Malaquias
O livro de Malaquias é o último na lista tradicional dos doze profetas
menores; “o selo dos profetas”, como lhe chama a tradição judaica. É possível
que, de início, este livro não referisse o nome do seu profeta-autor. A referência
a um “mensageiro da Aliança”, em 3,1, com a expressão hebraica “male’aki = meu
enviado”, pode ter dado origem a um nome de pessoa correspondente a essa
expressão, conservando o mesmo sentido. Malaquias – que em 1,1 aparece como
nome próprio do profeta enviado por Deus – encontra-se ainda na forma de «meu
mensageiro» em 3,1. A Setenta traduziu também em 1,1 por «meu enviado» e não
pelo nome de Malaquias.
LIVRO
Este livro deve ter sido escrito por volta de 450 a.C., ou seja, pouco
antes do ano 445, em que Neemias proibiu os casamentos mistos aos judeus. As
suas atitudes enquadram-se no ambiente posterior ao regresso do Exílio,
passados que foram os primeiros entusiasmos de restauração. O particularismo
nota-se na aversão a Esaú por parte de Deus (1,3) e na recusa dos casamentos
mistos (2,11).
DIVISÃO E CONTEÚDO
Depois de uma introdução (1,2-5), em que se fala da eleição de Israel,
seguem-se alusões às faltas cometidas contra a aliança de Levi pelos sacerdotes
e pelos fiéis (1,6-2,9), aludindo-se a um culto universal. Vem, depois, uma
série de queixas contra os casamentos mistos e os divórcios (2,10-16). Em
seguida, o profeta anuncia “o Dia do Senhor” (2,17-3,5) com a purificação do
sacerdócio. As dificuldades que os israelitas experimentam acabarão quando
estes voltarem a cumprir os seus deveres cultuais (3,6-15). No “Dia do Senhor”
os bons serão recompensados e os maus castigados (3,16-21). Um apêndice
(3,22-24) exorta à observância da Lei de Moisés e refere uma futura vinda do
profeta Elias.
TEOLOGIA E LEITURA CRISTÃ
Imbuído de espírito deuteronomista, o autor coloca o acento no culto.
Insurge-se com violência contra os sacerdotes, que, pelas suas infidelidades,
impedem a chegada da era messiânica. O sacerdote é o mensageiro do Deus do
universo (2,7).
O universalismo é outra ideia própria de Malaquias. O culto será transformado,
na era messiânica (1,11), na linha da adoração em espírito e verdade (Jo 4,23).
A condenação dos divórcios (2,14-16) prepara igualmente a que será proferida
por Cristo (Mt 5,31-32).
A vinda do dia do Senhor é preparada por um mensageiro (3,1; ver Is
40,3), que, na parte final do livro, é comparado a Elias, precisando-se aí
também a importância da sua missão (3,22-24). Mais tarde, o Evangelho comentará
esta passagem (Mt 17,10-13; Lc 1,17) e reconhecerá na figura de Elias a silhueta
de João Baptista, o Precursor do Messias (Mt 11,10; Mc 1,2; Lc 7,27).
Algumas características do seu pensamento justificam a tradição bíblica
de situar o livro de Malaquias na passagem do Antigo para o Novo Testamento.
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