quarta-feira, 25 de maio de 2016

Zacarias


Zacarias

 

As diferenças de estilo e conteúdo entre os conjuntos 1-8 e 9-14 deste livro são tais que, hoje, é consensual que se trata de dois livros de época e autor diversos. Também é verdade que a sua junção não foi obra do acaso, uma vez que os contactos entre os dois conjuntos são suficientemente fortes para o justificarem. Analisamos cada um deles separadamente.

 

PRIMEIRA PARTE (1,1-8,23)

 

AUTOR E LIVRO

 

No AT há mais de trinta pessoas com o nome de Zacarias. Do profeta diz-se que era «filho de Baraquias, filho de Ido» (1,1.7; 7,1.8) ou «filho de Ido» (Esd 5,1; 6,14). Sem entrarmos na discussão que o caso suscita, vamos considerá-lo como da descendência de Ido, um dos sacerdotes regressados do Exílio referidos por Ne 12,4 (ver Is 8,2).

 

Situando-se na linha dos profetas clássicos, aparecendo mesmo na continuidade literária de alguns deles (2.° Is e Ez), o texto de Zacarias pode colocar-se perfeitamente entre o gênero profético e o apocalíptico.

 

DATA E CONTEÚDO

 

A actividade do profeta Zacarias (cap 1-8), a partir da cronologia que o livro nos apresenta, estende-se do oitavo mês do segundo ano de Dario (520 a.C. – dois meses depois da primeira profecia de Ageu) até ao nono mês do quarto ano (518), isto é, por dois anos. Se não temos nenhuma confirmação desta cronologia, também é verdade que não há nada que a desminta. Antes, ela concorda perfeitamente com o que se sabe de Zacarias: um dos grandes impulsionadores da reconstrução do templo, juntamente com Ageu.

 

Podemos dividir esta primeira parte em duas grandes secções, antecedidas de uma breve introdução:

 

Introdução (1,1-6): um apelo à conversão. Primeira secção (1,7-6,15): é a secção principal do livro. Apresenta-nos oito visões com breves oráculos disseminados pelo meio daquelas. Segunda secção (7,1-8,23): é um conjunto de oráculos, que surgem numa aparente desordem.

 

TEOLOGIA

 

Esta primeira parte do livro é certamente autêntica e está centrada em perspectivas messiânicas. A reconstrução do templo – como em Ageu – é uma das grandes preocupações do profeta, com a restauração nacional e as suas exigências de pureza e moralidade. O governo da comunidade é confiado ao Sumo Sacerdote Josué, ou Jesua, e ao governador Zorobabel (6,11-12; Esd 3,1-7).

 

O Messias – designado pela palavra «Gérmen» (3,8) – exerce o poder régio; entretanto, isso mesmo é dito acerca de Zorobabel em 6,12. É este, pois, que traz em si as esperanças dos repatriados. Os dois ungidos, Josué e Zorobabel (4,14), governarão em perfeito acordo (6,13). Temos, assim, a ideia antiga do messianismo real associada às preocupações sacerdotais de Ezequiel.

 

A influência deste profeta manifesta-se no papel relevante que têm as visões na tendência apocalíptica, na insistência na pureza e na conversão futura dos pagãos. Mas Jerusalém continuará a ser a parte escolhida por Deus, porque Ele voltará ao templo que vai ser reconstruído (2,15-17). Deus purificará a Terra Santa de todo o pecado. Na Babilônia, considerada como o centro do paganismo, será construído o templo do pecado (5,5-11).

 

SEGUNDA PARTE (9,1-14,21)

 

AUTOR E DATA

 

Para uma grande parte dos especialistas, estamos diante de uma antologia de textos de origem diversa que foram recolhidos e “colados” a Zacarias.

 

Assim sendo, não parece ser possível falar de uma unidade de autor, nem de uma data precisa. Alguns situam esta segunda parte no tempo de Alexandre Magno (332-300 a.C.).

 

DIVISÃO E CONTEÚDO

 

Esta segunda parte carece de unidade, tanto literária como do ponto de vista do conteúdo. Podemos, no entanto, subdividi-la também em duas secções:

 

A primeira secção (9,1-11,17), em que se fala da salvação do povo escolhido, pode dividir-se em três blocos: 9,1-10,2; 10,3-11,3; 11,4-17 (+13,7-9). A segunda secção (12,1-14,21), caracterizada pela repetição da fórmula «Naquele dia...» (17 vezes), é de tom claramente escatológico. Trata-se da renovação de Jerusalém (12-13) e do combate escatológico (14).

 

TEOLOGIA

 

O texto do Segundo Zacarias está repleto da esperança messiânica, que se vinha apagando na comunidade. É, por isso, um dos textos mais usados no NT para descrever a figura do Messias. As imagens que usa revelam dependência de outros escritos proféticos anteriores (especialmente Isaías e Ezequiel); mas a novidade da perspectiva em que as usa concede-lhes uma clara singularidade teológica.

 

A imagem do salvador guerreiro, que consegue a vitória numa luta encarniçada, não é nova; que a salvação seja conseguida por um “traspassado” (12,4), por um rei humilde (9,9) ou pelo pastor rejeitado (11,4-17) não serve somente para dar alento aos desesperados de um tempo, mas aos de toda a História, e foi vista como profecia do Messias Sofredor.

 


 

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