Foi
durante o Inverno de 55-56, em Corinto, que Paulo escreveu esta Carta,
provavelmente a última (16,23). Acabara de resolver os conflitos com as
comunidades de Filipos (Fl 3,2-4) e Corinto (1 e 2 Cor), e considerava
terminada a evangelização da parte oriental do império romano: as comunidades
cristãs que fundara nas maiores cidades se encarregariam de irradiar o
Evangelho para as províncias (15,23). Assim, podia finalmente visitar os
cristãos de Roma (1,13-15; 15,22-24) e seguir de lá até à Espanha, a província
ocidental do império.
Antes,
porém, quer entregar aos cristãos de Jerusalém a colecta de solidariedade que,
desde o “concílio”, organizou nas suas comunidades (15,25-28; Gl 2,10). Receia,
no entanto, não ser bem aceite (15,30-32). Afinal, é em Jerusalém que mais o
contestam, por não exigir que os gentios abracem certos preceitos da Lei
judaica para serem cristãos. Sabe, por isso, que a aceitação da colecta em
Jerusalém levaria, na prática, ao reconhecimento das suas comunidades; e, com
uma unidade eclesial de judeus e gentios assim obtida, seria mais fácil a
missão em Espanha. Daí que a maior parte da Carta seja escrita em forma de
diálogo com um judeu (2,1-5). É às dúvidas dos cristãos de Jerusalém que se
consideravam o verdadeiro Israel que ele responde.
DESTINATÁRIOS
Possivelmente,
essas dúvidas eram conhecidas dos cristãos de Roma. Também aí o cristianismo,
levado talvez por comerciantes vindos do Oriente, se iniciara nas sinagogas
judaicas. Pelo menos foi nelas que se gerou o conflito entre judeus e cristãos,
que fez com que o imperador Cláudio, no ano 49, os expulsasse da capital (Act
18,2). Os poucos que ficaram tiveram que separar-se da sinagoga e assim
sobreviver, o que era difícil, uma vez que ainda não podiam contar com o apoio
de uma estrutura eclesial organizada.
Por
este facto, não admira que muitos deles se tenham apoiado em tradições e
práticas judaicas para a santificação do dia-a-dia, como as referentes a
alimentos e à guarda do sábado. Paulo fala disso nos cap. 14-15. É que,
entretanto, tinha crescido o número dos que consideravam secundárias tais
normas; e a minoria dos que as seguiam era mesmo olhada com desprezo.
Além
disso, segundo dá a entender no cap. 16, os cristãos estavam divididos por
várias comunidades, reunidas em diferentes casas, como aliás já acontecia com
as sinagogas. Paulo dirige-se a todos na mesma Carta e, com isso, já está a
tentar levá-los à reconciliação e à unidade.
MOTIVO
DA CARTA
Só com
os cristãos de Roma unidos poderá Paulo contar com o apoio, em meios e pessoas,
para a evangelização da Espanha. É sobretudo por esta razão que quer visitá-los
e é a preparar a visita que lhes escreve (1,8-17; 15,22-24).
Fá-lo,
baseando-se na sua condição de Apóstolo dos gentios (1,1.5; 15,15-16) e com os
direitos e deveres que isso lhe dá sobre os cristãos de Roma, cuja maioria é
proveniente do paganismo (1,6.13.15); mas reconhece, ao mesmo tempo, que não
tem sobre eles a mesma autoridade que teria, se fossem uma comunidade por ele
fundada (15,14-21).
Assim,
antes de lhes comunicar abertamente o objectivo da visita em 15,24, expõe-lhes
longamente o Evangelho de que se tornou Apóstolo e que anuncia (1,18-11,36),
procurando esclarecer os pontos mais polémicos.
DIVISÃO
E CONTEÚDO
A
Carta aos Romanos poderá dividir-se em quatro partes:
Introdução:
1,1-17;
I. O Evangelho da Salvação:
1,18-11,36;
II. Vida de acordo com o Evangelho:
12,1-15,13;
Conclusão:
15,14-16,27.
TEOLOGIA
Na primeira
parte, Paulo expõe o seu Evangelho (cap. 1-11): a salvação realizada por
Deus em Cristo é universal e exclusiva; estende-se a judeus e gentios e só pode
adquirir-se pela fé, já que, sem Cristo, nem sequer os judeus estão em
condições de cumprir a Lei e salvar-se, assim, pelos próprios meios
(1,18-5,21). E é por causa disso que Paulo é acusado de destruir as duas
realidades constitutivas de Israel: a sua eleição, como povo de Deus, e a Lei,
como norma de vida (3,1-8). Nos cap. 6-8 responde à questão sobre a Lei: a fé
em Cristo não é contra a Lei, mas é mesmo o único meio que nos torna capazes de
a cumprirmos. Nos cap. 9-11 mostra como a Igreja de Cristo, ao acolher os
pagãos, não perdeu as suas raízes no povo cuja eleição começa em Abraão; pelo
contrário, só quando todos, pagãos e judeus, aderirem a Cristo, se cumprirão
plenamente as promessas de Deus.
Na segunda
parte (cap. 12-16), Paulo exorta à unidade, que provém da participação
comum no amor de Cristo e se manifesta no bom relacionamento entre os de dentro
e os de fora da Igreja (cap. 12-13) e, sobretudo, na aceitação da sensibilidade
e diversidade próprias de cada um (14,1-15,13). Temos aqui o Evangelho na sua
expressão prática. 15,14-16,27 é a conclusão.
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