VIDA OCULTA
DE JESUS (EE. 132-134)
“Não oculteis a vida oculta de Jesus” (Pe.
Kolvenbach)
A “vida oculta” coloca em evidência nossas motivações e nossos valores mais
profundos. É a importância do não importante.
O importante é ser significativo e não importante! Cuidado com os critérios do mundo... de buscar os
primeiros lugares... o poder... a fama... a eficácia acima de tudo!
Jesus nos ensina, em Nazaré, o valor das coisas corriqueiras, quando são
feitas com dedicação e carinho.
É uma teologia do trabalho! O fazer, seja qual for, segundo suas
motivações, é redentor! Não são as coisas que nos fazem importantes, mas nós
que fazemos qualquer coisa ser importante!
É o sentido que damos à nossa vida e à nossa ação que fazem com que
estas sejam significativas ou não. Somos nós que damos significado às coisas e
não o contrário!
Quando são “as coisas importantes” que nos fazem importante, e se “essas
coisas”, um dia desaparecem, parece como se a própria vida perdesse seu
sentido... Na escola da vida,
Jesus também foi aprendiz. Aprender é consequência básica da dinâmica da
Encarnação. Lucas o confirma:
“Jesus crescia em sabedoria e em graça,
diante de Deus e diante dos homens” (Lc. 2,40.50).
Portanto, Jesus viveu a vida como um processo lento e progressivo, a partir
da própria condição humana no meio dos seus, no meio do povo e em vista do
Reino de Deus, graças a uma criatividade transformadora.
A vida de Nazaré coloca os critérios evangélicos na nossa cabeça e no nosso
coração. A vida de Nazaré chega à nossa vida em muitos momentos (serviços
ocultos, doença, rotina...). Jesus nos
convida a entrar na sua casa para aprender d’Ele e com Ele os valores do
Evangelho.
É difícil compreender a “normalidade” da vida de Jesus Cristo; parece até
que o Reino não tem exigências sobre a sua Vida. Identificando-se com a vida de
todo mundo mostrava que a salvação não consiste em coisas extraordinárias e em
gestos fantásticos, mas na “adoração do Pai em espírito e verdade”. Jesus gasta
praticamente toda sua Vida nesta humilde condição; passou desapercebido como
Messias.
O Reino se revela no pequeno, no anônimo e não no espetacular, no
grandioso. Ele está misteriosamente se realizando entre nós. Podemos dizer que
esta página é, em certo sentido, a apologética do cotidiano, das horas, dos
meses, dos anos escondidos, da vida monótona, provinciana, não-escrita, de
Jesus. Para o plano de Deus é importante inclusive quem vive em Nazaré, de onde
não pode vir nada de bom ou que seja digno de ficar registrado nos anais da
história.
No A.T. existe a literatura sapiencial, que é uma verdadeira celebração do
Deus cotidiano, isto é, do Deus que se revela não por gloriosos acontecimentos
histórico-salvíficos, mas na simplicidade dos atos e dos dias. Todo o horizonte
rural ou urbano, no qual se passa a vida de cada dia, torna-se um sinal
contínuo de Deus, que fala discretamente nas pequenas coisas.
Essa atenção à simplicidade do cotidiano, à natureza da Galiléia, à
mensagem que Deus esconde nos homens, nas coisas, nas horas, é uma constante na
pregação de Jesus. Nazaré é o sinal da “epifania” de Deus nas pequenas coisas,
é o sinal da palavra divina escondida
nas vestes humildes da vida
simples, é o sinal do sorriso de Deus para a rua de nossa casa.
Tanto em Nazaré quanto na vida pública, Jesus nos comunica uma profunda
união com o Pai.
Jesus recorre em seu íntimo ao Pai, numa oração confiante e de entrega. Jesus
sente quando o Pai o chama a mudar o estilo de vida escondido. Ele está atento
aos “sinais dos tempos” e sabe discernir nesses sinais a Vontade do Pai que o
chama a mudar de caminho, a deixar sua terra, a lançar-se numa aventura. Começa
uma vida itinerante, missionária, despojado de tudo.
Na oração: descobrir o significado profundo da vida cotidiana mais simples: trabalhos,
relações, família... Na vida de todos nós há momentos em que Deus intervém,
tirando-nos de Nazaré para a vida pública. O dom fundamental a ser pedido é o
da fidelidade, da constância, da sabedoria que sabe reconhecer as sutis palavras
de Deus, ocultas no interior das pessoas de sempre, dos fatos habituais, da
monotonia doméstica.
A vida cotidiana exige não apenas fidelidade, mas também amor, gratuidade. Ainda
que o itinerário de Nazaré pareça pobre, se o percorremos com fidelidade e
amor, ele se insere no projeto de Deus, fica iluminado... Para atravessar a
Nazaré cotidiana é preciso aprender a dimensão perfeita do amor, que é doação
silenciosa, é oblação alegre e livre.
Nazaré pode transformar-se em Jerusalém quando, quem a habita, deixa-se
possuir pela totalidade do amor no coração.
Textos bíblicos: Mt 2,13-23 Lc 2,41-52 Lc. 10,38-42 Mt.6,25-34 Ecle. 3,1-15
Nenhum comentário:
Postar um comentário