Pantocrator IV.2015 - Capela no Centro Loyola
Residência São Francisco Xavier – Manaus-AM
Finalmente terminei mais uma pintura em
Manaus, desta vez pintando sobre uma textura muito grossa, o que redeu muito,
muito trabalho, mas sinto-me muito consolado e valeu a pena tanto trabalho,
foram dias de muita dedicação, muitas dores pelas posições difíceis em alguns
detalhes, calor demais quando a capela
estava em obras e não podia ligar o ar condicionado, enfim, o resultado é muito
gratificante e valeu todo os esforço.
Ao centro fiz o Cristo sentado e nas
cores brancas, uma alusão a Ressurreição. Com a mão direita a bênção e com a
esquerda segura o livro do evangelho com a frase, lembrando: “Eis que estou
convosco todos os dias, até o fim do mundo” (Mateus 28:20). Ao redor os
desenhos indígenas fazendo uma moldura com as letras alfa e ômega (primeira e
última do alfabeto grego): Jesus cristo, início e fim de todas as coisas, n´Ele
a eternidade.
Estamos na Amazônia e os elementos da
natureza estão muito presentes, nas águas, nas florestas, sol e lua, estrelas e
na árvore da vida ao centro: “O Senhor Deus fez brotar da terra toda sorte de
árvores, de aspecto agradável, e de frutos bons para comer; e a árvore da vida
no meio do jardim, e a árvore da ciência do bem e do mal” Gênesis 2:9; “O fruto
do justo é uma árvore de vida; o que conquista as almas é sábio” Provérbios
11:30; “A língua sã é uma árvore de vida; a língua perversa corta o coração”
Provérbios 15:4; “No meio da avenida e às duas margens do rio, achava-se uma
árvore da vida, que produz doze frutos, dando cada mês um fruto, servindo as
folhas da árvore para curar as nações” Apocalipse 22:2.
Sempre gosto muitos dos desenhos
indígenas, particularmente nas duas laterais da pintura... Os desenhos
geométricos utilizados na decoração do corpo, da cerâmica, das cabaças e outros
itens da cultura material indígena compreendem um sistema de arte gráfica, com
uma gramática própria e cujo conteúdo se relaciona a diferentes sistemas de
significação. Esses desenhos são estilizações de elementos de natureza, bem
como representações de seres sobrenaturais ou elementos simbólicos.
Na lateral esquerda em tons de vermelho o
cordeiro imolado com a chaga, uma alusão a paixão do Senhor: “Ninguém a tira de
mim, mas eu a dou de mim mesmo e tenho o poder de a dar, como tenho o poder de
a reassumir. Tal é a ordem que recebi de meu Pai” João 10:18. Também coloquei
no sol o monograma IHS: Do grego "IHSUS", aparece nos evangelhos dos
apóstolos Marcos e Lucas. Sua forma latina, "Iesus Hominibus Salvatoren
(IHS)", foi criada por São
Bernardino de Sena, no século XV, e adotada por Santo Inácio de Loyola, no
século XVI, como emblema da Companhia de Jesus. O símbolo foi usado como
carimbo nas publicações da Companhia. A sigla foi depois transformada em
monograma e usada como um dos símbolos Católicos.
Um pouco de história...
No Antigo Testamento Deus tinha proibido
a reprodução da sua imagem, por causa disso, a Divindade do Senhor só era
retratada através da arte decorativa, em especial, a uma forma geométrica. Com
a encarnação do Filho de Deus, tornou-se possível retratar o Deus invisível,
uma vez que Aquele é não apenas o Verbo, mas também a Sua imagem. Dessa forma,
o ícone retrata não uma imagem inacessível à vista, mas uma pessoa real.
O
fundamental e primeiro ícone é, portanto, a Face de Cristo que exprime, através
da imagem o dogma do Concilio de Calcedônia: “O ícone não representa tão
somente a natureza Divina, nem só a natureza humana de Cristo, mas representa a
sua pessoa, a pessoa de Deus-Homem que reúne em si sem mistura nem divisão as
duas naturezas.”
Uma vez retratado o Deus invisível,
passou-se a retratar também a Mãe de Deus e os santos porque assumindo a
natureza humana, o Filho de Deus renova no homem a imagem obscurecida. Uma
tradição muito difundida atribui os primeiros ícones a São Lucas que, admitida
a sua intimidade com a Mãe de Deus ainda viva, tendo levado a Ela para que a
reconhecesse e desse poder para salvar a quem o venerasse.
A palavra Pantocrator (todo-poderoso)
aparece relacionada ao ícone de Cristo com a mão inclinada em sinal de bênção.
Os mais antigos exemplos de pantocrator remontam ao século VI. Os dedos são
posicionados para formar as letras gregas ICXC, uma abreviação do nome grego de
Cristo: IHCOYC XRICTOC. Este gesto é comum em imagens da ressurreição de Cristo
e dos apóstolos, assim como nos retratos de santos e do clero. Esse cristograma
é usado hoje como um gesto tradicional bênção dos sacerdotes na Igreja Ortodoxa
Oriental.
Curiosamente, o mesmo gesto é conhecido
na tradição hindu e budista como o prana mudra, símbolo da cura. No budismo
“esse gesto reflete as diferentes forças mediante as quais as disposições da
mente criativa adquirem forma manifesta”.
Essa representação artística surgiu nas
oficinas imperiais da cidade de Constantinopla, irradiando-se posteriormente
para as regiões conquistadas. As
características faciais são desenhadas fortes e simetricamente sobre uma
superfície achatada onde os grandes olhos, envoltos na contemplação do Além,
brilham com um esplendor sobrenatural.
Estamos num mundo hierático e magnificente, que evoca, com certos gestos
adequados, cenas transportadas do mundo real para o da liturgia.
A arte bizantina tinha um objetivo:
expressar a autoridade absoluta do imperador, considerado sagrado,
representante de Deus e com poderes espirituais e temporais.
Para que atingisse melhor esse objetivo,
uma série de convenções foram estabelecidas, tal como na arte egípcia. Uma delas foi a frontalidade, pois a postura
rígida da figura leva o observador a uma atitude de respeito e veneração pelo
personagem representado. Por outro lado,
quando o artista reproduz frontalmente as figuras, ele mostra um respeito pelo
observador, que vê nos soberanos e nas personagens sagradas seu senhor e
protetores. Além da frontalidade,
outras regras minuciosas foram elaboradas pelos sacerdotes para os artistas,
determinando o lugar de cada personagem sagrada na composição e indicando como
deveriam ser os gestos, as mãos, os pés, as dobras das roupas e os
símbolos. Enfim, tudo o que poderia ser
representado estava rigorosamente determinado.
Mais imagens e detalhes da pintura você pode ver em meu Face: Renato Jesuíta.
Pe. Renato,SJ – Manaus.2015.
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