sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Retiro Espiritual.VIII


Misericordiae Vultus - JUBILEU EXTRAORDINÁRIO DA MISERICÓRDIA
Papa Francisco – De 8.12.2015 a 20.11.2016

 
 
A MISERICÓRDIA COMO SERVIÇO

“O perdão não é esquecimento do passado, é o risco de um futuro diferente daquele que foi imposto pelo passado ou pela memória” (Ch. Duquoc)

Perdão vem do latim “per-donum” , dom levado à perfeição; ou “ per-donare” : significa dar prova de uma extrema generosidade. O prefixo “per” denota intensidade, profundidade. Perdoar é doar-se em plenitude; é dar mais que o ofensor merece.

Perdão e vida


A plenitude do dom é a vida. Perdoar é restituir a vida a quem nos ofendeu.

Toda ofensa, em qualquer grau, é um atentado de morte contra a vida.

O perdão restabelece a ordem da vida. Quem perdoa e quem é perdoado sai mais verdadeiro, mais inteiro, mais humano depois desse gesto.

O perdão realmente transforma vidas. Quando nós vemos o que acontece quando as pessoas perdoam, nós sabemos que estamos diante de uma das mais eficazes forças na experiência humana.

Perdão e futuro


Só o perdão nos permite recolher os fatos passados que estão bloqueados e orientá-los para horizontes muito mais amplos de sentido. Ele não tem impacto no que foi, mas no que é e será. É um gesto de responsabilidade para com o presente e o futuro.

O perdão-memória não falsifica ou repudia o que foi feito; não distorce os fatos passados; ele reinterpreta o passado a cada novo instante do presente.

De fato, “não há futuro sem perdão”; o perdão não muda o passado, mas engrandece e expande o futuro; solta as amarras do ressentimento e abre caminhos originais na direção de um horizonte sedutor.

O perdão limpa o terreno para o novo. Ele nos arranca do imobilismo do passado e nos faz dar um passo a mais; este “passo a mais” permite-nos sair de nossas memórias feridas, permite-nos viver o presente e caminhar para o futuro.

Perdão e decisão


O perdão é unilateral.

A pessoa tem que escolher perdoar, o que significa voluntariamente liberar os maus sentimentos e seguir em frente, na vida.

Perdão não é sentimento; é decisão da vontade; a pessoa decide perdoar.

Perdoar não tem a ver com “ esquecer” o mal que nos fizeram mas, sim, decidir a não deixar ao ofensor o comando de atrapalhar a nossa vida, pela sua maldade.

Quando alguém culpa as outras pessoas pelos seus problemas - ainda que por razões justificáveis - ele passa a dar aos outros o controle sobre a sua vida.

Não perdoar é deixar-se aprisionar pelo passado, pelos antigos ressentimentos...

Não perdoar é ceder a um outro o controle de si mesmo (quando alguém não perdoa, fica à mercê das iniciativas do outro, fechado na sequência de ação e reação, de ódio e vingança, uma escalada no desespero).

        “Perdoar é a única reação que não se limita a reagir, senão que atua de uma forma nova, inesperada e não condicionada pelo ato que a provoca” (Hannah Arendt).

Perdão é a paz que a pessoa aprende a usufruir, independente do outro ser a causa do seu infortúnio.

E parar de culpar o outro por se sentir mal com a ofensa, não criando um enrêdo sobre a mágoa que sobrou.

O perdão é para a gente mesmo, não para o autor da afronta. Perdoar liberta quem perdoa.

Decidir perdoar nos torna livres do veneno do “sentimento de culpa” que pode nos destruir. O milagre do perdão está aqui: libertar-nos das memórias feridas, tornar-nos livres em relação ao nosso passado.

É recuperar o próprio poder que, por momento, deixamos na mão de alguém.

É ser responsável pela maneira como nos sentimos, sem deixar que o outro contamine a nossa paz interior.

E nós nunca somos mais poderosos do que quando perdoamos.

O poder do perdão é paradoxal, porque o perdão significa abandonar o poder, desistindo do direito de exigir a revanche.

Mas o perdão alcança um objetivo mais sublime: ele transforma a situação. Ele confere dignidade e autoridade às vítimas. Aqueles que perdoam recusam-se a permitir que o passado entrave o futuro. Eles mesmos são os que controlam o seu destino, dão direção à sua vida.

Perdão e saúde


Você já se deteve para calcular quanto tempo e energia tem gasto carregando consigo um ressentimento ou uma mágoa contra alguém?

A mais sábia, inteligente e altruísta maneira de lidar com essa matéria  é a de simplesmente perdoar.

Através do ressentimento eu continuo atribuindo ao outro o controle de minha vida.

Se repriso continuamente o show do canal das mágoas, estarei sempre ofendido e amargurado.  A própria medicina recomenda não viver amargurado, com rancor e raiva contidos. Procurar minimizar o sofrimento - e isso vale tanto para quem toma a iniciativa de pedir perdão como para quem perdoa - é uma forma de proteger a saúde.

O perdão ajuda a controlar as emoções, preservando o bom senso e o humor.

A sociedade e cada pessoa tem necessidade de perdoar a fim de evitar que o ressentimento, a raiva e o ódio se perpetuem e acarretem novos sofrimentos.

Aos cristãos, diz uma carta de Paulo:

            “ Vocês que viviam longe se aproximaram graças ao Cristo. Ele é a nossa paz, ele que
               de dois povos fez um só, abatendo o muro de separação que os dividia, isto é, a
               inimizade”  (Ef. 2,13-14)

Lc 6, 36-38: O AGIR CRISTÃO

Salmo 78/79: O Senhor não nos trata como exigem nossas faltas.

Sobre o Ano da Misericórdia...

A Igreja tem a missão de anunciar a misericórdia de Deus, coração pulsante do Evangelho, que por meio dela deve chegar ao coração e à mente de cada pessoa. A Esposa de Cristo assume o comportamento do Filho de Deus, que vai ao encontro de todos sem excluir ninguém. No nosso tempo, em que a Igreja está comprometida na nova evangelização, o tema da misericórdia exige ser reproposto com novo entusiasmo e uma ação pastoral renovada. É determinante para a Igreja e para a credibilidade do seu anúncio que viva e testemunhe, ela mesma, a misericórdia. A sua linguagem e os seus gestos, para penetrarem no coração das pessoas e desafiá-las a encontrar novamente a estrada para regressar ao Pai, devem irradiar misericórdia.

A primeira verdade da Igreja é o amor de Cristo. E, deste amor que vai até ao perdão e ao dom de si mesmo, a Igreja faz-se serva e mediadora junto dos homens. Por isso, onde a Igreja estiver presente, aí deve ser evidente a misericórdia do Pai. Nas nossas paróquias, nas comunidades, nas associações e nos movimentos – em suma, onde houver cristãos –, qualquer pessoa deve poder encontrar um oásis de misericórdia.

Queremos viver este Ano Jubilar à luz desta palavra do Senhor: Misericordiosos como o Pai. O evangelista refere o ensinamento de Jesus, que diz: « Sede misericordiosos, como o vosso Pai é misericordioso » (Lc 6, 36). É um programa de vida tão empenhativo como rico de alegria e paz. O imperativo de Jesus é dirigido a quantos ouvem a sua voz (cf. Lc 6, 27). Portanto, para ser capazes de misericórdia, devemos primeiro pôr-nos à escuta da Palavra de Deus. Isso significa recuperar o valor do silêncio, para meditar a Palavra que nos é dirigida. Deste modo, é possível contemplar a misericórdia de Deus e assumi-la como próprio estilo de vida.

 

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