quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Vestes Litúrgicas.II


VESTE LITÚRGICA
no exercício dos ministérios leigos

PENHA CARPANEDO, PDDM
LAIJDIMIRO BORGES (MIRIM)

 
1. Um dado antropológico

O modo como cada pessoa se veste diz mui to da sua personalidade e cultura. Quando Mercedes Sosa coloca seu poncho ameríndio em seus shows, o faz por questão de estilo, alusão às suas raízes culturais. No teatro, a veste é parte dos elementos que dão vida a um personagem, é algo bem personalizado, e cada detalhe é importante (tecido, forma, gola, botão...). Vestir a camisa do partido é um gesto afetuoso, quase religioso, de compromisso com o projeto que aquele partido defende. Ninguém vai a uma festa com roupa de trabalho ou com roupa do dia a dia. Muita gente guarda o costume da roupa de domingo, e há quem a qualifique como “roupa de ver Deus”.

Na maioria das religiões a veste é um componente importante no conjunto dos símbolos que caracterizam a identidade religiosa. Pe. Jorge Lachnitt, salesiano, missionário entre o povo Xavante em Mato Grosso, relata o seguinte: “Há certos elementos genéricos presentes em todos os ritos Xavantes, tanto na vida social como nos ritos religiosos. O colar de algodão, branco, fechado por um nó duplo debaixo do queixo, expressa todo ato oficial, seja de um ancião que narra aos jovens iniciandos uma história mítica, seja de um professor que dá aula às crianças, como qualquer agente de ritos religiosos, que são todos os participantes ativos dos ritos. Só os ‘assistentes’ é que não o colocam. Este co lar pode ter penas ou outros acréscimos na nuca, para designar sua função específica em cada ocasião, ou sua pertença a determinado grupo”.

2. Referências bíblicas

Na bíblia cobrir-se de saco é sinal de penitência. João Batista é apresentado no Novo Testamento como profeta da austeridade,

vestindo roupa de couro e tendo um cinto na cintura. Mas a vocação do povo de Deus não é andar sempre revestido de roupas austeras; ‘somos chamados a andar vestidos de luz’. Somos filhos e filhas da luz (cf. Efé 5,8; Salmo 104,2). Paulo escreve na carta aos Gálatas: “Vós todos que fostes batizados em Cristo vos revestistes de Cristo” (Gl 3,27. Cf. também Rm 13,14). Ele foi espoliado de suas vestes, mas na ressurreição foi revesti do de glória, como antecipadamente aparece na transfiguração. Os anjos que anunciam a ressurreição estão vestidos de branco e com veste branca trajava a multidão do apocalipse, símbolo de sua participação na glória do Cristo. A roupa nova do batismo ou a nossa roupa festiva de domingo, tem a ver com esta iluminação do ressuscitado em nós, sinal de nossa participação na sua páscoa. Ë expressão de alegria e de festa, como “a noiva da nova Jerusalém vestida de linho, pronta para se encontrar com o seu amado” (Apocalipse 21; cf. também o salmo 45 e Isaias 61,10-11).

Na Bíblia aparece também a roupa ligada à missão. Eliseu ao herdar o espírito do profeta Elias recebe dele o seu manto. “Jesus, estando à mesa, se levantou, pegou uma toa lha, amarrou-a na cintura e lavou os pés dos discípulos” (João 13,4-5). As vestes litúrgicas têm a ver com este revestir-se do Cristo no serviço assumido a favor da comunidade, que tem como base a veste batismal do nosso ser discípulos e discípulas.

3. O uso de vestes litúrgicas na liturgia cristã

Do ponto de vista histórico, o uso de vestes especiais para os ministros da liturgia apareceu tardiamente no cenário da Igreja. Usava- se veste comum, embora escolhendo a melhor roupa e até reservando-a para o momento celebrativo. Na catacumba de Priscila, século III, se vê o papa vestido de dalmática e uma espécie de casula que eram vestes comuns da época. Com o encontro das diversas culturas, foi se modificando os costumes quanto às vestimentas, e isso foi um dos motivos que levou a se fixar a dalmática e a casula como vestes litúrgicas. A dalmática será veste do diácono e do leitor e a casula do bispo e do presbítero. Na Igreja católica houve uma evolução para vestes mais suntuosas em tecidos finos e bordados, chegando a exageros. A respeito das vestes, o Concilio Vaticano II recomendou “a nobre beleza antes que a mera suntuosidade” (SC 124).

4. O uso das vestes em nossas comunidades

Atualmente o uso da veste é pacífico quando se trata de ministros ordenados. Para os ministérios leigos, há anos foi adotada no Brasil veste para ministros/as extraordinários/ as da comunhão, uma espécie de uniforme tipo jaleco. Atualmente estão de volta os coroinhas, com batina e sobrepeliz. Isso mostra o desejo de enfatizar os ministérios litúrgicos leigos, embora estes modelos deixem bastante a desejar quanto ao estilo, por não serem propriamente trajes litúrgicos. Além disso, pergunta-se, por que o uso das vestes apenas para ministros/as da comunhão e para os/as coroinhas. Não seria o caso de pensar vestes litúrgicas para os diversos ministérios leigos?

Nota-se, no entanto, certa hesitação por considerar que é toda a assembléia o sujeito da celebração. Sendo assim, por que colocar ênfase sobre quem exerce serviços dentro da celebração? Além disso, há maneiras de se relacionar com a roupa que podem estar ligadas ao desejo de chamar a atenção sobre si mesmo/a, ou de impor respeito, ou ainda de considerar-se separado dos demais... Isso seria contrário à atitude de serviço que está na base de qualquer ministério na Igreja e que a veste deveria realçar.

O bom senso nos diz que o uso das vestes não deve ser obrigatório. Em uma comunidade onde não há consenso é melhor não usá-las. Por que comprometer a unidade, por conta de um elemento que em si não é essencial? Em todo caso, se usarmos as vestes teremos que levar em conta alguns critérios.

a) A veste como expressão da ministerialidade da Igreja

É significativo ver homens e mulheres no exercício do seu sacerdócio batismal, tomar lugar no presbitério para presidir a celebração dominical da Palavra, ou subir ao ambão para fazer a leitura e cantar o salmo, ou se colocar diante da assembléia para animar o canto, ou ao lado de quem preside a eucaristia para ajudar no serviço do altar... Esta variedade de serviços, agindo em mútua complementaridade, manifesta a Igreja toda ministerial, superando o clericalismo que historicamente concentrou os serviços litúrgicos na mão do padre.

De fato, a reforma litúrgica do Concílio Vaticano II, apoiando-se no modelo de Igreja, definido na Lumen gentium, valorizou os serviços realizados por leigos/as dentro de uma celebração como verdadeiros ministérios (cf. SC 29). De lá pra cá, emergiram uma infinidade de ministérios litúrgicos, conforme as necessidades das comunidades: leitores, salmistas, coordenadores/as de celebração dominical da Palavra, catequistas, coordena dores! as de celebração do batismo, Coordena dores/as de celebração por ocasião da morte, testemunhas qualificadas do matrimônio, coordenadores/as do Oficio Divino, cantores/ as e instrumentistas.

As vestes, nestes casos, significam reconhecimento dos ministérios leigos; evidenciam a diversidade ministerial da Igreja.

b) Que tipo de veste?

A veste tem função simbólica, faz parte dos sinais sensíveis que compõem a ação litúrgica. Sendo assim, é importante cuidar do tipo de tecido e da modelagem, para que não seja uma peça apenas funcional, mas se imponha pela beleza e bom gosto. Isso não significa que as vestes devam ser ostensivas (isso vale também para os ministros ordenados). Não podem servir para reforçar o poder. Afinal quem exerce um ministério o faz em nome de Jesus, pobre e servidor dos pobres.

Outro ponto a ser considerado a respeito da veste litúrgica é a diversidade de acordo com os diferentes serviços. Digamos que na base de todos os ministérios na Igreja, há uma igualdade fundamental estabelecida pelo batismo. Mas os ministérios são diferentes, pois correspondem a diferentes serviços. Não se pode negar que a função de quem preside, tem uma relevância em relação à do leitor, ou à do acólito que leva a cruz na procissão de entrada, embora todos devam desempenhar a sua função com a mesma piedade que convém ao mistério celebrado (cf. SC 29). O que não convém é diferenciar as vestes dos ministros extraordinários da comunhão e dos coroinhas em relação aos demais. Não cabe distinção entre eles. Talvez o critério para distinguir entre os diversos ministérios leigos, seja justamente entre quem preside e os demais. Outra questão a ser observada é em relação ao espaço. Uma veste que fica bem em uma catedral, talvez não seja adequada em uma pequena capela, com um grupo menor de pessoas que têm um estilo mais informal.

c) As vestes nos Inter-eclesiais

As celebrações dos Intere-clesiais, com toda a beleza de elementos simbólicos - cores, símbolos, gestos, movimentos — sugerem que também as vestes correspondam a esta exuberância de alegria e de profecia. No décimo primeiro intereclesial em Ipatinga e no décimo segundo em Porto Velho, foram confeccionados dois modelos de vestes. Um mais simples, em tecido de algodão branco com detalhe estampado, para os serviços que envolveram grande número de pessoas: duzentas pessoas distribuindo os alimentos na celebração de abertura, mais de duzentas ajudando na distribuição da comunhão na celebração final, por exemplo. Este modelo, que vem da paróquia da Mustardinha em Recife, reproduz as batas populares (africanas, nordestinas). O segundo modelo feito no formato de poncho em teci do rústico, bordado, em menor quantidade, para as pessoas que exerceram ministérios de coordenação, de animação do canto, de leitores/as e salmistas... Nos dois casos, a mesma veste é usada por homens e mulheres.

Um modelo de veste para ministros/as leigos/as, bonito e bem aceito, foi desenvolvido pelo apostolado litúrgico: sem gola e sem manga, forma quadrada, ampla e larga, tecido liso com aplique colorido.

BUYST, lone. Vestidos de luz. In: Liturgia de Coração; espiritualidade da celebração. São Paulo: Paulus, 2003, p. 73

As vestes da Paróquia da Mustardinha têm as seguintes características: modelo único para todos os ministérios leigos, em tecido de algodão estampado, ou liso com algum detalhe estampado, forma ampla e larga, que desce até os joelhos, sem gola e com manga 3/4.

Nenhum comentário:

Postar um comentário