VESTE LITÚRGICA
no exercício dos
ministérios leigos
PENHA CARPANEDO, PDDM
LAIJDIMIRO BORGES (MIRIM)
1. Um dado antropológico
O modo como
cada pessoa se veste diz mui to da sua personalidade e cultura. Quando Mercedes
Sosa coloca seu poncho ameríndio em seus shows, o faz por questão de estilo,
alusão às suas raízes culturais. No teatro, a veste é parte dos elementos que
dão vida a um personagem, é algo bem personalizado, e cada detalhe é importante
(tecido, forma, gola, botão...). Vestir a camisa do partido é um gesto afetuoso,
quase religioso, de compromisso com o projeto que aquele partido defende.
Ninguém vai a uma festa com roupa de trabalho ou com roupa do dia a dia. Muita
gente guarda o costume da roupa de domingo, e há quem a qualifique como “roupa
de ver Deus”.
Na maioria
das religiões a veste é um componente importante no conjunto dos símbolos que
caracterizam a identidade religiosa. Pe. Jorge Lachnitt, salesiano, missionário
entre o povo Xavante em Mato Grosso, relata o seguinte: “Há certos elementos
genéricos presentes em todos os ritos Xavantes, tanto na vida social como nos
ritos religiosos. O colar de algodão, branco, fechado por um nó duplo debaixo
do queixo, expressa todo ato oficial, seja de um ancião que narra aos jovens
iniciandos uma história mítica, seja de um professor que dá aula às crianças,
como qualquer agente de ritos religiosos, que são todos os participantes ativos
dos ritos. Só os ‘assistentes’ é que não o colocam. Este co lar pode ter penas
ou outros acréscimos na nuca, para designar sua função específica em cada
ocasião, ou sua pertença a determinado grupo”.
2. Referências bíblicas
Na bíblia cobrir-se
de saco é sinal de penitência. João Batista é apresentado no Novo Testamento
como profeta da austeridade,
vestindo
roupa de couro e tendo um cinto na cintura. Mas a vocação do povo de Deus não é
andar sempre revestido de roupas austeras; ‘somos chamados a andar vestidos de
luz’. Somos filhos e filhas da luz (cf. Efé 5,8; Salmo 104,2). Paulo escreve na
carta aos Gálatas: “Vós todos que fostes batizados em Cristo vos revestistes de
Cristo” (Gl 3,27. Cf. também Rm 13,14). Ele foi espoliado de suas vestes, mas
na ressurreição foi revesti do de glória, como antecipadamente aparece na
transfiguração. Os anjos que anunciam a ressurreição estão vestidos de branco e
com veste branca trajava a multidão do apocalipse, símbolo de sua participação
na glória do Cristo. A roupa nova do batismo ou a nossa roupa festiva de
domingo, tem a ver com esta iluminação do ressuscitado em nós, sinal de nossa participação
na sua páscoa. Ë expressão de alegria e de festa, como “a noiva da nova
Jerusalém vestida de linho, pronta para se encontrar com o seu amado”
(Apocalipse 21; cf. também o salmo 45 e Isaias 61,10-11).
Na Bíblia
aparece também a roupa ligada à missão. Eliseu ao herdar o espírito do profeta
Elias recebe dele o seu manto. “Jesus, estando à mesa, se levantou, pegou uma
toa lha, amarrou-a na cintura e lavou os pés dos discípulos” (João 13,4-5). As
vestes litúrgicas têm a ver com este revestir-se do Cristo no serviço assumido
a favor da comunidade, que tem como base a veste batismal do nosso ser
discípulos e discípulas.
3. O uso de vestes litúrgicas na liturgia
cristã
Do ponto de
vista histórico, o uso de vestes especiais para os ministros da liturgia apareceu
tardiamente no cenário da Igreja. Usava- se veste comum, embora escolhendo a
melhor roupa e até reservando-a para o momento celebrativo. Na catacumba de
Priscila, século III, se vê o papa vestido de dalmática e uma espécie de casula
que eram vestes comuns da época. Com o encontro das diversas culturas, foi se
modificando os costumes quanto às vestimentas, e isso foi um dos motivos que
levou a se fixar a dalmática e a casula como vestes litúrgicas. A dalmática
será veste do diácono e do leitor e a casula do bispo e do presbítero. Na
Igreja católica houve uma evolução para vestes mais suntuosas em tecidos finos
e bordados, chegando a exageros. A respeito das vestes, o Concilio Vaticano II
recomendou “a nobre beleza antes que a mera suntuosidade” (SC 124).
4. O uso das vestes em nossas comunidades
Atualmente o
uso da veste é pacífico quando se trata de ministros ordenados. Para os
ministérios leigos, há anos foi adotada no Brasil veste para ministros/as
extraordinários/ as da comunhão, uma espécie de uniforme tipo jaleco. Atualmente
estão de volta os coroinhas, com batina e sobrepeliz. Isso mostra o desejo de
enfatizar os ministérios litúrgicos leigos, embora estes modelos deixem bastante
a desejar quanto ao estilo, por não serem propriamente trajes litúrgicos. Além
disso, pergunta-se, por que o uso das vestes apenas para ministros/as da
comunhão e para os/as coroinhas. Não seria o caso de pensar vestes litúrgicas
para os diversos ministérios leigos?
Nota-se, no
entanto, certa hesitação por considerar que é toda a assembléia o sujeito da
celebração. Sendo assim, por que colocar ênfase sobre quem exerce serviços
dentro da celebração? Além disso, há maneiras de se relacionar com a roupa que
podem estar ligadas ao desejo de chamar a atenção sobre si mesmo/a, ou de impor
respeito, ou ainda de considerar-se separado dos demais... Isso seria contrário
à atitude de serviço que está na base de qualquer ministério na Igreja e que a
veste deveria realçar.
O bom senso
nos diz que o uso das vestes não deve ser obrigatório. Em uma comunidade onde
não há consenso é melhor não usá-las. Por que comprometer a unidade, por conta
de um elemento que em si não é essencial? Em todo caso, se usarmos as vestes
teremos que levar em conta alguns critérios.
a) A veste como expressão da ministerialidade
da Igreja
É
significativo ver homens e mulheres no exercício do seu sacerdócio batismal,
tomar lugar no presbitério para presidir a celebração dominical da Palavra, ou
subir ao ambão para fazer a leitura e cantar o salmo, ou se colocar diante da
assembléia para animar o canto, ou ao lado de quem preside a eucaristia para
ajudar no serviço do altar... Esta variedade de serviços, agindo em mútua
complementaridade, manifesta a Igreja toda ministerial, superando o
clericalismo que historicamente concentrou os serviços litúrgicos na mão do
padre.
De fato, a
reforma litúrgica do Concílio Vaticano II, apoiando-se no modelo de Igreja,
definido na Lumen gentium, valorizou os serviços realizados por leigos/as
dentro de uma celebração como verdadeiros ministérios (cf. SC 29). De lá pra
cá, emergiram uma infinidade de ministérios litúrgicos, conforme as
necessidades das comunidades: leitores, salmistas, coordenadores/as de
celebração dominical da Palavra, catequistas, coordena dores! as de celebração
do batismo, Coordena dores/as de celebração por ocasião da morte, testemunhas
qualificadas do matrimônio, coordenadores/as do Oficio Divino, cantores/ as e
instrumentistas.
As vestes,
nestes casos, significam reconhecimento dos ministérios leigos; evidenciam a
diversidade ministerial da Igreja.
b) Que tipo de veste?
A veste tem
função simbólica, faz parte dos sinais sensíveis que compõem a ação litúrgica.
Sendo assim, é importante cuidar do tipo de tecido e da modelagem, para que não
seja uma peça apenas funcional, mas se imponha pela beleza e bom gosto. Isso
não significa que as vestes devam ser ostensivas (isso vale também para os
ministros ordenados). Não podem servir para reforçar o poder. Afinal quem
exerce um ministério o faz em nome de Jesus, pobre e servidor dos pobres.
Outro ponto a
ser considerado a respeito da veste litúrgica é a diversidade de acordo com os
diferentes serviços. Digamos que na base de todos os ministérios na Igreja, há
uma igualdade fundamental estabelecida pelo batismo. Mas os ministérios são
diferentes, pois correspondem a diferentes serviços. Não se pode negar que a
função de quem preside, tem uma relevância em relação à do leitor, ou à do
acólito que leva a cruz na procissão de entrada, embora todos devam desempenhar
a sua função com a mesma piedade que convém ao mistério celebrado (cf. SC 29).
O que não convém é diferenciar as vestes dos ministros extraordinários da
comunhão e dos coroinhas em relação aos demais. Não cabe distinção entre eles.
Talvez o critério para distinguir entre os diversos ministérios leigos, seja
justamente entre quem preside e os demais. Outra questão a ser observada é em
relação ao espaço. Uma veste que fica bem em uma catedral, talvez não seja
adequada em uma pequena capela, com um grupo menor de pessoas que têm um estilo
mais informal.
c) As vestes nos Inter-eclesiais
As
celebrações dos Intere-clesiais, com toda a beleza de elementos simbólicos - cores,
símbolos, gestos, movimentos — sugerem que também as vestes correspondam a esta
exuberância de alegria e de profecia. No décimo primeiro intereclesial em
Ipatinga e no décimo segundo em Porto Velho, foram confeccionados dois modelos
de vestes. Um mais simples, em tecido de algodão branco com detalhe estampado,
para os serviços que envolveram grande número de pessoas: duzentas pessoas
distribuindo os alimentos na celebração de abertura, mais de duzentas ajudando
na distribuição da comunhão na celebração final, por exemplo. Este modelo, que
vem da paróquia da Mustardinha em Recife, reproduz as batas populares (africanas,
nordestinas). O segundo modelo feito no formato de poncho em teci do rústico,
bordado, em menor quantidade, para as pessoas que exerceram ministérios de
coordenação, de animação do canto, de leitores/as e salmistas... Nos dois
casos, a mesma veste é usada por homens e mulheres.
Um modelo de
veste para ministros/as leigos/as, bonito e bem aceito, foi desenvolvido pelo
apostolado litúrgico: sem gola e sem manga, forma quadrada, ampla e larga,
tecido liso com aplique colorido.
BUYST, lone.
Vestidos de luz. In: Liturgia de Coração; espiritualidade da celebração. São
Paulo: Paulus, 2003, p. 73
As vestes da
Paróquia da Mustardinha têm as seguintes características: modelo único para
todos os ministérios leigos, em tecido de algodão estampado, ou liso com algum
detalhe estampado, forma ampla e larga, que desce até os joelhos, sem gola e
com manga 3/4.
Nenhum comentário:
Postar um comentário