sexta-feira, 29 de julho de 2016

A JORNADA INACIANA E A VIDA PÚBLICA DE JESUS NUMA PERSPECTIVA LATINO-AMERICANA (EE. 136-168)


A JORNADA INACIANA E A VIDA PÚBLICA DE JESUS NUMA PERSPECTIVA LATINO-AMERICANA (EE. 136-168)

Pe. J. Ramón F. de la Cigoña, SJ

1 - Objetivos Dessa Etapa:

Não parece adequado chamar de jornada inaciana essas meditações de Duas Bandeiras (EE 136-148), Três classes de homens (149-157) e os Três graus de humildade (163-168). A jornada inaciana, propriamente dita, são os Exercícios de 30 dias. Essa parte que tratamos deveríamos chamá-la como o livrinho dos EE diz: preâmbulos para considerar estados (EE 135).

O objetivo destes dias é aprofundar no seguimento de Jesus pobre e humilde, como caminho de liberdade para descobrir e realizar a vontade do Pai.

“Fazer-se pobre”, “empobrecer-se” o critério, norma e objetivo de todo autêntico discernimento e que Inácio coloca ao exercitante. Lembramos aqui o grande objetivo dos EE. Formar cristãos alimentados por uma experiência pessoal de Deus, capazes de se afastar dos falsos absolutos (ideologias, sistemas, propostas...), capazes de colaborar na mudança de estruturas sociais e culturais necessárias (CG. 32. 4,58) para o bem-estar de todos.

“Fazer-se pobre” é alcançar a liberdade necessária para ordenar a própria vida segundo o Projeto do Pai e entregá-la, por amor, a Jesus, como serviço à causa do Reino, para que todos tenham vida em plenitude.

A liberdade, como ensinam os EE, é absolutamente inseparável da pobreza e é impossível sem ela (CG. 33. 1,23). Sem pobreza não pode dar-se a liberdade requerida para ordenar a vida pelo discernimento.

Os EE pretendem conseguir, pela ação do Espírito Santo, aquela libertação que nos faz pobres no seguimento de Jesus pobre, para anunciar a Boa Nova da Libertação aos pobres.

Os EE ajudam a ordenar a própria vida, não para uma satisfação e tranqüilidade pessoal, individualística, mas para perdê-la, entregando-a, no serviço de Jesus e do Evangelho. A perspectiva é, pois, apostólica: o Reino de Deus.

Esta etapa dos EE ocupa o 4º dia (alguns diretores costumam fazê-lo em 2 ou 3 dias). Começa à meia-noite e até as vésperas farão as “Duas Bandeiras”, com 3 repetições. Os “Binários” são a última oração do dia, antes do jantar, e correspondem à aplicação dos sentidos aos critérios do discernimento (aclarados nas Duas Bandeiras) e aplicados à situação atual do exercitante. É preciso conferir se há liberdade suficiente que permita ao exercitante discernir, segundo os critérios evangélicos de pobreza e humildade, e que marca, de modo definitivo, os seguidores da bandeira de Jesus.

O 3º grau de humildade é uma consideração a ser feita durante essa etapa ou no mesmo 4° dia.

A entrada em eleição deve começar na manhã do 5° dia, com a contemplação de Jesus que se despede de sua mãe e vai de Nazaré para o Jordão, para ser batizado (EE 158-159.273).

O desejo de pobreza, o fazer-se pobre para aproximar-se mais de Jesus e parecer-se mais com Ele (ser colocado com o Filho) e assim segui-lo melhor, é a petição e a nota central de todos esses exercícios (e também daqueles da 3ª Semana, que buscam a confirmação destas suas opções).

2 - A Meditação das Duas Bandeiras:

Algumas breves considerações para nos situar melhor no pensamento e na teologia desse exercício:

O 1° preâmbulo considera a “história” que vamos meditar. Que modo de ver e compreender a realidade e a vida se esconde por detrás desse “olhar histórico”?

O texto de Sto. Inácio é, à primeira vista, singular e estranho, cheio de símbolos e imagens. É como um grande díptico de um belo quadro.

Os símbolos castrenses, militares, que aparecem na meditação (duas bandeiras, campo, sermão, jornada, sumo capitão geral, mau caudilho...) não são meros restos de experiências pessoais do velho Inácio, agora revestidas de um sentido espiritual. A dimensão teológica é maior e mais profunda (cf. El contenido teológico de la meditación de las 2 banderas: combate espiritual y combate teológico, Joaquin Losada, Madrid, 1983). Lembremo-nos de que a S. Escritura também usa esses símbolos castrenses (1 Tes 5,8; Ef 6, 14-17; 2 Cor 10, 13s.;1 Tim 1,18; 6, 12) para exortar a determinados comportamentos cristãos. As raízes da simbologia castrense dessa meditação encontram-se, pois, na ideologia apocalíptica que envolve o nascimento do cristianismo (Jerusalém - Babilônia) e de todo cristão (experiência de ser um “homem novo” feita pelo próprio Inácio!), combate escatológico que antecede ao Reino de Deus (Apoc 17-21).

2.1 - Os Símbolos Apocalípticos da Meditação:

As duas cidades: Babilônia e Jerusalém. A primeira é a “morada dos demônios” (Apoc 18,2). Personificação do pecado e a oposição a Deus.

Também é Roma como força opressora e perseguidora da Igreja (1 Pe 5, 13).

Jerusalém é a “cidade santa, que desce do Céu” (Apoc 21,2.10), “a morada de Deus entre os homens” (Apoc 21.3), “a noiva e a esposa do Cordeiro” (Apoc 21,9), Igreja fundada sobre os 12 apóstolos (Ef 2,20).

O confronto radical entre o bem e o mal faz parte do pensamento apocalíptico e estrutura, dialeticamente, a meditação inaciana: Cristo e anticristo; Reino e anti-reino!

Os 2 chefes: Lúcifer. “Quem adora a besta e a sua imagem e aceita sua marca na sua testa ou na sua mão, a ela pertence” (Apoc 14, 9-11). É o inimigo da natureza humana, o pai de toda mentira! O pecado e suas moções destroem o homem.

Cristo: embora Inácio não o revista de rasgos apocalípticos, seu aspecto profundo e radicalmente humano corresponde à realidade escatológica que anuncia a Boa Nova do Reino de Deus.

O horizonte de universalidade (...inumeráveis demônios... por todo o mundo... todos os estados e condições...) é uma das características do pensamento apocalíptico. O plano salvífico alcança o homem e a história na sua totalidade.

Dialética do homem velho e do homem novo: A salvação do homem acarreta e traz consigo a salvação do mundo! “Redes e correntes” reduzem a liberdade do homem!

2.2 - Conteúdo Teológico da Meditação:

A “história” que se quer meditar é a própria história na sua realidade atual, compreendida como história de salvação.

A ação salvadora de Deus, por seu Filho Jesus Cristo, realiza-se num mundo dominado, construído e subjugado pelo pecado. Daqui a necessidade de identificação e seguimento que se fazem presentes na própria vida.

Essa “história” é comunitária e está em processo de realização até chegar à sua plenitude no Reino de Deus.

É preciso que o homem e todos os homens tenham vida em plenitude. Daí a necessidade de se comprometer.

O objetivo dessa meditação é verificar as disposições da inteligência, apresentando, pois, os dois caminhos, seu processo e finalidade. A conclusão lógica e espontânea deveria ser aquele grito de Inácio “Coloca-me com o Teu Filho!”, coloca-me com todos aqueles que são os prediletos de Jesus!

1.3. Sua Aplicação Latino-Americana:

Seguir Jesus significa colaborar com Ele na edificação da nova sociedade onde aconteçam, de fato, relações novas de fraternidade, justiça, serviço e solidariedade como filhos que somos do mesmo Pai. Deixa-se a segurança aparente do “ter” e do “poder” e se opta por um estilo de vida simples, partilhando fraternalmente o que se tem. Estar sob a bandeira de Jesus é estar sob a bandeira dos pobres!

“Cristo, supremo chefe”, encontra-se no pobre e no oprimido, identifica-se com eles e aparece, “sacramentalmente”, com rostos tão diferentes, deformados e destruídos que parece quase impossível descobri-lo, a não ser pela fé. Os pobres são, realmente, o verdadeiro sacramento do nosso Deus escondido e comprometido!

Os discípulos são todos aqueles que acolheram no seu coração a semente do Reino: a igreja, os agentes de pastoral, nossos mártires latino-americanos.., todos eles legitimas testemunhas que manifestam, com suas vidas, que o Reino de Deus já está no meio de nós.

O discurso que ele faz é a proposta do Reino, a mudança de tudo o que não serve para a comunhão e a participação... Isso, hoje, se faz por meio das CEBs, Círculos Bíblicos, Campanhas, Liturgias, meios de comunicação alternativos etc.

A bandeira do Maligno absolutiza todos os relativos que nos dividem: a lei, o poder, as estruturas, a religião... visando apenas o próprio proveito. Carece de uma visão fraterna da vida. Usa o poder e a força para separar, dividir... Leva as pessoas a se fazerem fiéis nas coisas mínimas e infiéis nas principais. Não confiam em Deus, nem nos outros, mas somente no dinheiro e no que ele pode alcançar. Não se comprometem com Deus, nem com os outros e quando se aproximam dos pobres o fazem desde o poder e os poderosos. Querem “ter”, querem “valer” e “ser” só para si mesmos. Identificam-se, não como seres relacionais dependentes de Deus, mas como seres autônomos, independentes e isolados.

Lúcifer, hoje, se nos apresenta encarnado em estruturas de opressão e pecado. E o capitalismo selvagem ramificado em multinacionais que empobrecem o homem e seu “habitat”, só se importando com lucros imensos, sem se interessar pela sua procedência e a sua ética.

Cobiça de riquezas se traduz, no nosso meio, pelo desejo desenfreado de possuir e ganhar muito dinheiro com pouco trabalho: negócios desonestos, tráfico de drogas, cassinos, loterias, etc. Quando toda uma vida está orientada para o lucro e não para a fraternidade, parece que se vive essa dimensão do campo de Satanás.

Campo de fumaça é tudo aquilo que confunde a cabeça e faz abandonar os critérios do Projeto de Deus: ideologias, falsas propagandas de desenvolvimento e de felicidade, manipulação da opinião pública...

Discurso que ele faz é o mal se propagando pelos meios de comunicação social, pela mentira, manipulação, abuso de poder, gestos e atitudes que não trazem vida nem partilha.

O homem que coloca Deus no centro de sua vida e não se entrega totalmente às coisas do mundo, e isso para sempre, será tido por bobo, retardado, impotente e inútil.

Como apresentar essa meditação de sorte que possa produzir seus frutos?

Não há dúvida de que essa meditação é fundamental para a nossa realidade latino-americana. O bem e o mal andam entrelaçados. Não existem parâmetros claros de discernimento. Muitas vezes o que é bom é considerado como mau e o que é mau é apresentado como bom. É preciso ter a coragem de apresentar os critérios e os valores evangélicos tais como eles são, desmascarando todo condicionamento, de modo que possamos experimentar a vida verdadeira e seus frutos de justiça, libertação, participação e comunhão. Toda árvore se conhece pelos seus frutos! Analisando criticamente os frutos do bem e os frutos do mal, poderemos tomar decisões mais objetivas, comunitárias e populares.



2.4 - Alguns textos para meditar as “Duas Bandeiras”:

Trata-se aqui de apresentar o Reino e o anti-reino: Lc 6,20-26 As bem-aventuranças; Mt 6,26 Os 2 senhores; Lc 4, 1-17 Tentações de Jesus; Jr 1 Vocação; 2 Cr 11,21 ss Paulo faz sua apologia; 1 Jo 2, 15-17 Condições para seguir Jesus; Sl 2 Nações em tumulto; Sl 9 Deus ao lado dos justos; Cl 1, 24-29 “Completo o que falta à Paixão...”; Sb2 Ímpios e justos; Lc 18,18-28 O jovem rico; Is 1, 10-23 “Cessai de fazer o mal, aprendei a fazer o bem...” ; Fil 2, 5-11 “Humilhou-se a si mesmo...”; 1 Cr 1, 22-2,2 Sabedoria do mundo reprovada pela sabedoria de Deus; Mc. 8,31-38 “Não tendes gosto pelas coisas de Deus mas...“; Mc 10, 42-45 “Quem quiser ser o maior...”; Mt 5,3-10 “Sois o sal da terra e a luz...”; Lc 4, 1-10 Tentações de Jesus; Apoc 12 A mulher e o dragão...

3 - Três Binários:

Essa meditação tem como objetivo verificar a disposição da vontade, percebendo quais os meios utilizados para chegar a uma maior comunhão e solidariedade, examinando os apegos e as resistências diante do caminho de Deus. Coloca em evidência as possíveis afeições desordenadas.

Não se trata de matar os afetos, mas de ordená-los, mudá-los, substituí-los para que o amor se transforme em história e serviço. No fundo do próprio eu nasce uma pergunta: O que realmente eu quero e busco? ... Tenho capacidade de liberdade? ... E de coerência?...

Deixar o afeto não é não querer, mas querer não ser movido por ou pela coisa, mas somente por Deus:

DEUS
                                    ordenada

Afeição

                                    desordenada

Coisa adquirida

Os 3 Binários são 3 pessoas divididas nos seus afetos: carnais e espirituais.

Os afetos experimentam uma verdadeira dialética entre o desejo espiritual de fazer a vontade de Deus e as resistências e apegos sensíveis da própria natureza. Se não há verdadeira generosidade, é inútil tentar fazer uma eleição. Pois é impossível querer o fim e não querer os meios para alcançá-lo!

3.1 - Sua aplicação latino-americana:

O primeiro grupo pode até admirar a mensagem e a pessoa de Jesus, mas não chega a colocar nada em prática. Não emprega os meios necessários para viver o profetismo (denúncia / anúncio) e se comprometer, seriamente, com todos aqueles que buscam maior libertação. Vive-se alienado pela ideologia do sistema, seduzido pelo consumismo e pela ambição do poder, ficando impedido de pôr em prática o Evangelho, como Jesus e a Igreja o entendem.

Existem muitas razões aparentes e falsos condicionamentos para ficar, perpetuamente, nesse primeiro grupo de homens que não querem se comprometer, nem abandonar mil formas erradas de viver a fé. Destacamos alguns sentimentos que mais amarram, tendo em conta o nosso contexto latino-americano:

- Acomodação, apoiando-se naquelas seguranças humanas, sempre conhecidas e pouco assumidas e que impedem de viver, livremente, a fé e de se solidarizar com todos aqueles que não têm voz nem vez.

- Medo, receio de se posicionar ou denunciar, alegando desinformação ou outras razões semelhantes. Temor de perder o poder, o prestígio, os privilégios adquiridos, amigos, ajudas financeiras...

- Espiritualismo desencarnado, vivendo uma religião ou expressão de fé desligada da vida, do contexto social, cultural, político e econômico que o rodeiam. A preocupação obsessiva pelo “Deus invisível” pode ser uma bela fuga do “Deus feito carne”, sempre mais próximo, inoportuno e enfadonho.

- Insegurança diante das diversas eclesiologias existentes e da própria ambigüidade da Igreja.

O segundo grupo quer trabalhar pelo Reino de Deus mas não aceita as conseqüências que isso traz consigo. Pode-se comprometer com Jesus e com os pobres, mas de um modo intimista. Pode chegar até a pensar em dar a vida “por” Jesus, mas não “com” e “como” Jesus: por todos os homens. Não faz uma opção real pelos pobres. Não vive a encarnação!

O terceiro grupo decidiu ser cristão para valer, definindo-se explicitamente por Jesus e pela sua causa. Evidentemente que optando por Jesus, opta, também, pelas conseqüências desta escolha: encarnação, os pobres e os oprimidos. Identifica-se de tal modo com Jesus que se solidariza totalmente com o seu projeto de evangelização e libertação. A conseqüência imediata disso será a perseguição e a humilhação por causa de Jesus.

3.2 - Textos Bíblicos:

Jo 1,14.17 “O Verbo se fez carne...”; Mt 17,20 “Se tiverdes fé como um grão de mostarda...”; Lc 10,33-37 “O Samaritano movido de compaixão...”; 2 Tm 3,12 “Os que viverem piamente sofrerão perseguições...”; Mc 14,16-24 Convidados que se escusam...; Mt 19,16-22 O jovem rico; Mt 19,27-29 “Nós que deixamos tudo...”

4 - Os Três Graus de Humildade:

A humildade não é uma certa modéstia, mas um abaixar-se para obedecer em tudo o Senhor. É disponibilidade absoluta, indiferença verdadeira que nos faz livres para nos apaixonarmos mais pela vontade de Deus e realizar melhor o seu projeto. Essa consideração tem com objetivo verificar a disposição do afeto, apresentando os diversos níveis de amor e desejo de seguir e servir o Senhor: obediência, indiferença (liberdade interior!) e identificação (opção!) com Cristo pobre, humilde e solidário com os pobres e humilhados do nosso continente.

Os Três graus de humildade são um verdadeiro teste sobre a adesão do coração no seguimento radical de Jesus, no compromisso de realizar o projeto do Pai com a entrega do que se tem e do que se é, propriedade, liberdade e / ou prestígio como conseqüência da opção pelo Reino e a justiça.

Os Três graus de humildade são, na sua raiz, graus de compromisso com o pobre.

Não parece que tudo o que é agradável deva ser rejeitado e tudo o que é desagradável deva ser procurado pelo mero fato de ser desagradável, a não ser que algum motivo justo de serviço e glória divina mande o contrário seja a melhor interpretação do 3º grau de humildade, se não queremos ficar numa perfeição ascético-moral mais próxima do judaísmo e do estoicismo do que do cristianismo.

O 3º grau de humildade nos prepara para entender e sobretudo viver o espírito da 3ª Semana. Não é fácil viver o despojamento total e enfrentar com serenidade as perseguições e humilhações mas podemos rezar com o Cardeal Newmann: Senhor, eu não posso pedir a humilhação pois sou débil. Mas eu creio, confesso minha fé profunda no Reino da humilhação que será o melhor meio de me aproximar de Ti e de transformar o mundo. Por isso Te peço que quando chegue a humilhação eu a possa levar.

Esse 3º grau de humildade ou de amor perfeitíssimo se traduz como ajuda e serviço aos outros. Serviço apostólico que busca sempre o magis. Sem dúvida alguma, a história tem mostrado que todos aqueles que se colocaram a serviço dos outros, por causa do Reino de Deus, foram perseguidos e insultados e muitos deles perderam até a própria vida.

4.1 - Sua Aplicação Latino-americana:

A perseguição e a humilhação são a conseqüência lógica dos seguidores de Jesus, daqueles que fizeram uma opção pelo pobre. Não deve nos assustar, mas nos alegrar, pois só chegaremos à salvação e à maturidade humana quando formos capazes de enfrentar e dar um sentido novo à perseguição e à humilhação. Esse modo de amar (de dar a vida!) não se aprende na teoria, mas no contato íntimo com Jesus (na contemplação dos seus mistérios!) e ao lado dos pobres (na práxis libertadora!).

Podemos até concretizar esses 3 graus em 3 opções:

1 - Nada farei que me separe de Cristo, dos pobres e da Igreja.

2 - Farei tudo o que mais me aproximar de Cristo, dos pobres e da Igreja.

3 - Farei o que mais me identifica com Cristo, os pobres e a Igreja, percorrendo o caminho que Ele fez.

5 - A Cristologia desta nossa etapa:

Nossa Cristologia se coloca com os seguintes matizes e acentos:

- Seguir Jesus na realização do que foi o centro de sua vida: que todos tenham vida dentro de um povo de irmãos. Essa é a vontade de Deus!

- Apresentar a vida conflitiva de Jesus como conseqüência pelo seu compromisso de anunciar o Reino de Deus.

- Falar da pobreza, não tanto como uma perfeição ascético-moral a ser alcançada, mas como um lugar e uma ótica a partir dos mais pequenos e abandonados.

O colóquio fundamental das Duas Bandeiras e a petição de Inácio de ser colocado com o Filho é a oração da Companhia de ser colocada com os prediletos de Jesus, os pobres e os pequeninos.

- Apresentar uma espiritualidade do seguimento (assumindo a causa e o destino de Jesus!), acentuando as dimensões de encarnação e ao mesmo tempo de abertura ao transcendente (práxis e oração).

-Aproximarmo-nos da Palavra de Deus com uma atitude interior de fé. A Escritura ensina, desafia e corrige nossas atitudes.

No final desta breve reflexão colocamos algumas perguntas:

- Quais os destaques dessa Semana dos Exercícios que mais o animam?
- Quais os destaques que mais o amedrontam?

- Quais os dinamismos que mais lutam dentro de você assinalados como experiência dessa etapa? Poderia aprofundar mais indicando o funcionamento, estruturas e raízes desses dinamismos? Quais as conseqüências que experimenta quando se deixa levar por algum deles?

- Por que a insistência nas “injúrias, perseguições e pobreza” nessa etapa do caminho interior dos Exercícios?

- Quais são, na América Latina, essas “Duas Bandeiras”?

Bibliografia

José Magafia, SJ, Jesus Liberador - Hacia una espiritualidad de los empobrecidos, México, 1985, pp 249-246.

Roberto Treviño, En el camino de la realización - La jornada inaciana, CIRE (1985) 2 pp 5-24.

Diogo Bernal, Binários y maneras de humildad - Lecturas desde la experiencia, CIRE, 1985, pp 55-61.

Javier Osuña, Tierra fertil de hombres fuertes, CIRE (1985) 2, pp. 25-54.


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