quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Espiritualidade Inaciana.4




Espiritualidade inaciana: uma escola de vida,
uma espiritualidade para nosso tempo

 

A experiência vivida por S. Inácio o transformou radicalmente, legando-nos um estilo de vida cristã que tem suas características específicas.

Sua espiritualidade é uma espiritualidade dinâmica, vital, que desencadeia no interior das pessoas um contínuo estado de crescimento no seguimento de Jesus e no serviço aos outros.

Podemos considerar S. Inácio na sua caminhada para a santidade: é o Espírito do Senhor que o conduz.

“Inácio seguia o Espírito, não se adiantava a Ele.
Deste modo era conduzido serenamente por onde não sabia.
Aos poucos o caminho se lhe abria e o percorria, sabiamente ignorante,
colocando, simplesmente, seu coração em Cristo” (Nadal, diálogos no. 1)

 

A “vida no Espírito”  é toda a vida, que nasce d’Ele e por Ele é transformada.

Toda a vida: a ação e a oração, a formação e o serviço, a alegria e a dor, o sucesso e o fracasso, o deserto e a terra prometida. Isso tudo é o que Inácio viveu em profundidade: “buscar a Deus em todas as coisas”

 

Tem a espiritualidade inaciana alguma luz específica, alguma contribuição original
que alimente o cristão no atual momento histórico?

 

Vivemos hoje um momento de profundas transformações, de graves crises e grandes promessas...

Estas situações despertam novos desafios para o cristão neste novo milênio.

Diante do atual quadro, a dinâmica dos Exercícios Espirituais de S. Inácio é um instrumento único e original que possibilita a pessoa “trazer à tona” toda a riqueza conservada no seu interior.

 

EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS:  não visam acumular nosso interior de novos conteúdos e conhecimentos; propõem “desbloquear” nosso eu profundo para que jorrem permanentemente  “as águas vivas do coração”

 

“Não é o muito saber que sacia e satisfaz o nosso interior,
mas sentir e saborear as coisas internamente” (EE. 2).

 

Os Exercícios Espirituais são um método “provocativo e estimulativo”.

A pessoa por inteira é mobilizada (os sentidos, a imaginação, a razão, a afetividade).

Tudo é “ordenado” para que a manifestação de Deus no nosso interior seja captada.

Através dos Exercícios a pessoa deixa-se alcançar por uma força que atravessa a história e desperta formidáveis dinamismos de criatividade.

 

“Exercitar”, “fazer Exercícios”, “fazer retiro”... é despertar e fazer crescer a criatividade na pessoa; isto significa ajudá-la a sair da dimensão estática dos seus esquemas para entrar no dinamismo da mentalidade de Deus.

 

O Espírito de Deus, que é criatividade e vida, sopra onde quer e não se sabe de onde vem e nem para onde vai (cf. Jo. 3,8); rompe os esquemas e torna sempre novas todas as coisas. Deus é Aquele que rompe barreiras e traça caminhos novos, levando-nos a abandonar seguranças repetitivas, velhas respostas, acomodação estéril...

                                 

O Reino de Deus só pode tornar-se realidade quando entra em nosso coração, pondo em movimento toda a nossa capacidade criadora. O processo dos Exercícios Espirituais desperta no ser humano a conquista gradual da própria identidade, da legítima autonomia, do discernimento responsável, da esperança ativa; suscita uma nova atitude diante do mundo e da Igreja, não de um espectador da história, mas de um ator responsável e otimista, agente de transformação  da realidade pessoal e coletiva.

 

Em síntese, a espiritualidade inaciana apresenta uma contribuição original que motiva e prepara a pessoa para o compromisso, lançando-a ao meio da realidade da vida cotidiana e profissional, permitindo integrar em sua visão espiritual todas as dimensões da mesma realidade.

 

Alguns traços dessa espiritualidade:

 

- a espiritualidade inaciana responde claramente à necessidade do cristão por seu caráter de compromisso; a intimidade com Deus que S. Inácio procura com todas as energias não o distancia da realidade conflitiva do mundo;

 

- o Cristo da espiritualidade inaciana é um Cristo em ação, é o Cristo que nos envia ao meio do mundo e nos manda buscar a Deus em nossas atividades (“Deus em todas as coisas e todas as coisas em Deus”);

 

- hoje sentimos fortemente a insegurança resultante da relativização de todos os valores, a confusão a respeito do sentido da vida, a falta de pontos de referência que oriente nossas atitudes... no meio do pluralismo de opiniões e tendências, das mudanças rápidas que nos fazem enfrentar situações novas, quê critérios usar para identificar o verdadeiro caminho e tomar decisões acertadas à luz da fé? Daí a necessidade de contínuo discernimento;

 

- a espiritualidade inaciana não nos prepara somente para enfrentar os problemas que a crise do mundo atual apresenta; ajuda-nos também a perceber entre os escombros da modernidade em decomposição, o surgir de um Novo Tempo. Em meio às vicissitudes da história o cristão descobre a ação do Espírito de Deus que renova a face da terra, conduzindo a criação à plenitude de seu destino.

 

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