sábado, 30 de julho de 2016

Pantocrator - Quaresma/2014.


Pantocrator – Quaresma de 2014

Fiz esta pintura para a capa do Retiro Quaresmal em 2014, um Pantocrator: Pantocrator (em grego: Παντοκράτωρ; transl.: Pantokrátor), na iconografia do Cristianismo, refere-se a uma forma de representação de Jesus. É uma palavra de origem grega que significa "todo-poderoso" ou "onipotente". Também possui variante com acento gráfico no segundo "a": pantocrátor. Encontra-se várias vezes no Novo Testamento em grego. Provém de pan (tudo ou todo) e krátos (alto, em cima e, daí, governo e poder). Na mão esquerda carrega as escrituras com destaque para a frase de Jo 14,6: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida.”

Iconografia Cristã

A iconografia, arte verdadeira e própria dos primeiros cristãos, se desenvolve através dos séculos a partir das catacumbas, atravessa os concílios, a iconoclastia, perfazendo um longo caminho. A iconografia é arte teológica, tornando possível a união da arte e da teologia na criação de um ícone. Mais que uma obra de arte, o ícone faz um apelo àquela arte que permite a passagem do visível ao invisível. A beleza de um ícone não é exclusivamente estética, nem exclusivamente espiritual, mas interior. Quem o contempla deve acolher a luz que é Deus para poder perceber no olhar purificado, a clareza do Tabor, que transfigura a matéria. O ícone, representação de uma realidade transcendente, preenche a nossa visão de um universo de beleza. A meditação diante do ícone se torna um suporte de ordem porque fixa no espírito através da imagem, que o envia e o concentra através da realidade simbólica. No ícone a matéria não é violentada, mas é como Deus a criou.

Porque todos os materiais e os ingredientes utilizados provêm do mundo mineral, vegetal e orgânico e são chamados a participar da transfiguração do cosmo, pois o iconógrafo deve espiritualizar a realidade sensível. O ícone é teofânico, signo visível da presença invisível, e ultrapassa o pintor e o espectador, a causa do elemento transcendente que nela habita. O ícone, portanto é a Palavra em cor e forma. O ícone possui um valor sacramental. Não só reflete a Glória do Reino, mas contém a energia vivificante, possui uma função mediadora na oração mais pessoal.

A palavra ícone vem da palavra grega Eikón que significa imagem no sentido amplo da palavra. O ícone é uma imagem sacra. É essencialmente uma arte do ciclo litúrgico e quando alguns ícones são levados para o pequeno altar doméstico dos fiéis é para ser um pouco da liturgia do Mistério, contemplado em suas casas. Principalmente, não é arte de santos devocionais. Nas paredes da Igreja é o sinal da presença viva de toda a Igreja, visível e invisível, naquele espaço e liturgia.

 O ícone é a imagem da Igreja Universal que, após o ano 1000, ficou restrita ao Oriente sob a forma de pintura. Jamais será escultura. A sua origem e proliferação remonta ao século V no Mosteiro de Santa Catarina do Sinai, no Egito. Porém, originários do Oriente Médio, remontam às pinturas em madeira revestidas de cera, técnica chamada eucástica. Egon Sendler afirma: o ícone perfeito é Jesus Cristo, imagem do Pai. Porém, todo ícone tem como finalidade fazer reviver o Mistério da Salvação, através da purificação dos sentimentos, e o aproximar-se da divindade. O ícone é toda uma liturgia sintetizada em uma pintura. 

O estilo nos lembra os retratos funerários que o mundo helênico, e em particular os egípcios do primeiro século, colocavam nos sarcófagos dos seus mortos. Foram encontradas várias pinturas a encáustica em afrescos de primitivas igrejas cristãs nas regiões do Fayum, perto do lago de Moeris, no sul do Egito com o Sudão.
Na história da arte e no uso comum, a palavra ícone está reservada à pintura sacra realizada sobre uma tábua de madeira, com técnica particular e segundo uma tradição de séculos.

Pintar o ícone se diz escrever o ícone e daí o nome de iconógrafo a quem o realiza. As cores, os nomes dos ícones, o procedimento geométrico das diversas composições tem significado simbólico. O iconógrafo faz parte dos sagrados ministérios e realizará tão somente imagens ligadas ao culto, à sagrada liturgia e, eventualmente, também, ícones para as casas dos fiéis.

Transcrições antigas, do século VIII, mostram o valor e a força dos ícones. No Concílio Ecumênico de Nicéia II, em 787, lê-se: A arte iconográfica não foi inventada pelos artistas, mas é instituição e tradição da Igreja Universal. Somente o lado artístico da obra pertence ao artista, mas a sua instituição pertence e depende dos Santos Padres. É uma das manifestações da Tradição Sagrada da Igreja, no mesmo nível da tradição escrita e tradição oral.

O oriente é a pátria do ícone. A Grécia, as ilhas de Creta e outras; o norte da África com a arte copta, até hoje, continuam nessa linha de Tradição.
A composição do ícone está em íntima relação com a teologia e a espiritualidade da Igreja. Não se trata de um quadro na concepção ocidental, mas de um momento e lugar epifânicos. O fundo é despojado, limpo, ausente de paisagens de onde emana a luz e a transparência das cores testemunham o diáfano  o mundo espiritual no carnal. As figuras são estáticas, como receptáculos de graça. A perspectiva é inversa à ótica lógica pois, como arte sacra, o Mistério vem até o espectador.

Não se trata  de uma pintura passiva, realista, fotográfica. A luz dessa obra, como luz tabórica emana da presença na figura retratada e a luz não é tratada como numa obra acadêmica, vindo de fora da obra, de um ponto externo, uma janela ou vela, mas do próprio ser, da pureza da  cor chapada e não de tons e subtons ilusórios que provocam realismo.

Conforme Leonid Uspenskij, o ícone é um testemunho visível tanto do abaixamento e Deus até  o homem como do lançamento do homem para Deus. Se a palavra e o canto da Igreja santificam a nossa alma mediante o ouvido, a imagem a santifica mediante a vista, o primeiro dos sentidos... a nossa vocação é de adquirir a semelhança do nosso Protótipo Divino, completar na nossa vida, o que nos foi revelado e transmitido pelo Deus- Homem.

O Movimento Iconoclasta proveniente de heresias influenciadas pelo puritanismo judaico-islãmico muito destruiu dessa arte nascida no seio da própria Igreja, na origem da fé cristã. Essa foi a luta do século VII quando ainda afirmava-se o dogma da Encarnação. A partir dos concílios de Nicéia (325), Constantinopla (381), Éfeso (430) e Caledônia (440), a Igreja elabora uma verdadeira Teologia da Encarnação. Essa Teologia vai ser a base de toda a iconografia cristã oriental até hoje (no Ocidente só perdurou no primeiro milênio).

Cláudio Pastro afirma que, na Iconografia Cristã, o ponto básico referencial é, sempre a Face Aqueropita, a sagrada face não pintada por mão humana. Como se sabe, essa face, é semita, pele morena, olhos escuros, cabelos longos, lisos e negros. Desta face vai decorrer toda a iconografia cristã, não sendo permitido realizar corpos e faces, cópias de modelos humanos, como fizeram Rafael e todos os artistas do Renascimento e, como escreve Pastro (1993; 219) menos ainda, as bonequinhas e bonequinhos, como fizeram as extremas imagens de gesso ou não do século XIX e XX, muito distantes do Mistério da Encarnação e que em nada colaboraram para a Transfiguração do mundo. O ícone, hoje, é a fonte da imagem sacra para a nova evangelização do Ocidente.

O ícone é teofânico, signo visível da presença invisível, e ultrapassa o pintor e o espectador, a causa do elemento transcendente que nela habita. Possui um valor sacramental. Não só reflete a glória do reino, mas também a energia vivificante e possui uma função mediadora na oração pessoal. A meditação diante de um ícone se torna um suporte de ordem, porque fixa, no espírito através da imagem, que o envia e o concentra através da realidade simbólica.

Luís Renato Carvalho de Oliveira, SJ.



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