quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Retiro Espiritual.VI


Misericordiae Vultus - JUBILEU EXTRAORDINÁRIO DA MISERICÓRDIA
Papa Francisco – De 8.12.2015 a 20.11.2016


Eu pecador: amado e chamado por Deus
“A conversão não é questão de esforço mas de agradecimento”

Quê buscamos com as meditações dos pecados?

* Uma vivência transformante, através da experiência do Amor incondicional e da Misericórdia, e da descoberta luminosa de uma salvação que se encarna em Jesus.

* Nosso pecado tem de ser revelado por Outro (Cristo Crucificado). No centro da história (pessoal e coletiva) está uma Pessoa: encontro afetivo, dinâmico, provocativo, que impulsiona para a nova vida...

   Através do “colóquio de misericórdia” (“que fiz? que faço? que farei por Cristo?  EE.61), o exercitante descobre Cristo no coração do pecado. O Jesus da Cruz é promessa de  vida para mim; n’Ele me é dada a esperança certa de ser reconstruído no Amor.

* Só o Amor de Deus revela o pecado; Deus nos ama precisamente porque somos pecadores. Este é o maior mistério: “que Ele nos tenha amado primeiro, quando ainda éramos pecadores” (Rom. 5,8)

A dinâmica da oração sobre os pecados.

A recordação é minha pessoa, minha  história... através do contraste entre grandeza e pequenez, plenitude e degradação, pecado e misericórdia... e que desemboca numa admiração profunda e vivamente assombrada (EE. 60)

Na oração, procurar captar não tanto os pecados concretos, mas os hábitos, os dinamismos negativos, as atitudes pecaminosas, os ídolos, as áreas fechadas de minha vida, etc. Há sempre o perigo de permanecermos nos atos externos, esquecendo-nos da dimensão profunda dos pecados.

São os chamados “pecados de raiz”, ou seja, endurecimentos, fechamentos e fixações da pessoa e que impedem a energia vital, o amor de Deus fluir livremente. São bloqueios e empecilhos colocados pela própria pessoa que interceptam a relação com Deus, portanto, com a plenitude da vida, e cortam suas próprias potencialidades positivas. Quando falamos de “pecados de raiz” queremos destacar a necessidade de uma renovação radical.

Em sentido amplo, o pecado constitui a recusa do ser humano de “ir além de si mesmo”. Com este gesto de recusa, ele atinge a si próprio muito mais que a Deus.

A malícia do pecado está no fato de que, por meio dele, o ser humano se automutila, precisamente na sua dimensão mais específica, a transcendência.

Pecar é fechar as portas da mente e do coração ao Absoluto. É negar-se a tomar parte na Grande Passagem (Páscoa). É decidir-se pela “segurança e comodidade”  e não pelo risco da aventura; é não estar disposto a “ir além de si mesmo”,  seguindo o apelo do Absoluto.

           É esta a experiência de “inferno”, definido como o “absoluto menos”,  ou seja, o absoluto que, em vez de criar, construir, crescer, ousar... em direção ao “mais”, constitui o extremo setor “menos” de nossas opções, de nosso modo de viver...

A experiência pessoal de conversão só será completa quando questionamos globalmente e a fundo a nossa própria existência.

“Conversão” significa: libertar-nos de nossa fixação em nós mesmos e em nosso fazer, para atender ao que Deus nos oferece.

A conversão é mudança de “senhor”,  não é só mudança de hábitos, de comportamentos...; é desalojar os falsos ídolos, os apegos desordenados... para que o Senhor amplie e ocupe o espaço do nosso coração.

Os Exercícios Espirituais nos situam de cheio no contexto das afeições desordenadas. Tais “afeições”  são, de fato, as atitudes nas quais buscamos uma compensação por nossas carências, feridas e limitações.

“O Senhor não precisou fazer muito esforço para libertar Israel do Egito, mas precisou suar muito para arrancar o Egito do coração de Israel”.

Ä libertação do coração, de fato, é uma operação muito delicada, paciente e demorada, e representa o ponto de chegada e o cumprimento do Projeto de Deus. O fundamental é conseguir fazer uma experiência salvífica frente à “minha história de pecado” e não uma experiência de angústia, de temor e de escrupulosidade... Aqui brota um sentimento de surpresa e de admiração diante do contraste entre meu pecado e a bondade de Deus que me acolhe. Sentimento que desemboca na atitude de “ação de graças”.

Textos bíblicos: 
 
Jo 8, 1-11: Mulher pega em adultério.
 
Outros: Rom. 7,14-25; Ez. 36,22-36.  

Sobre o Ano da Misericórdia...

Antes da Paixão, Jesus rezou ao Pai com este Salmo da misericórdia. Assim o atesta o evangelista Mateus quando afirma que « depois de cantarem os salmos » (26, 30), Jesus e os discípulos saíram para o Monte das Oliveiras. Enquanto instituía a Eucaristia, como memorial perpétuo d’Ele e da sua Páscoa, Jesus colocava simbolicamente este acto supremo da Revelação sob a luz da misericórdia. No mesmo horizonte da misericórdia, viveu Ele a sua paixão e morte, ciente do grande mistério de amor que se realizaria na cruz. O fato de saber que o próprio Jesus rezou com este Salmo torna-o, para nós cristãos, ainda mais importante e compromete-nos a assumir o refrão na nossa oração de louvor diária: « eterna é a sua misericórdia ».

Com o olhar fixo em Jesus e no seu rosto misericordioso, podemos individuar o amor da Santíssima Trindade. A missão, que Jesus recebeu do Pai, foi a de revelar o mistério do amor divino na sua plenitude. « Deus é amor » (1 Jo 4, 8.16): afirma-o, pela primeira e única vez em toda a Escritura, o evangelista João. Agora este amor tornou-se visível e palpável em toda a vida de Jesus. A sua pessoa não é senão amor, um amor que se dá gratuitamente. O seu relacionamento com as pessoas, que se abeiram d’Ele, manifesta algo de único e irrepetível. Os sinais que realiza, sobretudo para com os pecadores, as pessoas pobres, marginalizadas, doentes e atribuladas, decorrem sob o signo da misericórdia. Tudo n’Ele fala de misericórdia. N’Ele, nada há que seja desprovido de compaixão.

Vendo que a multidão de pessoas que O seguia estava cansada e abatida, Jesus sentiu, no fundo do coração, uma intensa compaixão por elas (cf. Mt 9, 36). Em virtude deste amor compassivo, curou os doentes que Lhe foram apresentados (cf. Mt 14, 14) e, com poucos pães e peixes, saciou grandes multidões (cf. Mt 15, 37). Em todas as circunstâncias, o que movia Jesus era apenas a misericórdia, com a qual lia no coração dos seus interlocutores e dava resposta às necessidades mais autênticas que tinham. Quando encontrou a viúva de Naim que levava o seu único filho a sepultar, sentiu grande compaixão pela dor imensa daquela mãe em lágrimas e entregou-lhe de novo o filho, ressuscitando-o da morte (cf. Lc 7, 15).

Depois de ter libertado o endemoninhado de Gerasa, confia-lhe esta missão: « Conta tudo o que o Senhor fez por ti e como teve misericórdia de ti » (Mc 5, 19). A própria vocação de Mateus se insere no horizonte da misericórdia. Ao passar diante do posto de cobrança dos impostos, os olhos de Jesus fixaram-se nos de Mateus. Era um olhar cheio de misericórdia que perdoava os pecados daquele homem e, vencendo as resistências dos outros discípulos, escolheu-o, a ele pecador e publicano, para se tornar um dos Doze. São Beda o Venerável, ao comentar esta cena do Evangelho, escreveu que Jesus olhou Mateus com amor misericordioso e escolheu-o: miserando atque eligendo. Sempre me causou impressão esta frase, a ponto de a tomar para meu lema.

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