segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Retiro Espiritual - IV


Misericordiae Vultus - JUBILEU EXTRAORDINÁRIO DA MISERICÓRDIA
Papa Francisco – De 8.12.2015 a 20.11.2016

 

A humildade é a força da fraqueza...

A experiência nos Exercícios Espirituais, de certa forma, começa lá embaixo, na realidade do ser humano, nas suas necessidades, nas suas feridas, no seu pecado... para que novos impulsos vitais possam brotar.

Para S. Inácio, Deus nos fala justamente através dos sentimentos, dos desejos, dos impulsos...

O diálogo com as expressões mais profundas de nosso ser nos faz dirigir nossa atenção para as  “áreas reprimidas” de nossa condição humana e que foram recobertas com nossas próprias imagens aureoladas e ideais exagerados, dominados pelo desejo de sermos perfeitos e infalíveis.

Reconhecer nossa realidade humana é a condição para a verdadeira experiência de Deus. A humildade é o fundamento que nos impede passar por cima de nossa condição humana. Quando alguém encontra sua própria “condição humana”, nada do que é “humano” lhe é estranho. As experiências de fracasso, de decepção, de pecado... nos forçam a depor as armas e a capitularmos diante de Deus. Às vezes não resta a Deus outra maneira de levar o ser humano à sua fraqueza a não ser por meio do pecado.

Quando pecamos, desaparecem todas as ilusões que construímos sobre nós mesmos e sobre nosso caminho espiritual. Sentimos que nosso esforço não ajudou a evitar o pecado. O fracasso desmascara e mostra a verdade de nossa vida. Podemos fazer o que quiser, mas, sem a graça de Deus, nós somos incapazes de resistir ao pecado. Quando isto chega ao nosso coração, não resta outra saída senão entregar-nos a Deus.

Então todos os muros que havíamos levantado entre nós e Deus caem por terra e tudo nos é retirado.

O importante é verificar como interpretamos e como reagimos diante do pecado.

* Podemos interpretar nosso pecado como um fracasso e reagir com as auto-incriminações e acusações.

   Isto irá nos conduzir a uma resignação.

* Podemos também diminuir a importância do pecado e a nossa vida então se tornará aburguesada.

* Podemos ainda reprimir o pecado; então, nós nos transformamos em um fariseu.

No entanto, a experiência dos Exercícios nos convida a ver no pecado uma oportunidade para nos lançarmos por inteiros nas mãos misericordiosas de Deus.

Se fizermos as pazes com a nossa condição humana, se confessarmos nossa incapacidade para alcançar a perfeição por nosso próprio esforço, então isto será a oportunidade para que nos entreguemos total e integralmente a Deus. No pecado, Deus arranca todas as máscaras de nossa face e, então, desabam os muros da nossa própria perfeição que nós havíamos construído. E assim podemos nos apresentar despidos diante de Deus e deixar que seu amor nos erga novamente. A graça de Deus toma pé em nossa fraqueza, e em nossa impotência ela se transforma em força.

A Graça é o mais profundo em nós, e para revelar sua força, ela nos atravessa por inteiro, demolindo e reconstruindo, ferindo e sarando. A Graça constrói sobre a natureza, e pode elevá-la.

Deus vem ao nosso encontro em nossas carências e fraquezas; Ele nos procura através de nossas falhas, de nossas feridas, de nossas limitações... Deus serve-se de nossos pecados para abraçar-nos carinhosamente.

Nesta perspectiva, ser carente e limitado é o espaço onde Deus atua e revela seu rosto misericordioso.

A partir da experiência da misericórdia de Deus podemos reunir em nossas mãos os cacos de nossa vida. Daí poderá surgir alguma coisa nova, diferente...  Talvez a velha casca de nossa vida tenha se tornado apertada demais; foi preciso rompê-la. Em vez de nos culpabilizar, nós apresentamos a Deus nossas pobres mãos vazias. Então nossa atenção não se volta para o nosso pecado, mas para o Deus misericordioso.

Precisamente por meio das quedas Deus sempre volta a criar coisas novas, reconstrói as ruínas antigas, as habitações abandonadas por muitos anos. Exatamente onde existe fraqueza, onde existe vulnerabilidade talvez esse seja o “lugar mais sagrado”, aquele que exige mais respeito e cuidado.

Quando acolhemos nossa fraqueza, o pecado passa a ser a “feliz culpa”. O pecado nos aponta para Deus, que é o único capaz de nos transformar. Vemos tudo envolvido pelo olhar de bondade e misericórdia de Deus. Só então caminharemos ao encontro do Deus verdadeiro, do Deus que nos acolhe para que possamos viver e viver em plenitude.

Textos bíblicos:   Is. 51,1-16; Is. 61; Sl 50 (51);

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