quarta-feira, 25 de maio de 2016

Amós


Amós

 

Amós era natural de Técua, uma localidade do reino de Judá, a 8 km a sudeste de Belém. Em 1,1 diz-se que era pastor, e em 7,14 reafirma-se a sua profissão, acrescentando que também cultivava sicômoros. Aparentemente, o seu trabalho de pastor faz dele uma pessoa pobre e sem cultura. Mas, lendo o seu livro, damo-nos conta de que conhece bem a geografia e certos acontecimentos dos países vizinhos, a História sagrada do seu povo e toda a problemática social, política e religiosa de Israel.

 

Do ponto de vista econômico, não deveria ser um simples assalariado; é muito provável que guardasse os rebanhos e cultivasse os terrenos que eram propriedade sua.

 

Não tinha qualquer relação com a profecia e com os grupos proféticos. O livro não narra diretamente a sua vocação, mas faz-lhe referência em 7,14-15. Ali se pode ver que o Senhor o enviou a profetizar ao povo de Israel, isto é, ao Reino do Norte. Não sabemos quando isso aconteceu, mas foi em tempos do rei Jeroboão, provavelmente entre os anos 760-750 a.C..

 

Deve ter pregado em várias localidades do reino do Norte, até chocar com a oposição dos seus dirigentes em Betel (7,10-13). Isto, muito provavelmente, dificultou-lhe o exercício da acção profética.

 

ÉPOCA

 

Depois da divisão dos dois reinos, a seguir à morte de Salomão, o reino do Norte viveu períodos de grande instabilidade. Estava sujeito aos constantes ataques dos reinos arameus do Norte, a lutas internas e consequente perda de territórios e influência.

 

A situação alterou-se no início do séc. VIII: a Assíria começou a expandir-se, atacou Damasco, o que permitiu a Israel recuperar alguns territórios e reorganizar-se internamente.

 

Governa então em Israel Joás e, logo a seguir, Jeroboão II. Durante este reinado houve um certo progresso social e econômico: a população aumentou, os palácios eram luxuosos, cresceram os recursos agrícolas e desenvolveu-se a indústria. O livro de Amós dá-nos conta deste progresso.

 

A melhoria da situação econômica vai ter, no entanto, o seu reverso da medalha: o pequeno proprietário vê-se sufocado pelos interesses dos mais poderosos, acentua-se a divisão entre ricos e pobres, a ambição dos ricos não conhece fronteiras, geram-se injustiças sociais gritantes e os pobres acabam por ficar à mercê dos que detêm o poder. Empréstimos com juros, hipotecas, serviço como escravo, falsificação dos pesos e das medidas no comércio, corrupção nos tribunais, luxo desmedido dos ricos... Todas estas situações são denunciadas por Amós.

 

Com a decomposição social, vem também a corrupção religiosa: santuários pagãos, falsidade do culto (tanto se adorava o Senhor como outras divindades; praticava-se o culto para encobrir as injustiças sociais), falsa segurança e complexo de superioridade por pertencer ao povo escolhido.

 

É nesta situação de prosperidade económica e política, de injustiças e desigualdades sociais, de paganismo e corrupção religiosa que actua o profeta Amós.

 

DIVISÃO E CONTEÚDO

 

Depois do título (1,1) e de um breve prólogo (1,2), o livro de Amós divide-se em quatro partes:

 

I. Oráculos contra sete nações vizinhas de Israel e contra Judá e Israel (1,3-2,16).

II. Oráculos contra Israel (3,1-6,14). Nesta parte encontram-se as principais críticas de Amós contra a corrupção social e religiosa e o anúncio do castigo (3,13-15; 5,1-3.16-20; 6,8-14).

III. Castigos divinos (7,1-9,10). São cinco visões, das quais as primeiras quatro começam com a mesma fórmula e a quinta é diferente. No meio das visões encontra-se a narração da expulsão de Amós do santuário de Betel (7,10-17) e outros oráculos (8,1-14; 9,7-10).

IV. Esperança messiânica como oráculo de salvação (9,11-15).

 

O livro é quase todo em poesia, exceptuando o primeiro versículo do cap. 1, todo o cap. 7 e os três primeiros versículos do cap. 8. É preciso lê-lo como um poema e ter alma de poeta para o interpretar. Esta receita aplica-se, aliás, a quase todos os textos proféticos e a muitos outros textos bíblicos.

 

TEOLOGIA E LEITURA CRISTÃ

 

O tema dominante do livro de Amós é o castigo. Nas duas primeiras visões pode ver-se que o profeta ainda intercede e pede perdão pelo povo; nas outras três verifica-se que já não há remédio e que a catástrofe é iminente.

 

Segundo Amós, o luxo e a ostentação da riqueza, a exploração dos pobres e dos oprimidos, a fraude e todo o tipo de injustiças sociais, o culto sem o necessário compromisso ético, o sincretismo religioso e as falsas seguranças apoiadas na eleição de Israel são contrárias ao plano de Deus na História. E, como Deus não tolera todos os abusos, a única forma de fazer o povo sentir estes males é o castigo por meio da invasão militar.

 

Dizer isto em tempos de Jeroboão II, numa época de prosperidade econômica, pareceria obra de um louco. O certo é que, algumas décadas mais tarde (em 722), as tropas assírias conquistam a Samaria e o Reino de Israel desaparece do mapa.

 


Amós não se limita a anunciar o castigo; explica porque é que ele vai acontecer, e aponta a única saída possível: «Buscai o Senhor e vivereis.» (5,6); «Buscai o bem e não o mal.» (5,14) Lutar por uma sociedade mais justa é, para este profeta, o meio de escapar do castigo.

 

É notável a sua descrição do «Dia do Senhor», apresentado como um dia de trevas e de calamidade, mesmo para o povo eleito (8,8-14). Os evangelistas e, com eles, a Igreja Apostólica interpretam o martírio de Cristo, o Eleito de Deus, à luz destes textos de Amós (Mt 27,45-46; Mc 15,33-41; Lc 23,44-49; Jo 19,36-37).
 

 
 
 

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