A JORNADA
INACIANA E A VIDA PÚBLICA DE JESUS NUMA PERSPECTIVA LATINO-AMERICANA (EE.
136-168)
Pe. J. Ramón F. de la Cigoña, SJ
1 -
Objetivos Dessa Etapa:
Não parece adequado chamar de jornada inaciana essas meditações de Duas Bandeiras (EE 136-148), Três classes de homens (149-157) e os Três graus de humildade (163-168). A
jornada inaciana, propriamente dita, são os Exercícios de 30 dias. Essa parte
que tratamos deveríamos chamá-la como o livrinho dos EE diz: preâmbulos para considerar estados (EE
135).
O objetivo destes dias é
aprofundar no seguimento de Jesus pobre e humilde, como caminho de liberdade
para descobrir e realizar a vontade do Pai.
“Fazer-se pobre”, “empobrecer-se”
o critério, norma e objetivo de todo autêntico discernimento e que Inácio coloca
ao exercitante. Lembramos aqui o grande objetivo dos EE. Formar cristãos
alimentados por uma experiência pessoal de Deus, capazes de se afastar dos
falsos absolutos (ideologias, sistemas, propostas...), capazes de colaborar na
mudança de estruturas sociais e culturais necessárias (CG. 32. 4,58) para o
bem-estar de todos.
“Fazer-se pobre” é alcançar a
liberdade necessária para ordenar a própria vida segundo o Projeto do Pai e
entregá-la, por amor, a Jesus, como serviço à causa do Reino, para que todos tenham vida em plenitude.
A liberdade,
como ensinam os EE, é absolutamente inseparável da pobreza e é impossível sem
ela (CG. 33.
1,23). Sem pobreza não pode dar-se a liberdade requerida para ordenar a vida
pelo discernimento.
Os EE pretendem conseguir, pela
ação do Espírito Santo, aquela libertação que nos faz pobres no seguimento de
Jesus pobre, para anunciar a Boa Nova da Libertação aos pobres.
Os EE ajudam a ordenar a própria
vida, não para uma satisfação e tranqüilidade pessoal, individualística, mas
para perdê-la, entregando-a, no serviço de Jesus e do Evangelho. A perspectiva
é, pois, apostólica: o Reino de Deus.
Esta etapa dos EE ocupa o 4º dia
(alguns diretores costumam fazê-lo em 2 ou 3 dias). Começa à meia-noite e até
as vésperas farão as “Duas Bandeiras”, com 3 repetições. Os “Binários” são a
última oração do dia, antes do jantar, e correspondem à aplicação dos sentidos
aos critérios do discernimento (aclarados nas Duas Bandeiras) e aplicados à situação atual do exercitante. É
preciso conferir se há liberdade suficiente que permita ao exercitante
discernir, segundo os critérios evangélicos de pobreza e humildade, e que
marca, de modo definitivo, os seguidores da bandeira de Jesus.
O 3º grau de humildade é uma
consideração a ser feita durante essa etapa ou no mesmo 4° dia.
A entrada em eleição deve começar
na manhã do 5° dia, com a contemplação de Jesus que se despede de sua mãe e vai
de Nazaré para o Jordão, para ser batizado (EE 158-159.273).
O desejo de pobreza, o fazer-se
pobre para aproximar-se mais de Jesus e parecer-se mais com Ele (ser colocado com o Filho) e assim
segui-lo melhor, é a petição e a nota central de todos esses exercícios (e
também daqueles da 3ª Semana, que buscam a confirmação destas suas opções).
2 - A Meditação das Duas Bandeiras:
Algumas breves considerações para
nos situar melhor no pensamento e na teologia desse exercício:
O 1° preâmbulo considera a
“história” que vamos meditar. Que modo de ver e compreender a realidade e a
vida se esconde por detrás desse “olhar histórico”?
O texto de Sto. Inácio é, à
primeira vista, singular e estranho, cheio de símbolos e imagens. É como um
grande díptico de um belo quadro.
Os símbolos castrenses,
militares, que aparecem na meditação (duas bandeiras, campo, sermão, jornada, sumo
capitão geral, mau caudilho...) não são meros restos de experiências pessoais
do velho Inácio, agora revestidas de um sentido espiritual. A dimensão
teológica é maior e mais profunda (cf. El contenido teológico de la meditación
de las 2 banderas: combate espiritual y combate teológico, Joaquin Losada,
Madrid, 1983). Lembremo-nos de que a S. Escritura também usa esses símbolos
castrenses (1 Tes 5,8; Ef 6, 14-17; 2 Cor 10, 13s.;1 Tim 1,18; 6, 12) para
exortar a determinados comportamentos cristãos. As raízes da simbologia
castrense dessa meditação encontram-se, pois, na ideologia apocalíptica que
envolve o nascimento do cristianismo (Jerusalém - Babilônia) e de todo cristão
(experiência de ser um “homem novo” feita pelo próprio Inácio!), combate
escatológico que antecede ao Reino de Deus (Apoc 17-21).
2.1 - Os
Símbolos Apocalípticos da Meditação:
As duas cidades: Babilônia e
Jerusalém. A primeira é a “morada dos demônios” (Apoc 18,2). Personificação do
pecado e a oposição a Deus.
Também é Roma como força
opressora e perseguidora da Igreja (1 Pe 5, 13).
Jerusalém é a “cidade santa, que
desce do Céu” (Apoc 21,2.10), “a morada de Deus entre os homens” (Apoc 21.3),
“a noiva e a esposa do Cordeiro” (Apoc 21,9), Igreja fundada sobre os 12
apóstolos (Ef 2,20).
O confronto radical entre o bem e
o mal faz parte do pensamento apocalíptico e estrutura, dialeticamente, a
meditação inaciana: Cristo e anticristo; Reino e anti-reino!
Os 2 chefes: Lúcifer. “Quem adora
a besta e a sua imagem e aceita sua marca na sua testa ou na sua mão, a ela
pertence” (Apoc 14, 9-11). É o inimigo da natureza humana, o pai de toda
mentira! O pecado e suas moções destroem o homem.
Cristo: embora Inácio não o
revista de rasgos apocalípticos, seu aspecto profundo e radicalmente humano corresponde
à realidade escatológica que anuncia a Boa Nova do Reino de Deus.
O horizonte de universalidade (...inumeráveis demônios... por todo o
mundo... todos os estados e condições...) é uma das características do
pensamento apocalíptico. O plano salvífico alcança o homem e a história na sua
totalidade.
Dialética do homem velho e do
homem novo: A salvação do homem acarreta e traz consigo a salvação do mundo!
“Redes e correntes” reduzem a liberdade do homem!
2.2 -
Conteúdo Teológico da Meditação:
A “história” que se quer meditar
é a própria história na sua realidade atual, compreendida como história de
salvação.
A ação salvadora de Deus, por seu
Filho Jesus Cristo, realiza-se num mundo dominado, construído e subjugado pelo
pecado. Daqui a necessidade de identificação e seguimento que se fazem
presentes na própria vida.
Essa “história” é comunitária e
está em processo de realização até chegar à sua plenitude no Reino de Deus.
É preciso que o homem e todos os
homens tenham vida em plenitude. Daí a necessidade de se comprometer.
O objetivo dessa meditação é
verificar as disposições da inteligência, apresentando, pois, os dois caminhos,
seu processo e finalidade. A conclusão lógica e espontânea deveria ser aquele
grito de Inácio “Coloca-me com o Teu
Filho!”, coloca-me com todos aqueles que são os prediletos de Jesus!
1.3. Sua Aplicação
Latino-Americana:
Seguir Jesus significa colaborar
com Ele na edificação da nova sociedade onde aconteçam, de fato, relações novas
de fraternidade, justiça, serviço e solidariedade como filhos que somos do
mesmo Pai. Deixa-se a segurança aparente do “ter” e do “poder” e se opta por um
estilo de vida simples, partilhando fraternalmente o que se tem. Estar sob a
bandeira de Jesus é estar sob a bandeira dos pobres!
“Cristo, supremo
chefe”,
encontra-se no pobre e no oprimido, identifica-se com eles e aparece,
“sacramentalmente”, com rostos tão diferentes, deformados e destruídos que
parece quase impossível descobri-lo, a não ser pela fé. Os pobres são,
realmente, o verdadeiro sacramento do nosso Deus escondido e comprometido!
Os discípulos são todos aqueles que acolheram no seu coração a semente
do Reino: a igreja, os agentes de pastoral, nossos mártires
latino-americanos.., todos eles legitimas testemunhas que manifestam, com suas
vidas, que o Reino de Deus já está no meio de nós.
O discurso que ele faz é a proposta do Reino, a mudança de tudo o que
não serve para a comunhão e a participação... Isso, hoje, se faz por meio das
CEBs, Círculos Bíblicos, Campanhas, Liturgias, meios de comunicação
alternativos etc.
A bandeira
do Maligno absolutiza
todos os relativos que nos dividem: a lei, o poder, as estruturas, a
religião... visando apenas o próprio proveito. Carece de uma visão fraterna da
vida. Usa o poder e a força para separar, dividir... Leva as pessoas a se
fazerem fiéis nas coisas mínimas e infiéis nas principais. Não confiam em Deus,
nem nos outros, mas somente no dinheiro e no que ele pode alcançar. Não se
comprometem com Deus, nem com os outros e quando se aproximam dos pobres o
fazem desde o poder e os poderosos. Querem “ter”, querem “valer” e “ser” só
para si mesmos. Identificam-se, não como seres relacionais dependentes de Deus,
mas como seres autônomos, independentes e isolados.
Lúcifer, hoje, se nos apresenta encarnado
em estruturas de opressão e pecado. E o capitalismo selvagem ramificado em
multinacionais que empobrecem o homem e seu “habitat”, só se importando com
lucros imensos, sem se interessar pela sua procedência e a sua ética.
Cobiça de
riquezas se traduz,
no nosso meio, pelo desejo desenfreado de possuir e ganhar muito dinheiro com
pouco trabalho: negócios desonestos, tráfico de drogas, cassinos, loterias,
etc. Quando toda uma vida está orientada para o lucro e não para a
fraternidade, parece que se vive essa dimensão do campo de Satanás.
Campo de
fumaça é tudo
aquilo que confunde a cabeça e faz abandonar os critérios do Projeto de Deus:
ideologias, falsas propagandas de desenvolvimento e de felicidade, manipulação
da opinião pública...
Discurso que
ele faz é o mal se
propagando pelos meios de comunicação social, pela mentira, manipulação, abuso
de poder, gestos e atitudes que não trazem vida nem partilha.
O homem que coloca Deus no centro
de sua vida e não se entrega totalmente às coisas do mundo, e isso para sempre,
será tido por bobo, retardado, impotente e inútil.
Como apresentar essa meditação de
sorte que possa produzir seus frutos?
Não há dúvida de que essa
meditação é fundamental para a nossa realidade latino-americana. O bem e o mal
andam entrelaçados. Não existem parâmetros claros de discernimento. Muitas
vezes o que é bom é considerado como mau e o que é mau é apresentado como bom.
É preciso ter a coragem de apresentar os critérios e os valores evangélicos
tais como eles são, desmascarando todo condicionamento, de modo que possamos
experimentar a vida verdadeira e seus frutos de justiça, libertação,
participação e comunhão. Toda árvore se conhece pelos seus frutos! Analisando
criticamente os frutos do bem e os frutos do mal, poderemos tomar decisões mais
objetivas, comunitárias e populares.
2.4 - Alguns
textos para meditar as “Duas Bandeiras”:
Trata-se aqui de apresentar o
Reino e o anti-reino: Lc 6,20-26 As bem-aventuranças; Mt 6,26 Os 2 senhores; Lc
4, 1-17 Tentações de Jesus; Jr 1 Vocação; 2 Cr 11,21 ss Paulo faz sua apologia;
1 Jo 2, 15-17 Condições para seguir Jesus; Sl 2 Nações em tumulto; Sl 9 Deus ao
lado dos justos; Cl 1, 24-29 “Completo o que falta à Paixão...”; Sb2 Ímpios e
justos; Lc 18,18-28 O jovem rico; Is 1, 10-23 “Cessai de fazer o mal, aprendei
a fazer o bem...” ; Fil 2, 5-11 “Humilhou-se a si mesmo...”; 1 Cr 1, 22-2,2
Sabedoria do mundo reprovada pela sabedoria de Deus; Mc. 8,31-38 “Não tendes
gosto pelas coisas de Deus mas...“; Mc 10, 42-45 “Quem quiser ser o maior...”;
Mt 5,3-10 “Sois o sal da terra e a luz...”; Lc 4, 1-10 Tentações de Jesus; Apoc
12 A mulher e o dragão...
3 - Três Binários:
Essa meditação tem como objetivo
verificar a disposição da vontade, percebendo quais os meios utilizados para
chegar a uma maior comunhão e solidariedade, examinando os apegos e as
resistências diante do caminho de Deus. Coloca em evidência as possíveis afeições desordenadas.
Não se trata de matar os afetos,
mas de ordená-los, mudá-los, substituí-los para que o amor se transforme em
história e serviço. No fundo do próprio eu nasce uma pergunta: O que realmente
eu quero e busco? ... Tenho capacidade de liberdade? ... E de coerência?...
Deixar o
afeto não é não
querer, mas querer não ser movido por ou pela coisa, mas somente por Deus:
DEUS
ordenada
Afeição
desordenada
Coisa adquirida
Os 3 Binários são 3 pessoas
divididas nos seus afetos: carnais e espirituais.
Os afetos experimentam uma
verdadeira dialética entre o desejo espiritual de fazer a vontade de Deus e as
resistências e apegos sensíveis da própria natureza. Se não há verdadeira
generosidade, é inútil tentar fazer uma eleição. Pois é impossível querer o fim
e não querer os meios para alcançá-lo!
3.1 - Sua
aplicação latino-americana:
O primeiro grupo pode até admirar
a mensagem e a pessoa de Jesus, mas não chega a colocar nada em prática. Não
emprega os meios necessários para viver o profetismo (denúncia / anúncio) e se
comprometer, seriamente, com todos aqueles que buscam maior libertação. Vive-se
alienado pela ideologia do sistema, seduzido pelo consumismo e pela ambição do
poder, ficando impedido de pôr em prática o Evangelho, como Jesus e a Igreja o
entendem.
Existem muitas razões aparentes e
falsos condicionamentos para ficar, perpetuamente, nesse primeiro grupo de
homens que não querem se comprometer, nem abandonar mil formas erradas de viver
a fé. Destacamos alguns sentimentos que mais amarram, tendo em conta o nosso
contexto latino-americano:
- Acomodação, apoiando-se
naquelas seguranças humanas, sempre conhecidas e pouco assumidas e que impedem
de viver, livremente, a fé e de se solidarizar com todos aqueles que não têm
voz nem vez.
- Medo, receio de se posicionar
ou denunciar, alegando desinformação ou outras razões semelhantes. Temor de
perder o poder, o prestígio, os privilégios adquiridos, amigos, ajudas
financeiras...
- Espiritualismo desencarnado,
vivendo uma religião ou expressão de fé desligada da vida, do contexto social,
cultural, político e econômico que o rodeiam. A preocupação obsessiva pelo
“Deus invisível” pode ser uma bela fuga do “Deus feito carne”, sempre mais
próximo, inoportuno e enfadonho.
- Insegurança diante das diversas
eclesiologias existentes e da própria ambigüidade da Igreja.
O segundo grupo quer trabalhar
pelo Reino de Deus mas não aceita as conseqüências que isso traz consigo.
Pode-se comprometer com Jesus e com os pobres, mas de um modo intimista. Pode
chegar até a pensar em dar a vida “por” Jesus, mas não “com” e “como” Jesus:
por todos os homens. Não faz uma opção real pelos pobres. Não vive a
encarnação!
O terceiro grupo decidiu ser
cristão para valer, definindo-se explicitamente por Jesus e pela sua causa.
Evidentemente que optando por Jesus, opta, também, pelas conseqüências desta
escolha: encarnação, os pobres e os oprimidos. Identifica-se de tal modo com
Jesus que se solidariza totalmente com o seu projeto de evangelização e
libertação. A conseqüência imediata disso será a perseguição e a humilhação por
causa de Jesus.
3.2 - Textos
Bíblicos:
Jo 1,14.17 “O Verbo se fez carne...”;
Mt 17,20 “Se tiverdes fé como um grão de mostarda...”; Lc 10,33-37 “O
Samaritano movido de compaixão...”; 2 Tm 3,12 “Os que viverem piamente sofrerão
perseguições...”; Mc 14,16-24 Convidados que se escusam...; Mt 19,16-22 O jovem
rico; Mt 19,27-29 “Nós que deixamos tudo...”
4 - Os Três Graus de Humildade:
A humildade não é uma certa
modéstia, mas um abaixar-se para obedecer em tudo o Senhor. É disponibilidade
absoluta, indiferença verdadeira que nos faz livres para nos apaixonarmos mais
pela vontade de Deus e realizar melhor o seu projeto. Essa consideração tem com
objetivo verificar a disposição do afeto, apresentando os diversos níveis de
amor e desejo de seguir e servir o Senhor: obediência, indiferença (liberdade
interior!) e identificação (opção!) com Cristo pobre, humilde e solidário com
os pobres e humilhados do nosso continente.
Os Três graus de humildade são um verdadeiro teste sobre a adesão do
coração no seguimento radical de Jesus, no compromisso de realizar o projeto do
Pai com a entrega do que se tem e do que se é, propriedade, liberdade e / ou
prestígio como conseqüência da opção pelo Reino e a justiça.
Os Três graus de humildade são, na sua raiz, graus de compromisso com
o pobre.
Não parece que tudo o que é agradável deva ser rejeitado e
tudo o que é desagradável deva ser procurado pelo mero fato de ser
desagradável, a não ser que algum motivo justo de serviço e glória divina mande
o contrário seja a melhor interpretação do 3º grau de humildade, se não
queremos ficar numa perfeição ascético-moral mais próxima do judaísmo e do
estoicismo do que do cristianismo.
O 3º grau de humildade nos
prepara para entender e sobretudo viver o espírito da 3ª Semana. Não é fácil
viver o despojamento total e enfrentar com serenidade as perseguições e humilhações
mas podemos rezar com o Cardeal Newmann: Senhor,
eu não posso pedir a humilhação pois sou débil. Mas eu creio, confesso minha fé
profunda no Reino da humilhação que será o melhor meio de me aproximar de Ti e
de transformar o mundo. Por isso Te peço que quando chegue a humilhação eu a
possa levar.
Esse 3º grau de humildade ou de amor perfeitíssimo se traduz como ajuda
e serviço aos outros. Serviço apostólico que busca sempre o magis. Sem dúvida alguma, a história tem
mostrado que todos aqueles que se colocaram a serviço dos outros, por causa do
Reino de Deus, foram perseguidos e insultados e muitos deles perderam até a
própria vida.
4.1 - Sua Aplicação
Latino-americana:
A perseguição e a humilhação são
a conseqüência lógica dos seguidores de Jesus, daqueles que fizeram uma opção
pelo pobre. Não deve nos assustar, mas nos alegrar, pois só chegaremos à
salvação e à maturidade humana quando formos capazes de enfrentar e dar um
sentido novo à perseguição e à humilhação. Esse modo de amar (de dar a vida!)
não se aprende na teoria, mas no contato íntimo com Jesus (na contemplação dos
seus mistérios!) e ao lado dos pobres (na práxis libertadora!).
Podemos até concretizar esses 3
graus em 3 opções:
1 - Nada farei que me separe de
Cristo, dos pobres e da Igreja.
2 - Farei tudo o que mais me
aproximar de Cristo, dos pobres e da Igreja.
3 - Farei o que mais me
identifica com Cristo, os pobres e a Igreja, percorrendo o caminho que Ele fez.
5 - A Cristologia
desta nossa etapa:
Nossa Cristologia se coloca com
os seguintes matizes e acentos:
- Seguir Jesus na realização do
que foi o centro de sua vida: que todos tenham vida dentro de um povo de
irmãos. Essa é a vontade de Deus!
- Apresentar a vida conflitiva de
Jesus como conseqüência pelo seu compromisso de anunciar o Reino de Deus.
- Falar da pobreza, não tanto
como uma perfeição ascético-moral a ser alcançada, mas como um lugar e uma
ótica a partir dos mais pequenos e abandonados.
O colóquio fundamental das Duas Bandeiras e a petição de Inácio de
ser colocado com o Filho é a oração da Companhia de ser colocada com os
prediletos de Jesus, os pobres e os pequeninos.
- Apresentar uma espiritualidade
do seguimento (assumindo a causa e o destino de Jesus!), acentuando as
dimensões de encarnação e ao mesmo tempo de abertura ao transcendente (práxis e
oração).
-Aproximarmo-nos da Palavra de
Deus com uma atitude interior de fé. A Escritura ensina, desafia e corrige
nossas atitudes.
No final desta breve reflexão
colocamos algumas perguntas:
- Quais os destaques dessa Semana
dos Exercícios que mais o animam?
- Quais os destaques que mais o
amedrontam?
- Quais os dinamismos que mais
lutam dentro de você assinalados como experiência dessa etapa? Poderia
aprofundar mais indicando o funcionamento, estruturas e raízes desses
dinamismos? Quais as conseqüências que experimenta quando se deixa levar por
algum deles?
- Por que a insistência nas
“injúrias, perseguições e pobreza” nessa etapa do caminho interior dos
Exercícios?
- Quais são, na América Latina,
essas “Duas Bandeiras”?
Bibliografia
José Magafia, SJ, Jesus
Liberador - Hacia una espiritualidad de los empobrecidos, México, 1985, pp
249-246.
Roberto Treviño, En el
camino de la realización - La jornada inaciana, CIRE (1985) 2 pp 5-24.
Diogo Bernal, Binários y
maneras de humildad - Lecturas desde la experiencia, CIRE, 1985, pp 55-61.
Javier Osuña, Tierra
fertil de hombres fuertes, CIRE (1985) 2, pp. 25-54.
Nenhum comentário:
Postar um comentário