Misericordiae Vultus - JUBILEU EXTRAORDINÁRIO DA MISERICÓRDIA
Papa Francisco – De 8.12.2015 a
20.11.2016
Jesus Cristo: presença visível da Misericórdia
Cerne da missão de Jesus: tornar presente o Pai como AMOR
e MISERICÓRDIA. Toda a sua vida foi uma eloquente demonstração da Misericórdia
divina para com os homens. A revelação da Misericórdia de Deus aparece nas parábolas e na própria prática de Jesus (refeições e curas).
I. Nas refeições
Lc. 7,36-50: há uma relação entre amor e perdão; quem é
perdoado muito, deve amar muito, mas quem não ama não aprecia o perdão que
recebe. Fica insensível diante do perdão de Deus, tantas vezes repetido.
Na cena evangélica, Jesus parte daquilo que a mulher
sabia fazer (gesto de lavar os pés), valoriza-a e salva-a. O amor olha o bem e
salva toda a pessoa. Simão parte do
pecado e condena toda a pessoa. O juízo olha o mal e condena toda a pessoa.
II. Nas parábolas
Lc. 15,1-32: Por que o retôrno do pecador merece mais
festa?
A resposta não deve ser procurada nas pessoas (pecadores) e nem no que
elas fazem diante de Deus, mas no que elas revelam de Deus.Revelam o infinito
Amor que vence o pecado. A festa é celebração do Amor que triunfou sobre o
egoísmo, a ruptura... O filho é celebrado porque deixou que o pai saísse
vitorioso em sua vida. Essa vitória do Amor, alegre e festivamente
compartilhada por aqueles que tem os critérios de Deus, é incompreensível e
inaceitável para quem calcula a relação de Deus com o pecador em função de “mérito”, “boa conduta”...
Outras variantes de Lc. 15,11-32:
a) que teria acontecido se o pai enviasse o filho mais
velho para procurar o mais moço? Que péssimo mensageiro da misericórdia do pai ele teria sido, levando o filho
pródigo a jamais voltar
para casa. Perigo de velar, em vez de revelar o Amor do
Pai.
b) Que teria acontecido se fossem dois os filhos pródigos
e apenas um deles tivesse regressado?
Regressaria feliz para contar a seu irmão a estupenda
acolhida do pai, dando ao outro coragem para regressar.
III. Nos milagres
Jo. 9: A proximidade de Jesus põe em movimento
grandes dinamismos de vida do doente; debaixo desse costume paralisado, existe
uma possibilidade de vida nova nunca posta em movimento. Jesus reconstrói “pessoas quebradas”.
O cego de nascimento era mendigo: sentado, impotente,
dependente dos outros.
Jesus vê na cegueira uma ocasião para a manifestação da
atividade salvífica de Deus. As obras que
Deus realiza consistem em libertar o homem de sua
inatividade e dar-lhe capacidade de ação. Jesus passa à ação: faz barro com sua
saliva Percebe-se claramente a intenção do evangelista: “fazer barro” com a saliva significa a criação do homem novo; o
barro refere-se à criação do homem.
“Lembra-te de que me fizeste de barro” (Jó 10,9). Com o uso do barro,
Jesus reproduz simbolicamente a criação do homem. O seu “amassar o barro” prolonga o
sexto dia da Criação. Com o gesto de “ungir
os olhos com o barro” Jesus recria o ser humano.
Na oração:
- experimentar a verdade do perdão; abandonar-se a Deus,
sem reservas;
- deixar Deus ser “maior”
onde Ele mais gosta: no PERDÃO;
- pedir e gostar internamente da MISERICÓRDIA de Deus;
- alegrar-se com a Bondade infinita de Deus;
- ser testemunha e sinal da Misericórdia de Deus; (o
perdão não tem hoje o valor do mundo e não é um impulso que se encontra
facilmente. muitos aspectos, é uma idéia ou um ideal misterioso e sublime. O
que no mundo prevalece é o olho vingativo, a retaliação simples e sem remorso.
E, no entanto, o PERDÃO introduz na vida um elemento transcendental: o AMOR).
- Misericórdia: em hebraico “Rahamim”, plural de ventre materno. Designa a ternura da mulher
para com o fruto do seu ventre. Amor totalmente gratuito.
Textos bíblicos:
Lc. 7,36-50:
A pecadora aos pés de Jesus.
Outros: Lc
15, 11-32; Jo 9; Sl 41; Ez 36, 25-28.
Sobre
o Ano da Misericórdia...
« É próprio de Deus
usar de misericórdia e, nisto, se manifesta de modo especial a sua onipotência
». Estas palavras de São Tomás de Aquino mostram como a misericórdia divina não
seja, de modo algum, um sinal de fraqueza, mas antes a qualidade da onipotência
de Deus. É por isso que a liturgia, numa das suas coletas mais antigas, convida
a rezar assim: « Senhor, que dais a maior prova do vosso poder quando perdoais
e Vos compadeceis… » Deus permanecerá para sempre na história da humanidade
como Aquele que está presente, Aquele que é próximo, providente, santo e
misericordioso.
« Paciente e
misericordioso » é o binômio que aparece, frequentemente, no Antigo Testamento
para descrever a natureza de Deus. O fato de Ele ser misericordioso encontra um
reflexo concreto em muitas ações da história da salvação, onde a sua bondade
prevalece sobre o castigo e a destruição. Os Salmos, em particular, fazem
sobressair esta grandeza do agir divino: « É Ele quem perdoa as tuas culpas e
cura todas as tuas enfermidades. É Ele quem resgata a tua vida do túmulo e te
enche de graça e ternura » (103/102, 3-4). E outro Salmo atesta, de forma ainda
mais explícita, os sinais concretos da misericórdia: « O Senhor liberta os
prisioneiros. O Senhor dá vista aos cegos, o Senhor levanta os abatidos, o
Senhor ama o homem justo. O Senhor protege os que vivem em terra estranha e
ampara o órfão e a viúva, mas entrava o caminho aos pecadores » (146/145, 7-9).
E, para terminar, aqui
estão outras expressões do Salmista: « [O Senhor] cura os de coração atribulado
e trata-lhes as feridas. (...) O Senhor ampara os humildes, mas abate os
malfeitores até ao chão » (147/146, 3.6). Em suma, a misericórdia de Deus não é
uma ideia abstrata mas uma realidade concreta, pela qual Ele revela o seu amor
como o de um pai e de uma mãe que se comovem pelo próprio filho até ao mais
íntimo das suas vísceras. É verdadeiramente caso para dizer que se trata de um
amor « visceral ». Provém do íntimo como um sentimento profundo, natural, feito
de ternura e compaixão, de indulgência e perdão.
« Eterna é a sua
misericórdia »: tal é o refrão que aparece em cada versículo do Salmo 136, ao
mesmo tempo que se narra a história da revelação de Deus. Em virtude da
misericórdia, todos os acontecimentos do Antigo Testamento aparecem cheios dum
valor salvífico profundo. A misericórdia torna a história de Deus com Israel
uma história da salvação. O fato de repetir continuamente « eterna é a sua
misericórdia », como faz o Salmo, parece querer romper o círculo do espaço e do
tempo para inserir tudo no mistério eterno do amor. É como se se quisesse dizer
que o homem, não só na história mas também pela eternidade, estará sempre sob o
olhar misericordioso do Pai. Não é por acaso que o povo de Israel tenha querido
inserir este Salmo – o « grande hallel », como lhe chamam – nas festas
litúrgicas mais importantes.
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