segunda-feira, 30 de maio de 2016

Nossa Senhora das Flores



Nossa Senhora das Flores

Bogotá – Colômbia – Maio/2016.

 

“Disse então Maria: Eis aqui a serva do Senhor;

cumpra-se em mim segundo a tua palavra.

E o anjo ausentou-se dela.”

Lc 1, 38

 

Acredito que a vida de Maria, no desejo de sempre responder sim ao projeto de Deus, foi um misto de alegrias e dores, flores e espinhos, acolhendo em seu ventre e em sua história a presença viva do próprio Deus encarnado, Jesus, seu amado filho. Acredito também que toda a vida de Maria exala para nós um perfume especial, um perfume de impressionante beleza que dá testemunho do imenso amor de Deus por toda a Criação.

 

Os ícones... uma janela do invisível!

 

O ícone é uma imagem sacra, que aplica teologia nas cores, formas, símbolos e perspectiva. A utilização destas ferramentas na iconografia tradicional tem a intenção de nos libertar da emotividade e nos levar até um encontro com o sagrado.

 

Os ícones não retratam o mundo real, mas nos abrem a janela do invisível, levando-nos à transcendência.

 

Enquanto a arte profana exprime freqüentemente a inquietude temporal, do momento, e apresenta a brutalidade, covardia e agressão mundana, a arte sacra manifesta, para os que a observam, os sentidos do eterno e do imutável, nutrindo, com a beleza, a alma humana.

 

Um ícone é, portanto, um espelho da alma. A arte da iconografia é uma forma de catequese, um método de ensino, para todo tempo e lugar, que fala da beleza infinita de Deus, e sobre a alegria interior.

 

A conduta de um iconógrafo é fruto de um longo aprendizado, que envolve conhecimentos de teologia da imagem, elementos de estética, técnicas específicas de preparação do suporte, pintura em têmpera, afresco e encaustica, douração, mas não se limita ao mundo material.

 

Trata-se também de uma postura pessoal: o hesicasmo, uma forma de oração constante que segue o ritmo da respiração, em busca do apaziguamento das paixões do mundo e o esquecimento do ego, para servir como instrumento de representação de um mundo Divino, superior. Iconografia é uma forma de pintura feita em oração.

 

Maria no Evangelho de Mateus

 

No Evangelho de Mateus a pessoa de Maria aparece em dois momentos: nos relatos da infância (cf. Mt 1-2) e no ministério apostólico de Jesus ( cf.Mt 12,46-50; 13,54-58). O primeiro é composto por relatos próprios de Mateus; o segundo está em dependência de Marcos, mas Mateus toma diante dele tal liberdade que é capaz de transformar seu sentido e seu ensinamento.

 

No Evangelho da Infância em Mateus, Jesus, como todos os meninos, não chega ao mundo sem um pai e uma mãe. Mateus fala de José, esposo de Maria (cf. Mt 1,16) e de Maria esposa de José (cf. Mt 1,24). Maria, por sua vez não tem existência sem José, do qual é esposa, e sem Jesus, do qual é mãe. Maria é aquela que gera e é mãe, ao passo que José é somente o pai legal.

 

Mt 1,3 fala sobre a concepção de Jesus, diz que esta se realizou “para que se cumpra o oráculo do Senhor, por meio do profeta […]” e cita Is7, 14, aplicando a Jesus a realidade do “Emanuel” e a Maria a de “virgem”. (Mateus quando) Ao falar do nascimento de Jesus, Mateus recorrendo ao texto de Isaías, não somente assume a interpretação dos LXX, mas ele mesmo interpreta teologicamente esse nascimento: Jesus é o Emmanuel e nasce de Maria Virgem. Neles dois se realiza plenamente o oráculo do profeta: Jesus é o Messias, e Maria é a Mãe-Virgem e, este fato maravilhoso somente pode ser entendido como a obra do Espírito Santo.

 

A união de Maria com seu Filho é, então, íntima, total e permanente. Desde a concepção virginal, Maria está expressamente unida a Jesus e é inseparável dele. Por isso, os escritores eclesiásticos aprofundam nesta realidade, dizendo que não podemos entender Jesus sem Maria e entender Maria sem Jesus.

 

Podemos notar, finalmente, como que um contraste nas expressões de Mateus: Enquanto Jesus é o Emmanuel de Deus, Deus – conosco, Maria é a Mãe que está sempre junto do seu Filho. Ela é a resposta permanente à presença sempre atual do Senhor na história.

 

Quanto ao ser discípulos de Jesus significa cumprir a vontade do Pai no céu, realizar seu plano. Para Mateus, o discípulo integra, então, a escuta da Palavra e sua ação (cf. Mt 5,19;Mt7,24-25), o estar junto de Jesus e sob a sua proteção (cf. Mt 12,49-50). E Maria, com perfeita discípula e “família dele” em um nível muito mais forte e firme do que o dos laços físicos de geração.

 

Portanto, o Evangelho de Mateus nos fala que Maria está intimamente ligada ao seu Filho Jesus Cristo, desde antes do nascimento e, uma vez nascido para o mundo, está unida a ele nos momentos fundamentais de sua vida e de seu ministério. Assim, Maria aparece, mesmo sem palavras, como testemunha da graça abundante de Deus para seu povo, mas também como mãe que cuida e acompanha o Filho de suas entranhas (ALVAREZ, 2005).

 

Maria – O rosto materno de Deus

 

A tradição da fé concentrou o feminino em Maria, mãe de Jesus. Alí viu realizadas todas as possibilidades numinosas e luminosas do feminino, a ponto de ver nela simplesmente a Nossa Senhora: a virgem, a mãe, a esposa, a viúva, a rainha, a sabedoria, o tabernáculo de Deus, etc.

 

Mas quase não foi considerado o feminino como acesso a Deus. Dentro da cultura cristã atual parece repugnar o sentimento da afirmação de que Deus é nossa Mãe. No entanto, se levarmos a sério a aparição do feminino em nossa cultura, não podemos evitar esse problema. Não é significativo que o Papa João Paulo I disse com uma certa desenvoltura em uma audiência pública, "Deus é Pai, mas acima de tudo, mãe"?

 

A Teologia, como outras ciências, tem que pensar sobre as questões importantes de seu tempo. Embora em seu regime interno e como articular seu discurso é uma ciência autônoma, no entanto, no repertório das questões relevantes, depende da cultura, da sociedade e das situações históricas que a desafiam e impõe uma direção em suas propostas e reflexões.

 

Cabe à teologia poder ler, a partir de sua própria abordagem (filiação), o texto analítico apresentado pelas várias ciências. Nesta área, como em outras, a teologia ou tem uma consciência ingênua, ou tem uma consciência crítica. Ela tem uma consciência ingênua, ao abordar a questão (no nosso caso, o feminino) sem uma pausa prévia com as ideias que se arrastam desconexa a cultura. Assim, a ideologia atual toma a mulher e o feminino em seu sentido comum, geralmente dentro do horizonte da compreensão patriarcal que reprime o feminino ou o considera dependente do masculino.

 

A fé cristã dá a Maria uma inigualável importância e transcendente. Sua eminente dignidade consiste no fato de ser a mãe de Deus encarnado, não só no sentido físico-biológico, mas principalmente em um sentido de compromisso pessoal e livre. Sua maternidade foi virginal, perfeita e completa. Nem a virgindade deve ser entendida apenas como um fato físico-biológico, mas sim como expressão da liberdade que se consagra inteiramente a Deus. A virgindade e a maternidade – expressões de um compromisso total a Deus – supõe uma existência livre, desde seu núcleo e seu princípio, de toda contaminação do pecado original e pessoal que dramatizam e dividem a existência humana; Ela é venerada como privilegiada por sua concepção imaculada.

 

Desta maneira Maria incorpora, assim, a nova criação que Deus está construindo dentro da velha; Ela dá corpo também com o que deve ser a Igreja como comunidade dos redimidos; somente em Maria a Igreja realiza seu arquétipo e sua utopia; em Maria, a Igreja é plenamente igreja. Assim, sendo o membro mais eminente da Igreja, ocupa um lugar apropriado nos laços de mediação salvífica envolvendo a todos; Ela é venerada como uma mediadora de todas as graças, uma vez que, juntamente com o Espírito Santo e Seu Filho, é cheio de graça. Maria é então associada com o seu Filho, ao Espírito Santo e ao próprio Deus, de tal modo que é exaltada como redentora. A morte coroou a perfeição daquela vida. Foi assunta ao céu em corpo e alma, antecipando assim o destino de todos os justos e especificando o que deve ser a transfiguração universal de todo o universo no reino de Deus. (L. BOFF, o rosto materno de Deus).

 

Luís Renato Carvalho de Oliveira, SJ.

 

Nuestra Señora de las Flores

Bogota – Colombia – Mayo/2016.

 

"Entonces María dijo:

He aquí la esclava del Señor;

Hágase en mí según tu palabra.

Y el ángel se fue de ella ".

Lc 1, 38

 

Creo que la vida de María, el deseo de responder siempre sí al plan de Dios, era una mezcla de alegría y dolor, flores y espinas, la bienvenida en su seno y su historia la presencia viva de la encarnación de Dios, Jesús, su amado hijo. También creo que la vida de María exuda para nosotros un perfume especial, un perfume de impresionante belleza que da testimonio del inmenso amor de Dios por toda la creación.

 

Los iconos ... una ventana de lo invisible!

 

El icono es una imagen sagrada, que aplica teología en los colores, formas, símbolos y perspectiva. El uso de estas herramientas en la iconografía tradicional está destinado para liberarnos de las emociones y nos llevar a un encuentro con lo sagrado.

 

Los iconos no representan el mundo real, pero nos ha abierto la ventana de lo invisible, que nos lleva a la trascendencia.

 

Mientras que el arte profano a menudo expresa la preocupación temporal, el tiempo, y presenta la brutalidad, la cobardía y la agresión mundanas, el arte sacro muestra, a los que la observan, los sentidos de lo eterno y de lo inmutable, nutrindo, con la belleza, el alma humana.

 

Un icono es, pues, un espejo del alma. El arte de la iconografía es una forma de catequesis, un método de enseñanza, para todo tiempo y lugar que habla de la belleza infinita de Dios, y sobre la alegría interior.

 

El comportamiento de un iconógrafo es el resultado de un largo aprendizaje, lo que implica un conocimiento de la teologia de la imagen, elementos estéticos, técnicas específicas de preparación del suporte, pintura en têmpera, afresco y encaustica, dorado, pero no se limita al mundo material.

 

También es una posición personal: El hesicasmo, una forma de oración constante que sigue el ritmo de la respiración, en busca de apaciguamiento de las pasiones del mundo y de uno mismo olvido, para que sirvan como instrumento de representación de un mundo Divino, mayor . La iconografía es una forma de pintura hecha en la oración.

 

María en el Evangelio de Mateo

 

En el Evangelio de Mateo la persona de María aparece en dos etapas: en los relatos de la infancia (Mt 1-2) y en el ministerio apostólico de Jesús (cf.Mt 12.46 a 50: 13.54 a 58). La primera consiste en cuentas propias de Mateo; el segundo está en dependencia de Marcos, pero Mateo lleva delante de él esa libertad que es capaz de transformar su significado y su enseñanza.

 

En el Evangelio de la niñez en Mateo, Jesús, como todos los chicos, no entra en el mundo sin un padre y una madre. Mateo habla de José, esposo de María (cf. Mt 1,16) y María esposa de José (cf. Mt 1,24). María, por su parte, no tiene existencia sin José, do qual es esposa, y sin Jesús, do qual es madre. María es la que genera y es madre, mientras que José sólo es el padre legal.

 

Mt 1,3 habla de la concepción de Jesús, dice que esto se llevó a cabo "con el fin de cumplir con el Señor que habla a través del profeta [...]" y cita Is7, 14, aplicando a Jesús la realidad de "Emmanuel" y María, la "virgen". (Mateo cuando) Hablando del nacimiento de Jesús, Mateo usando el texto de Isaías, no sólo toma en la interpretación de los LXX, pero él interpreta teológicamente lo nacimiento: Jesús es Emmanuel y nacido de la Virgen María. En los dos se realiza plenamente lo que el profeta dice: Jesús es el Mesías, y María es la Madre-Virgen, y  esta maravillosa realidad sólo puede ser entendida como obra del Espíritu Santo.

 

La unión de María con su Hijo, es entonces, íntima, total y permanente. Desde la concepción virginal María está unida expresamente a Jesús y es inseparable de el. Por lo tanto, los escritores eclesiásticos profundizan en esta realidad, diciendo que no podemos entender a Jesús sin María y comprender María sin Jesús.

 

Observamos, por último, como que un contraste en las expresiones de Mateo: Mientras que Jesús es el Emmanuel de Dios, Dios - con nosotros, María es la Madre que está siempre con su Hijo. Es la respuesta permanente a la siempre presente presencia atual del Señor en la historia.

 

En cuanto a ser discípulos de Jesús significa hacer la voluntad del Padre en el cielo, llevar a cabo su plan. Para Mateo, lo discípulo integra entonces, la escucha de la palabra y la acción (cf. Mt 5:19; Mt7,24-25), el estar con Jesús y bajo su protección (Mt 12.49 a 50 ). Y María, con perfecta discípula y "su familia" en un nivel mucho más fuerte y firme que la generación de lazos físicos.

 

Por lo tanto, el Evangelio de Mateo nos dice que María está íntimamente ligada a su Hijo Jesucristo, desde antes de nacer, y una vez que nace en el mundo, se une a él en momentos claves de su vida y su ministerio. De este modo, María aparece incluso sin palabras, como testigo de la abundante gracia de Dios a su pueblo, sino también como una madre que cuida y acompaña al hijo de sus entrañas (Álvarez, 2005).

 

María - El rostro materno de Dios

 

La tradición de la fe ha concentrado lo femenino en María, madre de Jesús. Allí ha visto realizadas todas las posibilidades numinosas y luminosas de lo femenino, hasta el punto de ver en ella simplemente a Nuestra Señora: la virgen, la madre, la esposa, la viuda, la reina, la sabiduría, el tabernáculo de Dios, etc.

 

Pero casi no se ha considerado lo femenino como acceso a Dios. Dentro de la cultura Cristiana vigente parece repugnar al sentimiento la afirmación de que Dios es nuestra Madre. Sin embargo, si queremos tomar en serio la aparición de lo femenino dentro de nuestra cultura, no podemos eludir esta cuestión. ¿No es sintomático que el papa Juan Pablo I dijera con cierta desenvoltura en una audiencia pública: «Dios es Padre, pero, sobre todo, es Madre»?

 

La teología, lo mismo que las demás ciencias, tiene que pensar en los temas relevantes de su tiempo. A pesar de que en su régimen interno y en la forma de articular su discurso es una ciencia autónoma, sin embargo, en el repertorio de sus temas relevantes, depende de la cultura, de la sociedad y de las situaciones históricas que la desafían y le imponen una dirección en sus planteamientos y reflexiones. Le corresponde a la teología poder leer, a partir de su propio enfoque (pertenencia), el texto analítico que presentan las diversas ciencias. En este terreno, como en otros, la teología o posee una conciencia ingenua, o posee una conciencia crítica. Posee una conciencia ingenua cuando aborda el tema (en nuestro caso, lo femenino) sin proceder a uma ruptura previa con las ideas que arrastra desarticuladamente la cultura. Así, la ideología vigente toma a la mujer y a lo femenino en su acepción común, generalmente dentro del horizonte de la comprensión patriarcal que reprime a lo femenino o lo considera en dependencia del varón.

 

La fe cristiana confiere a María una importancia sin igual y trascendente. Su dignidad eminente consiste en el hecho de ser la madre del Dios encarnado, no solamente en un sentido físico-biológico sino principalmente en un sentido de compromiso personal y libre. Su maternidad fue virginal, perfecta y plena. Tampoco su virginidad tiene que comprenderse solo como um dato físico-biológico, sino más bien como expresión de la libertad que se consagra a Dios por entero. La virginidad y la maternidad —expresiones de un compromiso total con Dios— suponen una existencia libre, desde su meollo y su principio, de toda contaminación del pecado original y personal que dramatizan y dividen a la existencia humana; se la venera como privilegiada por su inmaculada concepción.

 

De esta manera María encarna a la nueva creación que Dios está forjando dentro de la vieja; da cuerpo igualmente a lo que debe ser la Iglesia como comunidad de los redimidos; solamente en María realiza la Iglesia su arquetipo y su utopía; en María la Iglesia es totalmente iglesia. Así, pues, al ser el miembro más eminente de la Iglesia, ocupa un lugar adecuado en los lazos de mediación salvífica que envuelven a todos; se la venera como mediadora de todas las gracias, ya que, unida al Espíritu Santo y a su Hijo, es llena de gracia. María se encuentra entonces asociada a su Hijo, al Espíritu Santo y al propio Dios de tal manera que es exaltada como corredentora. La muerte coronó la perfección de aquella vida. Fue asunta al cielo en cuerpo y alma, anticipando de tal forma el destino de todos los justos y concretando lo que tendrá que ser la trasfiguración universal de todo el universo en el reino de Dios. (L. BOFF, El rostro materno de Dios).

 

Luís Renato Carvalho de Oliveira, SJ.

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Malaquias


Malaquias

 

O livro de Malaquias é o último na lista tradicional dos doze profetas menores; “o selo dos profetas”, como lhe chama a tradição judaica. É possível que, de início, este livro não referisse o nome do seu profeta-autor. A referência a um “mensageiro da Aliança”, em 3,1, com a expressão hebraica “male’aki = meu enviado”, pode ter dado origem a um nome de pessoa correspondente a essa expressão, conservando o mesmo sentido. Malaquias – que em 1,1 aparece como nome próprio do profeta enviado por Deus – encontra-se ainda na forma de «meu mensageiro» em 3,1. A Setenta traduziu também em 1,1 por «meu enviado» e não pelo nome de Malaquias.

 

LIVRO

 

Este livro deve ter sido escrito por volta de 450 a.C., ou seja, pouco antes do ano 445, em que Neemias proibiu os casamentos mistos aos judeus. As suas atitudes enquadram-se no ambiente posterior ao regresso do Exílio, passados que foram os primeiros entusiasmos de restauração. O particularismo nota-se na aversão a Esaú por parte de Deus (1,3) e na recusa dos casamentos mistos (2,11).

 

DIVISÃO E CONTEÚDO

 

Depois de uma introdução (1,2-5), em que se fala da eleição de Israel, seguem-se alusões às faltas cometidas contra a aliança de Levi pelos sacerdotes e pelos fiéis (1,6-2,9), aludindo-se a um culto uni­versal. Vem, depois, uma série de queixas contra os casamentos mistos e os divórcios (2,10-16). Em seguida, o profeta anuncia “o Dia do Senhor” (2,17-3,5) com a purificação do sacerdócio. As dificuldades que os israelitas experimentam acabarão quando estes voltarem a cumprir os seus deveres cultuais (3,6-15). No “Dia do Senhor” os bons serão recompensados e os maus castigados (3,16-21). Um apêndice (3,22-24) exorta à observância da Lei de Moisés e refere uma futura vinda do profeta Elias.

 

TEOLOGIA E LEITURA CRISTÃ

 

Imbuído de espírito deuteronomista, o autor coloca o acento no culto. Insurge-se com violência contra os sacerdotes, que, pelas suas infidelidades, impedem a chegada da era messiânica. O sacer­dote é o mensageiro do Deus do universo (2,7).

 

O universalismo é outra ideia própria de Malaquias. O culto será transformado, na era messiânica (1,11), na linha da adoração em espírito e verdade (Jo 4,23). A condenação dos divórcios (2,14-16) prepara igualmente a que será proferida por Cristo (Mt 5,31-32).

 

A vinda do dia do Senhor é preparada por um mensageiro (3,1; ver Is 40,3), que, na parte final do livro, é comparado a Elias, precisando-se aí também a importância da sua missão (3,22-24). Mais tarde, o Evangelho comentará esta passagem (Mt 17,10-13; Lc 1,17) e reconhecerá na figura de Elias a silhueta de João Baptista, o Precursor do Messias (Mt 11,10; Mc 1,2; Lc 7,27).

 

Algumas características do seu pensamento justificam a tradição bíblica de situar o livro de Malaquias na passagem do Antigo para o Novo Testamento.

 


 

Zacarias


Zacarias

 

As diferenças de estilo e conteúdo entre os conjuntos 1-8 e 9-14 deste livro são tais que, hoje, é consensual que se trata de dois livros de época e autor diversos. Também é verdade que a sua junção não foi obra do acaso, uma vez que os contactos entre os dois conjuntos são suficientemente fortes para o justificarem. Analisamos cada um deles separadamente.

 

PRIMEIRA PARTE (1,1-8,23)

 

AUTOR E LIVRO

 

No AT há mais de trinta pessoas com o nome de Zacarias. Do profeta diz-se que era «filho de Baraquias, filho de Ido» (1,1.7; 7,1.8) ou «filho de Ido» (Esd 5,1; 6,14). Sem entrarmos na discussão que o caso suscita, vamos considerá-lo como da descendência de Ido, um dos sacerdotes regressados do Exílio referidos por Ne 12,4 (ver Is 8,2).

 

Situando-se na linha dos profetas clássicos, aparecendo mesmo na continuidade literária de alguns deles (2.° Is e Ez), o texto de Zacarias pode colocar-se perfeitamente entre o gênero profético e o apocalíptico.

 

DATA E CONTEÚDO

 

A actividade do profeta Zacarias (cap 1-8), a partir da cronologia que o livro nos apresenta, estende-se do oitavo mês do segundo ano de Dario (520 a.C. – dois meses depois da primeira profecia de Ageu) até ao nono mês do quarto ano (518), isto é, por dois anos. Se não temos nenhuma confirmação desta cronologia, também é verdade que não há nada que a desminta. Antes, ela concorda perfeitamente com o que se sabe de Zacarias: um dos grandes impulsionadores da reconstrução do templo, juntamente com Ageu.

 

Podemos dividir esta primeira parte em duas grandes secções, antecedidas de uma breve introdução:

 

Introdução (1,1-6): um apelo à conversão. Primeira secção (1,7-6,15): é a secção principal do livro. Apresenta-nos oito visões com breves oráculos disseminados pelo meio daquelas. Segunda secção (7,1-8,23): é um conjunto de oráculos, que surgem numa aparente desordem.

 

TEOLOGIA

 

Esta primeira parte do livro é certamente autêntica e está centrada em perspectivas messiânicas. A reconstrução do templo – como em Ageu – é uma das grandes preocupações do profeta, com a restauração nacional e as suas exigências de pureza e moralidade. O governo da comunidade é confiado ao Sumo Sacerdote Josué, ou Jesua, e ao governador Zorobabel (6,11-12; Esd 3,1-7).

 

O Messias – designado pela palavra «Gérmen» (3,8) – exerce o poder régio; entretanto, isso mesmo é dito acerca de Zorobabel em 6,12. É este, pois, que traz em si as esperanças dos repatriados. Os dois ungidos, Josué e Zorobabel (4,14), governarão em perfeito acordo (6,13). Temos, assim, a ideia antiga do messianismo real associada às preocupações sacerdotais de Ezequiel.

 

A influência deste profeta manifesta-se no papel relevante que têm as visões na tendência apocalíptica, na insistência na pureza e na conversão futura dos pagãos. Mas Jerusalém continuará a ser a parte escolhida por Deus, porque Ele voltará ao templo que vai ser reconstruído (2,15-17). Deus purificará a Terra Santa de todo o pecado. Na Babilônia, considerada como o centro do paganismo, será construído o templo do pecado (5,5-11).

 

SEGUNDA PARTE (9,1-14,21)

 

AUTOR E DATA

 

Para uma grande parte dos especialistas, estamos diante de uma antologia de textos de origem diversa que foram recolhidos e “colados” a Zacarias.

 

Assim sendo, não parece ser possível falar de uma unidade de autor, nem de uma data precisa. Alguns situam esta segunda parte no tempo de Alexandre Magno (332-300 a.C.).

 

DIVISÃO E CONTEÚDO

 

Esta segunda parte carece de unidade, tanto literária como do ponto de vista do conteúdo. Podemos, no entanto, subdividi-la também em duas secções:

 

A primeira secção (9,1-11,17), em que se fala da salvação do povo escolhido, pode dividir-se em três blocos: 9,1-10,2; 10,3-11,3; 11,4-17 (+13,7-9). A segunda secção (12,1-14,21), caracterizada pela repetição da fórmula «Naquele dia...» (17 vezes), é de tom claramente escatológico. Trata-se da renovação de Jerusalém (12-13) e do combate escatológico (14).

 

TEOLOGIA

 

O texto do Segundo Zacarias está repleto da esperança messiânica, que se vinha apagando na comunidade. É, por isso, um dos textos mais usados no NT para descrever a figura do Messias. As imagens que usa revelam dependência de outros escritos proféticos anteriores (especialmente Isaías e Ezequiel); mas a novidade da perspectiva em que as usa concede-lhes uma clara singularidade teológica.

 

A imagem do salvador guerreiro, que consegue a vitória numa luta encarniçada, não é nova; que a salvação seja conseguida por um “traspassado” (12,4), por um rei humilde (9,9) ou pelo pastor rejeitado (11,4-17) não serve somente para dar alento aos desesperados de um tempo, mas aos de toda a História, e foi vista como profecia do Messias Sofredor.

 


 

Ageu


Ageu

 

Pouco se sabe do autor ou do profeta que dá nome a este livro. Dele se fala em Esd 5,1; 6,14. O nome de Haggai, que significa “minha festa”, será possivelmente um apelido para caracterizar a sua dedicação ao culto e ao templo. O seu ministério foi de curta duração (de Junho a Dezembro de 520 a.C.). Pertence, portanto, ao último período do profetismo, o do pós-exílio, durante o reinado de Dario (tal como Zacarias).

 

DIVISÃO E CONTEÚDO

 

O livro do profeta Ageu não tem título e consta apenas de dois capítulos. Fala do profeta na terceira pessoa, o que supõe um grande trabalho redaccional. O texto actual deve ser obra de um discípulo do profeta, que resume a pregação do seu mestre.

 

Tematicamente, poderá ser dividido em quatro oráculos, datados pelo próprio autor (“No ano...”, “No dia...”):

 

1.° oráculo: 1,1-15;

2.° oráculo: 2,1-9;

3.° oráculo: 2,10-19;

4.° oráculo: 2,20-23.

 

Todos se referem ao templo e a Zorobabel, o chefe da comunidade, que tinha vindo da Babilônia com os desterrados.

 

TEOLOGIA

 

As más condições econômicas, a divisão entre os residentes e os repatriados e a situação geral de pobreza tinham conduzido o povo a uma situação de desânimo. O profeta atribui esta situação à falta de piedade que se manifesta no pouco interesse pela reconstrução do templo de Jerusalém.

 

Os trabalhos de construção, pelo contrário, significariam o renascer da verdadeira piedade e despertariam a benevolência do Senhor com a consequente melhoria de situação.

 

Ao lado desta finalidade imediata e material, aparece uma outra, não menos material mas de horizontes mais amplos: reconstruir o templo significa renovar a esperança nas grandes promessas escatológicas, no futuro maravilhoso que o Senhor tem preparado para o seu povo.

 

Este futuro também tem a ver com as outras nações: convencidas ou derrotadas, hão-de afluir a Jerusalém com as suas riquezas (2,7.22); Israel conseguirá vencer, conduzido pelo seu Messias davídico (2,20-23), recebendo como dom a paz (2,9); o grande dia virá acompanhado de grandes convulsões cósmicas. Zorobabel e a sua obra são a antecipação desta promessa.

 


 

Sofonias


Sofonias

 

A genealogia de 1,1 é extraordinariamente completa, comparada com a dos outros profetas: por ela remonta-se até Ezequias, que poderia ser o rei de Judá que governou de 727 a 698 a.C.. Se assim fosse, Sofonias seria de ascendência real. Mas esta identificação não é segura. As referências a Jerusalém e o conhecimento que revela das diversas partes da cidade (1,10-11) parecem confirmar que o profeta era de Judá e atuou em Jerusalém durante o reinado de Josias (640-609 a.C.).

 

ÉPOCA E AUTOR

 

No reinado de Josias, Judá estava sujeito à Assíria havia quase um século, quando Acaz pediu ajuda a Tiglat-Piléser III contra Damasco e a Samaria, em 734 a.C.. Durante o longo reinado de Manassés (698-643), o jugo assírio pesou sobre Judá e as influências estrangeiras penetraram em todo o lado, tanto nos costumes como nas práticas religiosas. Em 2 Rs 21,3-9 é narrada a introdução de cultos estrangeiros: reconstrução dos lugares altos, altares a Baal, prática de adivinhação e magia e outros cultos idolátricos.

 

Quando o rei Josias subiu ao trono, Judá necessitava de uma série de reformas, tanto no plano social e político como no plano religioso. Sofonias deve ter dado um impulso a estas reformas, pois denuncia a introdução de costumes estrangeiros (1,8), o sincretismo religioso (1,4-5), a violência dos poderosos (1,8.11; 3,3), os príncipes, os juízes, os profetas e os sacerdotes (3,3-4).

 

A reforma que Josias empreendeu, ao descobrir o Livro da Lei (622 a.C.), teve principalmente em vista o plano religioso e, nessa altura, consultou um profeta a propósito do conteúdo do Livro (2 Rs 22). Esse profeta não foi Sofonias, que provavelmente já teria morrido. Tudo isto faz supor que a sua actividade se tenha desenvolvido entre 640 e 630, alertando para a necessidade das reformas.

 

DIVISÃO E CONTEÚDO

 

O livro de Sofonias pode dividir-se em três secções:

 

I. O «Dia do Senhor» em Judá (1,2-2,3), um dia de juízo universal, tenebroso e terrível, que afecta principalmente Judá.

II. Oráculos contra as nações (2,4-3,8), vizinhas de Judá, e um último (3,1-8) dirigido contra Jerusalém.

III. Promessa de restauração (3,9-20). É uma mensagem de alegria pela presença do Senhor em Jerusalém e pelo «resto de um povo pobre e humilde» (3,12), salvo por Ele.

 

TEOLOGIA

 

Como os grandes profetas do séc. VIII, Sofonias denuncia as injustiças, a idolatria e todo o sincretismo religioso, os abusos das autoridades. Face a esta situação, anuncia o juízo de Deus para castigar os culpados. Mas a sua palavra não se detém no castigo: o juízo de Deus, uma vez aplicado, abre o caminho da salvação para todos os povos, principalmente para Judá e Jerusalém. É aqui que subsistirá um «resto» tema iniciado por Amós e identificado em Sofonias com os que procuram o Senhor na humildade e na pobreza (os pobres de Javé: anawim).