Ione Buyst
A história, uma longa caminhada
Nós,
cristãos, consideramos a vida e a história como uma grande caminhada, que só
terminará quando nos encontrarmos todos na casa do Pai, na Cidade de Deus, na
“nova Jerusalém”, no Reino definitivo, como Deus prometeu. Por isso, é perigoso
representar o ano litúrgico dentro de um círculo; daria a impressão de que
estamos presos no tempo: todo ano, tudo começaria de novo da estaca zero e
jamais poderíamos esperar grandes mudanças. Muita gente reforça este pensamento
dizendo: “Sempre foi assim! Sempre será assim! Pobre sempre será pobre!” Mas,
tanto a ressurreição de Jesus como o seu nascimento nos ensinam exatamente o
contrário: a força e a presença de Deus no meio da humanidade nos dão
possibilidade de mudar a história, de lutar para melhorar a situação, para
transformá-la em história de salvação, de vida para todos... Nenhum poder deste
mundo, nenhum governo, nenhum grupo poderoso é eterno, por mais que se
apresente assim: todos poderão ser desbancados pelo poder do Reino de Deus que
está crescendo no meio de nós.
O Advento de um mundo renovado
O Advento do
Reino de Deus traz em si uma proposta radicalmente nova de relacionamento entre
as pessoas e os grupos humanos; traz em si uma crítica a muitos projetos e
maneiras de se organizar a sociedade e a vida individual de cada um. Vivemos
numa sociedade que só visa o lucro, o poder, a dominação de alguns poucos sobre
todos os outros. A pessoa humana é reduzida a mercadoria. A injustiça se
petrificou nas estruturas sócio-econômicas que a cada dia matam milhares de
seres humanos. Uns têm tudo, outros não têm nem terra, nem trabalho, nem
salário digno, nem casa, nem comida... Viver o Advento significa, portanto,
rever os nossos projetos, avaliá-los à luz da mensagem do Advento do Senhor,
rever o rumo que estamos tomando em nossa vida individual, social e
comunitária.
O Senhor vem
para assumir o governo do mundo e de nossas vidas. Vem realizando a salvação, a
cada dia, a cada momento da história, até que um dia o Reino esteja plenamente
estabelecido. O Senhor vem: cada celebração litúrgica é uma “visita” do Senhor,
dia de sua vinda, principalmente quando celebramos a Eucaristia, a ceia do
Senhor, proclamando sua vitória sobre todas as mortes, “até que Ele venha”.
O tempo
litúrgico do Advento faz-nos viver profundamente este aspecto da
presença-ausência do Reino. Reaviva em nós a esperança de um futuro melhor
dentro de um mundo que parece estar se suicidando. Reanima a nossa coragem: os
nossos esforços por uma vida digna, por uma sociedade fraterna, não serão em
vão. Reaviva o nosso amor. Alguém espera por nós no ponto de chegada e já se
faz presente como companheiro de caminhada: o Senhor Jesus.
“Vem, Senhor Jesus!”
É por isso
que a prece mais característica do tempo do Advento é: “Vem, Senhor Jesus!”,
prece bem antiga. (...) Diz Humberto Porto: “Através dela queriam os primitivos
cristãos proclamar a certeza nova de que só pela mediação do ‘Kyrios’ (Senhor)
glorioso é que temos realmente acesso ao Pai; (...) expressa a fé e a esperança
da reunião de todos os homens [e mulheres] na unidade, com a transformação do
ser humano e do cosmos sob o juízo definitivo de Deus. Ela envolve a súplica da
manifestação universal da glória divina na realização escatológica da
salvação”.
Leiam mais: Ione Buyst, Preparando Advento e Natal, São Paulo,
Paulinas, 2002 (Col. Celebrar).
Perguntas para reflexão pessoal e em grupos
1.
Quais são as principais preocupações da sociedade no Advento deste ano?
2. O que você
espera do Advento deste ano?
3. Como você
pretende preparar a sua família e sua comunidade para a celebração do Natal?
Fonte: Formação Litúrgica em Mutirão
CNBB – Rede Celebra – Revista de Liturgia
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