Fiz esta pintura para a capa do Retiro Quaresmal em 2014, um Pantocrator: Pantocrator
(em grego: Παντοκράτωρ; transl.: Pantokrátor), na iconografia do Cristianismo,
refere-se a uma forma de representação de Jesus. É uma palavra de origem grega
que significa "todo-poderoso" ou "onipotente". Também
possui variante com acento gráfico no segundo "a": pantocrátor.
Encontra-se várias vezes no Novo Testamento em grego. Provém de pan (tudo ou
todo) e krátos (alto, em cima e, daí, governo e poder). Na mão esquerda carrega
as escrituras com destaque para a frase de Jo 14,6: “Eu sou o caminho, a
verdade e a vida.”
Iconografia Cristã
A iconografia, arte verdadeira e própria dos primeiros cristãos, se
desenvolve através dos séculos a partir das catacumbas, atravessa os concílios,
a iconoclastia, perfazendo um longo caminho. A iconografia é arte teológica,
tornando possível a união da arte e da teologia na criação de um ícone. Mais
que uma obra de arte, o ícone faz um apelo àquela arte que permite a passagem
do visível ao invisível. A beleza de um ícone não é exclusivamente estética,
nem exclusivamente espiritual, mas interior. Quem o contempla deve acolher a
luz que é Deus para poder perceber no olhar purificado, a clareza do Tabor, que
transfigura a matéria. O ícone, representação de uma realidade transcendente,
preenche a nossa visão de um universo de beleza. A meditação diante do ícone se
torna um suporte de ordem porque fixa no espírito através da imagem, que o
envia e o concentra através da realidade simbólica. No ícone a matéria não é
violentada, mas é como Deus a criou.
Porque todos os materiais e os ingredientes utilizados provêm do mundo
mineral, vegetal e orgânico e são chamados a participar da transfiguração do
cosmo, pois o iconógrafo deve espiritualizar a realidade sensível. O ícone é
teofânico, signo visível da presença invisível, e ultrapassa o pintor e o
espectador, a causa do elemento transcendente que nela habita. O ícone,
portanto é a Palavra em cor e forma. O ícone possui um valor sacramental. Não
só reflete a Glória do Reino, mas contém a energia vivificante, possui uma
função mediadora na oração mais pessoal.
A palavra ícone vem da palavra grega Eikón que significa imagem no sentido
amplo da palavra. O ícone é uma imagem sacra. É essencialmente uma arte do
ciclo litúrgico e quando alguns ícones são levados para o pequeno altar
doméstico dos fiéis é para ser um pouco da liturgia do Mistério, contemplado em
suas casas. Principalmente, não é arte de santos devocionais. Nas paredes da
Igreja é o sinal da presença viva de toda a Igreja, visível e invisível, naquele
espaço e liturgia.
O ícone é a imagem da Igreja
Universal que, após o ano 1000, ficou restrita ao Oriente sob a forma de
pintura. Jamais será escultura. A sua origem e proliferação remonta ao século V
no Mosteiro de Santa Catarina do Sinai, no Egito. Porém, originários do Oriente
Médio, remontam às pinturas em madeira revestidas de cera, técnica chamada
eucástica. Egon Sendler afirma: o ícone perfeito é Jesus Cristo, imagem do Pai.
Porém, todo ícone tem como finalidade fazer reviver o Mistério da Salvação,
através da purificação dos sentimentos, e o aproximar-se da divindade. O ícone
é toda uma liturgia sintetizada em uma pintura.
O estilo nos lembra os retratos funerários que o mundo helênico, e em
particular os egípcios do primeiro século, colocavam nos sarcófagos dos seus
mortos. Foram encontradas várias pinturas a encáustica em afrescos de
primitivas igrejas cristãs nas regiões do Fayum, perto do lago de Moeris, no
sul do Egito com o Sudão.
Na história da arte e no uso comum, a palavra ícone está reservada à
pintura sacra realizada sobre uma tábua de madeira, com técnica particular e
segundo uma tradição de séculos.
Pintar o ícone se diz escrever o ícone e daí o nome de iconógrafo a quem o
realiza. As cores, os nomes dos ícones, o procedimento geométrico das diversas
composições tem significado simbólico. O iconógrafo faz parte dos sagrados
ministérios e realizará tão somente imagens ligadas ao culto, à sagrada
liturgia e, eventualmente, também, ícones para as casas dos fiéis.
Transcrições antigas, do século VIII, mostram o valor e a força dos ícones.
No Concílio Ecumênico de Nicéia II, em 787, lê-se: A arte iconográfica não foi
inventada pelos artistas, mas é instituição e tradição da Igreja Universal.
Somente o lado artístico da obra pertence ao artista, mas a sua instituição
pertence e depende dos Santos Padres. É uma das manifestações da Tradição
Sagrada da Igreja, no mesmo nível da tradição escrita e tradição oral.
O oriente é a pátria do ícone. A Grécia, as ilhas de Creta e outras; o
norte da África com a arte copta, até hoje, continuam nessa linha de Tradição.
A composição do ícone está em íntima relação com a teologia e a
espiritualidade da Igreja. Não se trata de um quadro na concepção ocidental,
mas de um momento e lugar epifânicos. O fundo é despojado, limpo, ausente de
paisagens de onde emana a luz e a transparência das cores testemunham o
diáfano o mundo espiritual no carnal. As
figuras são estáticas, como receptáculos de graça. A perspectiva é inversa à
ótica lógica pois, como arte sacra, o Mistério vem até o espectador.
Não se trata de uma pintura passiva,
realista, fotográfica. A luz dessa obra, como luz tabórica emana da presença na
figura retratada e a luz não é tratada como numa obra acadêmica, vindo de fora
da obra, de um ponto externo, uma janela ou vela, mas do próprio ser, da pureza
da cor chapada e não de tons e subtons
ilusórios que provocam realismo.
Conforme Leonid Uspenskij, o ícone é um testemunho visível tanto do
abaixamento e Deus até o homem como do
lançamento do homem para Deus. Se a palavra e o canto da Igreja santificam a
nossa alma mediante o ouvido, a imagem a santifica mediante a vista, o primeiro
dos sentidos... a nossa vocação é de adquirir a semelhança do nosso Protótipo
Divino, completar na nossa vida, o que nos foi revelado e transmitido pelo
Deus- Homem.
O Movimento Iconoclasta proveniente de heresias influenciadas pelo
puritanismo judaico-islãmico muito destruiu dessa arte nascida no seio da
própria Igreja, na origem da fé cristã. Essa foi a luta do século VII quando
ainda afirmava-se o dogma da Encarnação. A partir dos concílios de Nicéia
(325), Constantinopla (381), Éfeso (430) e Caledônia (440), a Igreja elabora
uma verdadeira Teologia da Encarnação. Essa Teologia vai ser a base de toda a
iconografia cristã oriental até hoje (no Ocidente só perdurou no primeiro
milênio).
Cláudio Pastro afirma que, na Iconografia Cristã, o ponto básico
referencial é, sempre a Face Aqueropita, a sagrada face não pintada por mão
humana. Como se sabe, essa face, é semita, pele morena, olhos escuros, cabelos
longos, lisos e negros. Desta face vai decorrer toda a iconografia cristã, não
sendo permitido realizar corpos e faces, cópias de modelos humanos, como
fizeram Rafael e todos os artistas do Renascimento e, como escreve Pastro
(1993; 219) menos ainda, as bonequinhas e bonequinhos, como fizeram as extremas
imagens de gesso ou não do século XIX e XX, muito distantes do Mistério da
Encarnação e que em nada colaboraram para a Transfiguração do mundo. O ícone,
hoje, é a fonte da imagem sacra para a nova evangelização do Ocidente.
O ícone é teofânico, signo visível da presença invisível, e ultrapassa o
pintor e o espectador, a causa do elemento transcendente que nela habita.
Possui um valor sacramental. Não só reflete a glória do reino, mas também a
energia vivificante e possui uma função mediadora na oração pessoal. A
meditação diante de um ícone se torna um suporte de ordem, porque fixa, no
espírito através da imagem, que o envia e o concentra através da realidade
simbólica.
Luís Renato Carvalho de Oliveira, SJ.
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