quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Retiro Espiritual.VII


Misericordiae Vultus - JUBILEU EXTRAORDINÁRIO DA MISERICÓRDIA
Papa Francisco – De 8.12.2015 a 20.11.2016

 
Da Misericórdia para a Misericórdia

PERDÃO CRIADOR E REDENTOR

Foi um ato de Misericórdia que nos deu vida; e é sempre ato criativo o perdão que recebemos continuamente de Deus em nossa vida.

Tal experiência de Misericórdia gera em nós uma atitude correspondente de misericórdia.  Ao perdoar-nos, Deus cria em nós um coração novo, feito de acôrdo com o seu, capaz de perdoar à Sua maneira.

É exatamente este o maior sinal da sua Misericórdia: ama-nos a ponto de enviar-nos ao mundo como instrumentos de sua reconciliação, pondo em nosso coração um Amor que vai além da justiça.

Poder perdoar é dom de Deus; quem perdoa vive a experiência de ser amado pelo Pai; sua misericórdia é modelada pela Misericórdia divina.

Jesus colocou no perdão fraterno uma das características do ser cristão.

Não perdoar é deixar-se aprisionar pelo passado, pelos antigos ressentimentos... é ceder a um outro o controle de si próprio (se alguém não perdoa, fica à mercê das iniciativas do outro, fechado na sequência de ação e reação, de ódio e vingança, de dente por dente, olho por olho”, uma escalada no desespêro).  Perdoar liberta quem perdoa.

O PERDÃO é gesto gratuito, não ligado ao pedido do outro, nem mesmo ao seu arrependimento. Quem perdoa “antecipa” tudo isso; está disposto a dar o primeiro passo e não põe condições a quem o ofendeu, nem espera um reconhecimento eterno. Uma misericórdia superabundante, generosa... é gesto positivo de encontro, de acolhida, de cordialidade, é estar disponível a repetir o perdão até “setenta vezes sete”.

O PERDÃO é gesto HUMILDE que não humilha, porque é discreto e silencioso. Dar o perdão não significa pôr o outro de joelhos para que reconheça as suas faltas; ele nasce de um coração “educado” pela Misericórdia divina e se manifesta externamente com uma atitude mansa e condescendente. Esse Amor é uma força poderosa, não se rende diante do mal, porque é sempre capaz de redescobrir o bem ou de salvar a intenção, de dar novamente a esperança...

O PERDÃO é mais um ESTILO DE VIDA que um ato ligado a uma transgressão. É um modo de pôr-se diante do outro e de sua fraqueza, mas que não se realiza exclusivamente depois da queda; antes, pode às vezes impedir essa queda porque é um estilo de bondade, compreensão, magnanimidade,  estilo de quem não presta atenção ao que o outro merece nem se escandaliza com sua miséria. "Devemos perdoar como pecadores”,  não como “justos”.

NA ORAÇÃO: Deus “olha” o mundo com um olhar de Misericórdia e o salva.

O Crucificado é revelador de ambas as dimensões:  da profundidade transcendente do mal e da realidade vitoriosa da Misericórdia.

O “NÃO” mais brutal dos homens pôs na boca de Deus o “SIM” mais incompreensível.

“Só Deus é capaz de AMAR a quem não é digno de ser amado”.

“Felix culpa”- Deus se serviu do mal para fazer o bem”. “Que é a pérola senão o resultado de um doença da ostra? Que é o fermento senão uma porção de massa estragada?”

A função positiva do mal é inerente ao mistério cristão; é descendo que nos elevamos; é pela nossa sombra que evoluímos; e é, muitas vezes, pelos nossos retrocessos que avançamos.

Textos bíblicos:
 
Mt 18, 11-35: Diante dos discípulos.
 
Outros: Eclo. l8,1-14; Sab. 11,21-26; Joel 2,12-18; Ne 9,5-37; Col. 3,12-17; 2Cor. 5,14-21.

Sobre o Ano da Misericórdia...

Nas parábolas dedicadas à misericórdia, Jesus revela a natureza de Deus como a dum Pai que nunca se dá por vencido enquanto não tiver dissolvido o pecado e superada a recusa com a compaixão e a misericórdia. Conhecemos estas parábolas, três em especial: as da ovelha extraviada e da moeda perdida, e a do pai com os seus dois filhos (cf. Lc 15, 1-32). Nestas parábolas, Deus é apresentado sempre cheio de alegria, sobretudo quando perdoa. Nelas, encontramos o núcleo do Evangelho e da nossa fé, porque a misericórdia é apresentada como a força que tudo vence, enche o coração de amor e consola com o perdão.

Temos depois outra parábola da qual tiramos uma lição para o nosso estilo de vida cristã. Interpelado pela pergunta de Pedro sobre quantas vezes fosse necessário perdoar, Jesus respondeu: « Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete » (Mt 18, 22) e contou a parábola do « servo sem compaixão ». Este, convidado pelo senhor a devolver uma grande quantia, suplica-lhe de joelhos e o senhor perdoa-lhe a dívida. Mas, imediatamente depois, encontra outro servo como ele, que lhe devia poucos centésimos; este suplica-lhe de joelhos que tenha piedade, mas aquele recusa-se e fá-lo meter na prisão. Então o senhor, tendo sabido do facto, zanga-se muito e, convocando aquele servo, diz-lhe: « Não devias também ter piedade do teu companheiro, como eu tive de ti? » (Mt 18, 33). E Jesus concluiu: « Assim procederá convosco meu Pai celeste, se cada um de vós não perdoar ao seu irmão do íntimo do coração » (Mt 18, 35).

A parábola contém um ensinamento profundo para cada um de nós. Jesus declara que a misericórdia não é apenas o agir do Pai, mas torna-se o critério para individuar quem são os seus verdadeiros filhos. Em suma, somos chamados a viver de misericórdia, porque, primeiro, foi usada misericórdia para conosco. O perdão das ofensas torna-se a expressão mais evidente do amor misericordioso e, para nós cristãos, é um imperativo de que não podemos prescindir. Tantas vezes, como parece difícil perdoar! E, no entanto, o perdão é o instrumento colocado nas nossas frágeis mãos para alcançar a serenidade do coração. Deixar de lado o ressentimento, a raiva, a violência e a vingança são condições necessárias para se viver feliz. Acolhamos, pois, a exortação do Apóstolo: « Que o sol não se ponha sobre o vosso ressentimento » (Ef 4, 26). E sobretudo escutemos a palavra de Jesus que colocou a misericórdia como um ideal de vida e como critério de credibilidade para a nossa fé: « Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia » (Mt 5, 7) é a bem-aventurança a que devemos inspirar-nos, com particular empenho, neste Ano Santo.

Na Sagrada Escritura, como se vê, a misericórdia é a palavra-chave para indicar o agir de Deus para conosco. Ele não Se limita a afirmar o seu amor, mas torna-o visível e palpável. Aliás, o amor nunca poderia ser uma palavra abstrata. Por sua própria natureza, é vida concreta: intenções, atitudes, comportamentos que se verificam na atividade de todos os dias. A misericórdia de Deus é a sua responsabilidade por nós. Ele sente-Se responsável, isto é, deseja o nosso bem e quer ver-nos felizes, cheios de alegria e serenos. E, em sintonia com isto, se deve orientar o amor misericordioso dos cristãos. Tal como ama o Pai, assim também amam os filhos. Tal como Ele é misericordioso, assim somos chamados também nós a ser misericordiosos uns para com os outros.

A arquitrave que suporta a vida da Igreja é a misericórdia. Toda a sua ação pastoral deveria estar envolvida pela ternura com que se dirige aos crentes; no anúncio e testemunho que oferece ao mundo, nada pode ser desprovido de misericórdia. A credibilidade da Igreja passa pela estrada do amor misericordioso e compassivo. A Igreja « vive um desejo inexaurível de oferecer misericórdia ».[8] Talvez, demasiado tempo, nos tenhamos esquecido de apontar e viver o caminho da misericórdia. Por um lado, a tentação de pretender sempre e só a justiça fez esquecer que esta é apenas o primeiro passo, necessário e indispensável, mas a Igreja precisa de ir mais além a fim de alcançar uma meta mais alta e significativa.

Por outro lado, é triste ver como a experiência do perdão na nossa cultura vai rareando cada vez mais. Em certos momentos, até a própria palavra parece desaparecer. Todavia, sem o testemunho do perdão, resta apenas uma vida infecunda e estéril, como se se vivesse num deserto desolador. Chegou de novo, para a Igreja, o tempo de assumir o anúncio jubiloso do perdão. É o tempo de regresso ao essencial, para cuidar das fraquezas e dificuldades dos nossos irmãos. O perdão é uma força que ressuscita para nova vida e infunde a coragem para olhar o futuro com esperança.

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