sábado, 10 de setembro de 2016

1ª e 2ª Carta aos Coríntios


Carta aos Coríntios

Paulo escreveu esta Carta em Éfeso, durante a terceira viagem missionária, para remediar os abusos, nomeadamente as divisões e escândalos de que teve conhecimento por mensageiros vindos de Corinto (1,11), e para responder às questões que lhe foram postas por escrito (7,1). Estas circunstâncias explicam o carácter não sistemático da Carta, com a única preocupação de enfrentar as necessidades e resolver as dúvidas dos seus correspondentes.

A COMUNIDADE

Ao longo destas páginas, desenha-se o retrato fiel de uma comunidade viva e fervorosa, mas com todos os problemas resultantes da inserção da mensagem cristã numa cultura diferente daquela em que tinha sido anunciada anteriormente. As questões abordadas derivam em grande parte do fenómeno da inculturação do Evangelho em ambiente helenista. Paulo procura esclarecer, mostrando-se firme ao condenar os comportamentos inconciliáveis, mas compreensivo quando a fé não corre perigo.

CONTEÚDO

O conteúdo da 1.ª Carta aos Coríntios pode resumir-se nos seguintes pontos doutrinais:

Prólogo: 1,1-9;
I. Divisões na igreja de Corinto: 1,10-4,21;
II. Escândalos na igreja: 5,1-6,20;
III. Resposta a questões concretas: 7,1-11,1;
IV. A Assembleia Litúrgica: 11,2-34;
V. Os carismas: 12,1-14,40;
VI. A ressurreição dos mortos: 15,1-58;
Epílogo: 16,1-24.

TEOLOGIA

Os cristãos de Corinto enfrentaram várias “tentações”: reduzir a fé cristã a uma sabedoria humana, diversificada à maneira das escolas filosóficas de então (1,10; 3,22); ceder aos imperativos de uma ética sexual, caracterizada, ora por um excessivo laxismo, ora pelo desprezo da carne, segundo as diferentes correntes filosóficas (5,1-3; 6,12-20; 7,1-40); continuar a observar as práticas cultuais do paganismo (cap. 8-13) e a sofrer a influência suspeita das refeições sagradas (11,21) e do frenesim delirante de certos ritos (12,2-3). Tiveram ainda dificuldade em conciliar o mistério fundamental da ressurreição dos mortos com as doutrinas dualistas da filosofia grega (cap. 15).

As soluções propostas estão marcadas pelos condicionalismos culturais de então e pelo concreto da vida; mas não se reduzem a mera casuística já ultrapassada, porque o génio de Paulo, mesmo quando desce a questões do dia-a-dia, sabe sempre elevar-se aos princípios fundamentais que lhes asseguram perenidade e oferecer-nos uma teologia aplicada ao concreto da vida cristã.

Daqui o interesse e a actualidade desta Carta: através dela, sentimos ao vivo o pulsar de uma comunidade cristã muito rica, a forte personalidade de Paulo, muito consciente das suas responsabilidades, e a presença constante do Ressuscitado que anima a comunidade e a tudo dá sentido.


Carta aos Coríntios

Paulo escreve esta Carta provavelmente depois de ter abandonado Éfeso e quando se encontrava na Macedónia (2,13; 7,5), no fim do ano 56. Não é fácil reconstituir os acontecimentos que se passaram depois da 1.ª Carta (ver Intr. às Cartas aos Coríntios, p. 1862-63); mas, quando o Apóstolo se decide a escrever esta, fá-lo reconfortado com as boas notícias que Tito lhe trouxera de Corinto (7,13).

AUTENTICIDADE E UNIDADE

A autenticidade paulina desta Carta é hoje comummente aceite, mas a sua unidade é objecto de muitas discussões. Se é inegável a unidade temática em volta do apostolado cristão, são evidentes também: as grandes diferenças entre a primeira parte, de tom afável, e a terceira, de tom severo que vai até à ameaça; a inserção violenta do trecho 6,14-7,1 na exortação iniciada em 6,11-13 e continuada em 7,2; o aspecto de duplicado do cap. 9 em relação ao 8. Uns defendem a unidade literária, bem apoiada pela tradição manuscrita, recorrendo à psicologia do Apóstolo ou a uma lógica do discurso diferente da nossa, para explicar as incongruências; outros vêem aqui uma compilação de cartas: o trecho 6,14-7,1 poderia corresponder à Carta pré-canónica (1 Cor 5,8-13), o cap. 9 seria um duplicado dirigido a um auditório mais vasto todas as igrejas da Acaia e os cap. 10-13 seriam a Carta escrita «entre muitas lágrimas» (2,4; 7,8). Mas as razões contra a unidade não são mais convincentes do que a hipótese contrária.

DIVISÃO E CONTEÚDO

Sem obedecer propriamente a um plano, esta Carta divide-se em três partes claramente distintas:

Prólogo, que tem uma saudação e uma bênção (1,1-11).
I. Paulo faz a apologia do seu comportamento em relação aos coríntios (1,12-7,16). Começando por se defender das acusações de inconstância e de leviandade que lhe fazem (1,12-2,17), sublinha, depois, a grandeza do ministério apostólico (3,1-6,10) e termina com um apelo à confiança afectuosa dos seus destinatários (6,11-7,16).
II. Paulo dá instruções relativamente à colecta em favor da igreja de Jerusalém (8,1-9,15).
III. Defesa de Paulo, que faz novamente a sua apologia, em tom polémico e cáustico, defendendo a autenticidade do seu ministério contra uma minoria de agitadores que trabalham no seio da comunidade (10,1-13,13).

TEOLOGIA

Escrita num estilo apaixonado e vibrante, onde abundam as antíteses e frases cheias de ritmo e de sentido que se tornaram célebres, esta bem pode ser considerada a Carta magna do apostolado cristão, que nos informa sobre aspectos relevantes da missão de Paulo e sobretudo nos revela a sua alma, no que ela tem de mais humano e sobrenatural.

Não tendo o valor doutrinal da 1.ª Carta, dá-nos, contudo, preciosos ensinamentos sobre as relações entre os dois Testamentos (3-4), a Santíssima Trindade (1,21-22; 3,3; 13,13), a acção de Cristo e do Espírito Santo (3,17-18; 5,5.14-20; 8,9; 12,9; 13,13) e a escatologia individual (5,1-10).




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