O TEMPO COMUM
José Wilmar Dalla Costa
Este período do Ano Litúrgico é
denominado de Tempo Comum porque ocorre fora ou entre os dois tempos centrais:
Advento-Natal e Quaresma-Páscoa. No Natal celebramos o mistério da Encarnação
do Filho de Deus. Na Páscoa celebramos o mistério da Paixão, Morte e
Ressurreição do Senhor.
O fato de ser chamado “Tempo Comum” não
significa que seja menos importante. Antes mesmo de serem organizadas as festas
anuais da Páscoa e do Natal, com seus tempos de preparação e prolongamento, o
Tempo Comum foi a primeira realidade celebrativa do Mistério Pascal. Na
vivência das primeiras comunidades existia apenas a sucessão dos domingos e
semanas ao longo do ano, tendo o domingo como dia maior que reunia os cristãos
em torno da Eucaristia. O domingo era o dia, por excelência, para fazer memória
da Páscoa do Senhor. Quando, mais tarde, foram organizados os tempos da Páscoa
e do Natal, foi para celebrar com mais intensidade, num tempo determinado, os
mistérios fundamentais da fé cristã.
Tanto para as primeiras comunidades como
para nós, hoje, o domingo é nossa Páscoa semanal. No primeiro dia da semana ou
no oitavo dia, nos reunimos, em assembleia litúrgica, para celebrar a Páscoa do
Senhor. O Tempo Comum está dividido em duas partes. A primeira parte começa no
dia seguinte à festa do Batismo de Jesus e vai até a terça-feira antes da
Quarta-feira de Cinzas, quando tem início a Quaresma. A segunda parte do Tempo
Comum recomeça na segunda-feira depois de Pentecostes e se estende até o sábado
que antecede o primeiro domingo do Advento, quando tem início um novo Ano
Litúrgico.
O Tempo Comum ocupa a maior parte do Ano
Litúrgico. É formado por 33 ou 34 semanas, distribuídas entre dois tempos
especiais: o Natal e a Páscoa. O Primeiro Domingo do Tempo Comum é ocupado pela
festa do Batismo de Jesus e, às vezes, pela solenidade da Epifania e, por isso,
a festa do Batismo é celebrada na segunda-feira. O 34º Domingo do Tempo Comum é
substituído pela solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo.
Os primeiros domingos do Tempo Comum têm
uma ligação maior com a festa da Epifania. Convida-nos a adorar o Senhor que se
manifesta anunciando a sua missão e chamando os primeiros discípulos. Em
seguida, nos demais domingos, ao acompanhar cada Evangelho, recordamos as
palavras e ações que marcaram a missão de Jesus. Os últimos domingos acentuam a
dimensão escatológica do Reino, ou seja, o fim dos tempos, alimentando nossa
esperança na vinda gloriosa do Senhor.
No Tempo Comum celebramos o Mistério de
Cristo em sua totalidade, ou seja, encarnação, vida, morte, ressurreição e
ascensão. Não celebramos um aspecto do Mistério de Cristo como, por exemplo, a
encarnação, mas todo o Mistério de Cristo ou o conjunto da História da
Salvação. A totalidade do Mistério de Cristo é celebrado em cada Domingo, Dia
do Senhor.
Em alguns domingos, a recordação
(memória) da missão de Jesus cede espaço para a celebração de algum mistério da
vida do Senhor, de Maria e dos Santos, como: Santíssima Trindade, São Pedro e
São Paulo, Assunção de Maria, Todos os Santos. E também quando coincidem com o
domingo: a festa da Apresentação do Senhor, Transfiguração do Senhor,
Natividade de João Batista, Exaltação da Santa Cruz, Nossa Senhora Aparecida,
Comemoração de todos os fiéis defuntos.
O que caracteriza cada Domingo do Tempo
Comum é o Evangelho do dia. O mistério de Jesus vai sendo revelado e nós vamos
sendo convidados a aderir mais profundamente à sua pessoa e à sua causa que é o
Reino de Deus. Os evangelhos estão organizados dentro de um ciclo de 3 anos,
chamados de ano A, B e C, ou seja, Mateus: Ano A; Marcos: Ano B e Lucas: Ano C.
No 2º Domingo do Tempo Comum o texto do
Evangelho proclamado é do início do Evangelho segundo João. Assim: Ano A: Jo
1,29-34; Ano B: Jo 1,35-42; Ano C: Jo 2,1-11. Também, no Ano B, do 17º ao 21º
Domingo, os textos do Evangelho são tirados do capítulo 6 de João.
Em razão do calendário litúrgico não ser
fixo, as solenidades do Tempo Comum que ocorrem depois do Tempo Pascal têm por
referência a solenidade de Pentecostes. Assim: Solenidade da Santíssima
Trindade, no 1º Domingo depois de Pentecostes; Solenidade do Santíssimo Corpo e
Sangue de Cristo, na quinta-feira depois da solenidade da Santíssima Trindade;
Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, na sexta-feira após o 2º Domingo depois
de Pentecostes; Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo, no
último Domingo do Tempo Comum (em fins de novembro).
No Tempo Comum, a cor litúrgica é o
verde. Simboliza a esperança, a paz, a serenidade. A cor verde nos diz que é
tempo de crescimento, de amadurecimento no seguimento de Jesus Cristo. É tempo
de produzir abundantes frutos.
A
ESPIRITUALIDADE DO TEMPO COMUM
O “comum” se distingue do extraordinário,
do festivo. No Ano Litúrgico, como em nossa vida, existem tempos fortes de
festa e tempos comuns. O que fazer para que o Tempo Comum não se transforme em
tempo de rotina?
a)
Alimentar nossa vida na fonte dos tempos fortes do Natal e da Páscoa.
O Cristo que nasceu, se manifestou,
morreu e ressuscitou quer nascer, crescer e produzir muitos frutos em nossa
vida. O Mistério de Cristo, celebrado em cada Domingo, impulsiona o nosso
crescimento e amadurecimento na vida espiritual ou vivência cristã. Nessa
caminhada, contamos com a luz do Espírito Santo que vai gerando em nós uma vida
conforme o Evangelho do Senhor.
b)
Valorizar o Tempo Comum como tempo comum.
Isso significa encontrar o extraordinário
no comum. Como no Ano Litúrgico, em nossa vida nem sempre temos grandes
acontecimentos. Importa aproveitarmos as menores coisas para aí percebermos as
coisas grandes, as realidades permanentes e eternas. O Tempo Comum, na
experiência semanal da Páscoa pela celebração do Domingo, nos proporciona mais
tempo para refletir sobre as coisas comuns da vida cotidiana. Assim, vamos
descobrir que as pequenas coisas se tornam grandes, quando feitas com amor. E
tudo se transforma em dom precioso de Deus: o raiar de um novo dia, o trabalho,
o encontro com as pessoas, o desabrochar de uma flor, a refeição, o lazer...
c)
Viver o dia-a-dia como tempo de graça e salvação.
O Tempo Comum nos reconcilia com as
coisas normais e nos ajuda a descobrir o dia-a-dia como tempo de graça e
salvação. É no cotidiano da vida que damos prova de nossa fidelidade ao
Evangelho do Senhor. Não é preciso fazer coisas grandiosas, mas “basta fazer
bem o bem”.
d)
Aprofundar o discipulado.
Com a proclamação do Evangelho, em cada
Domingo, vamos aprendendo, com o próprio Senhor, o que significa e implica ser
discípulos. No Evangelho proclamado, está a espiritualidade a ser vivida em
cada semana. Portanto, é tempo de escutar o “Filho amado”, de acolher, de
conhecer e de seguir o Senhor Jesus.
e)
Ouvir o chamado à santidade.
No Tempo Comum são lembrados e festejados
muitos santos e santas. Eles nos estimulam a também sermos santos, nossa grande
vocação. São Paulo nos apresenta o caminho: “Ocupai-vos com tudo o que é
verdadeiro, digno de respeito ou justo, puro, amável ou honroso, com tudo o que
é virtude ou louvável. Praticai o que de mim aprendestes e recebestes e
ouvistes, ou em mim observastes. E o Deus da paz estará convosco” (Fl 4,8-9).
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