Habacuc
Nada sabemos da pessoa deste profeta: nem o seu lugar de nascimento, nem
a sua família, nem sequer o período em que viveu. Esta falta de dados não
impede ver no livro de Habacuc alguém profundamente enraizado na História do
seu tempo e em toda a problemática da ação de Deus na História.
ÉPOCA
A menção dos caldeus, «aquele povo feroz e impetuoso / que se espalha
pela superfície da terra / para se apoderar de habitações que não são suas»
(1,6), leva a colocar a profecia de Habacuc na época em que os Babilônios
começaram a dominar todas as regiões do Próximo Oriente Antigo (final do séc.
VII a.C.) e impuseram o seu jugo sobre Judá. Assim, Habacuc situar-se-ia nos
tempos do rei Joaquim (609-597 a.C.) ou no período a seguir a 597, data da primeira
deportação para a Babilônia.
Muitos elementos cultuais presentes no livro (o mais claro de todos é o
cap. 3) fazem com que alguns comentadores o relacionem com as liturgias
penitenciais de tempos posteriores. Mas é preciso discernir sempre se os
oráculos proféticos foram retocados para uso litúrgico, ou se os elementos da
liturgia é que foram reelaborados em forma profética. Como essa distinção não é
fácil, mantemos no início do domínio babilônico a composição provável do livro.
DIVISÃO E CONTEÚDO
O livro apresenta-se estruturado em três partes:
I. Diálogo entre o profeta e Deus (1,2-2,4), formado por duas queixas do
profeta (1,2-4 e 1,12-17) e duas respostas de Deus (1,5-11 e 2,1-4). A primeira
queixa coloca o problema da justiça: porque triunfam os ímpios? A primeira resposta
divina não satisfaz o profeta, pois os babilônios acabam por se exceder e são
mais cruéis do que os outros. Por isso, o profeta queixa-se de novo (1,12-17),
não compreendendo como Deus olha em silêncio para os traidores. A segunda
resposta aponta para o cumprimento da palavra divina: o profeta recebe a
palavra e aguarda o seu cumprimento.
II. Maldições contra o opressor (2,5-20): inclui cinco imprecações, condenando
todos os crimes cometidos pela tirania dos poderosos.
III. Um salmo (3,1-19) que celebra o triunfo definitivo de Deus na Natureza
e na História.
TEOLOGIA
O grande tema do livro de Habacuc é o da justiça divina. Deus é o Senhor
da História, e esta soberania de Deus só se compreende na fé (2,4). A sucessão
de crimes e violências que caracterizam os impérios leva o profeta a
interrogar-se diante de Deus, esperando o castigo dos opressores.
Mas o castigo violento gera violência e o problema fica sem solução. O
profeta supera esta questão, convencido de que Deus é a única fonte de
fortaleza e todo o império opressor acabará por ser castigado, mesmo que não se
compreendam as circunstâncias históricas.
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