sexta-feira, 22 de julho de 2016

Evangelhos Sinóticos


Evangelhos Sinóticos

Quase todo o conteúdo do evangelho de Marcos pode ser encontrado no evangelho de Mateus, e muitas partes tem similaridade em Lucas. Adicionalmente, Mateus e Lucas tem uma grande quantidade de material em comum, que não são encontrados em Marcos.

Evangelhos Sinópticos (português europeu) ou Evangelhos Sinóticos (português brasileiro) é um termo que designa os Evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas por conterem uma grande quantidade de histórias em comum, na mesma sequência, e algumas vezes, utilizando exatamente a mesma estrutura de palavras. Tal grau de paralelismo relativo ao conteúdo, narrativa, linguagem e estruturas das frases, somente pode ocorrer em uma literatura interdependente. Muitos estudiosos acreditam que esses evangelhos compartilham o mesmo ponto de vista e são claramente ligados entre si.

Desde que a exegese começou a ser aplicada à Bíblia ainda no século XVIII, os exegetas os chamaram de "evangelhos sinópticos" uma vez que se aperceberam que, dos quatro evangelhos, os três primeiros apresentavam grandes semelhanças entre si, de tal forma que se colocados em três grelhas paralelas - donde vem o nome sinóptico, do grego συν, "syn" («junto») oοψις, "opsis" («ver») -, os assuntos neles abordados correspondiam quase inteiramente. Ou seja, são classificados assim, por fazerem parte em uma mesma visão, ou mesmo ponto de vista.

Por parecer que quase teriam ido beber as suas informações a uma mesma fonte, como os primeiros grandes exegetas eram alemães, designaram essa fonte por Q, abreviatura de Quelle, que significa precisamente «fonte» em alemão. Adicionalmente, Mateus e Lucas também incluíram um material de duas outras fontes designadas como Fonte M e Fonte L respectivamente.

Quanto ao quarto Evangelho canônico, o Evangelho de João, relata a história de Jesus de um modo substancialmente diferente, pelo que não se enquadra nos sinópticos.

Desta maneira, temos 4 evangelhos canônicos, dos quais três são sinópticos.

Enquanto que os evangelhos sinópticos apresentam Jesus como uma personagem humana destacando-se dos comuns pelas suas acções milagrosas sendo a origem primária para informações históricas sobre Jesus Cristo, já o Evangelho de João descreve um Jesus como um Messias com um carácter divino, que traz a redenção absoluta ao mundo. Aparentemente, o evangelho de João sugere que ele tinha conhecimento dos Evangelhos Sinópticos, e que nos tais já existia informação suficiente sobre a vida de Jesus como homem, se incumbindo João de mostrar em seu Evangelho, os atributos de Jesus como Deus.



Estrutura

Parte do conteúdo presente em todos os três evangelhos sinópticos é chamada de tripla tradição. Isso inclui a maioria das narrativas sobre os eventos da vida de Jesus, iniciando por seu batismo e terminando com a descoberta do túmulo vazio após a crucificação. Também incluem algumas das parábolas (tais como a Parábola do grão de mostarda). A tripla tradição é responsável por 76% do texto de Marcos. Parte desse material está presente em quase todos os evangelhos, e algumas vezes com pequenas variações, existem ainda alguns casos notáveis, chamados "acordos menores", aonde Mateus e Lucas entram em acordo entre si na estrutura de palavras diferindo de Marcos.

Por sua vez, a dupla tradição explica o material (200 versos) compartilhado entre Mateus e Lucas, porém ausentes em Marcos. Esse conteúdo consiste quase que inteiramente nos discursos e ensinamentos de Jesus, e inclui a maior parte do Sermão da Montanha e a maioria das parábolas. Adicionalmente, a dupla tradição inclui três versos (Mateus 3:8-10) que são atribuídos à João Batista, (o último verso desse grupo também aparece em Mateus 7:19, atribuído à Jesus), e por fim a história do servo do centurião (Mateus 8:5-13).

O material de Marcos-Mateus, compartilhado entre ambos, inclui a história da morte de João Batista, diversos milagres (incluindo uma das duas ocorrências de alimentando multidões, a versão expandida do texto sobre a proibição do divórcio (Mateus 19:1-8), e também a narração da morte de Jesus (Marcos 15:34-41).

O material de Marcos-Lucas é limitado a um incidente isolado em Cafarnaum, envolvendo um exorcismo. (Marcos 1:21-28).

O material exclusivo de Marcos consiste em alguns versos (40), incluindo entre outros, Marcos 3:20-21, a Parábola da Semente (Marcos 4:26-29), dois milagres (Marcos 7:31-37 - Curando o surdo-mudo da Decápolis - e Marcos 8:22-26 - Curando o cego de Betsaida), dois fragmentos sem significação óbvia em Marcos 9:49 e Marcos 14:51-52, e o verso em Marcos 16:8 no qual há a declaração da mulher que descobriu o túmulo vazio e não disse nada a ninguém.

O material exclusivo de Mateus ou Lucas é bastante extenso. Este inclui dois distintos, porém similares fatos sobre a genealogia de Jesus, duas narrativas distintas de nascimento, e duas narrativas sobre a ressurreição. Mateus adiciona diversas declarações ao Sermão da Montanha, várias parábolas (incluindo "a Parábola do Credor Incompassivo", a "Parábola das Ervas Daninhas" e "a Parábola dos Trabalhadores da Vinha"), a profecia do julgamento final (Mateus 25:31-46), e descreve o suicídio de Judas Iscariotes. Lucas também traz múltiplos milagres e parábolas exclusivas (exemplo: A parábola do Bom Samaritano). Muitos detalhes dos últimos dias de Jesus somente podem ser encontrados em Mateus e Lucas. Por exemplo, Mateus é o único evangelho que declara que Jesus entrou em Jerusalém sobre dois animais (Mateus 21:2-7). Mateus é o único evangelho que declara que o túmulo de Jesus foi guardado por soldados. Lucas é o único evangelho que relata que um dos ladrões crucificados próximo à Jesus se arrependeu e recebeu de Jesus a promessa do Paraíso. (Lucas 23:40-43).
Composição

Existe um debate contínuo entre os críticos bíblicos a respeito da composição dos Evangelhos Sinópticos.

Visão Tradicional

Tradicionalmente, o evangelho de Mateus é entendido como o primeiro Evangelho escrito. O evangelho de Marcos foi escrito depois de Mateus, utilizando-se de partes deste, e finalmente Lucas foi escrito baseado nos outros dois anteriores, também baseados em outras testemunhas oculares. Esta visão é comumente chamada de Hipótese Agostiniana. Diferente de outras hipóteses, esta não se baseia na existência de nenhum documento que não fora explicitamente mencionado por testemunhos históricos. Adeptos da Hipótese Agostiniana a veem como uma visão simples, e coerente para o entendimento dos Evangelhos Sinópticos. Entretanto, a Crítica textual tem mostrado várias falhas na visão tradicional, a qual tem sido amplamente desconsiderada pela comunidade acadêmica, estudos modernos, dão ênfase à hipoteses que consideram de 2 ou 4 fontes distintas na composição desses evangelhos.

Um retorno à visão tradicional foi encontrado na hipótese de Eta Linnemann, que sustenta que Mateus e Marcos foram escritos juntos, observando o requerimento de "duas testemunhas" definido na Lei Mosaica.

Visão Histórica - Visão Crítica - Prioridade de Marcos



O entendimento de que Marcos foi o primeiro dos evangelhos canônicos e que serviu de fonte para Mateus e Lucas é baseado na escola de crítica bíblica moderna.

A Prioridade de Marcos (também conhecida como primazia de Marcos, primazia Marcana ou ainda prioridade Marcana) é a hipótese de que o Evangelho de Marcos foi o primeiro evangelho a ser escrito entre os três Evangelhos sinópticos. Ela afirma também que os outros dois evangelistas sinóticos, Mateus e Lucas, usaram o Evangelho de Marcos como uma de suas fontes. A teoria da primazia de Marcos é hoje aceita pela maioria dos estudiosos do Novo Testamento, que também sustentam que Mateus e Lucas usaram uma fonte perdida de ditos de Jesus, identificada como Q. Essa conclusão é em grande parte baseada em uma análise da linguagem e da relação de conteúdo entre os evangelhos. O entendimento de que Marcos foi o primeiro dos evangelhos canônicos e que serviu como fonte para Mateus e Lucas é fundamental para os estudos da crítica moderna do Novo Testamento.

Uma minoria de estudiosos aceitam a prioridade de Marcos, mas rejeitam a fonte Q. A hipótese de Farrer, cujos principais proponentes são Michael Goulder e Mark Goodacre, é a teoria mais conhecida nesse sentido. Alguns estudiosos judeus e cristãos, como Robert Lindsey, David Flusser, Shmuel Safrai e David Bivin, propuseram que uma versão em hebraico do Evangelho antes de ter sido transcrito para o grego; e que isso exigiria a prioridade Lucas.

A hipótese agostiniana defende a primazia de Mateus. Um ex-aluno de Bultmann, Eta Linnemann, seguido por David Farnell, é o mais conhecido proponente de uma prioridade simultânea entre Mateus e Marcos, remetendo a exigência Mosaica que "no depoimento de duas ou três testemunhas é que uma questão deverá ser confirmada" (Deuteronômio 19:5).

Fonte Q

A hipótese Agostiniana sugere que o Evangelho de Mateus foi escrito primeiro. O Evangelho de Marcos foi escrito utilizando o de Mateus como fonte. Então o Evangelho de Lucas foi escrito utilizando os dois anteriores como fonte.

Outro fundamento dos estudos Bíblicos modernos, é a pressuposição da existência da Fonte Q, uma fonte escrita, e atualmente perdida, hipoteticamente utilizada por ambos, Mateus e Lucas.

Os evangelhos sinópticos estão relacionados um com o outro segundo o seguinte esquema: se o conteúdo de cada evangelho é indexado em 100, então quando se compara esse resultado se obtém: Marcos tem 7 peculiaridades e 93 coincidências. Mateus tem 42 peculiaridades e 58 coincidências. Lucas tem 59 peculiaridades e 41 coincidências. Isso é, 13/14 (treze quatorze avos) de Marcos, 4/7 de Mateus e 2/5 de Lucas descrevem os mesmos eventos em linguagem similar.

O estilo de Lucas é mais polido do que o de Mateus e Marcos, com menos hebraísmos. Lucas utiliza algumas palavras latinas (q.v. Lucas 7,41; 8,30; 11,33; 12,6 e 19,20), mas nada de termos em aramaico ou hebraico, exceto sikera, uma bebida estimulante da natureza do vinho, mas não processada de uvas (do hebraico shakar, "ele está intoxicado", Levítico 10,9), provavelmente vinho de palmeira. Esse Evangelho contém 28 referências distintas ao Antigo Testamento.

Algo mais sobre  a Fonte Q…

A maioria dos estudiosos modernos concordam que Lucas e Mateus utilizaram o Evangelho de Marcos e uma hipotética fonte conhecida como Q.



A fonte Q (também conhecida como documento Q ou apenas Q, sendo que a letra "Q" é uma abreviatura da palavra quelle que, em língua alemã, significa "fonte") é uma hipotética fonte usada na redação do Evangelho de Mateus e no Evangelho de Lucas. A fonte "Q" é definida como o material "comum" encontrado em Mateus e Lucas, mas não no Evangelho de Marcos. Este texto antigo supostamente continha a logia ou várias palavras e sermões de Jesus.

Seu conteúdo abrange 225 versículos encontrados nos Evangelhos de Mateus e de Lucas, mas, admite-se que parte de seu texto não foi aproveitado naqueles Evangelhos Canônicos, sendo portanto desconhecida. Os textos narrativos são quase que inexistentes, há apenas três referências a milagres: Cura do Servo do Centurião, aos Sinais Messiânicos Lucas 7:22 e a Exorcismo do Demônio no Mudo. Além disso merecem destaque o fato dessa Fonte não conter a narração da paixão/morte e da ressurreição de Jesus e as fortes semelhanças com o Evangelho de Tomé.

Podendo ser definida também,como o conjunto das sentenças ou de sapiências originais de Jesus, que foram as primeiras anotações dos discípulos e apóstolos mais antigas, que hoje, representa uma fonte de estudos diretamente relacionada à concepção popular das origens cristãs. L. Palhano Jr., em Teologia Espírita, 1ª Ad., 2001.

Junto com a prioridade de Marcos, a fonte "Q" foi uma hipótese pensada a partir 1900, sendo a partir daí um dos fundamentos de conhecimento do evangelho moderno. O erudito bíblico britânico Burnett Hillman Streeter formulou uma visão amplamente aceita de "Q": era um documento escrito (não uma tradição oral) composto em grego; quase todo o seu conteúdo aparecem em Mateus, em Lucas ou em ambos; e que Lucas preservou, mais do que Mateus, a ordem original do texto. Na hipótese das duas fontes, tanto Mateus quanto Lucas teriam usado o Evangelho de Marcos e o documento "Q" como fontes. Alguns estudiosos têm postulado que "Q" é na verdade uma pluralidade de fontes, alguns escritos e alguns provenientes da tradição oral. Outros têm tentado determinar as fases em que "Q" foi composto.

A existência de "Q" por vezes tem sido contestada. Isso porque os estudiosos se perguntam como um documento que deveria ser altamente estimado no cristianismo primitivo, que teria servido de fonte para dois dos Evangelhos canônicos, foi omitido por todos os catálogos da Igreja primitiva, além de não ter sido mencionado por nenhum dos Pais da Igreja. Esta questão continua sendo um dos grandes enigmas da moderna erudição bíblica do Novo Testamento. Apesar dos desafios, a hipótese das duas fontes mantém um amplo apoio.



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