quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Livros Sapienciais - Um pouco mais...


 
Livros Poéticos e Sapienciais
do Antigo Testamento

Os Livros poéticos e sapienciais do Antigo Testamento são: Jó ou Job (português de Portugal), Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Sabedoria e Ben Sirac ou Eclesiástico. Foram escritos, em sua maioria, em linguagem poética, fazendo uso de metáforas, e têm um caráter de ensinamento para alcançar a sabedoria. Eclesiástico e Sabedoria são deuterocanônicos e por isso não constam na Bíblia protestante, embora estejam presentes na Bíblia católica. Esses livros apresentam a sabedoria e a espiritualidade do povo de Israel.

A sabedoria, neste caso, não é entendida como acumulação de conhecimentos, mas como bom senso no discernimento das situações, adquirido através da meditação e reflexão sobre a experiência concreta da vida -, algo aprendido na prática e que levaria à arte de viver bem. Assim, nos livros sapienciais encontram-se reflexões que brotam de problemas que povoam o dia-a-dia da vida de qualquer pessoa que busca o caminho da realização e felicidade. A experiência comum é mostrada como lugar da manifestação de Deus e da revelação do seu projeto, ou seja, Deus falaria através da experiência do povo.

A sabedoria de cunho mais popular encontrada no livro dos Provérbios e no Eclesiástico apresenta-se em forma uma coleção de frases curtas, sentenças que ajudam a compreender e a encontrar uma saída nas diversas situações enfrentadas pelo homem comum. Já os livros de Jó, Eclesiastes e da Sabedoria são estudos sobre problemas mais profundos sobre temas mais amplos, como o sentido da vida, a morte, a justiça, a vida social, o mal, a natureza da sabedoria etc. O Cântico dos Cânticos trata da experiência mais fundamental da vida: o amor humano, símbolo do amor de Deus para com o seu povo. Já a espiritualidade do povo de Israel é apresentada no livro dos Salmos - uma coleção de 150 orações que refletem as mais diversas situações da vida do indivíduo e do povo.

Livros Deuterocanônicos

O termo deuterocanônico (português brasileiro) ou deuterocanónico (português europeu) refere-se a um conjunto de livros que estão presentes na Septuaginta, antiga tradução em grego dos livros do Antigo Testamento, e por isso supostamente tidos como divinamente inspirados pelos primeiros cristãos. Foram posteriormente definidos como autênticos no Concílio de Roma em 382 d.C., de Hipona em 393 d.C., III Concílio de Cartago em 397, e especialmente no Concílio de Trento, iniciado em 1546.

Etimologia

O termo "deuterocanônico" é formado pela raiz grega deutero (segundo) e canônico (que faz parte do Cânon, isto é do conjunto de livros considerados inspirados por Deus e normativos por uma religião ou igreja). Assim, o termo é aplicado a livros e partes de livros bíblicos que só num segundo tempo foram considerados como canônicos.

Utilização teológica

O adjetivo "deuterocanônico" é originalmente aplicado a estes textos pelos cristãos, por considerarem que foram adicionados num segundo momento da História do Cristianismo como inspirados e fazendo parte integral somente da Bíblia Católica, mas não da dos Protestantes. Para estes, os livros são considerados patrimônios históricos, tendo portanto algum valor literário e religioso. Martinho Lutero, reconhecendo a importância de se conhecer os mesmos, incluiu-os na sua tradução da Bíblia para o alemão, em apêndice.

Além da Igreja Católica (Romana, e também as demais Igrejas particulares sui iuris), outras igrejas utilizam-se dos livros Deuterocanônicos em suas Bíblias, tais como a Igreja Anglicana e as Igrejas Ortodoxas Copta, Siríaca, Grega e Russa. Algumas correntes judaicas, como o judaísmo etíope e o judaísmo egípcio, também aceitam os livros deuterocanônicos como livros inspirados e os incluem em seus cânons.

O assunto da autenticidade e do valor teológico desses livros foi tratado em vários concílios e documentos papais, sobretudo em 1545-1563 dC. - Concílio de Trento, Ecumênico, declarando definitivamente o cânon de 46 livros no Antigo Testamento e declara como anátema quem os rejeitar (vide Cânone de Trento).

Lista dos livros deuterocanônicos do Antigo testamento e Novo testamento

São deuterocanônicos (ou apócrifos pelos Protestantes) do Antigo Testamento e do Novo Testamento os seguintes livros bíblicos:

Antigo Testamento

Tobias

Judite

I Macabeus e II Macabeus

Sabedoria de Salomão

Eclesiástico (também chamado Sirácide ou Ben Sirá )

Baruque

Além destes, podemos também encontrar fragmentos deuterocanônicos dentro de livros canônicos como:

adições em Ester

adições em Daniel - nomeadamente os episódios da História de Susana e de Bel e o dragão

Origem dos deuterocanônicos do Antigo Testamento

Os livros deuterocanônicos foram escritos entre Malaquias e Mateus, ou seja, numa época em que segundo o historiador judeu Flávio Josefo, cessara por completo a revelação divina.

Os textos deuterocanônicos, atrás referidos, chegaram até nós apenas em grego (alguns escritos originalmente nessa língua, outros traduzidos duma versão hebraica, que se perdeu), fazendo parte da chamada Bíblia dos Setenta, ou Septuaginta, a tradução da Bíblia em grego, feita por volta do séc. III a.C, para uso dos judeus da Diáspora, e adotada pelos cristãos desde o início como seu texto bíblico de referência. Tais textos não se encontram, pois, na Bíblia Hebraica ou Tanakh.

Num famoso encontro de rabinos judeus, o chamado Concílio de Jâmnia, realizado nos finais do séc. I d.C, destinado a procurar um rumo para o judaísmo, após a destruição do Templo de Jerusalém, no ano 70 d.C, os participantes decidiram considerar como textos canônicos do judaísmo apenas os que existiam em língua hebraica e que remontassem ao tempo do profeta Esdras.

Apesar da crítica moderna afirmar que vários livros que constam no Cânon Hebraico são posteriores ao tempo de Esdras (como é o caso do Livro de Daniel), os estudiosos explicam que os Fariseus não dispunham do método científico que existe hoje para se datar uma obra, ou mesmo para se atribuir a ela um autor. De qualquer forma, os critérios por eles adotados excluíram os livros deuterocanônicos do Cânon Hebraico (ou Judaico).

Os Deuterocanônicos do Novo Testamento

Houve livros e trechos do Novo Testamento considerados deuterocanônicos pelos católicos e apócrifos por muitos grupos protestantes, os livros de Tiago, Judas, Hebreus, Apocalipse, II Pedro e II e III, assim como trechos do Novo Testamento, como a Perícope da Adúltera.

Lutero chegou até mesmo a duvidar da canonicidade das epístolas aos Hebreus, Tiago, Judas e Apocalipse, que na sua tradução da Bíblia para o alemão deixou-os num apêndice sem numeração de páginas e considerados como apócrifos.

Em 1545, o catolicismo romano convoca o Concílio de Trento, que definitivamente reafirma o que já era aceito em caráter canônico do Cânone Alexandrino do século III a.C. (vide Cânone de Trento)

No início não houve consenso entre os protestantes sobre o Cânon do Antigo e do Novo Testamento. O Rei Jaime I da Inglaterra, responsável pela famosa Versão do Rei Jaime (King James Version), defendia que os deuterocanônicos, bem como os protestantes da Inglaterra também concordavam, deveriam continuar constando nas Bíblias Protestantes. No Brasil, na tradução de Almeida do ano de 1681, eles já apareciam.

Controvérsia protestante

Os cristãos protestantes têm denominado esses livros do Antigo Testamento como "apócrifos", pois neles haveria incoerências e falta de concretização de fatos narrados nesses livros, e não admitem a utilização dos mesmos nas suas listas, não os considerando divinamente inspirados.

Outro argumento apontado é de que foram escritos no período intertestamentário (período de 400 anos compreendidos entre o Novo e o Velho testamento); ou seja, em um período que segundo os teólogos reformadores Deus não teria levantado nenhum profeta (também conhecido como "silêncio profético").


Septuaginta

Septuaginta é o nome da versão da Bíblia hebraica traduzida em etapas para o grego koiné, entre o século III a.C. e o século I a.C., em Alexandria.

Dentre outras tantas, é a mais antiga tradução da bíblia hebraica para o grego, lingua franca do Mediterrâneo oriental pelo tempo de Alexandre, o Grande.

A tradução ficou conhecida como a Versão dos Setenta (ou Septuaginta, palavra latina que significa setenta, ou ainda LXX), pois setenta e dois rabinos (seis de cada uma das doze tribos) trabalharam nela e, segundo a tradição, teriam completado a tradução em setenta e dois dias.

A Septuaginta, desde o século I, é a versão clássica da Bíblia hebraica para os cristãos de língua grega e foi usada como base para diversas traduções da Bíblia.

A Septuaginta inclui alguns livros não encontrados na bíblia hebraica. Muitas bíblias da Reforma Protestante seguem o cânone judaico e excluem estes livros adicionais. Entretanto, católicos romanos incluem alguns destes livros em seu cânon e as Igrejas ortodoxas usam todos os livros conforme a Septuaginta. Anglicanos, assim como a Igreja oriental, usam todos os livros exceto o Salmo 151, e a bíblia do rei Jaime em sua versão autorizada inclui estes livros adicionais em uma parte separada chamada de Apocrypha.

A Septuaginta foi tida em alta conta nos tempos antigos. Fílon de Alexandria considerava-a divinamente inspirada. Além das traduções latinas antigas, a Septuaginta também foi a base para as versões em eslavo eclesiástico, para a Héxapla de Orígenes (parte) e para as versões armênia, georgiana e copta do Antigo testamento. De grande significado para muitos cristãos e estudiosos da Bíblia, é citada no Novo Testamento e pelos Padres da Igreja. Muito embora judeus não usassem a Septuaginta desde o século II, recentes estudos acadêmicos trouxeram um novo interesse sobre o tema nos estudos judaicos. Alguns dos pergaminhos do Mar Morto sugerem que o texto hebraico pode ter tido outras fontes que não apenas aquelas que formaram o texto massorético. Em vários casos, estes novos textos encontrados estão de acordo com a LXX. Os mais antigos códices da LXX (Vaticanus e Sinaiticus) datam do século IV.

Controvérsia

Contra

Há controvérsia quanto à veracidade de que a Septuaginta tenha mesmo existido como uma versão pré-cristã do Velho Testamento em grego, pois nunca foi encontrada nenhuma versão do Velho Testamento em grego datando antes de Orígenes (185 — 253 d.C). H. D. Williams, vice-presidente da Dean Burgon Society publicou um estudo detalhado, no qual defende que a Septuaginta nunca existiu e não passa de um mito. Os defensores da Septuaginta alegam que Jesus Cristo e os apóstolos citaram a Septuaginta. Dr. Williams alega que foi Orígenes quem utilizou o grego do Novo Testamento para traduzir em grego o Velho Testamento na sua obra Héxapla. Dr. Williams argumenta que esta coluna da Héxapla, escrita por Orígenes, hoje é chamada de "Septuaginta", porque a Septuaginta, propriamente dita, não existe.

Mesmo Dr. Jones e Dr. Silva, defensores da Septuaginta e escritores do prominente livro Invitation to Septuagint (Convite à Septuaginta), expressam, em duas ocasiões, a fragilidade que cerca o assunto:

a) "The reader is cautioned, therefore, that there is really no such thing as the Septuagint" (O leitor é advertido, portanto, que na verdade não existe uma 'Septuaginta')

b) "Strictly speaking, there is no such thing as the Septuagint. This may seem like an odd statement in a book entitled Invitation to the Septuagint, but unless the reader appreciates the fluidity and ambiguity of the term, he or she will quickly become confused by the literature." (Estritamente falando, não existe uma 'Septuaginta'. Esta parece até uma declaração estranha num livro chamado Convite à Septuaginta, mas a menos que o leitor compreenda a fluidade e ambiguidade do termo, ele ou ela irá se confundir rapidamente pela literatura.).

Pró Septuaginta

Vários estudos atestam que os Apóstolos e Evangelistas usaram a Septuaginta, a Sociedade Bíblica do Brasil afirma que "pois, como se sabe muitas citações (e alusões) do Antigo Testamento no Novo Testamento procedem diretamente da clássica versão grega". E que das 350 citações que o Novo Testamento faz do Velho Testamento, pelo menos 300 provêm da versão grega.

Exemplos de trechos referentes a Septuaginta podem ser encontrados no Evangelho segundo Mateus, por exemplo, onde Jesus Cristo em resposta ao diabo diz:

"Está escrito: Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus." Mt 4, 4.

Jesus referiu-se a Deuteronômio 8,3, onde é usada "da boca do Senhor" enquanto a Septuaginta traz "da boca de Deus".

Criação do texto

De acordo com o historiador judeu Flávio Josefo, sábios judeus traduziram a Torah para o grego koiné no século III a.C. Outros livros foram traduzidos ao longo dos dois séculos seguintes. Não é claro quando ou onde cada tradução foi realizada. Alguns livros podem inclusive ter sido traduzidos mais de uma vez, configurando diferentes versões e posteriormente revisados. A qualidade e o estilo dos diferentes tradutores também variavam consideravelmente de livro a livro, indo da tradução literal, à de paráfrase e à interpretativa. De acordo com a avaliação de um estudioso "o Pentateuco foi razoavelmente bem traduzido, mas o resto dos livros, especialmente os poéticos, foram em geral mal feitos e contém mesmo alguns absurdos".

A medida que o trabalho de tradução gradualmente progredia e novos livros eram adicionados à coleção, a abrangência da Bíblia grega passou a ficar um tanto indefinida. O Pentateuco sempre manteve a sua preeminência como a base do Cânon, mas a coleção de livros proféticos (a partir dos quais os Neviim foram selecionados) teve sua composição alterada por ter vários escritos hagiográficos nele incorporados. Alguns dos escritos mais recentes, os chamados anagignoskomena, em grego, não estão incluídos no Cânon judaico. Dentre estes livros estão os Livros dos Macabeus e o Eclesiástico. Além disso, a versão da LXX de algumas obras, como o Livro de Daniel e o Livro de Ester, são mais longos do que aqueles encontrados no texto massorético. Alguns livros posteriores, como o Livro da Sabedoria, II Macabeus, entre outros, aparentemente já foram compostos em grego e não em hebraico.

A autoridade do grupo mais extenso de "escritos", a partir dos quais se formou o ketuvim, ainda não havia sido determinada, apesar de que algum tipo de processo seletivo deve ter sido empregado, uma vez que a LXX não inclui outros documentos judaicos bem conhecidos como o Livro de Enoque, o Livro dos Jubileus e outros escritos que atualmente são parte da Pseudepigrafia. Não é sabido quais foram os critérios usados para determinar o conteúdo da LXX além da "Lei e dos Profetas", expressão usada muitas vezes no Novo Testamento.

Nome e designação

A Septuaginta tem seu nome vindo do latim Interpretatio septuaginta virorum (em grego: ἡ μετάφρασις τῶν ἑβδομήκοντα, transl. hē metáphrasis tōn hebdomēkonta), "tradução dos setenta intérpretes". A palavra septuaginta, acrescenta mais detalhes: "No entanto, não foi até o tempo de Agostinho de Hipona (354-430 dC) que a tradução grega das escrituras judaicas veio a ser chamado pela septuaginta termo latino [70 ao invés de 72]. Em sua Cidade de Deus 18,42, enquanto repetindo a história de Aristeu com enfeites típicos, Agostinho acrescenta o comentário: "É a tradução que agora se tornou tradicional para chamar a Septuaginta" ... [Latim omitido] ... Agostinho, portanto, indica que este nome para a tradução grega das escrituras foi um desenvolvimento recente. Mas ele não oferece nenhuma pista sobre quais os possíveis antecedentes levou a este desenvolvimento: Predefinição: Bibleverse, [Antiguidades 12,57, 12,86] Josefo, ou de uma elisão. ... Este nome Septuaginta parece ter sido desenvolvido do quarto para o quinto século.

O título latino se refere ao relato legendário contido na pseudepigráfica Carta de Aristeias em que o rei do Egito Ptolomeu II Filadelfo pede a setenta e dois sábios judeus que traduzam a Torá para o grego, com o fim de incluí-la na Biblioteca de Alexandria.

Uma versão posterior da lenda, narrada por Fílon de Alexandria, afirma que apesar de os tradutores terem sido mantidos em salas separadas, todos eles produziram versões idênticas do texto em setenta e dois dias. Apesar desse relato ser historicamente implausível, sua redação traz à tona o desejo dos sábios judeus da época de apresentar a tradução como divinamente inspirada. Uma versão desta lenda é encontrada no Tratado Megillah do Talmude Babilônico (páginas 9a-9b), que identifica especificamente quinze traduções pouco usuais feitas por eruditos. Somente duas dessas traduções são encontradas no texto da LXX que chegou até nós.

Edições impressas

Todas as edições impressas da Septuaginta são derivadas de três antigas cópias.

A Editio princeps é a Bíblia Poliglota Complutense, baseada em manuscritos atualmente perdidos, é considerada bastante próxima aos mais antigos manuscritos.

A edição aldina publicou-se em Veneza em 1518. O texto aproxima-se mais do Codex B do que do complutense. O editor não os especifica que manuscritos usou. Foi reimpressa diversas vezes.

A edição mais importante é a romana ou sistina, que reproduz exclusivamente o Codex Vaticanus Foi publicada pelo cardeal Caraffa, com a ajuda dos vários peritos, em 1586, autorizado pelo papa Sisto V, para ajudar nas revisões em preparação da Vulgata Latina, requisitada pelo Concílio de Trento. Transformou-se num repositório de textos do Antigo Testamento grego e teve muitas edições novas, tais como o de Holmes e de Pearsons (Oxford, 1798-1827), e as sete edições de Constantin von Tischendorf, que se publicaram em Leipzig entre 1850 e 1887, sendo que os últimos dois, publicou-se após a morte do autor na revisão da Nestle, e as quatro edições do Henry Barclay Swete (Cambridge, 1887-95, 1901, 1909), etc;

A edição de Grabe foi publicada em Oxford, 1707 a 1720, e reproduzida, de maneira incompleta no Codex Alexandrinus de Londres. Para edições parciais, veja Vigouroux, “Dict. de la Bible”, sqq 1643.


 

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