quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Tempo Comum


O TEMPO COMUM
José Wilmar Dalla Costa
 


Este período do Ano Litúrgico é denominado de Tempo Comum porque ocorre fora ou entre os dois tempos centrais: Advento-Natal e Quaresma-Páscoa. No Natal celebramos o mistério da Encarnação do Filho de Deus. Na Páscoa celebramos o mistério da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor.

O fato de ser chamado “Tempo Comum” não significa que seja menos importante. Antes mesmo de serem organizadas as festas anuais da Páscoa e do Natal, com seus tempos de preparação e prolongamento, o Tempo Comum foi a primeira realidade celebrativa do Mistério Pascal. Na vivência das primeiras comunidades existia apenas a sucessão dos domingos e semanas ao longo do ano, tendo o domingo como dia maior que reunia os cristãos em torno da Eucaristia. O domingo era o dia, por excelência, para fazer memória da Páscoa do Senhor. Quando, mais tarde, foram organizados os tempos da Páscoa e do Natal, foi para celebrar com mais intensidade, num tempo determinado, os mistérios fundamentais da fé cristã.

Tanto para as primeiras comunidades como para nós, hoje, o domingo é nossa Páscoa semanal. No primeiro dia da semana ou no oitavo dia, nos reunimos, em assembleia litúrgica, para celebrar a Páscoa do Senhor. O Tempo Comum está dividido em duas partes. A primeira parte começa no dia seguinte à festa do Batismo de Jesus e vai até a terça-feira antes da Quarta-feira de Cinzas, quando tem início a Quaresma. A segunda parte do Tempo Comum recomeça na segunda-feira depois de Pentecostes e se estende até o sábado que antecede o primeiro domingo do Advento, quando tem início um novo Ano Litúrgico.

O Tempo Comum ocupa a maior parte do Ano Litúrgico. É formado por 33 ou 34 semanas, distribuídas entre dois tempos especiais: o Natal e a Páscoa. O Primeiro Domingo do Tempo Comum é ocupado pela festa do Batismo de Jesus e, às vezes, pela solenidade da Epifania e, por isso, a festa do Batismo é celebrada na segunda-feira. O 34º Domingo do Tempo Comum é substituído pela solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo.

Os primeiros domingos do Tempo Comum têm uma ligação maior com a festa da Epifania. Convida-nos a adorar o Senhor que se manifesta anunciando a sua missão e chamando os primeiros discípulos. Em seguida, nos demais domingos, ao acompanhar cada Evangelho, recordamos as palavras e ações que marcaram a missão de Jesus. Os últimos domingos acentuam a dimensão escatológica do Reino, ou seja, o fim dos tempos, alimentando nossa esperança na vinda gloriosa do Senhor.

No Tempo Comum celebramos o Mistério de Cristo em sua totalidade, ou seja, encarnação, vida, morte, ressurreição e ascensão. Não celebramos um aspecto do Mistério de Cristo como, por exemplo, a encarnação, mas todo o Mistério de Cristo ou o conjunto da História da Salvação. A totalidade do Mistério de Cristo é celebrado em cada Domingo, Dia do Senhor.

Em alguns domingos, a recordação (memória) da missão de Jesus cede espaço para a celebração de algum mistério da vida do Senhor, de Maria e dos Santos, como: Santíssima Trindade, São Pedro e São Paulo, Assunção de Maria, Todos os Santos. E também quando coincidem com o domingo: a festa da Apresentação do Senhor, Transfiguração do Senhor, Natividade de João Batista, Exaltação da Santa Cruz, Nossa Senhora Aparecida, Comemoração de todos os fiéis defuntos.

O que caracteriza cada Domingo do Tempo Comum é o Evangelho do dia. O mistério de Jesus vai sendo revelado e nós vamos sendo convidados a aderir mais profundamente à sua pessoa e à sua causa que é o Reino de Deus. Os evangelhos estão organizados dentro de um ciclo de 3 anos, chamados de ano A, B e C, ou seja, Mateus: Ano A; Marcos: Ano B e Lucas: Ano C.

No 2º Domingo do Tempo Comum o texto do Evangelho proclamado é do início do Evangelho segundo João. Assim: Ano A: Jo 1,29-34; Ano B: Jo 1,35-42; Ano C: Jo 2,1-11. Também, no Ano B, do 17º ao 21º Domingo, os textos do Evangelho são tirados do capítulo 6 de João.

Em razão do calendário litúrgico não ser fixo, as solenidades do Tempo Comum que ocorrem depois do Tempo Pascal têm por referência a solenidade de Pentecostes. Assim: Solenidade da Santíssima Trindade, no 1º Domingo depois de Pentecostes; Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, na quinta-feira depois da solenidade da Santíssima Trindade; Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, na sexta-feira após o 2º Domingo depois de Pentecostes; Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo, no último Domingo do Tempo Comum (em fins de novembro).

No Tempo Comum, a cor litúrgica é o verde. Simboliza a esperança, a paz, a serenidade. A cor verde nos diz que é tempo de crescimento, de amadurecimento no seguimento de Jesus Cristo. É tempo de produzir abundantes frutos.

A ESPIRITUALIDADE DO TEMPO COMUM

O “comum” se distingue do extraordinário, do festivo. No Ano Litúrgico, como em nossa vida, existem tempos fortes de festa e tempos comuns. O que fazer para que o Tempo Comum não se transforme em tempo de rotina?

a) Alimentar nossa vida na fonte dos tempos fortes do Natal e da Páscoa.

O Cristo que nasceu, se manifestou, morreu e ressuscitou quer nascer, crescer e produzir muitos frutos em nossa vida. O Mistério de Cristo, celebrado em cada Domingo, impulsiona o nosso crescimento e amadurecimento na vida espiritual ou vivência cristã. Nessa caminhada, contamos com a luz do Espírito Santo que vai gerando em nós uma vida conforme o Evangelho do Senhor.

b) Valorizar o Tempo Comum como tempo comum.

Isso significa encontrar o extraordinário no comum. Como no Ano Litúrgico, em nossa vida nem sempre temos grandes acontecimentos. Importa aproveitarmos as menores coisas para aí percebermos as coisas grandes, as realidades permanentes e eternas. O Tempo Comum, na experiência semanal da Páscoa pela celebração do Domingo, nos proporciona mais tempo para refletir sobre as coisas comuns da vida cotidiana. Assim, vamos descobrir que as pequenas coisas se tornam grandes, quando feitas com amor. E tudo se transforma em dom precioso de Deus: o raiar de um novo dia, o trabalho, o encontro com as pessoas, o desabrochar de uma flor, a refeição, o lazer...

c) Viver o dia-a-dia como tempo de graça e salvação.

O Tempo Comum nos reconcilia com as coisas normais e nos ajuda a descobrir o dia-a-dia como tempo de graça e salvação. É no cotidiano da vida que damos prova de nossa fidelidade ao Evangelho do Senhor. Não é preciso fazer coisas grandiosas, mas “basta fazer bem o bem”.

d) Aprofundar o discipulado.

Com a proclamação do Evangelho, em cada Domingo, vamos aprendendo, com o próprio Senhor, o que significa e implica ser discípulos. No Evangelho proclamado, está a espiritualidade a ser vivida em cada semana. Portanto, é tempo de escutar o “Filho amado”, de acolher, de conhecer e de seguir o Senhor Jesus.

e) Ouvir o chamado à santidade.

No Tempo Comum são lembrados e festejados muitos santos e santas. Eles nos estimulam a também sermos santos, nossa grande vocação. São Paulo nos apresenta o caminho: “Ocupai-vos com tudo o que é verdadeiro, digno de respeito ou justo, puro, amável ou honroso, com tudo o que é virtude ou louvável. Praticai o que de mim aprendestes e recebestes e ouvistes, ou em mim observastes. E o Deus da paz estará convosco” (Fl 4,8-9).

 

 

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