Misericordiae Vultus - JUBILEU EXTRAORDINÁRIO DA MISERICÓRDIA
Papa Francisco – De 8.12.2015 a
20.11.2016
A humildade é a força da fraqueza...
A experiência nos Exercícios Espirituais, de
certa forma, começa lá embaixo, na realidade do ser humano, nas suas
necessidades, nas suas feridas, no seu pecado... para que novos impulsos vitais
possam brotar.
Para S. Inácio, Deus nos fala justamente
através dos sentimentos, dos desejos, dos impulsos...
O diálogo com as expressões mais profundas de
nosso ser nos faz dirigir nossa atenção para as
“áreas reprimidas” de nossa
condição humana e que foram recobertas com nossas próprias imagens aureoladas e ideais
exagerados, dominados pelo desejo de sermos perfeitos e infalíveis.
Reconhecer
nossa realidade humana é a condição para a verdadeira experiência de Deus. A humildade é o fundamento que nos
impede passar por cima de nossa condição humana. Quando alguém encontra sua
própria “condição humana”, nada
do que é “humano” lhe é
estranho. As experiências de fracasso, de decepção, de pecado... nos forçam a depor
as armas e a capitularmos diante de Deus. Às vezes não resta a Deus outra
maneira de levar o ser humano à sua fraqueza a não ser por meio do pecado.
Quando pecamos, desaparecem
todas as ilusões que construímos
sobre nós mesmos e sobre nosso caminho espiritual. Sentimos que nosso esforço
não ajudou a evitar o pecado. O fracasso desmascara e mostra a verdade de nossa
vida. Podemos fazer o que quiser, mas, sem a graça de Deus, nós somos incapazes
de resistir ao pecado. Quando isto chega ao nosso coração, não resta outra
saída senão entregar-nos a Deus.
Então todos os muros que
havíamos levantado entre nós e Deus caem por terra e tudo nos é retirado.
O importante é verificar
como interpretamos e como reagimos diante do pecado.
* Podemos interpretar nosso
pecado como um fracasso e reagir com as auto-incriminações e acusações.
Isto irá nos conduzir a uma resignação.
* Podemos também diminuir
a importância do pecado e a nossa vida então se tornará aburguesada.
* Podemos ainda reprimir o
pecado; então, nós nos transformamos em um fariseu.
No
entanto, a experiência dos Exercícios nos convida a ver no pecado uma
oportunidade para nos lançarmos por inteiros nas mãos misericordiosas de Deus.
Se
fizermos as pazes com a nossa condição humana, se confessarmos nossa
incapacidade para alcançar a perfeição por nosso próprio esforço, então isto
será a oportunidade para que nos entreguemos total e integralmente a Deus. No pecado,
Deus arranca todas as máscaras de nossa face e, então, desabam os muros da
nossa própria perfeição que nós
havíamos construído. E assim podemos nos apresentar despidos diante de Deus e
deixar que seu amor nos erga novamente. A graça de Deus toma pé em nossa
fraqueza, e em nossa impotência ela se transforma em força.
A Graça é o mais profundo em
nós, e para revelar sua força, ela
nos atravessa por inteiro, demolindo e reconstruindo, ferindo e sarando. A Graça
constrói sobre a natureza, e pode elevá-la.
Deus vem ao nosso encontro
em nossas carências e fraquezas; Ele nos procura através de nossas falhas, de
nossas feridas, de nossas limitações... Deus serve-se de nossos pecados para abraçar-nos carinhosamente.
Nesta perspectiva, ser
carente e limitado é o espaço onde Deus atua e revela seu rosto misericordioso.
A partir da experiência da misericórdia
de Deus podemos reunir em nossas mãos os cacos de nossa vida. Daí poderá surgir
alguma coisa nova, diferente... Talvez a
velha casca de nossa vida tenha se tornado apertada demais; foi preciso
rompê-la. Em vez de nos culpabilizar, nós apresentamos a Deus nossas pobres
mãos vazias. Então nossa atenção não se volta para o nosso pecado, mas para o
Deus misericordioso.
Precisamente
por meio das quedas Deus sempre volta
a criar coisas novas, reconstrói as ruínas antigas, as habitações abandonadas
por muitos anos. Exatamente onde existe fraqueza,
onde existe vulnerabilidade talvez
esse seja o “lugar mais sagrado”,
aquele que exige mais respeito e cuidado.
Quando
acolhemos nossa fraqueza, o
pecado passa a ser a “feliz culpa”. O pecado nos aponta para Deus, que é o
único capaz de nos transformar. Vemos tudo envolvido pelo olhar de bondade e misericórdia de
Deus. Só então caminharemos ao encontro do Deus verdadeiro, do Deus que nos
acolhe para que possamos viver e viver em plenitude.
Textos bíblicos: Is.
51,1-16; Is. 61; Sl 50 (51);
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