quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Evangelho segundo São Lucas.II


Evangelho segundo São Lucas

O terceiro Evangelho é atribuído a Lucas, que também é o autor dos Actos dos Apóstolos. Segue os usos dos historiógrafos do seu tempo, mas a história que ele deseja apresentar é uma história iluminada pela fé no mistério da Paixão e Ressurreição do Senhor Jesus. O seu livro é um Evangelho, uma história santa, uma obra que apresenta a Boa-Nova da salvação centrada na pessoa de Jesus Cristo.

DIVISÃO E CONTEÚDO

O esquema geral do livro é o mesmo que se encontra em Mateus e em Marcos: uma introdução, a pregação de Jesus na Galileia, a sua viagem para Jerusalém, a Paixão e Ressurreição como cumprimento final da sua missão. A construção literária é elaborada com cuidado e reflecte grande sensibilidade, procurando salientar os tempos e lugares da História da Salvação e pondo em evidência a projecção existencial do projecto evangélico.

Prólogo (1,1-4) em que anuncia o tema, o método e o fim da sua obra. Lucas expõe por ordem o que se refere à vida e à mensagem de Jesus de Nazaré, filho de Maria, Filho de Deus.

I. Evangelho da infância (1,5-2,52) de João Baptista e de Jesus.

II. Prelúdio da missão messiânica de Jesus (3,1-4,13).

III. Ministério de Jesus na Galileia (4,14-9,50): a sua atitude face às multidões, aos primeiros discípulos e aos adversários (4,31-6,11); o seu ensino aos discípulos (6,12-7,50); a associação estreita dos Doze à sua missão (8,1-9,50).

IV. Subida de Jesus a Jerusalém (9,51-19,28). O esquema literário de Lucas é, ao mesmo tempo, original, mas artificial, sem continuidade geográfica nem progressão doutrinal. Tal quadro permite ao autor reunir uma série de elementos, em parte convergentes com os de Mateus e Marcos, colocando-os na perspectiva do evento pascal, a consumar-se na cidade de Jerusalém. Jesus dirige-se a Israel, chamando-o à conversão; mas é, sobretudo, para os discípulos que os seus ensinamentos se orientam, tendo em conta o tempo em que já não estará presente entre eles.

V. Ministério de Jesus em Jerusalém (19,29-21,38): o ensino de Jesus no templo (20,1-21,37).

VI. Paixão, morte e ressurreição de Jesus (22,1-24,53): a narração da Paixão e as narrações da Páscoa (22,1-24,53). Omitindo a tradição das aparições na Galileia e situando todos os eventos pascais em Jerusalém, Lucas põe em evidência o lugar central daquela cidade na História da Salvação. De lá vai irradiar também a mensagem evangélica, relatada pelo mesmo autor no livro dos Actos.

O TEMPO DE JESUS E O TEMPO DA IGREJA

Uma das ideias-chave de Lucas é distinguir o tempo de Jesus e o tempo da Igreja. Sem esquecer a singularidade única do acontecimento salvífico de Jesus Cristo, põe em relevo as etapas da obra de Deus na História. Mais do que Mateus e Marcos, ao falar de Jesus e dos discípulos, Lucas pensa já na Igreja, cujos membros se sentem interpelados a acolher a mensagem salvífica na alegria e na conversão do coração. É isso que faz deste livro o Evangelho da misericórdia, da alegria, da solidariedade e da oração. No respeito pelo ser humano, a salvação evangélica transforma a vida das pessoas, com reflexos no seu interior, nos seus comportamentos sociais e no uso que fazem dos bens terrenos.

Jesus anuncia a sua vinda no fim dos tempos, o qual, segundo Lucas, coincidirá com o termo do tempo da Igreja. Mas a insistência deste evangelista na salvação presente, na realeza pascal do Senhor Jesus, na acção do Espírito Santo na Igreja, contribuem para atenuar a tensão relativa à iminente Parusia. A própria destruição de Jerusalém, vista como um acontecimento histórico, despojando-o da sua projecção escatológica, presente em Mateus e Marcos, é sinal de uma consciência viva do dom da salvação presente no tempo da Igreja.




COMPOSIÇÃO E DATA

Na composição do seu Evangelho, Lucas utilizou grande parte de materiais comuns a Marcos e Mateus, além dos que lhe são próprios e dos contactos com o Evangelho de João. Todos os materiais da tradição estão marcados pelo trabalho do autor, que se reflecte quer na sua ordenação, quer no vocabulário, quer no estilo. A arte e a sensibilidade de Lucas manifestam-se na sobriedade das suas observações, na delicadeza de atitudes, no dramatismo de certas narrações, na atmosfera de misericórdia das cenas com pecadores, mulheres e estrangeiros. A composição deste Evangelho é situada por volta dos anos 80-90, porque Lucas deve ter conhecido o cerco e a destruição da cidade de Jerusalém por Tito, no ano 70.

DEDICATÓRIA E AUTOR

O livro é dedicado a Teófilo, mas destina-se a leitores cristãos de cultura grega, como se vê pela língua, pelo cuidado em explicar a geografia e usos da Palestina, pela omissão de discussões judaicas, pela consideração que tem pelos gentios.

Segundo uma tradição antiga (Santo Ireneu), o autor é Lucas, médico, discípulo de Paulo. Pelas suas características, este Evangelho encontra-se mais próximo da mentalidade do homem moderno: pela sua clareza, pelo cuidado nas explicações, pela sensibilidade e pela arte do seu autor. Lucas mostra o Filho de Deus como Salvador de todos os homens, com particular atenção aos pequeninos, pobres, pecadores e pagãos. Para ele, o Senhor é Mestre de vida, com todas as suas exigências e com o dom da graça, que o discípulo só pode acolher de coração aberto.

Por isso, Lucas é o Evangelho da Salvação universal, anunciada pelo Profeta dos últimos tempos que convida discípulos profetas, aos quais envia o Espírito Santo, para que, por sua vez, sejam os profetas de todos os tempos e lugares (Lc 24,45-49; Act 1,8).



Um pouco mais sobre o Evangelho segundo Lucas…

A. O autor

1. Lucas não era judeu, mas gentio de Antioquia da Síria, segundo informações presentes em Cl 4,10-14. Era homem culto e formado em medicina. Não se pode dizer com segurança quando se converteu ao Cristianismo. Associou-se a Paulo em trechos da segunda e terceira viagens missionárias (At 16,10-37; 20,5-21,18). No ano 60 embarcou com Paulo para Roma (At 27,1-28,16), permanecendo-lhe fiel durante o primeiro cativeiro (Cl 4,14; Fm 24). Acompanhou Paulo também no segundo cativeiro romano (2Tm 4,11).

2. A este discípulo fiel, a Tradição atribuiu o 3º Evangelho. Confira o testemunho de um dos prólogos latinos do século II a este respeito:

Lucas é um sírio de Antioquia, sírio pela raça, médico de profissão. Tornou-se discípulo dos apóstolos e mais tarde seguiu a Paulo até ao seu martírio. Tendo servido o Senhor com perseverança, solteiro e sem filhos, cheio da graça do Espírito Santo, morreu com 84 anos de idade, provavelmente na Bitínia. Já tendo sido escritos os evangelhos de Mateus, na Bitínia, e de Marcos, na Itália, impelido pelo Espírito Santo, redigiu este evangelho nas regiões da Acaia, dando a saber logo no início que os outros evangelhos já haviam sido escritos.

Este dizeres, simples e claros, resumem os principais dados da Tradição sobre o assunto.

3. Vejamos o que o próprio texto permite depreender a respeito de seu autor:

a) Certamente a linguagem grega de Lucas é a de um homem culto dotado de vocabulário variado (261 palavras próprias dentro do NT). Corrige as construções difíceis de Marcos (Mc 4,25 e Lc 8,18).

b) O autor parece ter conhecimentos médicos, a ponto de manifestar seu “olho clínico” nas seguintes passagens:

- é o único a referir que Jesus, no Getsêmani, suou sangue (22,44);

- abranda o juízo pessimista que Mc 5,25-29 profere sobre os médicos;

- os sintomas dos enfermos são descritos com particular atenção em Lc 8,27-29; 9,38s; 13,11-13; 4,38 (cf. Mc 1,30);

- apresenta Jesus como o Médico Divino (4,23; 5,17 (comparar com Mt 9,1 e Mc 2,1s); 6,18s; 9,1-11). Somente em Lc Jesus restitui a orelha de Malco amputada no Getsêmani (22,50s; Mt 26,51; Mc 14,47; Jo 18,10s).

c) Lucas apresenta notável afinidade de linguagem e doutrina com o epistolário paulino. Cerca de 103 vocábulos são comuns a Paulo e Lucas, e alheios aos outros escritos do NT.

O evangelho de Lucas provavelmente foi escrito por volta do ano 70, com vistas aos pagãos convertidos ao Cristianismo. Estes parecem representados pelo “Excelentíssimo Senhor Teófilo”, ao qual Lucas dedica seu Evangelho (1,3).

B. Destinatários e plano literário do livro

1. Escrevendo para os pagãos convertidos, Lucas:

- omitiu particularidades da história que só interessavam aos judeus: as alusões à lei de Moisés (Mt 5,21-48), o uso das purificações rituais (11,38 => Mc 7,1-23; Mt 5,20);

- referiu com carinho o que era favorável aos gentios (3,14; 7,2-10; 10,30-37 (o bom samaritano); 17,11-19 (o leproso samaritano));

- menciona com solenidade as autoridades romanas (2,1s; 3,1);

- silenciou tudo o que em Mt e Mc podia ser penoso para os não-judeus. Por exemplo: usa a palavra “pecadores” (6,33), em vez de “gentios” (Mt 5,47).

2. A catequese tradicional seguia o plano traçado por Pedro na sua primeira pregação (At 1,22), a saber: ministério de João Batista, pregação de Jesus na Galileia, subida para Jerusalém (relato breve), morte e exaltação do Senhor. Marcos seguiu fielmente este esquema; Lucas, sem o abandonar, quis enriquecê-lo. Vejamos como Lucas procede:

Iniciou as suas narrativas no templo de Jerusalém (1,8s), e terminou-as lá também (24,52). Jesus começa a pregar na Galileia, mas toda a sua atividade tende para Jerusalém, teatro da exaltação final do Senhor. Em consequência,

- na história das tentações de Jesus inverte a ordem de Mateus, colocando a tentação referente ao templo em terceiro, e não em segundo lugar (4,1-13 e Mt 4,1-11). Assim, Jesus, no início de seu ministério público, triunfa sobre o demônio em Jerusalém como aí há de triunfar definitivamente no fim de sua vida;

- no capítulo 9,51 Jesus inicia solene viagem para Jerusalém: Como se aproximasse o tempo em que havia de ser arrebatado deste mundo, Jesus tomou resolutamente o caminho de Jerusalém.

Essa viagem só termina em Lucas 19,28. Na seção de 9,51 a 19,28 Lucas inseriu muitos de seus episódios próprios (cf. 1,3). O autor repetidamente observa que Jesus está a caminho de Jerusalém (o que lhe parece muito importante (cf. 13,22; 17,11; 18,31; 19,11.28)).

Após a morte e ressurreição de Jesus em Jerusalém, o evangelista omite as aparições de Jesus na Galileia: Jesus mesmo dá a ordem para que os discípulos fiquem na cidade santa até serem revestidos da força do Alto (24,49). Os apóstolos cumprem esta ordem, de modo que o fim do evangelho corresponde ao começo.

Pergunta-se: por que Lucas quis assim orientar todo o seu evangelho? Qual a razão deste direcionamento?

Ousamos responder da seguinte maneira: assim como Mateus apresentou Jesus como o novo Moisés, Lucas quis descrever Jesus como o novo Elias ou o novo profeta. Ora, uma das características do Profeta é morrer em Jerusalém, como diz o próprio Jesus (13,33). Tal é a chave da estrutura do evangelho de Lucas. Observemos que Jesus, em Lucas, aparece frequentemente como “um grande profeta” (4,24; 7,16.39; 9,8; 13,33; 24,19). Jesus mesmo comparou a sua sorte com a dos profetas Elias e Eliseu (4,24-27).

Como se compreende, “profeta”, no caso, não quer dizer “mero homem dotado de graças especiais”, mas sim, o Messias aguardado, que, na mente de Lucas era o filho de Deus feito homem (1,32-35).

C. O estilo de Lucas

Por ser um homem culto, Lucas apresenta certo esmero literário:

1. Observem-se, por exemplo, as antíteses, das quais sobressai muito melhor o ensinamento de Jesus:

Lc 1,11-22 e 1,26-38: duas aparições do anjo e dois anúncios: um a Zacarias, que, incrédulo, perde a fala; o outro a Maria, que, cheia de fé, prorrompe em cântico profético;

Lc 7,36-50: a pecadora penitente, agradecida; o fariseu, confiante em si, repreendido;

Lc 10,38-42: Marta ativa e Maria contemplativa;

Lc 17,11-18: dez leprosos curados, dos quais o único samaritano é grato ao Senhor;

Lc 18,9-14: a oração do fariseu e a do publicano;

Lc 23,39-43: os dois ladrões em torno de Jesus.

Estes episódios são todos próprios de Lucas e mostram muito bem o gosto literário do autor.

2. Lucas também quis consignar, como passagens próprias do seu Evangelho, episódios e traços que evocam nobres afetos: a parábola do filho pródigo (15,11-32), a história da pecadora anônima perdoada pelo Senhor (7,36-50), a ressurreição do filho da viúva de Naim (7,11-17), o colóquio de Jesus com os discípulos de Emaús (24,13-35).

De modo especial, Lucas deu relevo às figuras femininas, delas fazendo autêntico sinal de realidades religiosas. Assim, a mãe abençoada, Elisabete (1,23-25.39-45.57s), a virgem e mãe Maria (cc. 1-2), a viúva em quatro figuras (2,36-38; 7,11-17; 21,1-4; 18,1-8), a pecadora infame recuperada (7,36-50), a mulher apóstola (8,1-3). Esta valorização da mulher chama-nos a atenção, pois, ao mesmo tempo que Lucas, vivia Sêneca, filósofo estoico, que escrevia a respeito da mulher: “é animal sem pudor e... feroz, que não domina suas cobiças” (De constantia sapientis XIV 1).

3. Consequentemente, Lucas quis omitir ou mitigar traços que na catequese anterior lhe pareciam demasiado duros:

- a repreensão de Pedro por parte de Jesus (cf. 9,22 => Mc 8,31-33 e Mt 16,21-23);

- o morticínio de João Batista (3,19s => Mc 6,17-29 e Mt 14,3-12);

- os escarros infligidos a Jesus (22,63s => Mc 14,65 e Mt 26,67ss; 27,30);

- a flagelação e a coroação de espinhos (23,23 => Mc 15,15-20);

- a expulsão dos vendilhões do templo é mencionada de forma sucinta (19,45s => Mc 11,15-17; Mt 21,12s e Jo 2,13-22);

- na história da paixão Pilatos é poupado o mais possível (23,25 => Mc 15,15 e Mt 27,26).

D. A mensagem de Lucas

Mateus apresenta Jesus como o Mestre notável por seus sermões; Marcos descreve Jesus como o herói admirável por seus feitos. Lucas se detém mais nos traços pessoais e delicados da alma de Jesus, o que torna seu evangelho um alimento substancioso para a vida espiritual.

1. O evangelho da salvação e da misericórdia

a. Tenhamos em vista a genealogia de Jesus conforme o c. 3,23-38: Jesus é apresentado não apenas como Filho de Abraão e Filho de Davi (cf. Mt 1,1), mas como filho de Adão (3,38). Isto quer dizer que Ele é irmão de todos os homens (judeus ou gentios); ele é o Salvador de todos.

Observemos também o episódio do c. 2,1-11. Abre-se com a menção de César Augusto e do seu decreto de recenseamento universal; é sobre este pano de fundo que Lucas introduz a figura de Jesus recém-nascido e anunciado pelos anjos como Cristo Senhor e Salvador (2,10s). Tal apresentação constituía a autêntica boa notícia (evangelion) num mundo em que todos os cidadãos aguardavam as precárias mensagens de paz e bonança dos Césares Romanos.

Comparemos entre si Mt 3,3; Mc 1,2s e Lc 3,4-6: a mesma profecia de Is 40,5 é citada, com um acréscimo peculiar a Lucas.

As palavras finais de Jesus fazem ressoar a mensagem da salvação universal (24,46s).

b. O salvador de todos é também o portador do grande perdão. É o que se depreende especialmente de Lc 15, onde três parábolas concatenadas afirmam a condescendência de Deus.

Jesus dá o exemplo do perdão no c. 7,36-50 (a pecadora agraciada), no c. 13,10-17 (a mulher encurvada), no c. 19,1-10 (Zaqueu), no c. 23,34 (“não sabem o que fazem”) e no c. 23,39-43 (o bom ladrão).

Lucas não refere o episódio da figueira amaldiçoada (cf. Mc 11,12-14.20-25 e Mt 21,18-22), mas narra outro episódio, em que a figueira é objeto de misericórdia (13,6-9 – própria de Lucas).

Por conseguinte, não sem motivo Lucas foi chamado de “o escritor da mansidão de Cristo” (Dante Alighieri).

2. Evangelho do Espírito Santo e da Oração

O Espírito Santo era o dom prometido pelos profetas como fruto da vinda do Messias.

Ora, em todo o evangelho de Lucas é enfatizada a constante ação do Espírito Santo (1,15.35.41.67; 2,25-27; 3,16.22; 4,1.14.18; 10,21; 11,13; 12,10.12; 24,49). Esta mesma presença do Espírito se percebe no livro dos Atos dos Apóstolos, segunda parte da obra de Lucas.

O Espírito é inspirador da oração (Rm 8,26), por isso Lucas é também, muito mais que Mateus e Marcos, mensageiro da oração.

Encontram-se um bloco de ensinamentos sobre a oração em Lucas 11,1-13, e duas parábolas em Lc 18,1-8 (a viúva) e 18,9-14 (o fariseu e o publicano).

Além disso, Jesus dá o exemplo da oração. Os três sinóticos referem que Jesus orou no Horto das Oliveiras (Mt 26,39; Mc 14,35; Lc 22,42); Marcos acrescenta que Jesus se retirou ao deserto para orar (1,35). Somente Lucas nos diz que Jesus orou em outras 9 ocasiões (3,21; 5,16; 6,12; 9,18.28s; 11,1s; 22,32; 23,34.46).

Também Lucas é o único a consignar os quatro cânticos solenes da Liturgia: o de Maria (1,46-55); o de Zacarias (1,68-79); o dos anjos (2,14) e o de Simeão (2,29-32).

Sendo assim, entende-se que uma das expressões mais usuais de Lucas (não ocorre em Mateus e Marcos) é “louvar a Deus” (1,64; 2,13.20.28; 18,43 (cf. Mc 10,52); 19,37 (cf. Mt 11,7-10); 24,53).

3. O evangelho da Pobreza e da Alegria

A pobreza ou simplicidade de vida como quadro dentro do qual o espírito é livre de apegos e paixões era estimada desde o exílio dos judeus na Babilônia (Jeremias dá início à escola dos pobres, anawim, no século VI a.C.).

Ora, Jesus dá o exemplo e transmite os ensinamentos de tal pobreza: c. 9,58 (não tem onde reclinar a cabeça); c. 2,7 (uma manjedoura); c. 2,24 (a oferta dos pobres); 2,8.12 (anunciado aos pastores).

Ao proclamar as bem-aventuranças, Jesus em Lucas se refere a situações de desconforto: pobreza material, fome material, pranto, perseguição (cf. 6,20-24); em Mateus 5,1-13 as bem-aventuranças se referem primeiramente a atitudes interiores ou a qualidades éticas. Ora, Jesus certamente acentuou a importância do quadro exterior pobre, indispensável para que a virtude possa florescer, e Lucas faz-se arauto deste aspecto das bem-aventuranças, ao passo que Mateus quis mostrar que o quadro exterior (pobreza, fome) nada vale se não é vivificado por virtudes (pobreza de coração, fome e sede de justiça).

Nos cc. 12,16-21; 16,1-9 e 16,19-31 são apresentadas três parábolas de “perspectiva sapiencial”: incutem a compreensão exata dos bens que esta vida oferece; só merecem a estima do cristão se são capazes de o levar à vida eterna. A posse de riquezas pode acarretar surpresa ou inversão de sortes para quem não as usa sabiamente, isto é, à luz da eternidade.

Nos cc. 8,1-3 e 19,8s aparecem respectivamente as mulheres generosas e Zaqueu como tipos daqueles que sabem fazer bom uso de seus haveres.

Ao mesmo tempo que recomendava o desapego, Lucas apregoou também, mais que nenhum evangelista, a alegria. Tenhamos em vista os cantos de Maria (1,46-55), Zacarias (1,68-79); Simeão (2,28-32), a mensagem dos anjos aos pastores (2,10s). Vejam-se ainda os cc. 10,20s; 13,17 e 19,37.

O livro se encerra referindo a alegria dos apóstolos, que aguardavam o Espírito prometido (24,52s).



Nenhum comentário:

Postar um comentário