Paulo
escreveu esta Carta em Éfeso, durante a terceira viagem missionária, para
remediar os abusos, nomeadamente as divisões e escândalos de que teve
conhecimento por mensageiros vindos de Corinto (1,11), e para responder às
questões que lhe foram postas por escrito (7,1). Estas circunstâncias explicam
o carácter não sistemático da Carta, com a única preocupação de enfrentar as
necessidades e resolver as dúvidas dos seus correspondentes.
A
COMUNIDADE
Ao
longo destas páginas, desenha-se o retrato fiel de uma comunidade viva e
fervorosa, mas com todos os problemas resultantes da inserção da mensagem
cristã numa cultura diferente daquela em que tinha sido anunciada
anteriormente. As questões abordadas derivam em grande parte do fenómeno da
inculturação do Evangelho em ambiente helenista. Paulo procura esclarecer,
mostrando-se firme ao condenar os comportamentos inconciliáveis, mas
compreensivo quando a fé não corre perigo.
CONTEÚDO
O
conteúdo da 1.ª Carta aos Coríntios pode resumir-se nos seguintes pontos
doutrinais:
Prólogo:
1,1-9;
I. Divisões na igreja de Corinto:
1,10-4,21;
II. Escândalos na igreja:
5,1-6,20;
III. Resposta a questões concretas:
7,1-11,1;
IV. A Assembleia Litúrgica:
11,2-34;
V. Os carismas:
12,1-14,40;
VI. A ressurreição dos mortos:
15,1-58;
Epílogo:
16,1-24.
TEOLOGIA
Os
cristãos de Corinto enfrentaram várias “tentações”: reduzir a fé cristã a uma
sabedoria humana, diversificada à maneira das escolas filosóficas de então
(1,10; 3,22); ceder aos imperativos de uma ética sexual, caracterizada, ora por
um excessivo laxismo, ora pelo desprezo da carne, segundo as diferentes
correntes filosóficas (5,1-3; 6,12-20; 7,1-40); continuar a observar as
práticas cultuais do paganismo (cap. 8-13) e a sofrer a influência suspeita das
refeições sagradas (11,21) e do frenesim delirante de certos ritos (12,2-3).
Tiveram ainda dificuldade em conciliar o mistério fundamental da ressurreição
dos mortos com as doutrinas dualistas da filosofia grega (cap. 15).
As
soluções propostas estão marcadas pelos condicionalismos culturais de então e
pelo concreto da vida; mas não se reduzem a mera casuística já ultrapassada,
porque o génio de Paulo, mesmo quando desce a questões do dia-a-dia, sabe
sempre elevar-se aos princípios fundamentais que lhes asseguram perenidade e
oferecer-nos uma teologia aplicada ao concreto da vida cristã.
Daqui
o interesse e a actualidade desta Carta: através dela, sentimos ao vivo o
pulsar de uma comunidade cristã muito rica, a forte personalidade de Paulo,
muito consciente das suas responsabilidades, e a presença constante do
Ressuscitado que anima a comunidade e a tudo dá sentido.
2ª Carta
aos Coríntios
Paulo
escreve esta Carta provavelmente depois de ter abandonado Éfeso e quando se
encontrava na Macedónia (2,13; 7,5), no fim do ano 56. Não é fácil reconstituir
os acontecimentos que se passaram depois da 1.ª Carta (ver Intr. às Cartas aos
Coríntios, p. 1862-63); mas, quando o Apóstolo se decide a escrever esta, fá-lo
reconfortado com as boas notícias que Tito lhe trouxera de Corinto (7,13).
AUTENTICIDADE
E UNIDADE
A
autenticidade paulina desta Carta é hoje comummente aceite, mas a sua unidade é
objecto de muitas discussões. Se é inegável a unidade temática em volta do
apostolado cristão, são evidentes também: as grandes diferenças entre a
primeira parte, de tom afável, e a terceira, de tom severo que vai até à
ameaça; a inserção violenta do trecho 6,14-7,1 na exortação iniciada em 6,11-13
e continuada em 7,2; o aspecto de duplicado do cap. 9 em relação ao 8. Uns
defendem a unidade literária, bem apoiada pela tradição manuscrita, recorrendo
à psicologia do Apóstolo ou a uma lógica do discurso diferente da nossa, para
explicar as incongruências; outros vêem aqui uma compilação de cartas: o trecho
6,14-7,1 poderia corresponder à Carta pré-canónica (1 Cor 5,8-13), o cap. 9
seria um duplicado dirigido a um auditório mais vasto todas as igrejas da Acaia
e os cap. 10-13 seriam a Carta escrita «entre muitas lágrimas» (2,4; 7,8). Mas
as razões contra a unidade não são mais convincentes do que a hipótese
contrária.
DIVISÃO
E CONTEÚDO
Sem
obedecer propriamente a um plano, esta Carta divide-se em três partes
claramente distintas:
Prólogo, que
tem uma saudação e uma bênção (1,1-11).
I. Paulo faz a apologia do seu
comportamento em relação aos coríntios
(1,12-7,16). Começando por se defender das acusações de inconstância e de
leviandade que lhe fazem (1,12-2,17), sublinha, depois, a grandeza do
ministério apostólico (3,1-6,10) e termina com um apelo à confiança afectuosa
dos seus destinatários (6,11-7,16).
II. Paulo dá instruções relativamente
à colecta em favor da igreja de Jerusalém (8,1-9,15).
III. Defesa de Paulo, que
faz novamente a sua apologia, em tom polémico e cáustico, defendendo a
autenticidade do seu ministério contra uma minoria de agitadores que trabalham
no seio da comunidade (10,1-13,13).
TEOLOGIA
Escrita
num estilo apaixonado e vibrante, onde abundam as antíteses e frases cheias de
ritmo e de sentido que se tornaram célebres, esta bem pode ser considerada a
Carta magna do apostolado cristão, que nos informa sobre aspectos relevantes da
missão de Paulo e sobretudo nos revela a sua alma, no que ela tem de mais
humano e sobrenatural.
Não
tendo o valor doutrinal da 1.ª Carta, dá-nos, contudo, preciosos ensinamentos
sobre as relações entre os dois Testamentos (3-4), a Santíssima Trindade
(1,21-22; 3,3; 13,13), a acção de Cristo e do Espírito Santo (3,17-18;
5,5.14-20; 8,9; 12,9; 13,13) e a escatologia individual (5,1-10).
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