Misericordiae Vultus - JUBILEU EXTRAORDINÁRIO DA MISERICÓRDIA
Papa Francisco – De 8.12.2015 a
20.11.2016
Da Misericórdia para a
Misericórdia
PERDÃO CRIADOR E REDENTOR
Foi um ato de Misericórdia que nos deu vida; e
é sempre ato criativo o perdão que recebemos continuamente de Deus em nossa
vida.
Tal experiência de Misericórdia gera em nós uma
atitude correspondente de misericórdia.
Ao perdoar-nos, Deus cria em nós um coração novo, feito de
acôrdo com o seu, capaz de perdoar à Sua maneira.
É exatamente este o maior sinal da sua
Misericórdia: ama-nos a ponto de enviar-nos ao mundo como instrumentos de sua
reconciliação, pondo em nosso coração um Amor que vai além da justiça.
Poder perdoar é dom de Deus; quem perdoa vive a experiência de ser amado
pelo Pai; sua misericórdia é modelada pela Misericórdia divina.
Jesus colocou no perdão fraterno uma das
características do ser cristão.
Não perdoar é deixar-se aprisionar pelo passado, pelos antigos ressentimentos... é ceder a um outro o controle de si
próprio (se alguém não perdoa, fica à mercê das iniciativas do outro, fechado
na sequência de ação e reação, de
ódio e vingança, de “dente por dente, olho por olho”, uma escalada no desespêro).
Perdoar liberta quem perdoa.
O PERDÃO é gesto gratuito, não ligado ao pedido
do outro, nem mesmo ao seu arrependimento. Quem perdoa “antecipa” tudo isso; está disposto a dar o primeiro passo e não
põe condições a quem o ofendeu, nem espera um reconhecimento eterno. Uma
misericórdia superabundante, generosa... é gesto positivo de encontro, de acolhida, de cordialidade, é
estar disponível a repetir o perdão até “setenta
vezes sete”.
O PERDÃO é gesto HUMILDE que não humilha,
porque é discreto e silencioso. Dar o perdão não significa pôr o outro de
joelhos para que reconheça as suas faltas; ele nasce de um coração “educado” pela Misericórdia divina e se
manifesta externamente com uma atitude mansa e condescendente. Esse Amor é uma
força poderosa, não se rende diante do mal, porque é sempre capaz de
redescobrir o bem ou de salvar a intenção, de dar novamente a esperança...
O PERDÃO é mais um ESTILO DE VIDA que um ato
ligado a uma transgressão. É um modo de pôr-se diante do outro e de sua
fraqueza, mas que não se realiza exclusivamente depois da queda; antes, pode às
vezes impedir essa queda porque é um estilo de bondade, compreensão,
magnanimidade, estilo de quem não presta
atenção ao que o outro merece nem se escandaliza com sua miséria. "Devemos perdoar como pecadores”, não como “justos”.
NA
ORAÇÃO: Deus “olha” o mundo com um olhar de Misericórdia e o salva.
O Crucificado é revelador de ambas as
dimensões: da profundidade transcendente
do mal e da realidade vitoriosa da Misericórdia.
O “NÃO” mais brutal dos homens pôs na boca de
Deus o “SIM” mais incompreensível.
“Só Deus é capaz de AMAR a quem não é digno de
ser amado”.
“Felix culpa”- “Deus se serviu do mal para fazer o bem”. “Que é a pérola senão o
resultado de um doença da ostra? Que
é o fermento senão uma porção de massa estragada?”
A função positiva do mal é inerente ao mistério
cristão; é descendo que nos elevamos; é pela nossa sombra que evoluímos; e é,
muitas vezes, pelos nossos retrocessos que avançamos.
Textos
bíblicos:
Mt 18, 11-35: Diante
dos discípulos.
Outros: Eclo.
l8,1-14; Sab. 11,21-26; Joel 2,12-18; Ne 9,5-37; Col. 3,12-17; 2Cor. 5,14-21.
Sobre o Ano da
Misericórdia...
Nas parábolas
dedicadas à misericórdia, Jesus revela a natureza de Deus como a dum Pai que
nunca se dá por vencido enquanto não tiver dissolvido o pecado e superada a
recusa com a compaixão e a misericórdia. Conhecemos estas parábolas, três em
especial: as da ovelha extraviada e da moeda perdida, e a do pai com os seus
dois filhos (cf. Lc 15, 1-32). Nestas parábolas, Deus é apresentado sempre
cheio de alegria, sobretudo quando perdoa. Nelas, encontramos o núcleo do Evangelho
e da nossa fé, porque a misericórdia é apresentada como a força que tudo vence,
enche o coração de amor e consola com o perdão.
Temos depois outra
parábola da qual tiramos uma lição para o nosso estilo de vida cristã.
Interpelado pela pergunta de Pedro sobre quantas vezes fosse necessário
perdoar, Jesus respondeu: « Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes
sete » (Mt 18, 22) e contou a parábola do « servo sem compaixão ». Este,
convidado pelo senhor a devolver uma grande quantia, suplica-lhe de joelhos e o
senhor perdoa-lhe a dívida. Mas, imediatamente depois, encontra outro servo
como ele, que lhe devia poucos centésimos; este suplica-lhe de joelhos que
tenha piedade, mas aquele recusa-se e fá-lo meter na prisão. Então o senhor,
tendo sabido do facto, zanga-se muito e, convocando aquele servo, diz-lhe: «
Não devias também ter piedade do teu companheiro, como eu tive de ti? » (Mt 18,
33). E Jesus concluiu: « Assim procederá convosco meu Pai celeste, se cada um
de vós não perdoar ao seu irmão do íntimo do coração » (Mt 18, 35).
A parábola contém
um ensinamento profundo para cada um de nós. Jesus declara que a misericórdia
não é apenas o agir do Pai, mas torna-se o critério para individuar quem são os
seus verdadeiros filhos. Em suma, somos chamados a viver de misericórdia,
porque, primeiro, foi usada misericórdia para conosco. O perdão das ofensas
torna-se a expressão mais evidente do amor misericordioso e, para nós cristãos,
é um imperativo de que não podemos prescindir. Tantas vezes, como parece
difícil perdoar! E, no entanto, o perdão é o instrumento colocado nas nossas
frágeis mãos para alcançar a serenidade do coração. Deixar de lado o
ressentimento, a raiva, a violência e a vingança são condições necessárias para
se viver feliz. Acolhamos, pois, a exortação do Apóstolo: « Que o sol não se
ponha sobre o vosso ressentimento » (Ef 4, 26). E sobretudo escutemos a palavra
de Jesus que colocou a misericórdia como um ideal de vida e como critério de
credibilidade para a nossa fé: « Felizes os misericordiosos, porque alcançarão
misericórdia » (Mt 5, 7) é a bem-aventurança a que devemos inspirar-nos, com
particular empenho, neste Ano Santo.
Na Sagrada
Escritura, como se vê, a misericórdia é a palavra-chave para indicar o agir de
Deus para conosco. Ele não Se limita a afirmar o seu amor, mas torna-o visível
e palpável. Aliás, o amor nunca poderia ser uma palavra abstrata. Por sua
própria natureza, é vida concreta: intenções, atitudes, comportamentos que se
verificam na atividade de todos os dias. A misericórdia de Deus é a sua
responsabilidade por nós. Ele sente-Se responsável, isto é, deseja o nosso bem
e quer ver-nos felizes, cheios de alegria e serenos. E, em sintonia com isto,
se deve orientar o amor misericordioso dos cristãos. Tal como ama o Pai, assim
também amam os filhos. Tal como Ele é misericordioso, assim somos chamados
também nós a ser misericordiosos uns para com os outros.
A arquitrave que
suporta a vida da Igreja é a misericórdia. Toda a sua ação pastoral deveria
estar envolvida pela ternura com que se dirige aos crentes; no anúncio e
testemunho que oferece ao mundo, nada pode ser desprovido de misericórdia. A
credibilidade da Igreja passa pela estrada do amor misericordioso e compassivo.
A Igreja « vive um desejo inexaurível de oferecer misericórdia ».[8] Talvez,
demasiado tempo, nos tenhamos esquecido de apontar e viver o caminho da
misericórdia. Por um lado, a tentação de pretender sempre e só a justiça fez
esquecer que esta é apenas o primeiro passo, necessário e indispensável, mas a
Igreja precisa de ir mais além a fim de alcançar uma meta mais alta e
significativa.
Por outro lado, é
triste ver como a experiência do perdão na nossa cultura vai rareando cada vez
mais. Em certos momentos, até a própria palavra parece desaparecer. Todavia,
sem o testemunho do perdão, resta apenas uma vida infecunda e estéril, como se
se vivesse num deserto desolador. Chegou de novo, para a Igreja, o tempo de
assumir o anúncio jubiloso do perdão. É o tempo de regresso ao essencial, para
cuidar das fraquezas e dificuldades dos nossos irmãos. O perdão é uma força que
ressuscita para nova vida e infunde a coragem para olhar o futuro com
esperança.
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