sexta-feira, 23 de setembro de 2016

A Quarta Semana nos EE - I



QUARTA SEMANA NOS EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS.

I – Entrar na Quarta Semana

1. A Quarta Semana está intimamente ligada à Terceira dando destaque à unidade e continuidade do mistério Pascal. “O Ressuscitado é o Crucificado”. A contemplação da Paixão ajuda a experimentar mais profundamente a alegria da Ressurreição. É delicada a passagem da Terceira para a Quarta Semana. O exercitante contemplou longamente a paixão de Cristo e a paixão da humanidade e muitos criam um clima interior que não facilita dar o passo seguinte: abrir-se para a vida, a alegria, a esperança.

2. No livro dos EE nos surpreendemos com a brevidade do texto. Doze números são indicados por Inácio nos quais desenvolve a primeira e única contemplação. (EE 218-225). A seguir indica quatro notas a serem tidas em conta na Quarta Semana. As demais contemplações, até a Ascensão inclusive, as encontramos na parte dos “Mistérios da vida de Cristo” (EE 299-312).

3. A sobriedade do texto revela que a Quarta Semana é o ponto de convergência de toda a dinâmica dos EE porque é o aperfeiçoamento do caminho percorrido nas semanas anteriores fortalecendo as virtudes, intensificando a oração sem perder de vista o afeto do júbilo de Cristo Ressuscitado. O Senhor morto e ressuscitado torna-se o centro em torno ao qual se articula nosso modo de desejar, pensar e querer, ou seja, nosso sentir, decidir e agir.

II – Graça a ser pedida.

4. “Pedir o que quero: graça de sentir intensa e profunda alegria por tanta glória e gozo de Cristo Nosso Senhor” (EE 221).

5. Graça de um amor puro, desinteressado, gratuito. Alegrar-me e regozijar-me intensamente por causa da grande alegria de Cristo. “Seria normal sentir pena de alguém que está sofrendo, mas alegrar-se simplesmente quando outra pessoa está contente, mesmo que não tenha outra alegria além desta, só se experimenta quando se ama profundamente a esta pessoa”. (Futrell)

6. Não é uma alegria fictícia, prêmio da dor, mas uma alegria que nasce da própria dor. “Era necessário que o Cristo sofresse para assim entrar na sua glória.”.
           
III – Objetivos (frutos) da Quarta Semana.
           
7. Nela culmina a etapa de união e confirmação. O fruto próprio da Quarta Semana é alargar a união com Cristo na alegria e gozo da Ressurreição e confirmar a eleição ou reforma de vida.

8. Como Paulo, Inácio descobre a riqueza do fruto da Ressurreição: a consolação espiritual. Uma alegria profunda centrada em Cristo; aumento de fé, esperança e amor.
           
9. Experimentar vida plena em e como Jesus Ressuscitado concretizada na eleição, fonte de vida e esperança para a libertação dos irmãos, especialmente dos mais necessitados. O futuro da vida do exercitante assim como o caminhar da história estão vinculados indissoluvelmente à vitória de Jesus sobre o pecado e sobre a morte.

10. Na percepção dos “efeitos” da presença e da ação do Ressuscitado, hoje, no nosso meio, abrir espaço para uma vida nova, e para o testemunho da esperança e da libertação de Jesus Ressuscitado na missão. Também a nível cósmico tudo se recapitula nele (Rom. 8,22-25). Em Cristo Ressuscitado tudo tem consistência e o mundo se faz transparência de Deus.

11. Viver a experiência do Ressuscitado como os apóstolos, numa dialética de ausência e encontro. São características as idas e vindas do Ressuscitado e o exercitante vai aprendendo a se acostumar com elas. Em meio às obscuridades que possa prever a esperança do exercitante se firma na vitória de Jesus. “Estarei convosco todos os dias”. É o Espírito de Jesus Ressuscitado que conduz, hoje, a Igreja, inspira o discernimento e confere a missão.

12. Em Jesus Ressuscitado, vencedor da morte, temos a realização plena do projeto do Pai indicado no PF e a confirmação da caminhada no seu seguimento: “Quem me seguir nos trabalhos, há de seguir-me na glória” (EE 95).

IV – Dinâmica da oração na Quarta Semana.

13. O modo de orar é a contemplação. Aos três pontos comuns às contemplações Inácio acrescenta outros dois específicos para o mistério da ressurreição: como a divindade se manifesta e o “ofício de consolar” que Jesus exerce (EE 222-224).

14. Apenas acena-se ao colóquio (EE 225) porque a comunicação dialogal com Cristo já se tornou familiar e Ele, Ressuscitado, é apresentado como um amigo que consola.

15. O ritmo da oração é mais suave. São sugeridos quatro exercícios por dia ao invés de cinco (EE 227). Na “aplicação dos sentidos” o exercitante deverá demorar-se mais “onde tenha sentido maiores moções e gostos espirituais” (EE 227,3).

16. Como de costume o exercitante deve ajudar-se das “adições”. A última nota da Quarta Semana (EE 229) adapta as adições às características desta Semana.

17. O Pe. José Netto de Oliveira observa que a oração da Quarta Semana tende à união e a uma permanente “aplicação de sentidos”, ou seja, uma oração não discursiva, de comunhão, tomando consciência de uma presença, saboreando intimamente uma imagem, percebendo um atrativo profundo. Oração gratuita, desinteressada, que sai de si para o Outro não buscando mais do que simplesmente estar com Ele na sua glória, unindo-se a Ele numa atitude de empatia. Alguns experimentam a oração de quietude da qual fala S. Teresa.

V – MANIFESTAÇÕES OU O “DEIXAR-SE VER” DE JESUS NA QUARTA SEMANA.

18. Inácio as denomina aparições. Termina a Terceira Semana com Maria e inicia a Quarta Semana com ela. A primeira “aparição” de Jesus é a Maria, sua mãe.

1)      A Nossa Senhora. (EE 219 e 299)
2)      A Maria Madalena, Maria mãe de Tiago e Salomé. Mc 16,1-11. (EE 300)
3)      Novamente a estas Marias. Mt 28,8-10. (EE 301)
4)      A Pedro. Lc 24,9-12. (EE 302)
5)      Aos discípulos que iam a Emaús. Lc 24,13-35. (EE 303)
6)      Aos discípulos sem a presença de Tomé. Jo 20,19-23 (EE 304)
7)      A Tomé. Jo 20,24-29. (EE 305)
8)      A sete de seus discípulos que estavam pescando. Jo 21, 1-17. (EE 306)
9)      Aos discípulos no Tabor. Mt 28, 16-20. (EE 307).
10)  A mais de quinhentos irmãos reunidos. I Cor 15,6. (EE 308)
11)  A Tiago. I Cor 15,7. (EE 309)
12)  A José de Arimatéia. (EE 310)
13)  A São Paulo. I Cor 15,8. (EE 311).
14)  Ascensão. At 1, 1-12. (EE 312)

BIBLIOGRAFIA

CEI – Itaici, A força da metodologia nos Exercícios Espirituais, (Coleção “Leituras e Releituras” 11). São Paulo: Loyola 2002, números 94-100.

Orientações para realizar os Exercícios Espirituais na América latina. Um diretório a partir da e para a América latina. (Coleção. “Experiência Inaciana”, 14). São Paulo: Loyola, 1991, págs. 80-82.

OLIVEIRA NETTO S.J. José A., Quarta Semana dos Exercícios para um ambiente latino-americano, em Itaici – Revista de espiritualidade inaciana Especial 01/1990 Especial, págs. 67-74.


GONZÁLEZ - QUEVEDO S. J, Luiz, Ele ressuscitou. Nós ressuscitaremos: uma introdução à Quarta Semana dos Exercícios espirituais, em Itaici - Revista de espiritualidade inaciana, n. 64 /2006, págs. 21-39.

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