Judaísmo
Judaísmo (em hebraico: יהדות, Yahadút) é uma das três
principais religiões abraâmicas, definida como "religião, filosofia e modo
de vida" do povo judeu. Originário da Torá Escrita e da Bíblia Hebraica
(também conhecida como Tanakh) e explorado em textos posteriores, como o
Talmud, é considerado pelos judeus religiosos como a expressão do
relacionamento e da aliança desenvolvida entre Deus com os Filhos de Israel. De
acordo com o judaísmo rabínico tradicional (e cristianismo), Deus revelou as
suas leis e mandamentos a Moisés no Monte Sinai, na forma de uma Torá escrita e
oral. Esta foi historicamente desafiada pelo caraítas, um movimento que
floresceu no período medieval que mantém milhares de seguidores atualmente e,
que afirma que apenas a Torá escrita foi revelada. Nos tempos modernos alguns
movimentos liberais, tais como o judaísmo humanista, podem ser considerados
não-teístas.
O judaísmo afirma uma continuidade
histórica que abrange mais de três mil anos. É uma das mais antigas religiões
monoteístas, que sobrevive até os dias atuais, e a mais antiga das três grandes
religiões abraâmicas. Os hebreus/israelitas já foram referidos como judeus nos
livros posteriores ao Tanakh, como o Livro de Ester, com o termo judeus
substituindo a expressão Filhos de Israel. Os textos, tradições e valores do
judaísmo influenciaram mais tarde outras religiões monoteístas, tais como o
cristianismo, o islamismo e a Fé Bahá'í. Muitos aspectos do judaísmo também
influenciaram, pela ética secular ocidental e pelo direito civil.
Os judeus são um grupo etno-religioso e
incluem aqueles que nasceram judeus ou foram convertidos ao judaísmo. Em 2010,
a população judaica mundial foi estimada em 13,4 milhões, ou aproximadamente
0,2% da população mundial total. Cerca de 42% de todos os judeus residem em
Israel e cerca de 42% residem nos Estados Unidos e Canadá, com a maioria
restante na Europa.
O maior grupo religioso judaico é o
judaísmo ortodoxo (judaísmo haredi e o judaísmo ortodoxo moderno), mas também
existem o movimento conservador e o reformista. A principal diferença entre
esses grupos é a sua abordagem em relação à lei judaica. O ortodoxo sustenta
que a Torá e a lei judaica são de origem divina, eterna e imutável, e que devem
ser rigorosamente seguidas. Os conservadores e reformistas são mais liberais,
com o judaísmo conservador, geralmente promovendo uma interpretação mais
"tradicional" de requisitos do judaísmo do que o judaísmo reformista.
A posição reformista típica é de que a lei judaica deve ser vista como um
conjunto de diretrizes gerais e não como um conjunto de restrições e obrigações
cujo respeito é exigido dos judeus. Historicamente, tribunais especiais
aplicaram a lei judaica; hoje, estes tribunais ainda existem, mas a prática do
judaísmo é na sua maioria voluntária. A autoridade sobre assuntos teológicos e
jurídicos não é investida em qualquer pessoa ou organização, mas nos textos
sagrados e nos rabinos e estudiosos que interpretam esses textos.
Etimologia
O termo "judaísmo" veio ao
português pelo termo {{Lang-gr|Ιουδαϊσμός (transl. Iudaïsmós), que designa algo
ou alguém relacionado ao topônimo Judá - em grego: Ιούδα (transl. Iúda), em
hebraico: יהודה (transl.
Yehudá).
História
Na sua essência, o Tanakh é um relato da
relação dos israelitas com Deus desde sua história mais antiga até a construção
do Segundo Templo (c. 535 aC). Abraão é saudado como o primeiro hebreu e o pai
do povo judeu. Como recompensa por seu ato de fé em um Deus, foi prometido que
Isaac, seu segundo filho, herdaria a Terra de Israel (então chamada Canaã).
Mais tarde, os descendentes de Jacó (filho de Isaac) foram escravizados no
Egito, que após séculos de escravidão Deus ordenou a Moisés que liderasse a
libertação da escravidão do Egito, movimento conhecido por o Êxodo.
No Monte Sinai, eles receberam a Torá —
os cinco livros de Moisés. Estes livros, juntos com Nevi'im e Ketuvim formam o
Torah Shebikhtav em oposição à Torá Oral, que se refere a Mishná e ao Talmude.
Deus em seguida levou-os para a terra de Israel, onde o tabernáculo foi
implantado na cidade de Siló por mais de 300 anos para reunir a nação contra os
ataques de inimigos. Conforme o tempo passava, o nível espiritual da nação
recuou até o ponto em que Deus permitiu que os filisteus capturassem o
tabernáculo.
O povo de Israel exigiu ao profeta Samuel
um governo liderado por um rei permanente. Samuel então nomeou Saul para tal
cargo. Quando o povo pressionou Saul em ir contra uma ordem transmitida a ele
por Samuel, Deus disse a Samuel nomear Davi em seu lugar. Depois que o reinado
de Davi foi estabelecido, ele informa ao profeta Natã seu desejo de construir
um templo permanente. Como recompensa por seus atos, Deus prometeu a Davi que
ele permitiria que seu filho, Salomão, construísse o Primeiro Templo e que o
trono nunca seria afastado de seus filhos.
A tradição rabínica afirma que os
detalhes e a interpretação da lei, que são chamados de Torá Oral ou lei oral,
eram originalmente uma tradição não escrita com base no que Deus disse a Moisés
no Monte Sinai. No entanto, conforme a perseguição contra os judeus aumentava e
os detalhes da tradição oral estavam em perigo de serem esquecidos, o rabino
Judah Hanasi (Judah o Príncipe) registrou as leis orais na Mishná, redigido por
volta do ano 200. O Talmude é uma compilação da Mishná e Guemará, que são
comentários rabínicos editados ao longo dos três séculos seguintes. A Guemará
tem origem em dois grandes centros de estudos judaicos, Palestina e Babilônia.
Do mesmo modo, dois corpos de análise desenvolveram-se e duas obras de Talmude
foram criadas. A compilação mais velha é chamado o Talmude de Jerusalém. Foi
compilado em algum momento durante o século IV, em Israel. O Talmude Babilônico
foi compilado a partir de discussões nas casas de estudo por parte dos
estudiosos Ravina I, Ravina II e Rav Ashi no ano 500, embora tenha continuado a
ser editado posteriormente.
Alguns estudiosos críticos opõem-se à
ideia de que os textos sagrados, incluindo a Bíblia Hebraica, foram divinamente
inspirados. Muitos desses estudiosos aceitam os princípios gerais da hipótese
documental e sugerem que a Torá é composta de textos incoerentes editados em
conjunto de uma forma que chama a atenção para contos divergentes. Muitos
sugerem que, durante o período do Primeiro Templo, o povo de Israel acreditava
que cada nação tinha seu próprio deus, mas que seu deus era superior aos outros
deuses. Alguns sugerem que o monoteísmo estrito desenvolveu-se durante o Exílio
babilônico, talvez em reação ao dualismo do Zoroastrismo. De acordo com esse
ponto de vista, foi apenas no período Helênico que a maioria dos judeus passou
a acreditar que seu Deus era o único deus e que a noção de uma nação judaica
floresceu com base na religião judaica. John Day argumenta que as origens do
Yahweh, El, Aserá e Baal, pode estar enraizada no início da religião cananeia,
que era centrada em um panteão de deuses muito parecido com o panteão grego.
Doutrinas
Surgiram variadas formulações das crenças
judaicas, a maioria das quais com muito em comum entre si, mas divergentes em
vários aspectos. Uma comparação entre várias dessas formulações mostra um
elevado grau de tolerância pelas diferentes perspectivas teológicas. O que se
segue é um sumário das crenças judaicas. Uma discussão mais detalhada destas
crenças, acompanhada por uma discussão sobre as suas origens, pode ser
encontrada no artigo sobre os princípios de fé judaicos.
Monoteísmo
O princípio básico do judaísmo é a
unicidade absoluta de Deus como criador, onipotente, onisciente, onipresente,
que influencia todo o universo, mas que não pode ser limitado de forma alguma.
A afirmação da crença no monoteísmo manifesta-se na profissão de fé judaica
conhecida como Shemá. Assim qualquer tentativa de politeísmo é fortemente
rechaçada pelo judaísmo, assim como é proibido seguir ou oferecer prece a outro
que não seja Deus.
Conforme o relacionamento de Deus com
Israel, o judaísmo enfatiza certos aspectos da divindade chamando-o por títulos
diferenciados, como "O Eterno" (ver Nomes de Deus no Judaísmo).
O judaísmo posterior ao exílio no entanto
assumiu a existência de uma corte espiritual na qual Deus seria uma espécie de
rei, o qual controlaria seres para execução de sua vontade (anjos). Esta visão
era aceita pelos fariseus e passada para o posterior judaísmo rabínico, mas no
entanto desprezada pelos saduceus.
Revelação
O judaísmo defende uma relação especial
entre Deus e o povo judeu, manifesta através de uma revelação contínua de
geração a geração. O judaísmo crê que a Torá é a revelação eterna dada por Deus
aos judeus. Os judeus rabinitas e caraítas também aceitam que homens através da
história judaica foram inspirados pela profecia, sendo que muitas das quais estão
explícitas nos Neviim e nos Kethuvim. O conjunto destas três partes formam as
Escrituras Hebraicas conhecidas como Tanakh.
A profecia dentro do judaísmo não tem o
caráter exclusivamente adivinhatório como assume em outras religiões, mas
manifestava-se na mensagem da Divindade para com seu povo e o mundo, que
poderia assumir o sentido de advertência, julgamento ou revelação quanto à
Vontade da Divindade. Esta profecia tem um lugar especial desde o princípio do
mosaísmo, seguindo pelas diversas escolas de profetas posteriores (que serviam
como conselheiros dos reis) e tendo seu auge com a época dos dois reinos.
Oficialmente se reconhece que a época dos profetas encerra-se na época do
exílio babilônico e do retorno a Judá. No entanto o judaísmo reconheceu
diversos profetas durante a época do Segundo Templo, e durante o posterior
período rabínico.
Metafísica
Conceitos de vida e morte. O entendimento
dos conceitos de corpo, alma e espírito no judaísmo varia conforme as épocas e
as diversas seitas judaicas. O Tanach não faz uma distinção teológica destes,
usando o termo que geralmente é traduzido como alma (néfesh) para se referir à
vida e o termo geralmente traduzido como espírito (ruakh) para se referir a
fôlego. Deste modo, as interpretações dos diversos grupos são muitas vezes
conflitantes, e muitos estudiosos preferem não discorrer sobre o tema.
Ressurreição e a vida além-morte
O Tanach, excetuando alguns pontos
poéticos e controversos, jamais faz referência a uma vida além da morte, nem a
um céu ou inferno, pelo que os saduceus posteriormente rejeitavam estas
doutrinas. Porém após o Cativeiro Babilónico, os judeus assimilaram as doutrinas
da imortalidade da alma, da ressurreição e do juízo final, e constituíam em
importante ensino por parte dos fariseus.
Nas atuais correntes do judaísmo, as
afirmações sobre o que acontece após a morte são postulados e não afirmações, e
varia-se a interpretação dada ao que ocorre na morte e se existe ou não
ressurreição. A maioria das correntes crê em uma ressurreição no mundo vindouro
(Olam Habá), incluindo os caraítas, enquanto outra parcela do judaísmo crê na
reencarnação, e o sentido do que seja ressurreição ou reencarnação varia de
acordo com a ramificação.
Cabalá
Cabalá é o nome dado ao conhecimento
místico esotérico de algumas correntes do judaísmo, que defende a interpretação
do universo, de Deus e das escrituras através de sua natureza divina.
Judeus
A lei judaica ortodoxa considera judeu
todo aquele que nasce de mãe judia ou se converte de acordo com essa mesma lei,
segundo o judaísmo rabínico. Algumas ramificações como o Reformismo e o
Reconstrucionismo aceitam também a linhagem patrilinear, desde que o filho
tenha sido criado e educado em meio judaico.
Um judeu que deixe de praticar o judaísmo
e se transforme num judeu não-praticante continua a ser considerado judeu. Um
judeu que não aceite os princípios de fé judaicos e se torne agnóstico ou ateu
também continua a ser considerado judeu.
No entanto, se um judeu se converte a uma
outra religião, ou ainda, que se afirme "judeu messiânico"
(ramificação que defende Jesus como o messias para os judeus) geralmente é
visto como que perdido o lugar como membro da comunidade judaica tradicional e
transforma-se num apóstata. Esta pessoa, caso pretenda retornar ao judaísmo,
não precisa se converter, de acordo com a maior parte das autoridades em lei
judaica, mas abjurar das antigas práticas relativas às outras fés.
As pessoas que desejam se converter ao
judaísmo devem aderir aos princípios e tradições judaicas. Os homens têm de
passar pelo ritual do brit milá (circuncisão). Qualquer converso tem de passar
ainda pelo ritual da mikvá ou banho ritual. Os judeus ortodoxos reconhecem
apenas conversões feitas por seus tribunais rabínicos, seja em Israel ou em
outros locais. As comunidades reformistas e liberais também exigem a adesão aos
princípios e tradições judaicos, o brit milá e a mikvá, de acordo com os critérios
estipulados em cada movimento.
Enquanto as conversões autorizadas por
tribunais rabínicos ortodoxos são aceitas como válidas por quase todas as
correntes do judaísmo, aquelas feitas de acordo com as correntes Reformista ou
Conservadora são aceitas pelo Estado de Israel e nas comunidades judaicas
não-ortodoxas no mundo inteiro - mais de 80% da população dos judeus do
planeta, mas rejeitadas pelo movimento ortodoxo.
Ciclo de vida judaico
Brit milá - As boas-vindas dos bebés do
sexo masculino à aliança através do ritual da circuncisão.
Zeved habat - As boas-vindas dos bebés do
sexo feminino na tradição sefardita.
B'nai Mitzvá - A celebração da chegada de
uma criança à maioridade, e por se tornar responsável, daí em diante, por
seguir uma vida judaica e por seguir a halakhá.
Casamento judaico
Shiv'á - O judaísmo tem práticas de luto
em várias etapas. À primeira etapa (observada durante uma semana) chama-se
shiv'á, à segunda (observada durante um mês) chama-se sheloshim e, para aqueles
que perderam um dos progenitores, existe uma terceira etapa, a avelut yod bet
chódesh, que é observada durante um ano.
Vida comunitária
Vida comunitária judaica é o nome dado à
organização das diferentes comunidades judaicas no mundo. Há variações de
locais e costumes mas geralmente as comunidades contam com um sistema de regras
comunais e religiosas, um conselho para julgamento e um centro comunal com
local para estudo. No entanto, a família é considerada o principal elemento da
vida comunitária judaica, o que ao lado do mandamento de Crescei e multiplicai
leva ao desestímulo de práticas ascéticas como o celibato apesar da existência
através da história de algumas seitas judaicas que promovessem esta renúncia.
Sinagoga
A sinagoga é o local das reuniões
religiosas da comunidade judaica, hábito adquirido após a conquista do Reino de
Judá pela Babilônia e a destruição do Templo de Jerusalém. Com a inexistência
de um local de culto, cada comunidade desenvolveu seu local de reuniões, que
após a construção do Segundo Templo tornou-se os centros de vida comunitária
das comunidades da Diáspora. Na estrutura da sinagoga destaca-se o rabino,
líder espiritual dentro da comunidade judaica e o chazan (cantor litúrgico).
Cherem
O Chérem é a mais alta censura
eclesiástica na comunidade judaica. É a exclusão total da pessoa da comunidade
judaica. Excepto em casos raros que tiveram lugar entre os judeus ultra-ortodoxos,
o cherem deixou de se praticar depois do Iluminismo, quando as comunidades
judaicas locais perderam a autonomia de que dispunham anteriormente e os judeus
foram integrados nas nações gentias em que viviam.
Cultura
Cultura judaica lida com os diversos
aspectos culturais das comunidades judaicas, oriundos da prática do judaísmo,
de sua integração aos diversos povos e culturas no mundo, assim como
assimilação dos costumes destes. Entre os principais aspectos da cultura
judaica podemos enfatizar os idiomas, as vestimentas e a alimentação (Cashrut).
Vestimentas
O judaísmo possui algumas tradições
religiosas e culturais em relação à vestimentas, dentre as quais podemos
destacar:
Kipá são os chapéus utilizado pelos
judeus tanto como símbolo da religião como símbolo de "temor a Deus"
são semelhantes ao solidéu usado por Bispos Católicos e pelo Papa .
Tefilin
Tzitzit é o nome dado à franjas do talit,
que servem como meio de lembrança dos mandamentos de Deus.
Calendário
Baseados na Torá a maior parte das
ramificações judaicas segue o calendário lunar. O calendário judaico rabínico é
contado desde 3761 a.C. O Ano Novo judaico, chamado Rosh Hashaná (em hebraico ראש השנה, literalmente "cabeça do ano") é o
nome dado ao ano-novo no judaísmo)., acontece no primeiro ou no segundo dia do
mês hebreu de Tishrei, que pode cair em setembro ou outubro. Os anos comuns,
com doze meses, podem ter 353, 354 e 355 dias, enquanto os bissextos, de treze
meses, 383, 384 ou 385 dias. O calendário judaico começa a ser contado em 7 de
outubro de 3760 a.C. que para os judeus foi a data da criação do mundo.
Diversas festividades são baseados neste
calendário: pode-se dar ênfase às festividades de Rosh Hashaná, Pessach,
Shavuót, Yom Kipur e Sucót. As diversas comunidades também seguem datas
festivas ou de jejum e oração conforme suas tradições. Com a criação do Estado
de Israel diversas datas comemorativas de cunho nacional foram incorporadas às
festividades da maioria das comunidades judaicas.
Língua hebraica
O hebraico (também chamado לשון הקודש Lashon haKodesh ("A Língua
Sagrada") ) é o principal idioma utilizado no judaísmo utilizado como
língua litúrgica durante séculos. Foi revivido como um idioma de uso corrente
no século XIX e utilizado atualmente como idioma oficial no Estado de Israel.
No entanto diversas comunidades judaicas utilizam outros idiomas cuja origem em
sua maioria surgem da mistura do hebraico com idiomas locais (ver Línguas
judaicas).
Crença messiânica e escatologia
Escatologia judaica refere-se às
diferentes interpretações judaicas dadas aos temas relacionados ao futuro:
ainda que se acreditarmos na Torá este tema não seja tão desenvolvido no
judaísmo primitivo após o retorno do Exílio em Babilônia desenvolveu-se baseado
no profetismo e no nacionalismo judaico conceitos que iriam formar a base da
escatologia judaica. Entre estes temas principais podemos nomear os conceitos
sobre o Messias e o Olam Habá (mundo vindouro) no qual todas as nações
submeter-se-iam a Deus e a Torá e na qual Israel ocuparia um lugar de
proeminência.
Messias
Dentro do judaísmo, a doutrina do Messias
é um assunto que pode variar de ramificação para ramificação. Historicamente
diversos personagens foram chamados de Messias, do hebraico ungido, que não
assume o mesmo sentido habitual do cristianismo como um "ser salvador e
digno de adoração" . Até mesmo o conceito do Messias não aparece na Torá,
e por isto mesmo recebe interpretações diferentes de acordo com cada
ramificação.
A maior parte dos judeus crê no Messias
como um homem judeu, filho de um homem e de uma mulher, (em algumas
ramificações é considerado que viria da tribo de Judá e da descendência do rei
Davi, uma herança do sentimento nacionalista que regulou a vida judaica
pós-exílio) que reinará sobre Israel, reconstruirá a nação fazendo com que
todos os judeus retornem à Terra Santa e unirá os povos em uma era de paz e
prosperidade sob o domínio de Deus.
Algumas ramificações judaicas
(reformistas) creem no entanto que a era messiânica não envolva necessariamente
uma pessoa, mas sim que se trate de um período de paz, prosperidade e justiça
na humanidade. Dão por isso particular importância ao conceito de "Tikun
Olam", "reparar o mundo", ou seja, a prática de uma série de
atos que conduzem a um mundo socialmente mais justo.
Literatura
Os diversos eventos da história judaica
levaram a uma valorização do estudo e da alfabetização dos membros da
comunidade judaica. Na Diáspora a busca de conexão com o judaísmo e a busca de
não-assimilação com os costumes gentílicos levaram a uma ênfase na necessidade
da educação e alfabetização desde a infância, pelo que na maior parte das
comunidades judaicas o analfabetismo é praticamente inexistente. Este
pensamento levou à criação de uma vasta literatura principalmente de uso
religioso.
Dentro do judaísmo, a escritura mais
importante é a Torá, que seria o livro contendo o conjunto de histórias da
origem do mundo, do homem e do povo de Israel, assim como os mandamentos de
obediência a Deus. Para a maior parte das ramificações judaicas, acrescenta-se
a história de Israel e as palavras dos profetas israelitas até a construção do
Segundo Templo, com sua literatura relacionada, que compiladas na época do
retorno de Babilônia, constituíram o que conhecemos como Tanakh, conhecido
pelos não-judeus como Antigo Testamento.
Os judeus rabinitas creem que Moisés
recebeu além da Torá escrita, uma tradição oral que serviria como um
complemento da primeira, e que seria passada de geração à geração desde Moisés,
e que viria a ser compilada no século IV como o Talmude. Os judeus caraítas
recusam estes textos .
Cada ramificação tem seus próprios textos
e livros.
Ramificações
Nos dois últimos séculos, a comunidade
judaica dividiu-se numa série de denominações; cada uma delas tem uma diferente
visão sobre que princípios deve um judeu seguir e como deve um judeu viver a
sua vida. Apesar das diferenças, existe uma certa unidade nas várias
denominações.
O judaísmo rabínico, surgido do movimento
dos fariseus após a destruição do Segundo Templo, e que aceita a tradição oral
além da Torá escrita, é o único que hoje em dia é reconhecido como judaísmo, e
é comumente dividido nos seguintes movimentos:
Judaísmo
ortodoxo - considera que a Torá foi escrita por Deus que a ditou a Moisés,
sendo as suas leis imutáveis. Os judeus ortodoxos consideram o Shulkhan Arukh
(compilação das leis do Talmude do século XVI, pelo rabino Yosef Karo) como a
codificação definitiva da lei judaica. O judaísmo ortodoxo exprime-se
informalmente através de dois grupos, o judaísmo moderno ortodoxo e o judaísmo
haredi. Esta última forma é mais conhecida como "judaísmo
ultraortodoxo", mas o termo é considerado ofensivo pelos seus adeptos. O
judaísmo chassídico é um subgrupo do judaísmo haredi.
Judaísmo
conservador - fora dos Estados Unidos é conhecido por judaísmo Masorti.
Desenvolveu-se na Europa e nos Estados Unidos no século XIX, em resultado das
mudanças introduzidas pelo iluminismo e a Emancipação dos Judeus.
Caracteriza-se por um compromisso em seguir as leis e práticas do judaísmo
tradicional, como o Shabat e o cashrut, uma atitude positiva em relação à
cultura moderna e uma aceitação dos métodos rabínicos tradicionais de estudo
das escrituras, bem como o recurso a modernas práticas de crítica textual.
Considera que o judaísmo não é uma fé estática, mas uma religião que se adapta
a novas condições. Para o judaísmo conservador, a Torá foi escrita por profetas
inspirados por Deus, mas considera não se tratar de um documento da sua
autoria.
Judaísmo
reformista - formou-se na Alemanha em resposta ao iluminismo. Rejeita a
visão de que a lei judaica deva ser seguida pelo indivíduo de forma
obrigatória, afirmando a soberania individual sobre o que observar. De início
este movimento rejeitou práticas como a circuncisão, dando ênfase aos
ensinamentos éticos dos profetas; as orações eram realizadas na língua
vernácula. Hoje em dia, algumas congregações reformistas voltaram a usar o
hebraico como língua das orações; a brit milá é obrigatória e a cashrut,
estimulada.
Judaísmo
reconstrucionista: formou-se entre as décadas de 20 e 40 do século XX por
Mordecai Kaplan, um rabino inicialmente conservador que mais tarde deu ênfase à
reinterpretação do judaísmo em termos contemporâneos. À semelhança do judaísmo
reformista não considera que a lei judaica deva ser suprema, mas ao mesmo tempo
considera que as práticas individuais devem ser tomadas no contexto do consenso
comunal.
Judaísmo
humanístico: O judaísmo humanístico é um movimento no judaísmo que busca
manter a identidade cultural e tradição judaicas ao mesmo tempo que deixa de
enfatizar crenças teísticas, é um movimento no judaísmo , que oferece uma
alternativa não-teísta na vida judaica contemporânea, Ele define o judaísmo
como a experiência cultural e histórica do povo judeu e incentiva humanistas e
seculares judeus para celebrar a sua identidade judaica através da participação
em festas judaicas e eventos do ciclo de vida (como casamentos, bar e bat
mitzvah) com cerimônias inspiradoras que se apoiam, mas ir além da literatura
tradicional.
Para além destes grupos existem os judeus
laicos, que não aderem à religião mas mantêm costumes judaicos.
Judaísmo e o mundo
O judaísmo não é atualmente uma religião
proselitista, ainda que no passado já tenha efetuado missões deste tipo,
especialmente durante o período do Segundo Templo. Atualmente o judaísmo aceita
a pluralidade religiosa, e prega a obrigação dos cumprimentos da Torá apenas ao
povo judeu. No entanto defende que certos mandamentos (chamados de Leis de Noé,
devido à terem sido entregues por Deus a Noé depois do Dilúvio), devem ser
seguidas por cada ser humano.
Judaísmo e cristianismo
Apesar do Cristianismo defender uma
origem judaica, o judaísmo considera o cristianismo uma religião pagã. Apesar
da existência de judeus convertidos ao Cristianismo e outras religiões, não
existe nenhuma forma de judaísmo rabínico que aceite as doutrinas do
Cristianismo como a divindade de Jesus ou a crença em seu caráter messiânico.
Há movimentos, como Judaísmo messiânico que tentam conciliar a crença em Jesus
como messias e a identidade judia. Algumas ramificações tentaram ver Jesus como
um profeta ou um rabino famoso, mas hoje esta visão também é descartada pela
maioria dos judeus.
Existem diversos artigos sobre a relação
entre o judaísmo e o cristianismo. Esses artigos incluem:
Comparando e contrastando o judaísmo e o
cristianismo.
Tradição judaico-cristã.
Cristianismo e antissemitismo.
Desde o Holocausto, deram-se muitos
passos no sentido da reconciliação entre alguns grupos cristãos e o povo judeu.
O artigo sobre a reconciliação entre judeus e cristãos estuda este assunto.
Tentativas por parte de grupos religiosos
cristãos (principalmente de origem evangélica) de conversão ao judaísmo são
desprezadas e condenadas pelos grupos religiosos judaicos.
Judaísmo e islamismo
O islamismo toma diversas de suas
doutrinas do judaísmo, sendo que as duas religiões mantêm seu intercâmbio
religioso desde a época de Maomé, com períodos de tolerância e intolerância de
ambas as partes. É especialmente significativo o período conhecido como Idade
de Ouro da cultura judaica, entre 900 a 1200 na Espanha muçulmana. Na China
imperial os judeus eram contados juntos com os muçulmanos sob a designação de
Hui-hui e tanto as sinagogas e mesquitas chamadas pelo mesmo nome, Tsing-chin
sze. Em algumas instâncias, grupos judeus adotaram o islão, como ocorreu entre
os jehudi al-islami na pérsia.
O recente conflito palestino-israelense,
o que envolve entre parte da população muçulmana e dos judeus devido à questão
do controle de Jerusalém e outros pontos políticos, históricos e culturais
fomentou ainda mais a divergência entre judaísmo e islão.
O islão reconhece os judeus como um dos
povos do Livro, apesar de acreditarem que os judeus sigam uma Torá corrompida.
Já o judaísmo rabínico não crê em Maomé como profeta e não aceitam diversos
mandamentos do islão.
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