificai, multiplicai-vos, enchei a terra e
sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos
os animais que se arrastam sobre a terra." Deus descreve a criação como
"muito boa".
Sétimo dia: Deus descansa e abençoa o
sétimo dia.
O relato se aproxima mais intimamente dos
contos mesopotâmicos, detalhando a formação de características únicas a partir
da separação das águas, um entendimento que se refletiria no Novo Testamento,
em II Pedro 3:4-7, onde é entendido que "a Terra foi formada de água e por
água" À luz da mitologia Jungiana (ou comparada), acadêmicos como Joseph
Campbell acreditam que esta criação a partir da água pode ser reminiscência de
religiões neolíticas de deusas matriarcais, onde o universo não é criado, mas
parido. (i.e., as águas representam o fluido amniótico).
De acordo com o acadêmico sobre o Velho
Testamento Gordon Wenhm, este relato evidencia marcas de uma criação literária
cuidadosamente escrita com uma agenda teológica distinta: a elevação de Iavé, o
Deus dos israelitas, sobre todos os outros deuses, notavelmente Marduk,o deus
dos babilônios.
As formas plurais em "Façamos o
homem à nossa imagem" indicam, segundo estudos acadêmicos modernos, o reflexo
da visão comum no Antigo Oriente Médio de um deus supremo (ver o deus El
rodeado de uma corte divina, os Filhos de Deus). Alguns Cristãos trinitários
interpretam esta forma plural como uma evidência da doutrina da Santíssima
Trindade.
Atualmente, para muitos cristãos e
judeus, os sete dias da criação do mundo, de que fala a Bíblia, não devem ser
entendidos literalmente e representam apenas uma forma metafórica e alegórica
de explicar a criação do Universo. Mas, mesmo assim, algumas correntes cristãs,
denominadas fundamentalistas, originárias em certas regiões dos Estados Unidos,
defendem a leitura literal da Bíblia e, motivadas por este relato de criação e
outros trechos da bíblia, rejeitam a idade do universo e da Terra estipulada
pela ciência moderna e defendem que o universo surgiu em apenas seis dias há
menos de 10 mil anos. Este movimento é chamado de criacionismo cristão e se
apresenta de diversas formas, variando desde o criacionismo da Terra plana, que
defende um modelo de Terra plana, até a aceitação das teorias científicas
modernas sem conflito com a leitura da Bíblia.
Segundo
relato da criação
O segundo relato da criação descreve Deus
(chamado de Iavé) formando o primeiro homem (Adão) da poeira e assoprando-lhe
vida pelas narinas, plantando o jardim, formando os animais e pássaros e,
finalmente, criando a primeira mulher, Eva, para ser sua companheira. Iavé
tendo criado o jardim do Éden, manda que o homem o trabalhe e tome conta dele,
permite que coma de todas as árvores exceto da árvore do conhecimento do bem e
mal porque no dia que o homem dela comesse certamente morreria. Iavé já havia
criado os animais e, então, apresenta-lhes todos a Adão e esse é incapaz de
encontrar uma auxiliar satisfatória entre eles, então Iavé adormece Adão e
retira-lhe uma costela, da qual cria a mulher, que adão nomeia Eva (heb.
ishshah, "mulher") porque foi tirada do homem (heb. ish,
"homem"). Por causa disso, "deixará o homem o seu pai e a sua
mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne". Genesis 2
termina com a nota de que homem e mulher estavam nus e não se envergonhavam.
Genesis 3 introduz a serpente, "a
mais astuta dos animais do campo", a serpente convence a mulher a comer da
árvore do conhecimento, dizendo-lhe que não morreriam, mas tornar-se-iam como
deuses. Eva aquiesce e oferece o fruto ao homem, que também come do fruto e
"seus olhos foram abertos" e deram-se conta de que estavam nus.
Cobriram-se então com folhas de figueira e esconderam-se de Iavé. Iavé pergunta
o que fizeram. Adão culpa Eva e Eva culpa a serpente. Iavé amaldiçoa a serpente
e então amaldiçoa Adão e Eva com o trabalho pesado e dores de parto. Iavé fez
túnicas de peles para ambos e, sendo o homem "como um de nós, sabendo o
bem e o mal" e para impedir-lhe de comer da árvore da vida, os expulsa do
jardim e coloca um querubim armado com uma espada de fogo a cuidar as portas da
terra de onde haviam sido expulsos.
Este segundo relato é estimado ser muito
mais antigo que o primeiro e reflete um contexto literário e histórico distinto.
Sua apresentação usa imagens provenientes da antiga tradição pastoral de Israel
e trata da criação do primeiro homem e da primeira mulher no Jardim do Éden e
encontra paralelos na história de Atrahasis, uma epopéia acadiana do século
XVIII aC. Os povos da antiguidade observam a decomposição dos corpos das
pessoas mortas, que se convertiam em pó, em sua interpretação. Esse fato os
levou a postular que o homem era feito essencialmente de pó. Esse conceito era
compartilhado por diversos povos como os babilônicos, egípcios, gregos e
romanos. De fato, um grande número de mitos de criação de toda as partes do
mundo descrevem a criação a partir de material do solo, normalmente, argila. O
mais antigo dos mitos de criação conhecido, o dos sumérios da Mesopotânia,
conhecido como Eridu Genesis, descreve a criação dos homens a partir de barro
por deuses embriagados, que os deixaram cheios de imperfeições.
A história de Adão e Eva, embora
superficialmente diferente, encontra íntimos paralelos com a história de
Enkidu, um selvagem esculpido pelos deuses a partir de argila, e Shamhat, uma
rameira contratada para seduzi-lo. Após seis dias e sete noites com a rameira,
Enkidu não mais é servido pelos animais e plantas da floresta e "perdera
sua força pois agora tinha o coração dentro de si, e os pensamentos do homem
ocupavam seu coração" e Shamhat lhe disse "És sábio, Enkidu, e agora
te tornaste semelhante a um deus". Na cultura do Antigo Oriente Médio, as
palavras "fruto" e "conhecimento" carregam forte conotação
sexual, inbu, por exemplo, significa tanto "fruto" como
"sexo" em babilônico, enquanto "conhecimento" em hebreu
pode significar "relação sexual".
A serpente era uma figura amplamente
difundida na mitologia do Antigo Oriente Médio. Diversos objetos de culto foram
descobertos por arqueólogos no estrato da Idade do Bronze em diversas cidades
pré-Israelitas em Canaã: dois em Megiddo, um em Gezer, um no sanctum sanctorum
da área do templo H em Hazor, e dois em Shechem. Na região circundante, o
santuário hitita da baixa idade do bronze continha estátuas em bronze de um
deus segurando uma serpente em uma mão e um bastão em outra. Na Babilônia do
século XI a.C., um par de serpentes de bronze emoldurava cada uma das entradas
do templo de Esagila. Os antigos mesopotâmicos e semitas acreditavem que a
serpente era imortal por ser capaz de mudar de pele. Na Epopeia de Gilgamesh,
Gilgamesh obtém a flor de uma "maravilhosa planta" que poderia
"devolver ao homem toda a sua força perdida", uma serpente, no
entanto, roubou-lhe a flor e imediatamente trocou de pele.
A doutrina do pecado original, defendida
por alguns cristãos, segundo a qual o homem nasce com pecados, tem origem nesse
relato da Gênesis, em especial na desobediência de Adão e Eva ao comer do fruto
proibido por Iavé.
Descendência
de Adão
Os capítulos 4 e 5 do livro contam a
história dos filhos de Adão e Eva, Caim, Abel e Sete. Eles também tiveram
outros filhos e filhas, sem nome no livro. Adão viveu 930 anos. Adão e Eva
possuem dois filhos homens, Caim torna-se lavrador e Abel, pastor de ovelhas.
Ambos ofereceram ofertas em sacrifício a Jeová, que se agradou apenas do
sacrifício que Abel lhe havia oferecido. Caim, por ciúme, mata Abel no campo.
Jeová pergunta a Caim onde está Abel e diz que o sangue desse "clamava da
terra até Ele". Caim responde sarcasticamente dizendo "Não sei; sou
eu o guarda de meu irmão?" A razão que motivou o assassinato é dada no
texto e o crime de Caim se agrava pela
mentira. Jeová o amaldiçoa e o expulsa da terra, ficando ele condenado a não
mais conseguir lavrar a terra e tornar-se um vagabundo fugitivo. Caim reclama
que qualquer um o poderia matar, mas Deus coloca-lhe uma marca, dizendo que
quem o matasse seria "castigado sete vezes". A natureza da marca de
Caim também é misteriosa.
Caim foi viver na região de Nod, a leste
do Éden. Caim desposa uma mulher e tem um filho chamado Enoque e edifica uma
cidade com o mesmo nome. De Enoque, nasceu Irad, que gerou Meujael; Meujael
gerou Metusael; Metusael gerou Lameque.
Lameque teve duas esposas, Ada e Zilá.
Ada deu à luz a Jabal, que, segundo o texto, "foi o pai dos que habitam em
tendas e possuem gado"; Jubal, o "pai de todos os que tocam harpa e
flauta" e Tubalcaim, dos "fabricantes de todo o instrumento cortante
de cobre e de ferro". Tiveram igualmente uma filha, Naamá. Então Lameque
disse à suas duas mulheres: "matei um homem, porque me feriu; e um rapaz,
porque me pisou. Se por Caim tomar-se-á vingança sete vezes, com certeza por
Lameque o será setenta e sete vezes."
No lugar de Abel, Deus dá outro filho a
Adão e Eva, Sete, que terá um filho chamado Enós e será o primeiro a invocar o
nome de Deus, Iavé.
Embora este texto de origem na fonte
javista afirme que foi Enós quem primeiro usou o nome de Jeová, a fonte Eloísta
diz ter sido Moisés o primeiro a usar o nome próprio do deus de Israel, conforme
o Livro do Êxodo 3:13-15.
O contraste entre a maldição de Caim
tornar-se um vagabundo, e o fato de depois ter edificado uma cidade, pode
sugerir que essa história foi composta a partir de outras duas. Uma sobre o
primeiro assassinato e, outra, sobre o surgimento da primeira cidade.
O quinto capítulo do Livro do Gênesis é
oriundo da fonte sacerdotal, escrita durante o exílio por volta de 500 a.C.,
porém baseado em tradições mais antigas. Tem o objetivo de, junto com os
versículos de 10 a 26 do capítulo 11, traçar a genealogia entre Adão e Abraão.
A genealogia de Adão é traçada por Sete, mas diversos nomes na série são iguais
ou semelhantes a alguns nomes na linhagem de Caim. A tabela abaixo compara tais
genealogias. A ordem é alterada para por em evidência as semelhanças. Os números
à esquerda indicam a sequência como aparecem no texto.
Gênesis
4:17-26 (Fonte javista)
Gênesis 5:1-32 (Fonte sacerdotal)
1.Adão 1.Adão
8.Sete 2.
Sete
9.Enosh 3.Enosh
2.Cain 4.
Kenan
5.Mahujael 5.Mahalalel
4.Iradi 6.Jared
3.Enoque 7.Enoque
6.Mathusael 8.Methuselah
7.Lameque 9.Lameque
10.Noé 10.Nóe
Longos períodos de vida são atribuídos a
dez patriarcas antediluvianos. A tradição babilônica também registra dez reis
com períodos de vida muito longos que reinaram sucessivamente antes do dilúvio.
Em ambas as listas, a sétima posição tem significado especial. En-men-dur-ana,
o sétimo rei da lista babilônica, tem o mesmo nome da cidade onde se centraliza
a adoração ao deus Sol e foi levado aos céus pelos deuses enquanto Enoque viveu
365 anos - o número de dias de um ano solar - e também foi "tomado por
Deus".
Dilúvio
Os capítulos de 6 a 9 descrevem a
história de Noé, um herói que constrói uma arca e sobrevive a um dilúvio
universal junto com sua família e animais de todas as espécies.
A crítica literária moderna identifica
dois relatos entrelaçados no texto, um de origem na fonte Javista e outro
oriundo da fonte sacerdotal. O relato javista descreve Noé como um camponês que
plantou uma vinha, já o relato sacertodal o coloca como um segundo pai da
humanidade, com quem Deus fez uma aliança. As incongruências entre as duas
narrativas levaram alguns críticos a insistir que os relatos não possuíam o
mesmo tema. A combinação das duas histórias produziu duplicações (como 6:13-22
e 7:1-5) e contradições como a cronologia do dilúvio (8:3-5, 13-14 contra 7:4,
10, 12, 17b; 8:6, 10, 12) e o número de animais na arca (6:19-20; 7:14-15
contra 7:2-3). Deve ser notado também que alguns eruditos, mesmo reconhecendo
duas narrativas do dilúvio, acreditam que a redação final deva ser compreendida
como um todo, isto é, o trabalho do redator foi o de juntar duas narrativas em
um trabalho composto final, mesmo sem a preocupação com a consistência do
texto.
Ambos os relatos remetem à antiga
história de dilúvio registrada na Epopeia de Gilgamesh.
Prólogo
Os primeiros versos do capítulo 6
introduzem os Nefilins, gigantes da mitologia judaica, como o resultado do
cruzamento entre os filhos de Deus e as filhas do homem. Este trecho, de origem
javista, é considerado um dos mais estranhos de toda a Bíblia Hebraica.
1 Quando os homens
começaram a multiplicar-se sobre a terra e lhes nasceram filhas, 2 viram os
filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas, e tomaram para si
mulheres de todas que escolheram. 3 Então disse Jeová: O meu espírito não
permanecerá para sempre no homem; porque ele também é carne; portanto os seus
dias serão cento e vinte anos. 4 Ora naqueles dias estavam os Nefilins na terra,
e também depois, quando os filhos de Deus conheceram as filhas dos homens, as
quais lhes deram filhos. Os Nefilins eram os valentes que houve na antiguidade,
varões de renome.
Tradução Brasileira da Bíblia/Gênesis/VI
De acordo com a New American Bible, da
Conferência Americana de Bispos Católicos, esta passagem é aparentemente um
empréstimos de lendas da antiga mitologia. Os filhos de Deus, literalmente
seres celestiais foram tradicionalmente entendidos como anjos, uma espécie de
mensageiros ou ajudantes do deus Iavé. A crítica moderna, no entanto, prefere
associá-los ao conselho divino formado pelo deus El e sua corte. O objetivo
destes versos é normalmente visto como o de introduzir a história do dilúvio
explicando que o homem vinha se corrompendo e que a corrupção atingira níveis
celestiais.
Narrativa
A história da Arca de Noé, de acordo com
os capítulos 6 a 9 do livro do Gênesis, começa com Deus observando o mau
comportamento da Humanidade e decidindo inundar a terra e destruir toda vida.
Porém, Deus encontrou um bom homem, Noé, "um virtuoso homem, inocente
entre o povo de seu tempo", e decidiu que este iria preceder uma nova
linhagem do homem. Deus disse a Noé para fazer uma arca e levar com ele a
esposa e seus filhos Sem, Cam e Jafé, e suas esposas. E, de todas as espécies
de seres vivos existentes então, levar para a arca dois exemplares, macho e
fêmea. A fim de fornecer seu sustento, disse para trazer e armazenar alimentos.
Noé, sua família e os animais entraram na
arca e "no mesmo dia foram quebrados todos os fundamentos da grande
profundidade e as janelas do céu foram abertas, e a chuva caiu sobre a terra
por quarenta dias e quarenta noites". A inundação cobriu mesmo as mais
altas montanhas por mais de seis metros (20 pés), e todas as criaturas
morreram; apenas Noé e aqueles que com ele estavam sobre a arca ficaram vivos.
A história do dilúvio é considerada por vários estudiosos modernos como a
mistura de dois contos ligeiramente diferentes, entrelaçados, daí a aparente
incerteza quanto à duração da inundação (quarenta ou cento e cinquenta dias) e
o número de animais colocados a bordo da arca (dois de cada espécie, ou sete
pares de alguns tipos).
Eventualmente, a arca veio a descansar
sobre o monte Ararate. As águas começaram a diminuir e os topos das montanhas
emergiram. Noé enviou um corvo, que "voou de um lado a outro até que as
águas recuaram a partir da terra". Em seguida, Noé enviou uma pomba, mas
ela retornou à arca sem ter encontrado nenhum lugar para pousar. Depois de mais
sete dias, Noé novamente enviou a pomba e ela voltou com uma folha de oliva no
seu bico e então ele soube que as águas tinham abrandado.
Noé esperou mais sete dias e enviou a
pomba mais uma vez, e desta vez ela não retornou. Em seguida, ele e sua família
e todos os animais saíram da arca e Noé fez um sacrifício a Deus, e Deus
resolveu que nunca mais lançaria maldição à terra por causa do homem, nem iria
destruí-la novamente dessa maneira.
A fim de se lembrar dessa promessa, Deus
colocou o Arco da Aliança nas nuvens, dizendo: "Sempre que houver nuvens
sobre a terra e o arco aparecer nas nuvens, eu me lembrarei da eterna aliança
entre Deus e todos os seres vivos de todas as espécies sobre a terra".
A narrativa do dilúvio no texto de
Gênesis é significativamente semelhante aos mitos mesopotânicos, especialmente
à Epopeia de Gilgamesh e à de Atrahasis. Gilgamesh empreende uma jornada em
busca da imortalidade e encontra um velho ancestral, Utnapshtim, que havia
ganhado dos deuses a imortalidade após sobreviver em uma arca a um dilúvio. O
herói babilônico carrega em sua arca animais, familiares e artesãos para
fazerem reparos à arca. Assim como Noé, Utnapshtim envia pássaros para testar o
fim do dilúvio. A arca de Noé repousa no monte Ararate, a de Utnapshtim
igualmente termina sobre uma montanha com o fim das águas. Ao final do relato,
tanto Noé como Utnapshtim oferecem sacrifícios.
Análise
documentária
A separação do relato em duas partes, uma
de origem javista e outra de origem sacerdotal traz algumas dificuldades.
Embora algumas diferenças estejam mais claras:
No relato javista, a erosão moral da
humanidade fez Iavé "arrepender-se" da criação do homem e recomeçar a
criação com Noé. Iavé é retrato em termos humanos, o mal comportamento do homem
lhe "pesou no coração". Noé "acha graça aos (seus) olhos".
Em contraste, no relato sacertodal, Elohim se mantém distante e emite decretos
sobre a terra. A destruição é motivada pela corrupção do homem.
Um dilúvio é escolhido como ferramenta de
limpeza e de destruição. O dilúvio vem como uma espécie de reversão da criação,
remetendo o mundo às águas primordiais e com o objetivo de reconstruí-lo a
partir do conteúdo da arca de Noé. No relato javista, Noé é instruído a coletar
sete casais dos "animais limpos" apenas um casal de cada "animal
sujo". Enquanto, no relato sacerdotal, a instrução é de coletar um casal
de cada animal. A distinção entre animais limpos e não limpos só seria
revelada, segundo o relato bíblico, pela introdução das leis rituais por Moisés
no episódio do Monte Sinai. A terra é então coberta de água, seja por chuvas no
relato javista seja porque, no relato sacerdotal, romperam-se as fontes do
grande abismo (porção de água que se acreditava haver sob a terra) e abriram-se
as janelas do céu. A natureza antropomórfica do retrato de Iavé está presente
quando ele fecha a porta da arca. A duração do dilúvio é de 40 dias e 40 noite
no relato javista e Noé espera mais três semanas antes de desembarcar. No outro
relato, a duração é de um ano. A história se conclui com Noé oferencedo um
sacrifício de animal a Iavé, que aprecia o cheiro. Já o relato sacerdotal em
9:1-17 apresenta uma dupla conclusão: Deus dando ao homem o domínio sobre a
Terra, os animais e plantas sobre ela e uma aliança entre Noé e Deus, que
promete não mais dizimar a vida com novos dilúvios.
Aliança
No período pós-dilúvio, Noé e sua família
recebem as ordem divinas de "Frutificai, multiplicai-vos e enchei a
terra.", ou seja, as ordem dadas aos primeiros homens foram repetidas.
Agora a humanidade viveria sob nova aliança e teria poder sob a terra. Deus
proíbe, no entanto, o homem de comer o sangue da carne. Deus igualmente proíbe
o homicídio dizendo "Se alguém derramar o sangue do homem, pelo homem será
derramado o seu sangue; porque o homem foi feito à imagem de Deus." Esta
nova relação do homem com sua terra associada à promessa de Deus de não mais
destruir a vida com o dilúvio é descrita como uma aliança entre Deus e o homem.
O sinal desta aliança seria o arco-íris.
A
maldição de Cam
Noé planta uma vinha, produz vinho e,
embriagado, dorme nu em sua tenda. Seu filho Cam "viu a nudez de seu pai,
e contou a seus dois irmãos que estavam fora." Os outros filhos de Noé,
Sem e Jafé, respeitosamente cobriram o pai. Noé ao acordar, "descobre o que
o filho lhe fizera" e o amaldiçoa dizendo "Maldito seja Canaã; Servo
dos servos será de seus irmãos" e acrescentou: "Bendito seja Jeová, o
Deus de Sem; E seja-lhes Canaã por servo. Dilate Deus a Jafé, E habite Jafé nas
tendas de Sem; E seja-lhes Canaã por servo." Não é claro do relato, o que
Cam fizera ao pai, nem porque a maldição caiu sobre Canaã, seu filho.
Alguns eruditos bíblicos vêem a história
da maldição como uma antiga justificativa para a conquista e escravização dos
canaanitas.
A maldição de Cam foi usada por alguns
membros de religiões abraâmicas para justificar o racismo e a escravidão de
negros africanos, quem acreditavam ser descendentes de Cão. Defensores da
escravidão nos Estados Unidos invocaram consistentemente este relato da Bíblia
ao longo do século XIX em resposta ao crescimento do movimento abolicionista.
No Brasil, a maldição de Caim serviu de justificativa para escravizar os
índios, tendo missionário da Ordem de São Pedro João de Sousa Ferreira afirmado
"Não há lei divina nem humana que proíba a possessão de escravos" e
continuou "(e os índios brasileiros) são da descendência da maldição de
Ham" . Os Portugueses igualmente consideravam os negros descendentes de
Cão. A cor era o sinal da maldição e justificava a escravidão.
Dispersão
da humanidade pós-dilúvio
Os capítulos 10 e 11 do livro do Gênesis
relatam a dispersão do homem pela terra após o dilúvio. O primeiro relato tem
origem sobretudo na fonte sacerdotal e fornece uma genealogia para os três filhos
de Noé, Sem, Cam e Jafé. O segundo relato, de origem javista, conta
essencialmente a mesma história através de uma alegoria com a construção e destruição
de uma torre.
Ambos os relatos partem de uma humanidade
coesa e compartilhando a mesma língua e culminam com a sua dispersão.
Tábua
das nações
Os capítulos dez e onze trazem uma lista
de descendentes dos filhos de Noé "segundo as suas famílias, segundo as
suas línguas, nas suas terras, segundo as suas nações." Os descendentes de
Nóe teriam dado origem às nações do Antigo Oriente Médio. A divisão, no
entanto, não respeita etnias ou línguas, mas limites geográficos e afinidade
política. Esta tabela dividia o mundo em 70 nações (72 na versão da
septuaginta). A área coberta pela tabela se estende das montanhas do Cáucaso ao
norte até a Etiópia ao sul; do mar Egeu ao oeste até as terras altas do Irã ao
leste. A análise literária moderna descreve o texto como a junção de duas
tradições com predominância da tradição sacerdotal sobre a javista. O texto
mais antigo, preocupa-se com tribos e clãs, enquanto o mais moderno dá ênfase
ao conceito de nação.
A lista de nações também tem o objetivo
de mostrar a realização da promessa de Deus a Noé, ao mostrar seus descendentes
multiplicando-se e povoando a terra.
A
Torre de Babel
Os versos de 1 a 9 do capítulo 11 do
livro contam da história de um grupo de pessoas, que antes do surgimentos das
diversas línguas, foram morar no oriente, na planície de Sinear, uma
terminologia usada na Bíblia Hebraica para se referir provavalmente à região da
Mesopotâmia. A passagem explica o método construtivo dos babilônicos, com
tijolos e betume, em vez da técnica palestina de construir com pedra e cal. A
estrutura é normalmente associada a um zigurate, antigos templos babilônicos,
embora o texto não faça qualquer associação religiosa à torre.
Jeová, então, desce "para ver a
cidade e a torre, que os filhos dos homens edificavam" e vendo o que
faziam, decidiu confundir-lhes as línguas para impedir que prossigam com sua
empreitada, dizendo "Vinde, desçamos e confundamos ali a sua linguagem,
para que não entendam a linguagem um do outro."
Nesta passagem, a descrição
antropomórfica de Jeová fica evidente quando ele "desce" e
"vê" e mostra-se temeroso com o desenvolvimento do povo. O texto
também apresenta alguns jogos de palavras "Babel", que significa
confusão em hebraico e também com o uso de uma palavra que significa
"lugar" e "nome" ao mesmo tempo no verso "façamo-nos
um nome". As formas plurais empregadas por Jeová "Vinde, desçamos e
confundamos ali a sua linguagem, para que não entendam a linguagem um do
outro." mais aparecem no relato javista.
Apesar do contexto babilônico da
história, não se conhecem relatos paralelos na mitologia babilônica. Há, no
entanto, uma história parecida à da Torre de Babel na mitologia suméria chamada
Enmerkar e o Senhor de Aratta, na qual Enmerkar de Uruk constrói um massivo
zigurate em Eridu e os dois deuses rivais, Enki e Enlil acabam por confundir as
línguas de toda a humanidade como efeito colateral da sua discussão.
O
ciclo de Abraão
A narrativa do chamado ciclo de Abraão se
encontra entre os capítulos 11 de 25. Abraão é o décimo na genealogia a partir
de Noé, assim como Noé é o décimo a partir de Adão. O nome original de Abrãao é
Abrão, o qual é modificado devido à sua nova relação com Jeová, assim como o
nome de sua esposa Sarai é modificado para Sara.
A historicidade de Abraão foi objeto de
muito estudo por historiadores e arqueólogos. Apesar de não haver relatos
extra-bíblico de uma personagem como a de Abraão, entende-se que seu modo de
viver era compatível com o de um habitante do Oriente Médio do segundo milênio
a.C. Parece existir também coincidência entre seu estilo de vida e os nomes
citados em sua história com as migrações dos amoritas. O pai de Abraão, no
entanto, teria nascido em Ur dos Caldeus, mas tal denominação não poderia se
aplicar antes do século 11 a.C. Acadêmicos têm observado uma série de outros anacronismos
no texto, por exemplo, nos capítulos 20 e 26, o rei de Gerar é citado como
governante dos Filistina, enquanto os filisteus apenas ocuparam a costa de
Canaã no século XII a.C.
O
chamado de Abrão
Abrão é casado com Sarai, uma mulher
estéril e, juntamente com sua esposa, seu pai e seu sobrinho, Ló, viaja para
Herã onde fixa residência. Certo dia Abrão recebe um chamado de Jeová, que lhe
diz "Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai para a
terra que te mostrarei; farei de ti uma grande nação, e te abençoarei e
engrandecerei o teu nome. Sê tu uma bênção: abençoarei os que te abençoarem, e
amaldiçoarei aquele que te amaldiçoar; por meio de ti serão benditas todas as
famílias da terra."O chamado de Abraão inaugura três temas que se tornam
dominantes ao longo do relato da Bíblia Hebraica: migração para Canaã, a
promessa da extensa descendência e a promessa de tornar a Terra prometida uma
grande nação. A promessa é dominada pela palavra "bênção", que aparece
cinco vezes. O autor do texto estabelece um constraste entre a promessa à Abrão
e o episódio da Torre de Babel. Ao contrário dos babilônicos que desejam
construir por seu próprio esforço seu nome e são dispersados por Jeová, a
terra, o nome e a fama de Abrão advêm da bênção divina.
O narrador javista não informa qual foi a
reação de Abrão, tampouco seus motivos para obedecer ao chamado. Abrão apenas
obedece.
A
partida para o Egito
A primeira parada de Abrão foi Siquém ,
onde, próximo ao carvalho de Moré, Jeová apareceu-lhe e prometeu-lhe que aquela
terra seria de sua descendência. Abrão construiu um altar para Jeová.
O texto do Gênesis retrata tanto Abrão
como seu filho Isaac construindo altares em antigas cidades de culto
israelitas. Assim como esta promessa aconteceu nas proximidades do carvalho de
Moré, diversos acontecimentos importantes da Bíblia Hebraica acontecem em torno
de árvores sagradas, que eram consideradas lugares apropriados para a
comunicação com os deuses. Na religião Canaanita, as árvores sagradas era
especialmente associadas à deusa Aserá, uma deusa que foi adorada em Israel talvez
como cosorte de Jeová até o período da
monarquia.
A medida que Abrão segue sua viagem em
direção a Neguebe, ele passa por Betel e Ai, cidades onde igualmente constrói
altares para Jeová e invoca seu nome. Devido à escassez de alimentos na região,
Abrão desvia seu caminho para o Egito. Não era incomum que povos semitas pedissem
ajuda ao Egito em períodos de fome, no entanto, é de difícil compreensão o
desvio de Abrão frente à promessa divina de bonança. Igualmente surpreendente é
o temor de Abrão: preocupado com sua segurança pessoal faz que sua esposa se
passe por sua irmã pois sendo Sarai muito bonita, chamaria a atenção do faraó
que mandaria matar Abrão para ficar com Sarai.
Assim como previsto por Abrão, a beleza
de Sarai chama atenção dos príncipes do Egito, que a conduzem e a exibem diante
do faraó. O faraó toma Sarai como sua mulher e presenteia Abrão com
"ovelhas, bois, jumentos, servos, servas, jumentas e camelos". Em
função disto, Jeová manda uma praga ao faraó, embora deixe Abrão impune. O
texto não explica como o faraó associa a praga enviada a Sarai e nem como ele
descobriu que ela era esposa de Abrão, não obstante Abrão é chamado à frente do
faraó, confessa a mentira e é expulso do Egito junto com Sarai e seus
pertences.
A falta de fé de Abrão em Jeová apresenta
notável valor teológico dentro da trama por introduzir o desenvolvimento em
Abrão da fé e da confiança em Jeová. O desvio da viagem para o Egito serve
igualmente como uma antecipação do conflito entre hebreus e egípcios descrita
no livro do Êxodo.
Essencialmente a mesma história com
algumas variações nos personagens e incidentes é encontrada novamente duas
vezes no livro (20:1-8 e 26:6-11), porém com uma acepção moral bastante
distinta. Enquanto o narrador do capítulo doze parece se divertir com a
esperteza de Abrão e não se preocupa em desculpá-lo, os relatos posteriores
mostram sensibilidade bem maior com questões morais. Abrão não mais mente, ao
afirmar que Sarai é sua meia-irmã e a intervenção divina vem antes de a honra de
Sarai ser comprometida.
A
separação de Abrão e Ló
O capítulo treze conta a história da
separação entre Abrão e seu sobrinho Ló. Suas riquezas se multiplicaram e o
tamanho de seus rebanhos faz que seus servos briguem por falta de terra. Abrão
entende que não é apropriado que homens da mesma família disputem por espaço e
decide que devem se separar, manda que Ló escolha seu caminho e parte na
direção oposta. Abrão se instala em Canaã e Ló, em Sodoma, uma cidade habitada
por homens que "eram maus e grandes pecadores contra Jeová".
Os versos de 14 a 17, acredita-se terem
sido posteriormente interpolados e ratificam a promessa de Jeová:
14. Disse Jeová a Abrão,
depois que Ló se separou dele: Levanta agora os olhos, desde o lugar onde estás
olha para o Norte, para o Sul, para o Oriente e para o Ocidente; 15. Porque
toda essa terra que vês, te hei de dar a ti e à tua semente para sempre. 16.
Farei a tua semente como o pó da terra; de maneira que se alguém poder contar o
pó da terra, então também poderá ser contada a tua semente. 17. Levanta-te,
percorre essa terra no seu comprimento e na sua largura: porque a hei de dar a
ti.
Tradução Brasileira
da Bíblia/Gênesis/XIII
Ao final, Abrão desloca-se para perto dos
terebintos de Manre e edifica um altar a Jeová.
Abrão
e Melquisedeque
O capítulo 14 é consensualmente aceito
como um dos mais complicados do livro do Gênesis, tendo diversas
características literárias únicas que o destacam do restante do texto. Abrão é
transformado em heroi militar em um episódio que interrompe o fluxo da
narrativa entre os capítulos treze e quinze. O caráter de Abrão neste episódio
difere profundamente da descrição em outros capítulos e a total ausência da
interferência divina é aspecto único entre as narrativas patriarcais.
A historicidade do contexto em que o
episódio, rico em detalhes, está inserido é alvo de ampla discussão. A maioria
dos eruditos bíblicos consideram o episódio como a interpolação tardia de uma
narrativa composta a partir de tradições orais.
Na história, uma coalizão militar declara
guerra "contra Bera, rei de Sodoma, contra Birsa, rei de Gomorra, contra
Sinabe, rei de Admá, contra Semeber, rei de Zeboim e contra o rei de Belá"
e, após derrotarem Sodoma e Gomorra, levam como espólio os bens e a população,
que incluía Ló. Abrão ao ser avisado do sequestro de seu sobrinho, monta uma
companhia com seus 318 homens mais bem disciplinados e resgata os bens das
cidades e liberta os capturados.
O rei de Sodoma vai ao encontro de Abrão
e Melquisedeque, rei de Salém, que também era sacerdote do Deus Altíssimo (El
Elyon) leva pão e vinho. Melquisedeque abençoa Abrão em nome do "Deus
Altíssimo, criador do céu e da terra." Abrão lhe paga o dízimo de tudo que
obtivera. O rei de Sodoma pede seu povo de volta e consente que Abrão conserve
o espólio para si. Abrão recusa ficar com os bens de Sodoma.
Quando Melquisedeque abençoa Abrão, ele
responde, segundo o texto massorético, levantando a mão para "Jeová, Deus
Altíssimo, Criador do céu e da terra". A associação feita entre Jeová e o
o Deus altíssimo presente apenas no texto massorético não aparece em nenhuma
outra fonte ou testemunha antiga do texto, seja na versão da Septuaginta, seja
nos textos pertencentes aos Manuscritos do Mar Morto. O epíteto "criador
dos céus e da terra" associado ao relato sacerdotal parece só ter sido
transferido a Jeová pela teologia de Jerusalem como uma influência babilônica.
Aliança
de Abrão
O capítulo quinze também apresenta
algumas dificuldades de compreensão. Do ponto de vista da análise documental,
embora sua origem seja consensualmente aceita como javista, alguns acreditam
que pode ter havido algumas inserções eloístas. Além disso, acredita-se que a
narrativa tenha sido composta a partir de pelo menos duas tradições distintas.
O capítulo começa com Abrão tendo uma
visão de Jeová, dizendo "Não temas, Abrão; eu sou teu escudo, a tua
recompensa será infinitamente grande". A palavra recompensa normalmente se
refere a riqueza na Bíblia Hebraica, mas o texto não especifica qual será essa
recompensa. Abrão queixa-se de não ter tido filhos e de deixar sua herança a
"Eliezer de Damasco", um escravo. Jeová então lhe diz que Eliezer não
seria seu herdeiro, mas um filho próprio. Jeová faz Abrão sair para olhar as estrelas
e diz que sua descendência seria tão numerosa quanto elas e "Abrão creu em
Jeová".
O verso 7 começa com uma nova introdução
de Jeová e uma nova promessa. A promessa agora é de terra e a aliança entre
Abrão e Jeová se faz através de um ritual, que envolve uma novilha de três
anos, uma cabra de três anos, um carneiro de três anos, uma rola e um pombinho.
Abrão partiu os três primeiros animais ao meio. Esse antigo ritual é mencionado
no Livro de Jeremias 34:18 e era uma forma comum de firmar acordos no Antigo
Oriente Médio. Acreditava-se que aquele que não cumprisse sua parte teria o mesmo
destino dos animais mortos. Esta passagem coloca Abrão e Jeová em uma relação
recíproca em que ambos assumem riscos e ambos assumem comprometimentos.
Os versos de 12 a 16 interrompem a
narrativa contando que Abrão cai em um profundo sono e recebe a revelação
divina de que seus descendentes seriam escravos durante 400 anos. Relata que
Jeová julgaria a nação que os escravizasse e que levariam grandes riquezas de
seus senhores. Abrão teria uma velhice tranquila e os amoritas ainda não seriam
julgados.
Os versos seguintes descrevem uma nova
aliança entre Jeová e Abrão com uma descrição da extensão da Terra Prometida,
conforme os limites do reino de David.
Linha do tempo
Criação
Adão e Eva
Noé
Torre de Babel
Nascimento de Abraão 2166 a.C. (2000
a.C.)
Abraão entra em Canaã 2091 a.C. (1925
a.C.)
Nascimento de Isaque 2066 a.C. (1900
a.C.)
Nascimento de Jacó e Esaú 2006 a.C. (1840
a.C.)
Jacó Foge para Harã 1929 a.C. (1764 a.C.)
Nascimento de José 1915 a.C. (1750 a.C.)
José é vendido como escravo 1898 a.C.
(1733 a.C.)
José governa o Egito 1885 a.C. (1720
a.C.)
Morte de José 1805 a.C. (1640 a.C.)
Estudos
e discussões
As discussões sobre a origem e a autoria
dos textos bíblicos dependem da aceitação da premissa de que eles não foram
ditados por Deus aos escritores e que os relatos não são literais, e sim
interpretações da história do povo de Israel. Partindo desse princípio, é
difícil tratar do conteúdo de Gênesis como um texto escrito por uma única
pessoa num curto período de tempo.
Visão
religiosa tradicional
A visão tradicional acreditava que o
livro de Gênesis tivesse sido escrito por Moisés (embora ele viesse a morrer
antes do final do Pentateuco), ou por cronistas próximos a ele. Porém, as
informações nele contidas podem ter sido transmitidas a Moisés pela tradição
oral. A longevidade atribuída aos homens daquele período explicaria o fato de
que as informações teriam sido transmitidas por Adão a Moisés através de apenas
cinco elos humanos: Matusalém, Sem, Isaque, Levi e Anrão.
Outra possibilidade é de que Moisés tenha
obtido grande parte das informações relativas o Gênesis através de textos ou
documentos já existentes. Já no século XVIII, o erudito holandês Campegius
Vitringa sustentava essa teoria baseando sua conclusão nas freqüentes
ocorrências, em Gênesis (10 vezes), da expressão (em KJ; Tr) "essas são as
gerações de", e uma vez "esse é o livro das gerações de". Nessa
expressão, a palavra hebraica para "gerações" é toh•le•dhóhth, mais
bem traduzida por "histórias" ou "origens". Por exemplo,
"gerações dos céus e da terra" dificilmente se enquadraria aqui,
enquanto que "histórias dos céus e da terra" faz sentido. (Gên 2:4)
Em harmonia com isso, a Bíblia alemã Elberfelder, a francesa Crampon e a
espanhola Bover-Cantera são versões que usam o termo "histórias",
assim como faz a Tradução Novo Mundo.
Visão
acadêmica
Entretanto, para a crítica bíblica, há
evidências no texto que demonstram que as tradições de Gênesis, especialmente
entre o final da narrativa do dilúvio e a história de José, podem ter sido
compiladas durante o período de dominação babilônica: entre os séculos VII e VI
a.C..
É postulado que Abraão tenha nascido na
cidade de "Ur dos caldeus", termo repetido algumas vezes. No entanto,
os caldeus só surgiram na região de Ur, a leste da Mesopotâmia, por volta do
século IX a.C., pelo menos 1000 anos depois do tempo suposto para a história de
Abraão. A própria diferença nos estilos literários e as histórias aparentemente
desconexas da vida de Abraão podem ser um indicativo de que tais histórias
tenham sido compiladas em diferentes momentos, ou por diferentes autores, a
partir de uma tradição oral transmitida ao longo de muitas gerações.
Alguns estudiosos acreditam que as
histórias de Isaque, que em vários momentos são semelhantes às de Abraão, sejam
um recurso estilístico observado em outros pontos do relato bíblico (a
recorrência da cidade de Belém relacionada aos nascimentos de David e Jesus
para ressaltar o parentesco entre este e aquele, por exemplo, embora Jesus
nunca fosse referido como belenense ou belemita, mas como nazareno, pois morava
em Nazaré), para realçar a ligação entre os dois personagens através de seus
atos, fortalecendo a ligação entre Israel, filho de Isaque, e o patriarca Abraão.
A narrativa da história de José, que visa
explicar a origem das 12 Tribos de Israel, pode ter sido compilada por
cronistas de Israel no período em que os reinos de Israel e Judá estiveram
divididos, durante o primeiro milênio antes de Cristo, pois toda a narrativa
realça a importância e a nobreza de José (pai das meias-tribos de Efraim e
Manassés, as tribos dominantes do Reino do Norte), em contrapartida com a
indiferença e a inveja de Judá (a tribo predominante do Reino do Sul),
refletindo o rancor das tribos de José e da tribo de Judá naquele período. Ao
final da narrativa, quando Jacó chega ao Egito e abençoa seus filhos, é
prometido à tribo de Judá que ela reinaria sobre todas as outras, o que
contradiz a finalidade do restante da narrativa.
Adão
e Eva como parábola
Alguns teólogos têm procurado conciliar à
história de Adão e Eva com a Teoria da Evolução.
Teilhard de Chardin foi um padre jesuíta,
teólogo, filósofo e paleontólogo francês que logrou construir uma visão
integradora entre ciência e teologia. Através de suas obras, legou-nos uma
filosofia que reconcilia a ciência do mundo material com as forças sagradas do
divino e sua teologia. Disposto a desfazer o mal entendido entre a ciência e a
religião, conseguiu ser mal visto pelos representantes de ambas. Muitos colegas
cientistas negaram o valor científico de sua obra, acusando-a de vir carregada
de um misticismo e de uma linguagem estranha à ciência. Do lado da Igreja
Católica, por sua vez, foi proibido de lecionar, de publicar suas obras
teológicas e submetido a um quase exílio na China.
Aparentemente, a Terra Moderna nasceu de
um movimento anti-religioso. O Homem bastando-se a si mesmo. A Razão
substituindo-se à Crença. Nossa geração e as duas precedentes quase só ouviram
falar de conflito entre Fé e Ciência. A tal ponto que pôde parecer, a certa
altura, que esta era decididamente chamada a tomar o lugar daquela. Ora, à
medida que a tensão se prolonga, é visivelmente sob uma forma muito diferente
de equilíbrio – não eliminação, nem dualidade, mas síntese – que parece haver
de se resolver o conflito.
O padre Ariel Álvarez Valdez sustenta que
se trata de uma parábola composta por um catequista hebreu, a quem os
estudiosos chamam de “yahvista”, escrita no século X a.C, que não pretendia dar
uma explicação científica sobre a origem do homem, mas sim fornecer uma
interpretação religiosa, e elegeu esta narração na qual cada um dos detalhes
tem uma mensagem religiosa, segundo a mentalidade daquela época.
John F. Haught, filósofo americano
criador do conceito de Teologia evolucionista, diz que "o retrato da vida
proposto por Darwin constitui um convite para que ampliemos e aprofundemos
nossa percepção do divino. A compreensão de Deus que muitos e muitas de nós adquirimos
em nossa formação religiosa inicial não é grande o suficiente para incorporar a
biologia e a cosmologia evolucionistas contemporâneas. Além disso, o benigno
designer [projetista] divino da teologia natural tradicional não leva em
consideração, como o próprio Darwin observou, os acidentes, a aleatoriedade e o
patente desperdício presentes no processo da vida”, e que “Uma teologia da
evolução, por outro lado, percebe todas as características perturbadoras
contidas na explicação evolucionista da vida”, sobre as idéias de Richard
Dawkins, Haught declara que: “A crítica da crença teísta feita por Dawkins se
equipara, ponto por ponto, ao fundamentalismo que ele está tentando eliminar”.
Ilia Delio, teóloga americana, sustenta
que a teologia pode “tirar proveito” das aquisições de uma ciência que vê na
“mutação” o núcleo essencial da matéria.
O rabino Nilton Bonder sustenta que:
"a Bíblia não tem pretensões de ser um manual eterno da ciência, e sim da
consciência. Sua grande revelação não é como funciona o Universo e a realidade,
mas como se dá a interação entre criatura e Criador" .
Como
e quando o livro tornou-se canônico
Desde o começo, os primeiros cinco livros
que compõem o cânon como parte das Escrituras Hebraicas, foram aceitos pelos
judeus como documentos autênticos. Assim, no tempo de David, os eventos
registrados de Gênesis a I Samuel eram plenamente aceitos como a verdadeira
história da nação e dos pactos entre Deus e o povo eleito.
No entanto, adversários das Escrituras
Hebraicas têm atacado fortemente o Pentateuco, em particular no que tange à sua
autenticidade e autoria. Por outro lado, ironicamente, devido ao reconhecimento,
por parte dos judeus, de que Moisés é o autor do Pentateuco, podemos salientar
o testemunho de antigos escritores, alguns dos quais eram inimigos dos judeus.
Hecateu de Abdera[desambiguação necessária], o historiador egípcio Mâneto,
Lisímaco de Alexandria, Eupolemo, Tácito e Juvenal, todos atribuem a Moisés o
estabelecimento do código de leis que distinguia os judeus das outras nações, e
a maioria deles menciona em especial que ele assentou suas leis por escrito.
Numênio, o filósofo pitagórico, até mesmo menciona Janes[desambiguação
necessária] e Jambres como os sacerdotes egípcios que se opuseram a Moisés. (2
Tim. 3:8) Esses autores abrangem um período que se estende do tempo de
Alexandre (século IV a.C), quando os gregos se interessaram pela história
judaica pela primeira vez, até o tempo do imperador Aureliano (século III d.C).
Muitos outros escritores antigos mencionam Moisés como líder, governante e
legislador.
Apesar do estrito cuidado dos copistas
dos manuscritos da Bíblia, foram introduzidos no texto alguns pequenos erros e
alterações de escribas. Como um todo, eles são insignificantes e não alteram a
integridade geral das Escrituras; foram descobertos e corrigidos por meio de
cuidadosa colação erudita e/ou comparação crítica dos muitos manuscritos e
versões antigas existentes.
Quanto ao estudo crítico do texto
hebraico, ele começou com os eruditos no século XVIII. Nos anos de 1776-80, em
Oxford, Benjamin Kennicott publicou variantes de mais de 600 manuscritos
hebraicos. Daí, em 1784-98, em Parma, o erudito italiano J. B. de Rossi
publicou variantes de mais de 800 manuscritos. O hebraísta S. Baer, da
Alemanha, também produziu um texto-padrão. Mais recentemente, C. D. Ginsburg
dedicou muitos anos à produção de um texto-padrão crítico da Bíblia hebraica.
Foi publicado pela primeira vez em 1894, passando por revisão final em 1926.
Este fornece um estudo textual por meio de notas de rodapé, que comparam muitos
manuscritos hebraicos do texto massorético. O texto básico usado por ele foi o
texto de Ben Chayyim. Mas, quando os textos mais antigos e superiores
massoréticos de Ben Asher se tornaram disponíveis, Rudolf Kittel empreendeu a
produção de uma terceira edição, inteiramente nova, que após a sua morte foi
completada por seus colegas. Joseph Rotherham usou a edição de 1894 desse texto
na produção da sua tradução inglesa, The Emphasised Bible (A Bíblia
Enfatizada), em 1902, e o professor Max L. Margolis, junto com colaboradores,
usou os textos de Ginsburg e de Baer na produção da sua tradução das Escrituras
Hebraicas, em 1917.
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