MÍSTICA,
MISTAGOGIA E LITURGIA: Por uma experiência mais vivencial
Wallison Rodrigues
O Povo de Deus – a Igreja – precisa sempre embeber-se do Mistério
divino. Numa dinâmica mistagógica que possibilita sentir o sabor da fé e da
vida nas celebrações litúrgicas. Este é um significativo passo para não se
estagnar em um conhecimento puramente teórico do Crucificado/Ressuscitado.
Sendo assim, se o homem não mergulha no Mistério de Deus, ele corre o risco de
não responder à sua vocação batismal: ser um em-com-por Cristo. A linguagem da
liturgia é a mistagogia[1]! É um método condutor, vivo e dinâmico, que não
deixa a espiritualidade da assembleia se embotar, nem perder seu brilho
teológico e litúrgico[2].
Paralelamente, nota-se na atual conjuntura eclesial um ‘sentimento
coletivo’ de “cansaço”. Muitas lideranças e agentes de pastorais se queixam da
participação dos fiéis nas atividades comunitárias. Por muitas vezes, a
assembleia se apresenta como “fria” e sem expressão ativa. Assim, os projetos
não caminham, os membros de pastorais e movimentos conservam suas estruturas e
não apresentam perspectivas de novas ações.
Direcionando um pouco mais o olhar em alguns aspectos da realidade
eclesial, nota-se que também há ministros ordenados e coordenadores de
pastorais/comunidades com sede e ânsia no trabalho paroquial/comunitário. Isso
é louvável! No entanto, em contrapartida, nestes intentos não há mística e nem
mistagogia na espiritualidade. Sendo que, muitos são os carismas dentro da
comunidade, mas sem a espiritualidade – que é o próprio Jesus Cristo – o
carisma não se sustenta.
Wellistony[3] apresenta uma questão pertinente frente a tudo isso: Os
padres – e acrescento: os líderes e agentes de pastorais – precisam ser
“místicos”. Atualmente, muitos leigos estão “avançando para águas mais
profundas”. Estão procurando crescer e aprofundar a dimensão espiritual da
vida. Enquanto isso, os responsáveis pelas comunidades estão ficando à margem
vendo os “barcos” se distanciarem. Uma vez distantes, como novamente se
aproximar quando se está em ‘alto mar’?!
Existem leigos sedentos, mas convém ressaltar que também há aqueles que
não assumem um compromisso na comunidade. Muitos são os ministros ativos e
conscientes, mas em contrapartida, existem aqueles que entraram no modismo do
“cansaço”. E estes, por sua vez, são um grupo significante. Não se justifica,
mas, como exigir da comunidade se as próprias lideranças não experimentam o
Mistério!? Como falar do Mistério se os próprios ministros não o
vivenciam?!
Karl Rahner, em sua conhecida frase, parece estar certo quando afirmou
que “no futuro o cristão ou será místico ou não será cristão”[4]. Mas isso não
exime a responsabilidade do leigo em agir de modo ativo, pleno e consciente sua
própria vocação batismal. Se antes do
Vaticano II os fiéis não participavam ativamente da divina liturgia porque o
rito era em latim, era muito diferente da cultura local, porque o ministro se
colocava distante do povo... E hoje, por que será?
Acredito que quando os fiéis pedem uma missa diferente e animada, não é
exatamente isso que querem dizer. Porque podem até celebrar uma missa ‘bem
animada’ cheia de firulas, no entanto, provavelmente no próximo mês estarão
pedindo outra coisa diferente... Quando os fiéis pedem algo assim, somente
estão usando da linguagem que está ao seu alcance. Mas, na verdade, o que
querem dizer é que falta às celebrações um caráter místico e mistagógico, falta
sabor e vivacidade. A perfeita liturgia é só no céu! Mas, quem disse que aqui
na terra, em nossas celebrações litúrgicas, não podemos sentir o perfume do
céu?!
Viver o Mistério também é acreditar em uma “liturgia contemplativa”,
onde o interior dos fiéis se expressa na voz da assembleia. A intimidade
pessoal com Deus gera na liturgia uma experiência comunitária que se
manifestará na escuta da Palavra, no silêncio, nos cantos, na Eucaristia, na
oração e na partilha. É preciso resgatar uma experiência pessoal na liturgia,
longe do intimismo e do subjetivismo, propagado pelo materialismo e o
secularismo do mundo. A mística não subtrai a ação, pelo contrário, quanto mais
contemplativo for o fiel, mais eficaz será sua ação no seio eclesial.
Abração musical de Wallison
Rodrigues.
[1] Cf. CELAM: Manual de Liturgia 4. São
Paulo: Paulus, 2007, p. 362.
[2] Cf. BUYST, Ione/FONSECA, Joaquim.
Música Ritual e Mistagogia. São Paulo: Paulus, 2008, passim.
[3] VIANA, C. Wellistony. Um longo e belo
caminho. Brasília/DF: Edições CNBB, 2013.
[4] RAHNER, Karl. apud OLIVEIRA, P. R. F.
de./TABORDA, F. Karl Rahner 100 anos: teologia, filosofia e experiência
espiritual. São Paulo: Loyola, 2005, p.81.
Excelente material para o conhecimento, sobretudo pra esse tempo quaresmal, onde precisamos entender e nos aprofundar cada vez mais nesse mistério de reflexão e conversão. Abraço e obrigado. Pe. Renato
ResponderExcluirRealmente Moisés, assim como o material postado sobre: o canto litúrgico quaresmal, esse também é de grande relevância para este tempo em que iremos iniciar. Certamente fará uma grande diferença em nossas ações pastorais, sobretudo, na liturgia. Deus o abençoe sempre querido amigo pe. Renato!
ResponderExcluirOlá padre Renato, tudo bem?
ResponderExcluirfeliz em encontrar seu blog falando sobre música, arte e espiritualidade.
sou professora de historia da música litúrgica e gostaria de indicar seu blog. Ainda o escreve ou não mais?
Agradecida
Regina Balan Londrina Paraná
meu email para contato
ResponderExcluirregina.balan@gmail.com