Os Atos dos Apóstolos (em grego: Πράξεις των Αποστόλων; transl.: ton praxeis apostolon; em latim: Acta Apostolorum) é o quinto
livro do Novo Testamento. Geralmente conhecida apenas como Atos, ele descreve a
história da Era Apostólica. O autor é tradicionalmente identificado como Lucas,
o Evangelista.
O Evangelho de Lucas e o livro de Atos formavam apenas dois volumes de uma
mesma obra, à qual daríamos hoje o nome de História das Origens Cristãs. Lucas
provavelmente não atribuiu a este segundo livro um título próprio. Somente
quando seu evangelho foi separado dessa segunda parte do livro e colocado junto
com os outros três evangelhos é que houve a necessidade de dar um título ao
segundo volume. Isso se deu muito cedo, por volta de 150 d.C. Tanto em sua
intenção quanto em sua forma literária, este escrito não é diferente dos quatro
evangelhos.
Escritores dos séculos II e III fizeram várias sugestões para nomear essa
obra, como O memorando de Lucas (Tertuliano) e Os atos de todos os apóstolos
(Cânon Muratori). O nome que finalmente iria consagrar-se aparece pela primeira
vez no prólogo antimarcionista de Lucas (final do século II) e em Ireneu. A
palavra Atos denotava um gênero ou subgênero reconhecido, caracterizado por
livros que descreviam os grandes feitos de um povo ou de uma cidade. O título
segue um costume da literatura helenística, que conhecia os Atos de Anibal, os
Atos de Alexandre, entre outros.
O objetivo desse livro é mostrar a ação do Espírito Santo na primeira
comunidade cristã e, por ela, no mundo em redor. O conteúdo do livro não
corresponde ao seu título, porque não se fala de todos os apóstolos, mas
somente de Pedro e de Paulo. João e Filipe aparecem apenas como figurantes.
Entretanto, não são os atos desses apóstolos que achamos no livro, mas antes a
história da difusão do Evangelho, de Jerusalém até Roma, pela ação do Espírito
Santo.
Composição - Autoria
Enquanto a identidade exata do autor é debatida, o consenso é que este
trabalho foi composto por um gentio de fala grega que escreveu para uma
audiência de cristãos gentios. Os Pais da Igreja afirmaram que Lucas era
médico, sírio de Antioquia e um adepto do Apóstolo Paulo. Os estudiosos
concordam que o autor do Evangelho de Lucas é o mesmo que escreveu o livro de Atos
dos Apóstolos. A tradição diz que os dois livros foram escritos por Lucas
companheiro de Paulo (nomeado em Colossenses 4:14 ). Essa visão tradicional da
autoria de Lucas é "amplamente aceita, visto que a autoria Lucana é quem
mais satisfatoriamente explica todos os dados". A lista de estudiosos que
mantém a autoria de Lucas é longa e representa a opinião teológica maioritária.
No entanto, não há consenso. De acordo com Raymond E. Brown, a opinião corrente
sobre a autoria de Lucas é 'dividida'.
Título
O título Atos dos Apóstolos (grego Πράξεις ἀποστόλων [Práxeis Apostólon]) não fazia parte do
texto original. Foi usado pela primeira vez por Ireneu no final do século II.
Alguns têm sugerido que o título de Atos deve ser interpretado como Os Atos do
Espírito Santo ou ainda Os Atos de Jesus, uma vez que Atos 1:1 dá a impressão
de que esses atos foram definidos como algo que Jesus continuou a fazer e
ensinar, sendo Ele mesmo o principal personagem do livro.
Gênero
A palavra Atos denotava um gênero reconhecido no mundo antigo, que era
característico dos livros que descreviam os grandes feitos de pessoas ou de
cidades. Existem vários livros apócrifos do Novo Testamento, incluindo dos Atos
de Tomé até os Atos de André, Atos de João e Atos de Paulo. Inicialmente, o
Evangelho segundo Lucas e o livro de Atos dos Apóstolos formaram uma única
obra; Foi só quando os evangelhos começaram a ser compilados em conjunto que o
trabalho inicial foi dividida em dois volumes com os títulos acima mencionados.
Os estudiosos modernos atribuem uma ampla gama de gêneros para os Atos dos
Apóstolos, incluindo a biografia, romance e história. Entretanto, a maioria
interpretam o gênero do livro de histórias épicas dos primeiros milagres
cristãos, da história da igreja primitiva e das conversões.
Fontes
O autor de Atos invocou várias fontes, bem como a tradição oral, na
construção de sua obra do início da igreja e do ministério de Paulo. A prova
disso é encontrada no prólogo do Evangelho de Lucas, onde o autor faz alusão às
suas fontes, escrevendo:
“«Muitos já se dedicaram a elaborar um relato dos factos que se cumpriram
entre nós, conforme nos foram transmitidos por aqueles que desde o início foram
testemunhas oculares e servos da palavra. Eu mesmo investiguei tudo
cuidadosamente, desde o começo, e decidi escrever-te um relato ordenado, ó
excelentíssimo Teófilo, para que tenhas a certeza das coisas que te foram ensinadas.»
(Lucas 1:4) ”
A mesma maneira de se falar "Teófilo", é encontrada apenas em
(Lucas 1:1-4) e em (Atos 1:1-2), indicando uma provável autoria de Lucas em Atos
dos Apóstolos.
“ «Fiz o primeiro tratado, ó Teófilo, acerca de tudo que Jesus começou, não
só a fazer, mas a ensinar, até ao dia em que foi recebido em cima, depois de
ter dado mandamentos, pelo Espírito Santo, aos apóstolos que escolhera.» (Atos
1:1-2) ”
Alguns estudiosos acreditam que o nós das passagens encontradas no livro de
Atos são exatamente algumas citações dessas fontes que anteriormente
acompanharam Paulo em suas viagens. Acredita-se que o autor de Atos não teve
acesso a coleção de cartas de São Paulo. Uma parte das evidências sugerem que,
apesar do livro citar o autor acompanhando São Paulo em boa parte de suas
viagens, Atos nunca cita diretamente nenhuma das Epístolas paulinas, nem
menciona que São Paulo escrevia cartas. As discrepâncias entre as epístolas
paulinas e Atos apoia ainda a conclusão de que o autor de Atos não tem acesso a
essas epístolas ao redigir seu livro.
Entretanto, a melhor explicação para o uso do pronome nós a partir de Atos
16 é que o próprio São Lucas esteve com São Paulo nessas ocasiões. A sua
lembrança como testemunha ocular, juntamente com o contacto pessoal bastante
próximo com o apóstolo São Paulo, explica melhor o material de Atos 16-28.
Outras teorias sobre as fontes de Atos são ainda mais controversas. Alguns
historiadores acreditam que o livro toma emprestado fraseologia e elementos do
enredo de As Bacantes e de Eurípedes. Alguns acham que o texto de Atos mostra
evidências de ter usado o historiador judeu Flávio Josefo como fonte, mas essas
duas evidências anteriores já se mostraram serem praticamente impossíveis.
Local de composição
O lugar de composição e os leitores que São Lucas tinha em mente ao
escrever seu livro ainda é incerto. A tradição liga Lucas com Antioquia. Existe
uma pequena evidência interna que faz essa ligação. Outra possível localidade
da composição desse livro é Roma, uma vez que a história de Atos termina ali.
Existem ainda outros estudiosos que creem que o livro foi escrito em Éfeso,
visto que São Lucas demonstra considerável interesse por essa cidade. Observe as
alusões feitas no livro de Atos a Escola de Tirano (Atos 19:9) e a Alexandre (Atos
19:33), além da detalhada topografia de Atos 20:13-15. Qualquer dos assuntos
dessa região, incluindo o futuro da igreja em Éfeso (Atos 20:28-30), são
tratados como se fossem de especial interesse de Teófilo e seu círculo. Existe
também uma antiga tradição que afirma que São Lucas morreu perto na Bitínia.
Por fim, foi nessa região que surgiram algumas controvérsias e alguns protestos
públicos contra ele (por exemplo, Atos 19:23-41). Sendo assim, o trabalho de
São Lucas seria uma tentativa de fazer uma apologia da Igreja Primitiva contra
as acusações da Sinagoga que pretendia influências a política romana. É bom
lembrar que o judaísmo tinha muita força na Ásia.
Precisão histórica
A questão da autoria está amplamente ligado ao valor histórico do conteúdo.
A maioria dos estudiosos acreditam que o livro de Atos é historicamente exato e
válido segundo a arqueologia, enquanto os críticos acham o trabalho muito
impreciso, especialmente quando comparado com as epístolas de São Paulo. A
questão-chave da controversa da historicidade do livro é a descrição que Lucas
faz de Paulo. De acordo com o ponto de vista da maioria, Atos descreve São
Paulo diferente de como ele descreve a si mesmo em suas epístolas, tanto
historicamente quanto teologicamente. Atos difere das cartas de São Paulo sobre
questões importantes, tais como a Lei, o apostolado de São Paulo, bem como sua
relação com a Igreja de Jerusalém. Os estudiosos geralmente preferem os relatos
de São Paulo. No entanto, alguns historiadores e estudiosos proeminentes,
representando a visão tradicional, vêem o livro de Atos como sendo bastante
precisos e corroborados pela arqueologia, além de afirmar que a distância entre
São Paulo das epístolas e o São Paulo do livro de Atos é exagerada pelos
estudiosos.
Data da redação
A atmosfera cultural e política descrita no livro de Atos sugere que o
livro tenha sido escrito no século I. Entretanto, as datas propostas para o
livro vão de 62 d.C., ano em que ocorre o último acontecimento narrado no livro
Atos 28:30, até meados do século II, quando ocorre a primeira referência
explícita ao livro de Atos.
Anterior a 70 d.C.
Donald Carson, Douglas Moo e Leon Morris datam o livro em 62 d.C. Os três
especialistas observam que a ausência de qualquer menção à destruição de
Jerusalém seria pouco provável se o livro tivesse sido escrito depois de 70
d.C.. Leon Morris sugeriu que a não menção da morte de Paulo, personagem
central do livro, aponta para uma data antes de sua morte, em 64 d.C.. Além
disso, não há referência no livro de Atos da morte de Tiago (62 d.C.) e de
Pedro (67 d.C.). Howard Marshall observa que Lucas parece não ter lido as
cartas de São Paulo. Isso torna ainda mais improvável uma data avançada para o
livro de Atos, uma vez que as cartas de São Paulo circulavam nas igrejas.
Outros argumentos que apontam para essa data recente são: (1) a descrição que
São Lucas faz do judaísmo como uma religião autorizada, uma situação que teria
mudado abruptamente com a erupção da rebelião judaica contra Roma em 66 d.C.;
(2) o facto de São Lucas omitir qualquer referência à perseguição promovida por
Nero, a qual, caso tivesse acontecido enquanto São Lucas escrevia certamente
teria afetado de alguma maneira a sua narrativa; (3) os detalhes vívidos da
narrativa do naufrágio e da viagem (Atos 27:1 - 27), o que sugere uma
experiência bem recente. Outro ponto é que Lucas nota o cumprimento da profecia
de Ágabo (Atos 11:28). Se estivesse escrevendo depois de 70 d.C., seria lógico
esperar que mencionasse em algum lugar o cumprimento da profecia de Jesus de
que a cidade seria destruída (Atos 21:20).
Entre 80 e 95 d.C.
Atualmente, a maioria dos estudiosos acredita que Atos foi escrito nos anos
80 d.C. ou um pouco depois. Um pequeno indicador sobre a possível datação do
livro pode estar em Atos 6:9, que menciona a província de Cilícia. Essa
Província romana tinha sido perdida em 27 d.C. e foi restabelecida pelo
Imperador Vespasiano apenas em 72 d.C., o que dataria a obra depois dessa data.
Entretanto, uma vez que São Paulo era da Cilícia e refere-se a si mesmo
utilizando esse nome (veja Atos 21:39 e Atos 22:3), parece natural que o nome
da província teria continuado a ser usado entre os seus moradores, apesar do
hiato na nomenclatura oficial romana.
Outro argumento para essa datação é o pressuposto de que Atos foi escrito
depois do Evangelho de São Lucas. Esses estudiosos costumam datar essa obra
depois do ano 70 d.C. baseados em duas suposições: São Lucas foi escrito depois
da queda de Jerusalém pelos romanos; a outra é que o Evangelho de Marcos, que
Lucas provavelmente empregou, deve ser datado em meados dos fins do anos 60 d.C..
Isso colocaria o livro de Atos em meados de 75 d.C.
Uma data no século II
Hoje em dia poucos eruditos acreditam que Atos é uma obra do século II. Mas
o estudiosos que defendem essa hipótese apontam os vários paralelos existentes
entre o livro de Atos e as duas mais importantes obras de Flávio Josefo: A
Guerra dos Judeus (75–80 d.C.) e Antiguidades Judaicas (94 d.C.). Alguns
eruditos argumentam que Lucas utilizou material das duas obras de Josefo, ao
invés do contrário, o que indicaria que Atos foi escrito por volta do ano 100
d.C. ou um pouco mais tarde. Três pontos de contato principais com as obras de
Flávio são citados: (1) As circunstâncias que rodearam a morte de Agripa I em
44 d.C.. Aqui Atos 12:21-23 é em grande parte paralela à Antiguidades Judaicas
19.8.2; (2) O tribuno romano confunde Paulo com o falso profeta egípcio que
iniciou um revolta no Monte das Oliveiras Atos 21:38. Josefo cita essa revolta
em A Guerra dos Judeus 2.13.5 e em Antiguidades 20.8.6; (3) As revoltas de
Teudas e Judas, o galileu são citados por ambos os autores (Atos 5:36 e
Antiguidades 20.5.1).
De acordo com John Townsend, não é antes das últimas décadas do século II
que se encontra vestígios indiscutíveis do trabalho [livro de Atos]. Townsend,
voltando-se para as fontes por trás dos escritos de pseudo-Clemente, argumenta
que a data para a composição final da obra está na metade do século II.
Entretanto, de acordo com Richard Pervo, o ensaio [de Townsend é prudente mas
metodologicamente aventureiro e em última análise é lição valiosa do perigo de
se estabelecer a data de Atos ou de qualquer trabalho, alegando para o mais
cedo possível de origem.
Os argumentos mais fortes que ajudaram a minar esse ponto de vista foram os
vestígios que Donald Guthrie encontrou do livro Atos na Epístola de Policarpo
aos Filipenses (110 d.C.) e em uma epístola de Inácio (117 d.C.). De acordo com
Guthrie, Atos provavelmente era bastante conhecido em Antioquia e Esmirna por
volta de 115 d.C., e em Roma, perto de 96 d.C..
Principais
acontecimentos
O Livro de Atos inicia-se com a ascensão de Jesus, o qual determinou aos
seus discípulos que permanecessem em Jerusalém até que fossem revestidos com
por uma unção celestial que é descrita nos fatos ocorridos durante o dia de
Pentecostes. A escolha do discípulo Matias que foi precedida do suicídio de
Judas, nos versículos de 1:16 -20 São Pedro fala sobre o campo (Aceldama) que
ele adquiriu com as 30 moedas de prata.
Os capítulos seguintes relatam os primeiros momentos da igreja primitiva na
Palestina sob a liderança de Pedro, as primeiras conversões de judeus e depois
dos gentios, o violento martírio de Estêvão por apedrejamento, a conversão do
perseguidor Saulo de Tarso (Paulo) que se torna a partir de então um apóstolo,
mencionando depois as missões deste pelas regiões orientais do mundo romano,
mais precisamente pela Ásia Menor, Grécia e Macedônia, culminando com a sua
prisão e julgamento quando retorna para Jerusalém e, finalmente, fala sobre sua
viagem para Roma.
Pode-se dizer que do começo até o verso 25 do capítulo 12, o Livro de Atos
dá um enfoque maior ao ministério de São Pedro, em que, depois da ressurreição
de Jesus Cristo e do Pentecostes, o apóstolo pregou corajosamente e realizou
muitos milagres, relatando, em síntese, o estabelecimento e a expansão da
Igreja pelas regiões da Judeia e de Samaria, seguindo para alguns países da
Ásia Menor.
Já a outra metade da obra centraliza-se mais no ministério de São Paulo (do
capítulo 13 ao final) e poderia ser subdividido em seis partes:
1.a primeira viagem missionária liderada por São Paulo e Barnabé;
2.o Concílio de Jerusalém;
3.a segunda viagem missionária de São Paulo em que o Evangelho é levado à
Europa;
4.a terceira viagem missionária;
5.o julgamento de São Paulo;
6.a viagem de São Paulo a Roma.
Importante destacar que no livro de Atos é narrada a rejeição contínua do
Evangelho pela maioria dos judeus, o que levou à proclamação das Boas Novas aos
povos gentios, principalmente por São Paulo.
Estabelecimento da
Igreja
Narra o livro de Atos que, antes de subir aos Céus, Jesus determinou aos
seus discípulos que permanecessem em Jerusalém até que recebessem o poder do
alto através do Espírito Santo e que a partir de então eles se tornariam suas
testemunhas até os confins da terra. Enquanto aguardavam o cumprimento da
promessa, foi escolhido o nome de São Matias em substituição a Judas Iscariotes
que se tinha suicidado. Com a descida do Espírito Santo no dia de Pentecostes,
ocorre uma experiência sobrenatural em que os judeus de outras nacionalidades
que estavam presentes na festa ouviram os discípulos falando em seus próprios
idiomas, o que chamou a atenção de uma multidão de pessoas para o local onde
estavam reunidos.
Corajosamente, São Pedro inicia um discurso explicando o motivo do
acontecimento em que três mil pessoas são convertidas para o Cristianismo que
foram batizados, passando a congregar levando uma vida comunitária de muita
oração onde se presenciavam prodígios e milagres feitos pelos apóstolos.
De acordo com os versos 42 a 44 do capítulo 2, os cristãos primitivos
tinham todos os seus bens em comum, o que parece ter-se mantido por anos na
igreja de Jerusalém. Já os versos 32 a 37 do capítulo 4 informam que
"ninguém considerava exclusivamente sua nenhuma das coisas que
possuía" e que os que eram donos de propriedades vendiam suas terras ou
casas e depositavam o valor da venda perante os apóstolos para que houvesse
distribuição entre os que tinham necessidades materiais.
Um milagre importante, a cura de um homem coxo de nascença que pedia esmola
na porta do Templo, é relatado logo no capítulo 3 do livro, o que provoca a
prisão de São Pedro e do Apóstolo João que são trazidos perante o Sinédrio.
Repreendidos pelas autoridades judaicas para que não pregassem mais no nome de
Jesus, os dois apóstolos, os quais responderam que estavam praticando a vontade
de Deus e não dos homens.
Novas prisões dos apóstolos ocorrem no livro de Atos, pois o crescimento da
Igreja incomodava o sumo sacerdote e a seita dos saduceus, conforme é narrado
nos versos de 17 a 42 do capítulo 5 da obra. Porém, com o parecer dado pelo
rabino Gamaliel, o Sinédrio resolve libertar São Pedro e os demais, depois de
castigá-los com açoites.
Com o crescimento do número de discípulos, é instituído o cargo de diácono
para ajudar nas atividades da Igreja, entre os quais estavam Estêvão e Filipe,
o Evangelista que muito se destacaram em seus ministérios. Porém, Estêvão é
preso, conduzido ao Sinédrio e condenado à morte.
As primeiras perseguições
e a expansão da fé cristã
Após o apedrejamento de Estêvão, Saulo de Tarso empreende uma grande
perseguição à Igreja em Jerusalém, o que dispersou vários discípulos pelas
regiões da Judeia e Samaria, chegando também o Evangelho à Fenícia, Chipre e
Antioquia.
Algumas obras de Filipe, o Evangelista, são narradas em Atos, entre as
quais a sua passagem por Samaria e a conversão de um eunuco etíope na rota
comercial de Gaza.
Saulo de Tarso ao tentar empreender novas perseguições, converte-se quando
viajava para Damasco e tem uma visão de Jesus, ficando cego por três dias, até
ser curado quando se encontra com Ananias.
Depois destes acontecimentos, a Igreja passa por um período de paz. Dois
milagres de destaque narrados nesse momento da obra de São Lucas são a cura do
paralítico Eneias, em Lida, e a ressurreição de Dorcas, na cidade de Jope.
Vimos em Dorcas um exemplo de alguém que se doou para que a Igreja nascente
tivesse razão social de ser, além de razão espiritual convincente. Se a Igreja
manifestava Jesus Cristo como aquele capaz de conduzir o homem a Deus pelo seu
grande amor e doação pelos seres humanos, Deus usava seres humanos como Dorcas
para manifestar o seu grande amor aos demais seres humanos numa dimensão
horizontal. Foi assim que, morrendo Dorcas, a Tabita querida, Deus pode e quis
ressuscitá-la pelo seu grande poder e amor diante do clamor dos que foram por
ela favorecidos - toda a comunidade jopeana.
O Evangelho chega aos
gentios
Narra o capítulo 10 de Atos que Simão Pedro, encontrando-se em Jope, recebe
uma visão em que Deus lhe ordena alimentar-se de vários animais considerados
imundos ou impróprios para o consumo (v. 11), conforme a lei mosaica. Pedro
entende então o real significado. A visão não o estava pedindo ou mudando a lei
no que se refere a carne de animais imundos, mas que Deus estava o orientando
para não fazer discriminação, pois o evangelho deveria ser pregado a todos
independente da origem, judeus ou gentios (v. 28). Entendendo isso, Pedro prega
o Evangelho na casa de um centurião romano de Cesareia chamado Cornélio, o qual
se converte juntamente com todos os que ouviram o discurso do apóstolo, sendo
depois batizados.
Por este motivo, Pedro é questionado pelos outros apóstolos e cristãos da
Judeia que se convencem.
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