Misericordiae Vultus - JUBILEU
EXTRAORDINÁRIO DA MISERICÓRDIA
Papa Francisco – De
8.12.2015 a 20.11.2016
A
MISERICÓRDIA COMO SERVIÇO
“O
perdão não é esquecimento do passado, é o risco de um futuro diferente daquele
que foi imposto pelo passado ou pela memória”
(Ch. Duquoc)
Perdão
vem do latim “per-donum” , dom levado à perfeição; ou “ per-donare” : significa
dar prova de uma extrema generosidade. O prefixo “per” denota intensidade, profundidade. Perdoar é doar-se em plenitude; é dar mais que o ofensor merece.
Perdão e vida
A plenitude do dom é a vida. Perdoar é restituir a vida a quem nos
ofendeu.
Toda ofensa, em qualquer grau, é
um atentado de morte contra a vida.
O perdão restabelece a ordem da vida. Quem perdoa e quem é perdoado
sai mais verdadeiro, mais inteiro, mais humano depois desse gesto.
O perdão realmente transforma vidas. Quando nós vemos o que acontece
quando as pessoas perdoam, nós sabemos que estamos diante de uma das mais
eficazes forças na experiência humana.
Perdão e futuro
Só o perdão nos permite recolher os fatos passados que estão bloqueados
e orientá-los para horizontes muito mais amplos de sentido. Ele não tem impacto
no que foi, mas no que é e será. É um gesto de responsabilidade
para com o presente e o futuro.
O perdão-memória não
falsifica ou repudia o que foi feito; não distorce os fatos passados; ele
reinterpreta o passado a cada novo instante do presente.
De fato, “não há futuro sem perdão”; o perdão não muda o passado, mas
engrandece e expande o futuro; solta as amarras do ressentimento e abre caminhos
originais na direção de um horizonte sedutor.
O perdão limpa o terreno para o novo. Ele nos arranca do imobilismo
do passado
e nos faz dar um passo a mais; este “passo a mais” permite-nos sair de
nossas memórias feridas, permite-nos viver o presente e caminhar para o futuro.
Perdão e decisão
O perdão é unilateral.
A pessoa tem que escolher
perdoar, o que significa voluntariamente liberar os maus sentimentos e seguir
em frente, na vida.
Perdão
não é sentimento; é decisão da vontade; a pessoa decide perdoar.
Perdoar não tem a ver com “
esquecer” o mal que nos fizeram mas, sim, decidir a não deixar ao ofensor o
comando de atrapalhar a nossa vida, pela sua maldade.
Quando alguém culpa as outras
pessoas pelos seus problemas - ainda que por razões justificáveis - ele passa a
dar aos outros o controle sobre a sua vida.
Não perdoar é deixar-se
aprisionar pelo passado, pelos antigos ressentimentos...
Não perdoar é ceder a um outro o
controle de si mesmo (quando alguém não perdoa, fica à mercê das iniciativas do
outro, fechado na sequência de ação e reação, de ódio e vingança, uma escalada
no desespero).
“Perdoar é a única reação que não
se limita a reagir, senão que atua de uma forma nova, inesperada e não condicionada pelo ato que a provoca” (Hannah
Arendt).
Perdão
é a paz que a pessoa aprende a
usufruir, independente do outro ser a causa do seu infortúnio.
E parar de culpar o outro por se
sentir mal com a ofensa, não criando um enrêdo sobre a mágoa que sobrou.
O perdão é para a gente mesmo, não para o autor da afronta. Perdoar
liberta quem perdoa.
Decidir perdoar nos torna livres
do veneno do “sentimento de culpa” que pode nos destruir. O milagre do
perdão está aqui: libertar-nos das memórias feridas, tornar-nos livres em
relação ao nosso passado.
É recuperar o próprio poder que,
por momento, deixamos na mão de alguém.
É ser responsável pela maneira
como nos sentimos, sem deixar que o outro contamine a nossa paz interior.
E nós nunca somos mais poderosos
do que quando perdoamos.
O poder do perdão é paradoxal, porque o perdão significa abandonar o poder, desistindo do direito de exigir
a revanche.
Mas o perdão alcança um objetivo mais sublime: ele transforma a situação.
Ele confere dignidade e autoridade às vítimas. Aqueles que perdoam recusam-se a
permitir que o passado entrave o futuro. Eles mesmos são os que controlam o seu
destino, dão direção à sua vida.
Perdão e saúde
Você já se deteve para calcular
quanto tempo e energia tem gasto carregando consigo um ressentimento ou uma mágoa contra alguém?
A mais sábia, inteligente e
altruísta maneira de lidar com essa matéria
é a de simplesmente perdoar.
Através do ressentimento eu continuo atribuindo ao outro o controle de minha
vida.
Se repriso continuamente o show
do canal das mágoas, estarei sempre ofendido e amargurado. A própria medicina recomenda não viver
amargurado, com rancor e raiva contidos. Procurar minimizar o sofrimento - e
isso vale tanto para quem toma a iniciativa de pedir perdão como para quem perdoa
- é uma forma de proteger a saúde.
O perdão ajuda a controlar as emoções, preservando o bom senso e o
humor.
A sociedade e cada pessoa tem
necessidade de perdoar a fim de evitar que o ressentimento, a raiva e o ódio se
perpetuem e acarretem novos sofrimentos.
Aos cristãos, diz uma carta de
Paulo:
“
Vocês que viviam longe se aproximaram graças ao Cristo. Ele é a nossa paz, ele
que
de dois povos fez um só,
abatendo o muro de separação que os dividia, isto é, a
inimizade” (Ef. 2,13-14)
Lc 6, 36-38: O AGIR CRISTÃO
Salmo 78/79: O Senhor não nos trata
como exigem nossas faltas.
Sobre
o Ano da Misericórdia...
A Igreja tem a missão
de anunciar a misericórdia de Deus, coração pulsante do Evangelho, que por meio
dela deve chegar ao coração e à mente de cada pessoa. A Esposa de Cristo assume
o comportamento do Filho de Deus, que vai ao encontro de todos sem excluir
ninguém. No nosso tempo, em que a Igreja está comprometida na nova
evangelização, o tema da misericórdia exige ser reproposto com novo entusiasmo
e uma ação pastoral renovada. É determinante para a Igreja e para a
credibilidade do seu anúncio que viva e testemunhe, ela mesma, a misericórdia.
A sua linguagem e os seus gestos, para penetrarem no coração das pessoas e
desafiá-las a encontrar novamente a estrada para regressar ao Pai, devem
irradiar misericórdia.
A primeira verdade da
Igreja é o amor de Cristo. E, deste amor que vai até ao perdão e ao dom de si
mesmo, a Igreja faz-se serva e mediadora junto dos homens. Por isso, onde a
Igreja estiver presente, aí deve ser evidente a misericórdia do Pai. Nas nossas
paróquias, nas comunidades, nas associações e nos movimentos – em suma, onde
houver cristãos –, qualquer pessoa deve poder encontrar um oásis de
misericórdia.
Queremos viver este Ano
Jubilar à luz desta palavra do Senhor: Misericordiosos como o Pai. O
evangelista refere o ensinamento de Jesus, que diz: « Sede misericordiosos,
como o vosso Pai é misericordioso » (Lc 6, 36). É um programa de vida tão
empenhativo como rico de alegria e paz. O imperativo de Jesus é dirigido a
quantos ouvem a sua voz (cf. Lc 6, 27). Portanto, para ser capazes de
misericórdia, devemos primeiro pôr-nos à escuta da Palavra de Deus. Isso
significa recuperar o valor do silêncio, para meditar a Palavra que nos é
dirigida. Deste modo, é possível contemplar a misericórdia de Deus e assumi-la
como próprio estilo de vida.
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