Sofonias
A genealogia de 1,1 é extraordinariamente completa, comparada com a dos
outros profetas: por ela remonta-se até Ezequias, que poderia ser o rei de Judá
que governou de 727 a 698 a.C.. Se assim fosse, Sofonias seria de ascendência
real. Mas esta identificação não é segura. As referências a Jerusalém e o
conhecimento que revela das diversas partes da cidade (1,10-11) parecem
confirmar que o profeta era de Judá e atuou em Jerusalém durante o reinado de
Josias (640-609 a.C.).
ÉPOCA E AUTOR
No reinado de Josias, Judá estava sujeito à Assíria havia quase um
século, quando Acaz pediu ajuda a Tiglat-Piléser III contra Damasco e a
Samaria, em 734 a.C.. Durante o longo reinado de Manassés (698-643), o jugo
assírio pesou sobre Judá e as influências estrangeiras penetraram em todo o
lado, tanto nos costumes como nas práticas religiosas. Em 2 Rs 21,3-9 é narrada
a introdução de cultos estrangeiros: reconstrução dos lugares altos, altares a
Baal, prática de adivinhação e magia e outros cultos idolátricos.
Quando o rei Josias subiu ao trono, Judá necessitava de uma série de
reformas, tanto no plano social e político como no plano religioso. Sofonias
deve ter dado um impulso a estas reformas, pois denuncia a introdução de
costumes estrangeiros (1,8), o sincretismo religioso (1,4-5), a violência dos
poderosos (1,8.11; 3,3), os príncipes, os juízes, os profetas e os sacerdotes
(3,3-4).
A reforma que Josias empreendeu, ao descobrir o Livro da Lei (622 a.C.),
teve principalmente em vista o plano religioso e, nessa altura, consultou um
profeta a propósito do conteúdo do Livro (2 Rs 22). Esse profeta não foi
Sofonias, que provavelmente já teria morrido. Tudo isto faz supor que a sua
actividade se tenha desenvolvido entre 640 e 630, alertando para a necessidade
das reformas.
DIVISÃO E CONTEÚDO
O livro de Sofonias pode dividir-se em três secções:
I. O «Dia do Senhor» em Judá (1,2-2,3), um dia de juízo universal,
tenebroso e terrível, que afecta principalmente Judá.
II. Oráculos contra as nações (2,4-3,8), vizinhas de Judá, e um último
(3,1-8) dirigido contra Jerusalém.
III. Promessa de restauração (3,9-20). É uma mensagem de alegria pela
presença do Senhor em Jerusalém e pelo «resto de um povo pobre e humilde»
(3,12), salvo por Ele.
TEOLOGIA
Como os grandes profetas do séc. VIII, Sofonias denuncia as injustiças, a
idolatria e todo o sincretismo religioso, os abusos das autoridades. Face a
esta situação, anuncia o juízo de Deus para castigar os culpados. Mas a sua
palavra não se detém no castigo: o juízo de Deus, uma vez aplicado, abre o
caminho da salvação para todos os povos, principalmente para Judá e Jerusalém.
É aqui que subsistirá um «resto» tema iniciado por Amós e identificado em
Sofonias com os que procuram o Senhor na humildade e na pobreza (os pobres de
Javé: anawim).
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