terça-feira, 17 de novembro de 2015

Pantocrator IV - Manaus.2015.






Pantocrator IV.2015 - Capela no Centro Loyola
Residência São Francisco Xavier – Manaus-AM

Finalmente terminei mais uma pintura em Manaus, desta vez pintando sobre uma textura muito grossa, o que redeu muito, muito trabalho, mas sinto-me muito consolado e valeu a pena tanto trabalho, foram dias de muita dedicação, muitas dores pelas posições difíceis em alguns detalhes, calor demais quando a  capela estava em obras e não podia ligar o ar condicionado, enfim, o resultado é muito gratificante e valeu todo os esforço.

Ao centro fiz o Cristo sentado e nas cores brancas, uma alusão a Ressurreição. Com a mão direita a bênção e com a esquerda segura o livro do evangelho com a frase, lembrando: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo” (Mateus 28:20). Ao redor os desenhos indígenas fazendo uma moldura com as letras alfa e ômega (primeira e última do alfabeto grego): Jesus cristo, início e fim de todas as coisas, n´Ele a eternidade.

Estamos na Amazônia e os elementos da natureza estão muito presentes, nas águas, nas florestas, sol e lua, estrelas e na árvore da vida ao centro: “O Senhor Deus fez brotar da terra toda sorte de árvores, de aspecto agradável, e de frutos bons para comer; e a árvore da vida no meio do jardim, e a árvore da ciência do bem e do mal” Gênesis 2:9; “O fruto do justo é uma árvore de vida; o que conquista as almas é sábio” Provérbios 11:30; “A língua sã é uma árvore de vida; a língua perversa corta o coração” Provérbios 15:4; “No meio da avenida e às duas margens do rio, achava-se uma árvore da vida, que produz doze frutos, dando cada mês um fruto, servindo as folhas da árvore para curar as nações” Apocalipse 22:2.

Sempre gosto muitos dos desenhos indígenas, particularmente nas duas laterais da pintura... Os desenhos geométricos utilizados na decoração do corpo, da cerâmica, das cabaças e outros itens da cultura material indígena compreendem um sistema de arte gráfica, com uma gramática própria e cujo conteúdo se relaciona a diferentes sistemas de significação. Esses desenhos são estilizações de elementos de natureza, bem como representações de seres sobrenaturais ou elementos simbólicos.

Na lateral esquerda em tons de vermelho o cordeiro imolado com a chaga, uma alusão a paixão do Senhor: “Ninguém a tira de mim, mas eu a dou de mim mesmo e tenho o poder de a dar, como tenho o poder de a reassumir. Tal é a ordem que recebi de meu Pai” João 10:18. Também coloquei no sol o monograma IHS: Do grego "IHSUS", aparece nos evangelhos dos apóstolos Marcos e Lucas. Sua forma latina, "Iesus Hominibus Salvatoren (IHS)",  foi criada por São Bernardino de Sena, no século XV, e adotada por Santo Inácio de Loyola, no século XVI, como emblema da Companhia de Jesus. O símbolo foi usado como carimbo nas publicações da Companhia. A sigla foi depois transformada em monograma e usada como um dos símbolos Católicos.


Um pouco de história...

No Antigo Testamento Deus tinha proibido a reprodução da sua imagem, por causa disso, a Divindade do Senhor só era retratada através da arte decorativa, em especial, a uma forma geométrica. Com a encarnação do Filho de Deus, tornou-se possível retratar o Deus invisível, uma vez que Aquele é não apenas o Verbo, mas também a Sua imagem. Dessa forma, o ícone retrata não uma imagem inacessível à vista, mas uma pessoa real.

 O fundamental e primeiro ícone é, portanto, a Face de Cristo que exprime, através da imagem o dogma do Concilio de Calcedônia: “O ícone não representa tão somente a natureza Divina, nem só a natureza humana de Cristo, mas representa a sua pessoa, a pessoa de Deus-Homem que reúne em si sem mistura nem divisão as duas naturezas.”

Uma vez retratado o Deus invisível, passou-se a retratar também a Mãe de Deus e os santos porque assumindo a natureza humana, o Filho de Deus renova no homem a imagem obscurecida. Uma tradição muito difundida atribui os primeiros ícones a São Lucas que, admitida a sua intimidade com a Mãe de Deus ainda viva, tendo levado a Ela para que a reconhecesse e desse poder para salvar a quem o venerasse.

A palavra Pantocrator (todo-poderoso) aparece relacionada ao ícone de Cristo com a mão inclinada em sinal de bênção. Os mais antigos exemplos de pantocrator remontam ao século VI. Os dedos são posicionados para formar as letras gregas ICXC, uma abreviação do nome grego de Cristo: IHCOYC XRICTOC. Este gesto é comum em imagens da ressurreição de Cristo e dos apóstolos, assim como nos retratos de santos e do clero. Esse cristograma é usado hoje como um gesto tradicional bênção dos sacerdotes na Igreja Ortodoxa Oriental.

Curiosamente, o mesmo gesto é conhecido na tradição hindu e budista como o prana mudra, símbolo da cura. No budismo “esse gesto reflete as diferentes forças mediante as quais as disposições da mente criativa adquirem forma manifesta”.

Essa representação artística surgiu nas oficinas imperiais da cidade de Constantinopla, irradiando-se posteriormente para as regiões conquistadas.  As características faciais são desenhadas fortes e simetricamente sobre uma superfície achatada onde os grandes olhos, envoltos na contemplação do Além, brilham com um esplendor sobrenatural.  Estamos num mundo hierático e magnificente, que evoca, com certos gestos adequados, cenas transportadas do mundo real para o da liturgia.

A arte bizantina tinha um objetivo: expressar a autoridade absoluta do imperador, considerado sagrado, representante de Deus e com poderes espirituais e temporais.

Para que atingisse melhor esse objetivo, uma série de convenções foram estabelecidas, tal como na arte egípcia.  Uma delas foi a frontalidade, pois a postura rígida da figura leva o observador a uma atitude de respeito e veneração pelo personagem representado.  Por outro lado, quando o artista reproduz frontalmente as figuras, ele mostra um respeito pelo observador, que vê nos soberanos e nas personagens sagradas seu senhor e protetores.   Além da frontalidade, outras regras minuciosas foram elaboradas pelos sacerdotes para os artistas, determinando o lugar de cada personagem sagrada na composição e indicando como deveriam ser os gestos, as mãos, os pés, as dobras das roupas e os símbolos.  Enfim, tudo o que poderia ser representado estava rigorosamente determinado.

Mais imagens e detalhes da pintura você pode ver em meu Face: Renato Jesuíta.

Pe. Renato,SJ – Manaus.2015.

Nenhum comentário:

Postar um comentário