Miqueias
Miqueias era natural de Moréchet (1,1), provavelmente Moréchet-Gat, uma
aldeia de Judá, 35 km a sudoeste de Jerusalém, numa região próxima da
Filisteia. Era uma terra de camponeses, mas não isolada, uma vez que à sua
volta se encontravam fortalezas importantes de Judá (Azeca, Marecha e Láquis).
As incursões assírias e todos os problemas relacionados com militares e
funcionários reais que acudiam àquela zona geravam instabilidade e abusos, de que
as principais vítimas eram os pequenos proprietários de terras.
Nada sabemos do estatuto social de Miqueias. Era certamente alguém ligado
à terra, e as suas críticas contra os nobres da época fazem supor que se
tratava de um camponês pobre, de um trabalhador da terra ou de um pequeno
proprietário. O seu nome significa: “Quem é como o Senhor?”
ÉPOCA
O título do livro situa a atividade do profeta nos reinados de Jotam, de
Acaz e de Ezequias; quer dizer, entre 740 e 698 a.C., aproximadamente. As suas
intervenções contra a injustiça social e a exploração a que são votados os
camponeses enquadram-se perfeitamente nesta época. No entanto, é difícil
precisar a sua acção nos tempos de Jotam e de Acaz. Certo é que 1,2-7 supõe a
existência da Samaria e, portanto, o profeta actuou antes da sua queda em 722
a.C.. A tradição contida em Jr 26,18 afirma que Miqueias desenvolveu o seu
ministério em tempos de Ezequias; por conseguinte, podemos situá-lo algum tempo
antes da queda da Samaria (722-701 a.C.).
Miqueias atuou no reino do Sul na mesma altura de Isaías. Experimentou
pessoalmente as várias incursões assírias deste período e os problemas de ordem
militar, política e social. Dá-nos uma visão pessimista da sociedade: as
maquinações dos latifundiários (2,1-5), a situação das viúvas e dos órfãos
desamparados e sem patrimônio (2,8-10), a ambição desmedida dos dirigentes e
consequente exploração do pobre (3,1-4), os juízes corruptos (3,9-11) e os
profetas subornados (3,5.11), a desconfiança geral, mesmo no interior da
própria família (7,5-6).
DIVISÃO E CONTEÚDO
O livro apresenta-se dividido em quatro partes, onde alternam ameaças e
promessas. Esta organização do texto pode ser atribuída a redatores posteriores
e a autenticidade de algumas secções é discutível. Muitos pensam que houve
releituras dos oráculos de Miqueias no tempo do Exílio. Mas, tal como o texto se
apresenta, desenvolve-se do seguinte modo:
I. Ameaças (1,2-3,12). Começa com um discurso motivado pelos pecados de
Jacob e de Judá (1,2-7), que provocam a ruína da Samaria e de Judá;
denunciam-se os ricos, os grandes proprietários e os opressores dos pobres, os
falsos profetas, os chefes e os sacerdotes (cap. 2-3).
II. Promessas (4,1-5,14). Estes
capítulos centram-se no tema da salvação.
III. Ameaças (6,1-7,7). O cap. 6 abre
com um processo entre Deus e o seu povo, a que se seguem duros ataques contra a
injustiça e a falsidade.
IV. Promessas (7,8-20). O livro
termina com o reconhecimento das culpas por parte do povo (7,8-10), um oráculo
de salvação (v.11-13), uma súplica (v.14-17) e a certeza do perdão (v.18-20).
TEOLOGIA
Miqueias usa uma linguagem viva e dinâmica, tornando-se um dos grandes
defensores da justiça. Preocupa-o a situação daqueles que, espoliados dos seus
bens, se convertem em presa fácil na mão dos poderosos. Estes são os grandes
proprietários de terras, as autoridades civis e militares, os sacerdotes e os
falsos profetas; são os que se baseiam no automatismo das promessas divinas, os
que pensam estar seguros, invocando as grandes tradições de Israel. Do outro
lado temos o povo, vítima dos desmandos dos poderosos: os que não têm terras nem
casas, os órfãos e todos os oprimidos.
Deus não pode ficar impassível. Por isso, Miqueias anuncia o castigo a
Jerusalém e à Samaria, principais focos das injustiças e arbitrariedades e da
duplicidade de interpretações das tradições antigas.
Mas o profeta reconhece também a validade das promessas; por isso
proclama a esperança num futuro de justiça para o resto de Jacob, pelo caminho
da humildade e da conversão. Não se limita, pois, a denunciar e a anunciar o
castigo, mas também promete a conversão e a salvação.
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