Misericordiae Vultus - JUBILEU EXTRAORDINÁRIO DA MISERICÓRDIA
Papa Francisco – De 8.12.2015 a
20.11.2016
Eu pecador:
amado e chamado por Deus
“A
conversão não é questão de esforço mas de agradecimento”
Quê buscamos
com as meditações dos pecados?
* Uma vivência transformante, através da experiência do Amor incondicional e da
Misericórdia, e da descoberta luminosa de uma salvação que se encarna em Jesus.
* Nosso pecado tem de ser revelado por Outro
(Cristo Crucificado). No centro da história (pessoal e coletiva) está uma
Pessoa: encontro afetivo, dinâmico,
provocativo, que impulsiona para a nova vida...
Através do “colóquio de
misericórdia” (“que fiz? que faço? que farei por Cristo? EE.61), o exercitante descobre Cristo no coração do
pecado. O Jesus da Cruz é promessa de
vida para mim; n’Ele me é dada a esperança certa de ser reconstruído no
Amor.
* Só o Amor de Deus revela o pecado; Deus nos
ama precisamente porque somos pecadores. Este é o maior mistério: “que Ele nos tenha amado primeiro, quando ainda
éramos pecadores”
(Rom. 5,8)
A
dinâmica da oração sobre os pecados.
A recordação é minha pessoa, minha história... através do contraste entre
grandeza e pequenez, plenitude e degradação, pecado e misericórdia... e que
desemboca numa admiração profunda e vivamente assombrada (EE. 60)
Na oração, procurar captar não tanto os pecados concretos, mas os hábitos, os dinamismos negativos, as atitudes pecaminosas, os ídolos, as áreas fechadas de minha vida, etc. Há sempre o perigo de
permanecermos nos atos externos, esquecendo-nos da dimensão profunda dos pecados.
São os chamados “pecados de raiz”, ou seja,
endurecimentos, fechamentos e fixações da pessoa e que impedem a energia vital,
o amor de Deus fluir livremente. São bloqueios e empecilhos colocados pela
própria pessoa que interceptam a relação com Deus, portanto, com a plenitude da
vida, e cortam suas próprias potencialidades positivas. Quando falamos de
“pecados de raiz” queremos destacar a necessidade de uma renovação radical.
Em sentido amplo, o pecado constitui a recusa
do ser humano de “ir além de si mesmo”. Com
este gesto de recusa, ele atinge a si próprio muito mais que a Deus.
A malícia do pecado está no fato de que, por
meio dele, o ser humano se automutila, precisamente na sua dimensão mais
específica, a transcendência.
Pecar
é fechar as portas da mente e do coração ao Absoluto. É negar-se a tomar parte
na Grande Passagem (Páscoa). É decidir-se pela “segurança e comodidade” e
não pelo risco da aventura; é não estar disposto a “ir além de si mesmo”, seguindo o apelo do Absoluto.
É esta a experiência de “inferno”, definido como o “absoluto
menos”, ou seja, o absoluto que, em vez
de criar, construir, crescer, ousar... em direção ao “mais”, constitui o
extremo setor “menos” de nossas opções, de nosso modo de viver...
A experiência pessoal de conversão só será
completa quando questionamos globalmente e a fundo a nossa própria existência.
“Conversão” significa:
libertar-nos de nossa fixação em nós
mesmos e em nosso fazer, para atender ao que Deus nos oferece.
A conversão
é mudança de “senhor”, não é só mudança de hábitos, de
comportamentos...; é desalojar os falsos ídolos, os apegos desordenados... para
que o Senhor amplie e ocupe o espaço do nosso coração.
Os Exercícios Espirituais nos situam de cheio
no contexto das afeições desordenadas. Tais
“afeições” são, de fato, as atitudes nas quais buscamos
uma compensação por nossas carências, feridas e limitações.
“O Senhor não precisou fazer muito esforço para
libertar Israel do Egito, mas precisou suar muito para arrancar o Egito do
coração de Israel”.
Ä libertação do coração, de fato, é uma
operação muito delicada, paciente e demorada, e representa o ponto de chegada e
o cumprimento do Projeto de Deus. O fundamental é conseguir fazer uma
experiência salvífica frente à “minha
história de pecado” e não uma experiência de angústia, de temor e de
escrupulosidade... Aqui brota um sentimento de surpresa e de admiração
diante do contraste entre meu pecado e a bondade de Deus que me acolhe.
Sentimento que desemboca na atitude de “ação
de graças”.
Textos
bíblicos:
Jo
8, 1-11: Mulher pega em adultério.
Outros:
Rom.
7,14-25; Ez. 36,22-36.
Sobre o Ano da
Misericórdia...
Antes da Paixão,
Jesus rezou ao Pai com este Salmo da misericórdia. Assim o atesta o evangelista
Mateus quando afirma que « depois de cantarem os salmos » (26, 30), Jesus e os
discípulos saíram para o Monte das Oliveiras. Enquanto instituía a Eucaristia,
como memorial perpétuo d’Ele e da sua Páscoa, Jesus colocava simbolicamente
este acto supremo da Revelação sob a luz da misericórdia. No mesmo horizonte da
misericórdia, viveu Ele a sua paixão e morte, ciente do grande mistério de amor
que se realizaria na cruz. O fato de saber que o próprio Jesus rezou com este
Salmo torna-o, para nós cristãos, ainda mais importante e compromete-nos a
assumir o refrão na nossa oração de louvor diária: « eterna é a sua
misericórdia ».
Com o olhar fixo em
Jesus e no seu rosto misericordioso, podemos individuar o amor da Santíssima
Trindade. A missão, que Jesus recebeu do Pai, foi a de revelar o mistério do
amor divino na sua plenitude. « Deus é amor » (1 Jo 4, 8.16): afirma-o, pela
primeira e única vez em toda a Escritura, o evangelista João. Agora este amor
tornou-se visível e palpável em toda a vida de Jesus. A sua pessoa não é senão
amor, um amor que se dá gratuitamente. O seu relacionamento com as pessoas, que
se abeiram d’Ele, manifesta algo de único e irrepetível. Os sinais que realiza,
sobretudo para com os pecadores, as pessoas pobres, marginalizadas, doentes e
atribuladas, decorrem sob o signo da misericórdia. Tudo n’Ele fala de
misericórdia. N’Ele, nada há que seja desprovido de compaixão.
Vendo que a multidão
de pessoas que O seguia estava cansada e abatida, Jesus sentiu, no fundo do
coração, uma intensa compaixão por elas (cf. Mt 9, 36). Em virtude deste amor
compassivo, curou os doentes que Lhe foram apresentados (cf. Mt 14, 14) e, com
poucos pães e peixes, saciou grandes multidões (cf. Mt 15, 37). Em todas as
circunstâncias, o que movia Jesus era apenas a misericórdia, com a qual lia no
coração dos seus interlocutores e dava resposta às necessidades mais autênticas
que tinham. Quando encontrou a viúva de Naim que levava o seu único filho a
sepultar, sentiu grande compaixão pela dor imensa daquela mãe em lágrimas e entregou-lhe
de novo o filho, ressuscitando-o da morte (cf. Lc 7, 15).
Depois de ter
libertado o endemoninhado de Gerasa, confia-lhe esta missão: « Conta tudo o que
o Senhor fez por ti e como teve misericórdia de ti » (Mc 5, 19). A própria
vocação de Mateus se insere no horizonte da misericórdia. Ao passar diante do
posto de cobrança dos impostos, os olhos de Jesus fixaram-se nos de Mateus. Era
um olhar cheio de misericórdia que perdoava os pecados daquele homem e,
vencendo as resistências dos outros discípulos, escolheu-o, a ele pecador e
publicano, para se tornar um dos Doze. São Beda o Venerável, ao comentar esta
cena do Evangelho, escreveu que Jesus olhou Mateus com amor misericordioso e
escolheu-o: miserando atque eligendo.
Sempre me causou impressão esta frase, a ponto de a tomar para meu lema.
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