1º dos Macabeus
Com o título de Macabeus são designados
dois livros que fazem parte da Sagrada Escritura, embora sejam conhecidos mais
dois com este nome na antiga literatura judaica. Nos primeiros séculos da
Igreja, houve algumas dúvidas em considerá-los parte do Cânone. De fato, não
constam no Cânone da Bíblia Hebraica dos judeus palestinenses; mas fazem parte
da Bíblia do judaísmo de Alexandria. Este fato veio a criar, por parte das
igrejas protestantes, uma atitude de reserva para com eles; quanto aos outros
dois, cedo lhes foi recusada a classificação de livros bíblicos, tanto pelos
judeus como pelos cristãos.
NOME
Chamam-se Macabeus, não porque tal fosse
o nome do seu autor, mas porque Judas – o protagonista dos principais
acontecimentos narrados nos dois livros – foi denominado “Macabeu”. Porém, foi
São Clemente de Alexandria (séc. III d.C.) quem, pela primeira vez, lhes
atribuiu esse título, que se tornou corrente na tradição cristã.
Muito provavelmente, com esse nome
ter-se-á querido salientar a missão que Deus, Senhor da História, quisera
confiar a Judas Macabeu. De fato, o termo “macabeu” aparece em Is 62,2 com o
significado de «designado do Senhor», que corresponde perfeitamente à qualidade
de chefe com que Judas é descrito em 2 Mac 8,1-7. Também é muito semelhante ao que
se diz dos chefes carismáticos do período dos Juízes e ao papel dos que têm a
missão de libertar o povo de um poder político ou de uma cultura que não
respeita a fé de Israel.
AUTOR
E MENSAGEM
O 1.° livro dos Macabeus é obra de autor
desconhecido, mas bom conhecedor da Palestina e imbuído da fé que caracteriza o
povo eleito. É precisamente esta fé que o leva a narrar a História recente do
seu povo, para impedir os seus irmãos de raça de serem infiéis à aliança.
No horizonte, está o confronto entre a fé
de Israel e os novos modos de viver da cultura helenística, em que o judaísmo
da diáspora se encontra. Para responder a essa situação concreta e precaver da
traição à fé, o autor vai buscar este período histórico e os modelos de fé nele
encontrados.
Tocado pela dura experiência do tempo do
domínio selêucida, com Antíoco IV Epifânio à cabeça, volta-se para a raiz da
fé, que é a aliança do Sinai, e diz ao povo: «Deus está sempre atento e vai
fazer surgir homens corajosos e determinados, para resistirmos à imposição dos
valores culturais que ameaçam as atitudes de vida exigidas pela aliança». Por
isso, mais que descrever objetivamente o que fizeram esses homens, o autor
preocupa-se em mostrar como, por atitudes idênticas às deles, o povo fiel pode
continuar a viver a sua fé no Deus único e a manter a sua identidade nacional.
GÊNERO
LITERÁRIO
Os dois livros dos Macabeus são
históricos, segundo os critérios historiográficos da época, e com uma acentuada
preocupação religiosa e edificante.
Mais que uma narração objetiva dos
acontecimentos do mesmo período, nem sempre concordantes, porque entre si
distintos e independentes, assemelham-se a dois Evangelhos Sinóticos: o 1.°
livro abrange o período que vai de 175 a.C. a 134 a.C. (subida ao trono de João
Hircano); o 2.° livro cobre o período de 175 a.C. a 160 a.C. (morte de
Nicanor).
DIVISÃO
E CONTEÚDO
A narração dos acontecimentos está
distribuída em quatro blocos: no primeiro traça-se o ambiente político e
cultural criado por Alexandre Magno, que origina a revolta dos Macabeus
(1,1-2,70); no segundo narram-se os feitos gloriosos de Judas Macabeu
(3,1-9,22); no terceiro descrevem-se os feitos de Jônatas (9,23-12,54) e, no
quarto, os feitos do Sumo Sacerdote Simão, fundador da dinastia dos Hasmoneus
(13,1-16,24).
O seu conteúdo poderá ser divido nas
quatro partes que apresentamos a seguir:
I. Ambiente político e revolta de
Matatias (1,1-2,70): Alexandre Magno (1,1-9); Antíoco Epifânio (1, 10-40);
perseguição religiosa (1,41-64); feitos de Matatias (2,1-70).
II. Judas Macabeu (3,1-9,22): primeiras
vitórias de Judas (3,1-4,35); purificação do templo (4,36-61); guerra contra os
povos vizinhos (5); morte de Antíoco na Pérsia (6,1-17); Antíoco Eupátor ataca
a Judeia e faz a paz com os judeus (6,18-63); Demétrio, sucessor de Eupátor,
declara guerra a Judas Macabeu (7); Judas Macabeu alia-se aos romanos (8);
morte de Judas Macabeu (9,1-22).
III. Feitos de Jônatas, sucessor de Judas
Macabeu (9,23-12,54): modificação da situação dos judeus (9,23-73); Jônatas
aproveita-se da guerra civil dos sírios (10); confirmação da situação de Jônatas
(11); aliança com os romanos e com os espartanos (12,1-23); Jônatas em poder de
Trifon (12,24-54).
IV. Simão, príncipe do povo judeu (13,1-16,24):
Simão procura resgatar seu irmão (13,1-32); Simão assegura a liberdade do seu
povo (13,33-53); Simão é aclamado príncipe do povo judeu (14); Antíoco Sidetes
volta-se contra os judeus (15); morte de Simão (16).
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