segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Salmos


 
Salmos

O nome atual do LIVRO DOS SALMOS, ou simplesmente SALMOS, está diretamente ligado à mais antiga designação utilizada para esta coleção de poemas ou cânticos religiosos. O nome português deriva da palavra grega “Psalmoi” e esta é já utilizada na antiga tradução grega, chamada dos Setenta, para traduzir o termo hebraico “mizmorôt”, (cânticos). Este parece ter sido o seu nome hebraico mais antigo. Por isso, quando o Novo Testamento lhe chama “biblos psalmôn” (Lc 20,42; Act 1,20), está a usar uma designação correta e formal. No entanto, já nos textos de Qumrân e em alguns autores cristãos antigos aparece o nome que atualmente lhe é dado na Bíblia Hebraica: “Sepher Tehillim”, “Livro dos louvores”.

TEXTO E INTERPRETAÇÃO

O tempo tão longo da formação dos SALMOS e o fato de terem vindo a ser objeto de leitura e utilização contínuas, e mesmo quotidianas, torna possível que o texto, um dos mais antigos da Bíblia, possa ter sofrido influências derivadas dessa leitura e mesmo algumas transformações de conteúdo e sentido. A leitura repetida, geração após geração, e a acumulação interpretativa que assim se forma, atribui a estes textos uma riqueza transbordante de conteúdos.

Nem sempre é fácil traduzir num só texto esta multiplicidade. Aqui, tentamos dar o sentido mais exato possível do texto hebraico, na medida em que no-lo permitem as dificuldades de cada passagem.

COMPOSIÇÃO E DATA

A tradição hebraica e cristã sempre atribuiu uma grande importância a David, como estando na origem dos SALMOS. Isso representa bem o ascendente que esse rei teve na criação das instituições em que Israel via espelhada e assente a sua vida cultual e espiritual, nomeadamente o culto do templo de Jerusalém. E é ao culto que está certamente ligada a composição da maior parte dos SALMOS. No entanto, estes poemas religiosos foram compostos ao longo de muitos séculos e alguns deles poderão ter sido compostos não muito antes do tempo do Novo Testamento.

Nada impede que a maioria seja anterior ao Exílio e alguns deles possam mesmo ser do tempo de David; alguns podem até ser mais antigos. É que estes hinos religiosos são herdeiros e, em certos casos, em linha direta, da poesia religiosa da tradição cananaica, que os hebreus, em boa parte, aproveitaram. Houve certamente épocas privilegiadas na produção destes SALMOS; a de David poderá ter sido uma delas.

USO E LUGAR NA BÍBLIA

Para os hebreus, os SALMOS não tinham tanta importância como os livros atribuídos a Moisés, por exemplo. Daí terem sido colocados na terceira secção, a dos “Escritos”, depois da “Lei” (Torá) e dos “Profetas”. Há nesta gradação algum escalonamento quanto à respectiva valorização teológica. Mas, na vida religiosa, os SALMOS representavam um patrimônio muito utilizado e um elo fundamental de transmissão da fé; alguns deles são, seguramente, dos textos mais repetidos de toda a Bíblia.

Do judaísmo ao cristianismo, a vivência religiosa de grande parte da humanidade teve o seu alimento e a sua expressão mais natural no texto dos SALMOS. Se pensarmos que o modelo básico e até um ou outro salmo podem ter vindo diretamente da cultura religiosa de Canaã anterior aos hebreus, maior é o seu percurso e a sua representatividade. Cantar um salmo, hoje‚ é um ato de comunhão religiosa e humana que atravessa milênios de experiência.

ORGANIZAÇÃO

O LIVRO DOS SALMOS engloba, na atual Bíblia Hebraica, um conjunto de 150 cânticos de que os Sl 1 e 2 constituem a abertura e o Sl 150 representa o encerramento. Mas, na história antiga do texto bíblico, as numerações dos Salmos variaram bastante, sem que se modificasse o seu conteúdo literário. Este conjunto de cânticos era dividido de maneiras diferentes, de tal modo que resultava um número umas vezes inferior e outras superior ao de 150, que se tornou o número canônico no texto hebraico.

Um resto desta antiga variedade na numeração dos Salmos é aquela que ficou na tradução grega dos Setenta, de onde transitou para as traduções latinas dela dependentes e ainda se encontra em antigas traduções portuguesas. Nestas, os Salmos que se encontram entre o 9 e o 147 levam um número a menos. Esta segunda numeração é adotada pelas edições litúrgicas e, neste texto, vai entre parêntesis.

A numeração nas duas Bíblias é a seguinte:


A organização de vários conjuntos no interior do LIVRO DOS SALMOS traduz também algo da história da sua composição: temos coleções de “Salmos de David”: 3-41 e 51-72; “de Asaf”: 50 e 73-83; “de Coré”: 42-49; 84-85; 87-88; “Cânticos de peregrinação”: 120-134; “Salmos de aleluia”: 105-107; 111-118; 135-136; 146-150. Alguns outros Salmos foram dispersos por entre estas coleções.

CLASSIFICAÇÃO DOS SALMOS

O conteúdo e o contexto dos SALMOS fazem com que todos tenham um aspecto semelhante. São expressões de vivência religiosa e de oração. Mesmo assim, existem gêneros literários que identificam todo um grupo de Salmos, com temas, processos, fórmulas e estruturas semelhantes.

O mais normal é existir certa mistura de gêneros literários, de modo que cada salmo pode partilhar elementos provenientes de vários gêneros. Podem-se destacar, no entanto, os seguintes gêneros literários:

Salmos de louvor ou hinos. São hinos de louvor utilizados com muita frequência na liturgia das festas, e dos quais se conhecem muitos outros exemplos dispersos pela Bíblia, tal como o Magnificat e outros, no Novo Testamento. Veja-se Sl 8, 19, 29, 33, 100, 103, 104, 111, 113, 114, 117, 135, 136, 145, 146, 147, 148, 149, 150.

Semelhantes a estes são os “Salmos da realeza de Javé”, que celebram a Deus como rei: Sl 47, 93, 96, 97, 98, 99; e os “Cânticos de Sião”, que celebram Sião ou Jerusalém como cidade de Deus: Sl 46, 48, 76, 84, 87, 122.

Salmos individuais de súplica, confiança ou ação de graças. São claramente os mais numerosos de todos, o que revela bem a atenção à experiência e aos problemas pessoais da fé, no âmbito da liturgia do povo bíblico. As três categorias traduzem um conteúdo específico: de súplica: Sl 5, 6, 7, 13, 17, 22, 25, 26, 28, 31, 35, 36, 38, 39, 42, 43, 51, 54, 55, 56, 57, 59, 61, 63, 64, 69, 70, 71, 86, 88, 102, 109, 120, 130, 140, 141, 142, 143; de confiança: Sl 3, 4, 11, 16, 23, 27, 62, 121, 131; e de ação de graças: Sl 9, 10, 30, 32, 34, 40, 41, 92, 107, 116, 138. Deste conjunto, os Salmos 6, 32, 38, 51, 102, 130 e 143 costumam ser designados também como

“Salmos penitenciais”, dado o seu espírito e o uso litúrgico tradicional.

Salmos coletivos de súplica, confiança ou ação de graças. Partem de uma experiência humana coletiva e exprimem a vivência comunitária que se realiza no culto. São claramente menos numerosos do que os individuais. Exemplos de súplica: Sl 12, 44, 58, 60, 74, 79, 80, 82, 83, 85, 90, 94, 106, 108, 123, 126, 137; de confiança: 115, 125, 129; de ação de graças: 65, 66, 67, 68, 118, 124.

Salmos reais. Têm como tema a importante função exercida pelos reis dentro da comunidade de Israel. Sendo embora um tema diferente do dos “Salmos da realeza de Javé”, têm certamente algumas analogias com as esperanças messiânicas, porque estas voltam-se para uma figura com alguns contornos de rei. Exemplos: Sl 2, 18, 20, 21, 45, 72, 89, 101, 110, 132, 144. Salmos didáticos. Tal é o título que se pode dar a um certo número de SALMOS que ajudam a reflectir sobre temas, acontecimentos e valores importantes. Podem subdividir-se em “Salmos sapienciais” ou de meditação: 1, 37, 49, 73, 91, 112, 119, 127, 128, 133, 139; “Salmos históricos”: 78, 105; “Salmos de exortação profética”: 14, 50, 52, 53, 75, 81, 95; e “Salmos rituais”: 15, 24, 134.

TEOLOGIA

Sistematizar o pensamento que nos é oferecido no LIVRO DOS SALMOS tem muito a ver com tudo o que anteriormente se disse da sua leitura. Não é verdadeiramente um livro, nem foi feito de uma só vez; não tem, portanto, uma doutrina uniforme e explícita. A sua verdadeira unidade é a da atitude de oração que em todos eles se exprime.

Mesmo assim, há ideias que são expressas com mais ou menos intensidade. A utilização que tiveram fez deles a expressão literária das verdades religiosas fundamentais. É o caso das expectativas messiânicas, facilmente associadas aos Salmos de temática real.

Mas o que eles traduzem mais explicitamente é sobretudo a concepção de Deus e de todos os elementos decisivos da experiência religiosa: um Deus que governa o mundo, a vida e a História, que é acolhedor e próximo, disposto a atender os pedidos de socorro, os gritos de desespero e os anseios de esperança, tanto de cada indivíduo como de toda a comunidade. Devido a esta representatividade, os SALMOS tornam-se como que um tratado de teologia bíblica, uma vez que a sua expressividade orante encerra subtilezas tão íntimas que facilmente escapariam aos tratados catequéticos ou mesmo proféticos.


 
Livro de Salmos – Um pouco mais...

Salmos (do grego Ψαλμός, Música, pois a palavra que intitula muitos salmos no texto hebraico é Mizmor מזמור, Músical) ou Tehilim (do hebraico תהילים, Louvores) é um livro do Tanakh (fazendo parte dos escritos ou Ketuvim) e da Bíblia Cristã, vem depois do Livro de Jó, pois este encerra a sequência (AO 1943: seqüência) de livros históricos, e antes do Livro dos Provérbios, iniciando os livros proféticos e poéticos em ordem cronológica, sendo o primeiro livro a falar claramente do Messias (ou Cristo) e seu reinado, e do Juízo Final. É o maior livro de toda Bíblia e constitui-se de 150 (ou 151 segundo a Igreja Ortodoxa) cânticos e poemas proféticos, que são o coração do Antigo Testamento, é a grande síntese que reúne todos os temas e estilos dessa parte da Bíblia, utilizados pelo antigo Israel como hinário no Templo de Jerusalém, e hoje são utilizados como orações ou louvores, no Judaísmo, no Cristianismo e também no Islamismo (o Corão no cap. 17, verso 82, refere os salmos como "um bálsamo"). Tal fato, comum aos três monoteísmos semitas, não tem paralelo, dado que judeus, cristãos e muçulmanos acreditam nos Salmos que foram escritos em hebraico, depois traduzidos para o grego e latim.

Origens

A autoria da maioria dos salmos é atribuída ao rei Davi, o qual teria escrito pelo menos 73 poemas. Asafe é considerado o autor de 12 salmos. Os filhos de Corá escreveram uns nove e o rei Salomão ao menos dois. Hemã, com os filhos de Corá, bem como Etã e Moisés, escreveram no mínimo um cada. Todavia, 51 salmos seriam tidos de autoria anônima.

O período em que os salmos foram compostos varia muito, representando um lapso temporal de aproximadamente um milênio, desde a data aproximada de 1440 a.C., quando houve o êxodo dos Israelitas do Egito até o cativeiro babilônico, sendo que muitas vezes esses poemas permitem traçar um paralelo com os acontecimentos históricos, principalmente com a vida de Davi, quando, por exemplo, havia fugido da perseguição promovida pelo rei Saul (Salmos 18, 52, 54) e de seu próprio filho Absalão (Salmo 3) ou quanto ao arrependimento pelo seu pecado com Bate-Seba (Salmo 51).

Poemas de louvor, os salmos foram inicialmente transmitidos através da tradição oral e a fixação por escrito teve lugar, sobretudo através do movimento de recolha das tradições israelitas, iniciado no exílio babilônico pelo profeta Ezequiel (séculos VII-VI a.C.). Como tal, muitos destes textos são muito anteriores, sendo bastante difícil a sua crítica do ponto de vista literário estritos. Ainda assim, tendo em conta a comparação com a literatura poética coeva do Egito, da Assíria e da Babilônia, pode-se afirmar que estes poemas de Israel são um dos expoentes da poesia universal.

Os salmos, em termos de conteúdo, possuem estrutura coerente, o que também pode ser observado em passagens do Antigo Testamento e em obras literárias do Oriente Médio da Antiguidade.

Tal como em outras tradições culturais, também a poesia hebraica andava estreitamente associada à música. Assim, embora não seja de se excluir para os salmos a possível recitação em forma de leitura, "todavia, dado o seu gênero literário, com razão são designados em hebraico pelo termo Tehillim, isto é, «cânticos de louvor», e, em grego psalmói, ou seja, «cânticos acompanhados ao som do saltério», ou ainda: oração cantada e acompanhada com instrumentos musicais.

De fato, todos os salmos possuem um certo caráter musical, que determina o modo como devem ser executados. E assim, mesmo quando o salmo é recitado sem canto, ou até individualmente ou em silêncio, a sua recitação terá de conservar este caráter musical.

Os salmos acabaram por constituir um hinário litúrgico para uso no templo de Jerusalém, do qual transitaram quer para a sinagoga judaica, quer para as liturgias cristãs.

Na Igreja Católica, os 150 salmos formam o núcleo da oração cotidiana: a chamada Liturgia das Horas, também conhecida por Ofício Divino e cuja organização remonta a São Bento de Núrsia. A oração conhecida por rosário, com as suas 150 Ave Marias, formou-se por analogia com os 150 salmos do Ofício. Outra forma muito popular é organizar listas de Salmos por finalidade, isto é, salmos para serem rezados em determinadas ocasiões como festas, doenças, colheitas ou funerais. Historicamente, a primeira destas listas foi organizada a partir da prática de Santo Arsênio da Capadócia, que rezava um salmo como uma oração com certas finalidades.

Os salmos são também poesia, que é a forma mais apropriada para expressar os sentimentos diante da realidade da vida permeada pelo mistério de Deus, o aliado que se compromete com o homem para com ele construir a história. É Deus participando da luta pela vida e liberdade. Dessa forma, os salmos convidam para que também nós nos voltemos com atenção para a vida e a história. Nelas descobrimos o Deus sempre presente e disposto a se aliar, para caminhar na luta pela construção do mundo novo.

Os salmos supõem o contexto maior de uma fé que nasce da história e constrói história. Seu ponto de partida é o Deus libertador que ouve o clamor do povo e se torna presente, dando eficácia à sua luta pela liberdade e vida (Ex 3,7-8). Por isso, os salmos são as orações que manifestam a fé que os pobres e oprimidos têm no Deus aliado. Como esse Deus não aprova a situação dos desfavorecidos, o povo tem a ousadia de reivindicar seus direitos, denunciar a injustiça, resistir aos poderosos e até mesmo questionar o próprio Deus. São orações que nos conscientizam e engajam na luta dentro dos conflitos, sem dar espaço para o pieguismo, o individualismo ou a alienação.

O livro dos Salmos é um dos mais citados pelos escritores do Novo Testamento. O próprio Jesus orava os salmos, e sua vida e ação trouxeram significado pleno para o sentido que essas orações já possuíam. Depois dele, os salmos se tornaram a oração do novo povo de Deus, comprometido com Jesus Cristo para a transformação do mundo, em vista da construção do Reino.

Vários salmos são considerados pelos teólogos como proféticos ou messiânicos, pois referem-se à vinda do Cristo e, por isso, existem muitas citações de versos dos salmistas no Novo Testamento com o propósito de provar o cumprimento das profecias na pessoa de Jesus.

O Salmo 150 constituiria uma doxologia, ou arremate de louvor do livro.

Variações entre as traduções

O livro dos Salmos chegou até nós em sua versão grega (Septuaginta) e hebraica. A versão grega deste livro, como de toda a bíblia, foi utilizada pelos cristãos convertidos e por São Jerônimo na confecção de sua edição "Vulgata", tradução latina dos livros inspirados. Na Reforma Protestante é que se buscaram os manuscritos originais hebraicos para fazer novas traduções e foi constatada a diferença que havia entre as duas traduções: as versões, apesar de terem o texto completo, diferem na numeração de capítulos e versículos.

Versículos

A versão grega costuma apresentar, na maioria dos salmos, um versículo de introdução, em que são atribuídas autorias e apontados instrumentos que deveriam ser utilizados ao se cantar os textos. Este versículo faz com que a versão hebraica tenha, nesses casos, um versículo a menos, uma vez que essas informações não são consideradas inspiradas por essa versão.

Capítulos

Em suma, pode-se dizer que entre os Salmos 10 e 148, a numeração da Bíblia Hebraica está uma unidade à frente da numeração seguida na Septuaginta e na Vulgata, que juntam: os Salmos 9 e 10 no Salmo 9 (da Septuaginta/Vulgata), e, os Salmos 114 e 115 no Salmo 113 (da Septuaginta/Vulgata); e dividem: o Salmo 116 nos Salmos 114 e 115 (da Septuaginta/Vulgata), e, o o Salmo 147 nos Salmos 146 e 148.

Aplicação

No Judaísmo e no Protestantismo, a numeração usada sempre foi a hebraica.

A Igreja Católica, considerando oficial a tradução da "Vulgata", por muito tempo usou a numeração grega em suas bíblias. Porém, estudiosos consideram essa numeração errada, uma vez que certos salmos, que parecem ser um só, estão separados, enquanto outros, de assuntos bem diferentes, estão juntos. Vendo que a Vulgata era falha ao se basear somente num texto (Septuaginta), e no ínterim de novas descobertas das Escrituras (Manuscritos do Mar Morto), a Igreja permitiu a tradução das Escrituras diretamente dos originais (Constituição Dogmática Dei Verbum) e promoveu uma nova tradução e revisão da Bíblia (Neovulgata), que, desta vez, trouxe a numeração dos salmos a partir da versão hebraica, mas não resolveu a questão dos versículos introdutórios. A despeito desta nova tradução católica, é possível encontrar bíblias católicas que ainda se baseiam na Vulgata, por seu tradicionalismo, como é o caso da bíblia da Editora Ave Maria.

Salmos Proféticos

O Salmo 91 e muitos outros são considerados proféticos ou messiânicos pela Teologia cristã, pois apontam para a vinda do Messias, sendo com frequência citados no Novo Testamento da Bíblia com o objetivo de identificar Jesus Cristo como o cumpridor da promessa.

No Salmo 2, que fala do reinado do Ungido de Deus, verificam-se algumas citações no livro de Atos e na Epístola aos Hebreus.

Já o Salmo 8 que fala da glória divina e da dignidade do Filho do Homem é citado no Evangelho de Mateus, bem como em algumas epístolas de Paulo.

Por sua vez, o Salmo 16 é uma referência à ressurreição de Cristo em seu verso 10, quando Davi assim profetiza:

"Pois não deixarás a minha alma na morte, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção."

Por sua vez, o Salmo 22 fala do sofrimento e da vitória do Messias que se entende cumprido na crucificação de Jesus, principalmente devido aos versos 7 e 18 que, respectivamente, coincidem com a zombaria experimentada durante o martírio e a repartição das vestes pelos soldados.

Todos esses salmos foram proferidos pelo rei Davi, que teria governado Israel um milênio antes do ministério de Jesus.

Importante destacar que tais salmos referem-se à numeração da Bíblia protestante, o que deve ser observado pelo leitor ao consultar a Bíblia católica, cujo conteúdo é o mesmo.

Os Salmos e a história de David

Vários salmos relacionam-se com os acontecimentos que marcaram a vida do rei David.

O Salmo 59 tem a ver com a ocasião em que Saul teria enviado homens à casa de Davi para prendê-lo. Já os Salmos 34 e 56 referem-se à sua fuga de Saul. Por sua vez, o Salmo 142 foi composto quando David encontrava-se escondido na caverna de Adulão, na região do mar Morto.

Ao terminar a perseguição de Saul, Davi compõe o Salmo 18, ressaltando a fidelidade de Deus.

Quando é confrontado pelo profeta Natã sobre o seu adultério com Bate-Seba e a morte de Urias, Davi compõe o Salmo 51, demonstrando o seu verdadeiro arrependimento.

Novamente ao ser perseguido, agora por seu filho Absalão, David ainda escreve os Salmos 3 e 7, o que revela sua confiança no livramento de Deus.

Além destes citados acima, outros Salmos que se relacionam com passagens da vida de Davi seriam o 52 (depois que Doengue assassinou os 85 sacerdotes e suas famílias), o 54 (quando os zifeus tentaram traí-lo), o 57 (enquanto se escondia em uma caverna) e o 63 (enquanto escondia-se no deserto de En-Gedi).

Importante alertar novamente que tais Salmos referem-se à numeração da Bíblia protestante, o que deve ser observado pelo leitor ao consultar a Bíblia católica, cujo conteúdo permanece o mesmo.

O tratamento musical dos Salmos na liturgia cristã

A história do canto do salmo na liturgia cristã corre paralela à história da liturgia, da música e das Igrejas cristãs. Após o desenvolvimento do salmo responsorial no século IV, a função do salmista acaba por se transformar num ministério próprio, mais tarde incluído até no clero local. No entanto, este ministério acaba por cair em desuso com a especialização crescente dos cantores e com a instituição das scholae, ao mesmo tempo em que a participação do povo se reduz.

Na missa, o salmo vê-se limitado a um único versículo, nas versões extraordinariamente elaboradas do gradual gregoriano, assim chamado por ser cantado dos degraus do altar. No Ofício Divino, o canto dos salmos recebe também o desvelo de gerações de compositores, que expressamente compõem algumas das obras-primas da música ocidental, em particular para o solene canto de Vésperas, como, por exemplo, Vespro della Beata Vergine Maria, de 1610, de Claudio Monteverdi, ou as Vesperae Solennes de Confessore, KV 339, de Wolfgang Amadeus Mozart), mas onde muitas vezes, na prática, a oração cede lugar ao concerto.

Na Igreja Católica, o motu proprio Tra le Solecitudine de 1903, do Papa Pio X, exclui da liturgia os salmos "de concerto". Após o Concílio Vaticano II, é restaurado o salmo responsorial na missa, através da Instrução Geral do Missal Romano de 1969.


 
 

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