quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Impressionismo


Impressionismo foi um movimento que surgiu na pintura francesa do

 século XIX, vivia-se nesse momento a chamada Belle Époque ou Bela 

Época em português. O nome do movimento é derivado da obra

 "Impressão: nascer do sol" (1872), de Claude Monet.

Começou com um grupo de jovens pintores que rompeu com as regras da pintura vigentes até então. Os autores impressionistas não mais se preocupavam com os preceitos do Realismo ou da academia. A busca pelos elementos fundamentais de cada arte levou os pintores impressionistas a pesquisar a produção pictórica não mais interessados em temáticas nobres ou no retrato fiel da realidade, mas em ver o quadro como obra em si mesma. A luz e o movimento utilizando pinceladas soltas tornam-se o principal elemento da pintura, sendo que geralmente as telas eram pintadas ao ar livre para que o pintor pudesse capturar melhor as variações de cores da natureza.

O impressionismo não foi aceito de primeira na Europa do século XIX pois os estilos que até então eram os vigentes eram completamente opostos ao impressionismo, que quebrava com a linearidade: Neo-classicismo, Realismo e Romantismo. Estes três movimentos se preocupavam com a linearidade. No caso do Neo-classicismo, também preocupava-se com a perfeição, a ponto de que pintores passariam a corrigir seus modelos para atingí-la. O Realismo, por outro lado, se preocupava em retratar a realidade exatamente como ela era. Já o trabalho romântico era extremamente subjetivista.

Mas alguns artistas e intelectuais, sob a influência de Charles Baudelaire, possuem o desejo de mudança. Baudelaire acreditava que era necessário que o olhar do artista fosse desprovido de preconceito e que houvesse um compromisso com o presente. Este desejo de mudança se traduz em experimentação de reformulação pictórica, que mais tarde levaria a pintura a ficar livre para traçar um novo caminho.

O impressionismo é uma arte visual, onde a representação do que se vê é o tema central das obras do movimento. As cenas pintadas são, em grande parte, apenas as que são observadas pelo próprio pintor. Neste sentido, o “ver” do impressionismo assume outro sentido; é o de selecionar, recortar, modelar de acordo com o objeto que se observa diretamente. Os artistas do impressionismo selecionam a impressão como uma experiência importante a ser valorizada.

Mas apesar de parecer que o impressionismo se trata de imitação do real, não é exatamente isso que os artistas impressionistas fazem. O impressionismo é sobre traduzir um objeto real através do olhar diferenciado, onde posteriormente essa forma de olhar se torna uma construção sobre o objeto real.

Os impressionistas buscavam retratar os objetos através do contraste de cor e luz, onde as próprias pinceladas dos pintores se tornam uma marca de luz e sombra na tela. A pincelada do impressionismo deixa uma marca na tela, como se fosse a letra do autor; seu relevo, deixado na tela propositalmente, faz com que a luz e sombra estejam presentes em cada pincelada. A sensação, elemento fundante do impressionismo, deixa de ser puramente fisiológica e passa a ser construída e deliberada.

O impressionismo, em primeira instância, se utiliza da paisagem como objeto único e central do quadro. Seria durante o Realismo que surgiria a paisagem como tema central de pinturas e quadros, tendo caráter especialmente referencial. O Impressionismo é a técnica pictórica que levou seus artistas a representarem da melhor maneira a impressão visual da realidade.

Mas o Impressionismo não causou só reações de críticas. A resistência ao impressionismo e suas obras vinha da grande ruptura que o impressionismo trazia enquanto movimento: ele negligenciava as formas para privilegiar a cor. Não é todo o impressionismo que é rejeitado, no entanto. Algumas das características do impressionismo que foram adotadas da pintura clássica ainda são bem vistas pela maioria, sendo que podem ser enxergadas como o rigor que não era presente, até então, nas pinturas impressionistas.

Seria por volta de 1884 que surgiria uma estética relacionada àquela impressionista por excelência, que ainda que crítica ao Impressionismo, continuaria seu legado. O neo-impressionismo não rejeitava todos os princípios e obras Impressionistas como era comum à sua época, mas sim queriam dar continuidade ao que os impressionistas começaram, codificando suas descobertas de acordo com um método racional. Eles se aproveitam de Eugène Delacroix como o pai da pintura moderna, sendo que eles então o reivindicam como precursor de todo um movimento.

Características


Monet: Mulheres no jardim de 1866.

Orientações gerais que caracterizam a pintura:

a pintura deve mostrar os pontos que os objetos adquirem ao refletir a luz do corpo num determinado momento, pois as cores da natureza mudam todo dia, dependendo da incidência da luz do sol;
é também, com isto, uma pintura instantânea (captação do momento), recorrendo, inclusivamente, à fotografia;
as figuras não devem ter contornos nítidos pois o desenho deixa de ser o principal meio estrutural do quadro, passando a ser a mancha/cor;
as sombras devem ser luminosas e coloridas, tal como é a impressão visual que nos causam. O preto jamais é usado em uma obra impressionista plena;
os contrastes de luz e sombra devem ser obtidos de acordo com a lei das cores complementares. Assim um amarelo próximo a um violeta produz um efeito mais real do que um claro-escuro muito utilizado pelos academicistas no passado. Essa orientação viria dar mais tarde origem ao [pontilhismo];
as cores e tonalidades não devem ser obtidas pela mistura de pigmentos. Pelo contrário,devem ser puras e dissociadas no quadro em pequenas pinceladas. É o observador que, ao admirar a pintura, combina as várias cores, obtendo o resultado final. A mistura deixa, portanto, de ser técnica para se tornar óptica;
preferência pelos pintores em representar uma natureza morta a um objeto;
Valorização de decomposição das cores.
Entre os principais expoentes do Impressionismo estão Claude Monet, Edouard Manet, Edgar Degas, Auguste Renoir, Alfred Sisley e Camille Pissarro. Podemos dizer ainda que Claude Monet foi um dos maiores artistas da pintura impressionista da época.


Impression Sunrise, óleo sobre tela de 1872.

Orientações gerais que caracterizam o impressionista:

rompe completamente com o passado;
inicia pesquisas sobre a óptica e os efeitos (ilusões) ópticos;
é contra a cultura tradicional;
pertence a um grupo individualizado;
falam de arte, sociedade, etc: não concordam com as mesmas coisas porém discordam do mesmo;
vão pintar para o exterior, algo mais conveniente com a evolução da indústria, nomeadamente, telas com mais formatos, tubos com as várias tintas, entre outras coisas.
Os efeitos ópticos descobertos pela pesquisa fotográfica, sobre a composição de cores e a formação de imagens na retina do observador, influenciaram profundamente as técnicas de pintura dos impressionistas.

Eles não mais misturavam as tintas na tela, a fim de obter diferentes cores, mas utilizavam pinceladas de cores puras que colocadas uma ao lado da outra, são misturadas pelos olhos do observador, durante o processo de formação da imagem.

Ao invés das formas serem representadas exatamente como elas são, os artistas do Impressionismo expressam as formas tal como elas se apresentam sobre a deformação da luz. O espaço e o volume são definidos não pelos contornos ou pela geometria precisa da perspectiva, mas sim pela degradação de cor e tons (entende-se por cor como a qualidade da cor, enquanto por tom entende-se o grau de intensidade das cores).

Os pintores impressionistas abandonam os contrastes de claro e escuro, e trocam os tons que normalmente se encaixariam nas sombras (marrons, negros, cinzentos) por tons como azuis, verdes, amarelos, entre outros. Para empregar certas cores, os pintores impressionistas usam de uma técnica chamada de mistura óptica, que consiste em justapor cores diferentes sobre a tela (e não misturá-las na paleta) para então sugerir uma nova cor aos olhos do espectador. Apesar de experimentarem com muitas noções científicas sobre cor e luz em suas pinturas, os pintores impressionistas  não os aplicavam com regularidade. As pinturas expressionistas eram, acima de tudo, de uma grande espontaneidade, e rejeitavam  teorias metódicas.

Origens


Édouard Manet

Édouard Manet não se considerava um impressionista, mas foi em torno dele que se reuniram grande parte dos artistas que viriam a ser chamados de Impressionistas. O Impressionismo possui a característica de quebrar os laços com o passado e diversas obras de Manet são inspiradas na tradição. Suas obras no entanto serviram de inspiração para os novos pintores.

O termo impressionismo surgiu devido a um dos primeiros quadros de Claude Monet (1840-1926) Impressão - Nascer do Sol, por causa de uma crítica feita ao quadro pelo pintor e escritor Louis Leroy "Impressão, Nascer do Sol -eu bem o sabia! Pensava eu, se estou impressionado é porque lá há uma impressão. E que liberdade, que suavidade de pincel! Um papel de parede é mais elaborado que esta cena marinha".

O termo “Impressionistas” se cunhou mesmo graças a uma exposição que ocorreu em Paris em abril de 1874, onde ocorreu uma exposição composta de artistas excluídos pela elite acadêmica. Foi a partir desta exposição que a crítica de Louis Leroy se deu, publicada no jornal Le Charivari.  A expressão foi usada originalmente de forma pejorativa, mas Monet e seus colegas adotaram o título, sabendo da revolução que estavam iniciando.

Mas é antes do impressionismo sequer se chamar impressionismo que sua estética surge. Os pintores impressionistas anteriores a sua época são encontrados muitas vezes entre os realistas, já que o impressionismo está amplamente vinculado à estética barroca e realista. A estética impressionista nasce em Veneza, onde luz, cores e sensações serão incorporadas à pintura. Alguns grandes renascentistas, como Giorgione, Ticiano, Veronese e Tintoreto, em meados do século XV até o século XVI, tão prioridade à cor sobre a forma, onde tentam traduzir a luz da vida real para a tela com pinceladas visíveis para trazer a ilusão de vida.

Mas não é apenas em Veneza que a estética impressionista toma forma. Na Espanha, com pintores como El Greco, Velázquez e Goya, há também resquícios desta estética em diversas obras. Seria com vazio entre as pinceladas, o emprego do preto e representação de momentos luminosos ou dinâmicos que o impressionismo espanhol se afirmaria enquanto estética.

Em Flandres, poucos pintores se atrevem a usar da estética impressionista, mas é com as pinturas de Rubens (1577-1640) que um dos elementos chave desta estética surge: a composição de cores quentes passa a fazer parte da sombra. Esse seria um elemento que veríamos repetido com frequência em outras pinturas expressionistas a partir daquele momento.

A feitura fragmentada, comumente achada nas pinturas impressionistas, no entanto, não surgiria com Rubens, mas com o pintor holandês do século XVII, Frans Hals (1580? - 1666). Ele consistiria sua técnica em sugerir forma e volume a partir da luz criada pelas pinceladas. Seria também os paisagistas holandeses que abordariam o mesmo problema do ao ar livre, problema este no qual impressionistas franceses se debruçaram mais tarde. Mesmo sem pintarem do lado de fora, dão a impressão do ar livre em suas telas.

Na Inglaterra a conexão com o impressionismo e sua estética é clara. As paisagens eram tema das pinturas inglesas desde o final do século XVIII, e é no século XIX que três pintores ingleses vão influenciar diretamente a estética impressionista, sendo estes Constable, Bonington e Turner. Constable se utilizava, enfim, do estudo feito fora do ateliê para suas pinturas. Ele o considerava indispensável. Trazia em suas telas impressões fugazes, onde o vento e a atmosfera apareciam, apesar de não palpáveis. Através de suas pinturas ele estava determinado a captar em sua tela os aspectos mais voláteis da natureza. Suas obras exerceram grande influência sobre Delacroix. Por outro lado, Bonington também exerce influência considerável sobre Delacroix e pode-se perceber algumas características impressionistas em seus estudos de atmosfera. Já Turner, pintor de paisagens marinhas, faz com que a água e o céu se confundam em suas pinturas por meio de uma construção específica da atmosfera.

Na França, é no século XVII que a estética impressionista aparece pela primeira vez. Com Poussin, Claude Gellée, Watteau, Chardin, Joseph Vernet e Fragonard. Alguns destes pintores se aproximam do impressionismo por conta de como trabalham com as cores, as luzes e as sombras; outros, por se utilizarem da paisagem como tema central da obra.

Mas uma das origens diretas do impressionismo é, com certeza, Eugène Delacroix (1798-1863). Alguns autores acreditam que Delacroix mereça o nome de “pai do impressionismo” tanto quanto Claude Monet. Muitos vêem nele um precursor do movimento, onde os reflexos coloridos são dados como extremamente importantes. Delacroix declara, em 1852, que o cinzento é inimigo da pintura, mostrando mais uma vez sua ligação clara com o movimento impressionista. Ele também faz declarações que se relacionam com a mistura óptica e a fragmentação da pincelada, ambas características recorrentes das pinturas impressionistas.

A origem do grupo impressionista, no entanto, acontece mesmo em Paris. Em busca de um ensino de arte onde o pictórico fosse liberal, ganham força a Académie Suisse e o Ateliê Gleyre. A Académie Suisse, localizada no Quai de Orfèvres, era onde se trabalhava para ganhar pouco, onde havia uma grande liberdade e necessidade de independência. Lá foi onde estudaram nomes como Pissarro, Cézanne e Guillaumin. Foi quase ao mesmo tempo que fundava-se o Ateliê Gleyre, aberto por Charles Gleyre que era professor na Escola de Belas-Artes. O ateliê foi frequentado por Fréderic Bazille, Claude Monet, Reinoir e Sisley.

Esses grupos de artistas impressionistas, até então, não tinham local de encontro. Se encontravam no ateliê de Fatin Latour ou no de Claude Monet. Mas queriam se encontrar com maior frequência e em local mais adequado. Decidiram então encontrar-se em um café calmo, às quintas-feiras, mais precisamente no Café Guerbois. As reuniões se seguiram, principalmente, entre 1868 e 1870.

Na época, a fama de Manet fez com que seus colegas de grupo o considerassem o promotor da vanguarda. Ele viraria, então, o presidente dessas sessões. Agrupavam-se, nestas reuniões, nomes da pintura como: Constantin Guys, Claude Monet, Renoir, Pissarro, Sisley, Cézanne, Bazille, Fantin-Latour. Mas não apenas de pintores se constituía a reunião, contando também com escritores e críticos como Théodor Duret, Paul Alexis, Zacharie Astrux, Duranty, e outros membros, como o musicólogo Edouard Maitre e o fotógrafo Nadar.

Impressionismo no Brasil


O Violeiro, de Almeida Júnior, 1899.


Eliseu Visconti - Moça no Trigal - c.1916

No início do século XX, Eliseu Visconti foi sem dúvida o artista que melhor representou os postulados impressionistas no Brasil. Sobre o impressionismo de Visconti, diz Flávio de Aquino: "Visconti é, para nós, o precursor da arte dos nossos dias, o nosso mais legítimo representante de uma das mais importantes etapas da pintura contemporânea: o impressionismo. Trouxe-o da França ainda quente das discussões, vivo; transformou-o, ante o motivo brasileiro, perante a cor e a atmosfera luminosa do nosso País".

Principais pintores impressionistas brasileiros: Eliseu Visconti, Almeida Júnior, Timótheo da Costa, Henrique Cavaleiro, Vicente do Rego Monteiro e Alfredo Andersen.

Música e literatura

Escala de tons em C Loudspeaker.svg? Escutar: {C, D, E, F#, G#, A#, C} e

Escala de tons em B Loudspeaker.svg? Escutar: {B, D, E, F, G, A, B}.
Música impressionista foi e é o nome dado ao movimento da música clássica europeia que surgiu no fim do Século XIX e continuou até o meio do Século XX. Originando-se na França, música impressionista é caracterizada por sugestão e atmosfera. Compositores impressionistas preferiam composições com formas mais curtas, tais como o nocturne, arabesque, e o prelúdio; além disto, frequentemente exploravam escalas, como a escala hexafônica ou também chamada de tons inteiros.

A influência de impressionismo visual na sua contraparte musical é bem discutida. Claude Debussy e Maurice Ravel são considerados, em geral, os maiores compositores impressionistas. Mas, Debussy não concordou com o termo, chamando-o de invenção dos críticos. Entre outros músicos impressionistas fora da França incluem-se obras de Ralph Vaughan Williams e Ottorino Respighi.

Com Clair de Lune de Debussy e Bolero de Ravel, vemos que há ainda vestígios do Romantismo na música Impressionista.

Literatura

O termo Impressionismo também é usado para descrever obras de literatura nas quais basta acrescentar poucos detalhes para estabelecer as impressões sensoriais de um incidente ou cena. Literatura impressionista é bem relacionada a simbolismo, entre os seus melhores exemplares podemos encontrar: Baudelaire, Mallarmé, Rimbaud e Verlaine.  Autores tais como Virginia Woolf e Joseph Conrad escreveram trabalhos impressionistas de modo que, em vez de interpretar, eles descrevem as impressões, sensações e emoções que constituem uma vida mental de um caráter.  Houve erros aqui. Obs: Estes são simbolistas franceses: Charles Baudelaire, Paul Verlaine, Stéphane Mallarmé, Arthur Rimbaud. Esta: Virginia Woolf é do romantismo inglês. Eça de Queiroz, apesar da sua escrita ser melhor identificada com a vertente realista, pode também aqui ser mencionado. A título de exemplo: na sua obra " Os Maias" podemos encontrar, entre os extensos períodos de descrição inerentes ao seu estilo, tendências deste tipo: são-nos, muitas vezes, primeiro descritas as cores - as impressões dos sentidos - , e só num segundo momento os detalhes a elas associadas, numa tentativa de recriar o mecanismo da percepção humana.

Existem três tendências de análise do Impressionismo literário: a negativista, a comparatista e a narrativista. Em termos simples, é possível dizer que enquanto a negativista é uma crítica e a narrativista uma defesa ao Impressionismo literário, a comparatista é um intermédio das duas posições, tendo muitas vezes argumentos contrastantes no seu meio.

Enquanto o impressionismo pictórico se baseia na ideia de levar ao espectador uma experiência visual que se baseia muitas vezes no contraste de cor, o impressionismo literário cria uma experiência sensorial baseada em sentimentos, expressões, impressões através da escrita. Para tanto, constroem-se os personagens a fim de criar uma compreensão do indivíduo que seja “fragmentada e nuançada”. Dessa forma, quebra-se com um modelo de romance clássico que era então o vigente.

Assim como o impressionismo na pintura, o impressionismo literário também representou uma revolução para literatura. Ambos não se alinham com escolas ou tradições; se opõe à forma de pensar automática e baseiam suas obras na impressão pura. No caso do impressionismo literário, ao utilizar-se de uma expressão no código da língua, esta é atravessada pelas impressões pessoais do sujeito que a escreve e que a lê, sendo repletas de expressões e memórias. Há uma ressignificação do pensamento, então, que passa por situações comunicacionais particulares.

Mas apesar de semelhantes em diversos casos, o impressionismo literário não assume interdependência com o impressionismo pictórico. O termo se mantém o mesmo devido a duas semelhanças básicas: ambos os autores dos movimentos se contrapõe à arte vigente e propõe algo novo frente ao sucesso do estilo vigente; ambos os movimentos se utilizam de uma experimentação específica que seria uma reflexão relacionada à materialidade da arte (no caso do pictórico, as telas “inacabadas” e no caso do literário, as experimentações com a narrativa e o narrador).

Na essência do impressionismo literário encontra-se um conceito baseado na diferença entre a percepção de um fenômeno e seu reconhecimento. A este conceito dá-se o nome de delayed decoding, processo que se utiliza da subjetividade consciente do leitor na obra. Tal processo parte da premissa de que atrasando a informação objetiva, consegue-se que o leitor se utilize de suas próprias impressões subjetivas para então depois apresentar a informação concreta.

O delayed decoding faz uso de uma ordem inversa de apresentação das ideias, quebrando com a linearidade da história. Esse movimento tem a intenção de conectar as subjetividades dos personagens, fazendo com que estes fiquem no mesmo patamar epistemológico que o leitor. Neste sentido o impressionismo literário requer mais de quem lê, já que deixa na confusão os leitores.

É por conta do delayed decoding que a narração se consolida como elemento chave para o impressionismo literário, já que é ele que traz a sensação imediata, a impressão instantânea ao leitor. Neste sentido, o impressionismo literário se diferencia em técnica do impressionismo pictórico por não apresentar apenas uma percepção visual.

A revolução técnica do impressionismo literário se dá em especial no âmbito da narrativa, e contribui para que, no século XX, este movimento ganhe um importante papel na evolução da narrativa como teoria. A narrativa ficcional, no caso, é a mais apropriada na representação da consciência, já que ao invés de imitar a fala de terceiros, a narrativa é, em primeiro lugar, um ato de linguagem. O nivelamento epistemológico entre leitor e narrador ocorre em especial por conta da autonomia da linguagem verbal no impressionismo literário.

Usa-se constantemente o termo “sensação” dentro do impressionismo literário, da mesma forma como ele é usado frequentemente no impressionismo pictórico. Isso porque a noção de sensação é a que define a impressão, que se trata de um efeito sobre o sentido. A sensação é o elemento que funda o sentimento do receptor que observa, ou no caso do impressionismo literário, que lê.


Pantocrator.I.2017


Pantocrator.I

O Tipo Iconográfico do Pantocrátor

Introdução

O tipo iconográfico de Cristo Pantocrator é um dos mais significativos da iconografia oriental, e também o mais difundido, a ponto de se tornar quase o único tipo de Cristo que se encontra não só nas cúpulas e nas absides das igrejas, mas também sobre selos, moedas, marfins, evangeliários e outros objetos litúrgicos; é encontrado nas cenas históricas que representam Cristo nos diversos momentos da sua vida de adulto, nos diversos milagres que constelam a sua missão na Palestina da época; é encontrado sobretudo em inúmeros ícones oferecidos à veneração dos fiéis nas iconostases das igrejas e nas casas particulares. Quer esteja presente em mosaico, em afresco ou em ícones grandes ou pequenos, o tipo transmite, ao menos do século VI em diante, a mesma e idêntica figura de Cristo, reconhecível mesmo quando faltam as inscrições que normalmente devem acompanhá-la; e isso até os nossos dias.

O Cristo representado em todos os ícones é o Cristo adulto, com trinta anos de idade mais ou menos. Distingue-se pela mesma estatura do corpo, os mesmos traços somáticos - em especial os do rosto -, as mesmas roupas: todos esses traços que convergem num retrato ressaltam a sua figura histórica real; outros traços, como os símbolos e as inscrições, têm valor de retrato espiritual que põem em destaque a sua realidade de pessoa atualmente viva, transfigurada, divina e salvífica.

O ícone transmite, assim, o dogma cristológico das duas naturezas humana e divina - unidas na única Pessoa do Verbo: Filho de Deus e Deus ele próprio, consubstancial ao Pai.

Significado do nome

A esse tipo de imagem de Cristo é dado o nome genérico de «Pantocrator» tão rico de significados. O termo grego, traduzido geralmente por «Onipotente», mas que é melhor traduzir pela expressão «Oniregente», ou «Aquele que tudo rege», é um termo que se encontra já na literatura pagã. É encontrado na versão grega dos Setenta que o retoma para traduzir a expressão «Sabaoth», conferindo-lhe o significado de Deus «Dominador de todas as potências terrestres e celestes».

No Novo Testamento, o termo se encontra referido preponderantemente ao Pai, mas já no Apocalipse refere-se indiretamente também ao Verbo encarnado, Redentor e Juiz universal (cf. Ap 11, 17; 21, 22). Nas suas Cartas, os apóstolos Pedro e Paulo propõem o tema do domínio absoluto de Cristo sobre toda a criação. «Jesus Cristo» - escreve Pedro -, «tendo subido ao céu, está à direita de Deus, estando-lhe sujeitos os anjos, as Dominações e as Potestades» 1Pd 3, 22). São Paulo, por sua vez, fala da «submissão de todas as coisas» (1Cor 15, 28) ao Cristo ressuscitado, afirmando que «para isto Cristo morreu e reviveu: para ser o Senhor dos mortos e dos vivos» (Rm 14, 9).

Os Padres da Igreja, que retomam o termo no início do símbolo niceno-constantinopolitano, aprofundam seu significado e ao mesmo tempo justificam a sua atribuição ao Filho. Gregório de Nissa, por exemplo, assim explica a riqueza de conteúdos do termo:

«Quando ouvimos o termo 'Pantocrator', 'Aquele que tudo rege', compreendemos com a mente que Deus mantém no ser todas as coisas: tanto as de natureza inteligível como as de natureza material. Por isso ele contém o universo; por isso tem nas mãos os confins da terra; pelo mesmo motivo ele avalia os céus com o palmo (d, 1s 40,12); por isso ele mede o mar com a mão; e também por isso abrange em si toda criatura inteligível, a fim de que todas as coisas permaneçam no ser, contidas por meio do poder que tudo abraça...»

E acrescenta:

«Quem é aquele no qual todas as coisas foram criadas e no qual tudo permanece, em quem vivemos, nos movemos e somos? Quem possui em si mesmo tudo isto que é do Pai? Não sabemos ainda, por tudo que foi dito, que aquele que é Deus sobre todas as coisas, como diz são Paulo, é nosso Senhor Jesus Cristo? Ele tem nas mãos todas as coisas do Pai, como ele mesmo diz; ele abrange absolutamente tudo com o seu amplíssimo palmo; ele rege todas as coisas que abrange e ninguém as tira da mão daquele que tudo rege. Se, pois, ele possui tudo e rege o que possui, quem é ele senão o Pantocrator, aquele que tudo rege.»

Padre Carmelo Capizzi, que escreveu a monografia mais completa sobre o Pantocrator, resume assim o pensamento dos Padres a respeito do termo:

«A Patrística, fundando-se sobre dados do Antigo e do Novo Testamento e utilizando algumas noções e expressões da filo helenística, determinou o conceito de Pantocrator, vendo nesse epíteto divino quatro elementos conceituais: a 'onidominação', a 'onicompreensão', a 'onicontinência', e a 'onipresença'. Deus, em outras palavras, é Pantocrator porque 'domina sobre toda a criação', 'conserva tudo no ser', 'abrangendo e contendo tudo em si' e, por conseguinte, 'penetrando e enchendo tudo de si', através da sua onipotência. Além disso, a Patrística tem o mérito de ter ampliado o sujeito de atribuição de Pantocrator, passando de Deus indistintamente e Deus Pai a uma atribuição consciente e justificada ao Filho como Logos somente, ao Filho como Logos encarnado e ao Espírito Santo. Essa extensão foi fundada na identidade de natureza das três Pessoas divinas, da qual se originava uma verdade que foi formulada incisivamente por Santo Atanásio: "O mesmo Pai pelo Verbo no Espírito tudo opera e concede».