quarta-feira, 25 de maio de 2016

Miqueias


Miqueias

 

Miqueias era natural de Moréchet (1,1), provavelmente Moréchet-Gat, uma aldeia de Judá, 35 km a sudoeste de Jerusalém, numa região próxima da Filisteia. Era uma terra de camponeses, mas não isolada, uma vez que à sua volta se encontravam fortalezas importantes de Judá (Azeca, Marecha e Láquis). As incursões assírias e todos os problemas relacionados com militares e funcionários reais que acudiam àquela zona geravam instabilidade e abusos, de que as principais vítimas eram os pequenos proprietários de terras.

 

Nada sabemos do estatuto social de Miqueias. Era certamente alguém ligado à terra, e as suas críticas contra os nobres da época fazem supor que se tratava de um camponês pobre, de um trabalhador da terra ou de um pequeno proprietário. O seu nome significa: “Quem é como o Senhor?”

 

ÉPOCA

 

O título do livro situa a atividade do profeta nos reinados de Jotam, de Acaz e de Ezequias; quer dizer, entre 740 e 698 a.C., aproximadamente. As suas intervenções contra a injustiça social e a exploração a que são votados os camponeses enquadram-se perfeitamente nesta época. No entanto, é difícil precisar a sua acção nos tempos de Jotam e de Acaz. Certo é que 1,2-7 supõe a existência da Samaria e, portanto, o profeta actuou antes da sua queda em 722 a.C.. A tradição contida em Jr 26,18 afirma que Miqueias desenvolveu o seu ministério em tempos de Ezequias; por conseguinte, podemos situá-lo algum tempo antes da queda da Samaria (722-701 a.C.).

 

Miqueias atuou no reino do Sul na mesma altura de Isaías. Experimentou pessoalmente as várias incursões assírias deste período e os problemas de ordem militar, política e social. Dá-nos uma visão pessimista da sociedade: as maquinações dos latifundiários (2,1-5), a situação das viúvas e dos órfãos desamparados e sem patrimônio (2,8-10), a ambição desmedida dos dirigentes e consequente exploração do pobre (3,1-4), os juízes corruptos (3,9-11) e os profetas subornados (3,5.11), a desconfiança geral, mesmo no interior da própria família (7,5-6).

 

DIVISÃO E CONTEÚDO

 

O livro apresenta-se dividido em quatro partes, onde alternam ameaças e promessas. Esta organização do texto pode ser atribuída a redatores posteriores e a autenticidade de algumas secções é discutível. Muitos pensam que houve releituras dos oráculos de Miqueias no tempo do Exílio. Mas, tal como o texto se apresenta, desenvolve-se do seguinte modo:

 

I. Ameaças (1,2-3,12). Começa com um discurso motivado pelos pecados de Jacob e de Judá (1,2-7), que provocam a ruína da Samaria e de Judá; denunciam-se os ricos, os grandes proprietários e os opressores dos pobres, os falsos profetas, os chefes e os sacerdotes (cap. 2-3).

 

II. Promessas (4,1-5,14). Estes capítulos centram-se no tema da salvação.

 

III. Ameaças (6,1-7,7). O cap. 6 abre com um processo entre Deus e o seu povo, a que se seguem duros ataques contra a injustiça e a falsidade.

 

IV. Promessas (7,8-20). O livro termina com o reconhecimento das culpas por parte do povo (7,8-10), um oráculo de salvação (v.11-13), uma súplica (v.14-17) e a certeza do perdão (v.18-20).

 

TEOLOGIA

 

Miqueias usa uma linguagem viva e dinâmica, tornando-se um dos grandes defensores da justiça. Preocupa-o a situação daqueles que, espoliados dos seus bens, se convertem em presa fácil na mão dos poderosos. Estes são os grandes proprietários de terras, as autoridades civis e militares, os sacerdotes e os falsos profetas; são os que se baseiam no automatismo das promessas divinas, os que pensam estar seguros, invocando as grandes tradições de Israel. Do outro lado temos o povo, vítima dos desmandos dos poderosos: os que não têm terras nem casas, os órfãos e todos os oprimidos.

 

Deus não pode ficar impassível. Por isso, Miqueias anuncia o castigo a Jerusalém e à Samaria, principais focos das injustiças e arbitrariedades e da duplicidade de interpretações das tradições antigas.

 

Mas o profeta reconhece também a validade das promessas; por isso proclama a esperança num futuro de justiça para o resto de Jacob, pelo caminho da humildade e da conversão. Não se limita, pois, a denunciar e a anunciar o castigo, mas também promete a conversão e a salvação.

 


 

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