MEDITAÇÃO INACIANA
Nesta semana vamos dar uma olhada em alguns dos mais importantes modos de
oração inaciana.
Também fica o convite para fazer a experiência de oração.
É no coração que está sua força para aderir ao plano de Deus
O primeiro modo de oração é o da meditação. Este tipo de oração pode ser
aplicado a um texto bíblico, a um escrito de um Santo, ou a um trecho de algum
livro de espiritualidade.
Após preparar-se para a oração - escolha do local, do tempo, da matéria
da oração; tranqüilizar-se, colocar-se na presença de Deus, pedir uma graça -,
tome aquilo que será a matéria de sua meditação. Leia pausadamente o texto, uma
vez, duas vezes, sem parar para meditar. Apenas leia, deixando as palavras do
texto se tornarem presença em seu coração. Leia-o então uma terceira vez, mas
agora procurando perceber quais são as palavras ou frases que mais lhe tocam.
Por exemplo, se ao meditar sobre o Bom Pastor (Jo 10, 1-21), vendo Jesus
afirmar “Eu sou o bom pastor, o bom pastor dá a vida pelas suas ovelhas”, você
se sente tocado, pare aí. Repita estas palavras, deixando que elas caiam cada
vez mais profundamente no seu coração.
Pergunte-se: o que isto me lembra? Como estas palavras entram na história
de minha vida? Comece assim, relacionando-as com a história de sua vida, trazendo
à memória fatos da realidade que você conhece, recordando acontecimentos de sua
história pessoal, ou palavras que você ouviu, que se relacionam com esta
expressão. Por exemplo, você pode estar passando por um momento muito difícil
em sua vida, e perceber agora que tem sido protegido pelo Senhor, e que por
isso você tem passado em segurança por esta dificuldade. E o mais incrível é
que você ainda não tinha se dando conta desta presença amorosa.
Reflita agora sobre o que descobriu, usando a inteligência, para tirar
maior fruto da Palavra de Deus. Aplique-a à sua vida, questione, aprofunde,
relacione com outros trechos da Escritura. Deixe a Palavra de Deus mexer com
você. Não se trata simplesmente de tirar uma mensagem, mas de ir gravando a
Palavra em seu coração, de permitir que a Palavra ecoe no mais íntimo de seu
ser. Por exemplo, ao perceber que o Senhor está cuidando de você, isto
lembra-lhe as palavras do salmista: “O Senhor é meu Pastor, nada me falta” (Sl
22,1). Você então fica admirado diante desta palavra, e diante de todas as
vezes que Ele cuidou de você, e vai experimentando o maravilhoso significado
deste fato.
Neste instante você poderá notar que a meditação não fica só em idéias,
mas desperta desejos, sentimentos, movimentos no seu interior. Poderá, por
exemplo, perceber que seu coração vibra de alegria ao descobrir-se protegido
pelo Senhor com tanto carinho. Estas descobertas da memória e da inteligência
afetam seu coração, deixam marcas profundas no seu interior. Para onde estes
desejos, estas marcas atraem você? Aqui, então, a meditação toca a sua vontade,
fazendo com que você dê passos concretos para amar e servir a Deus e aos
irmãos. É no coração que está sua força para aderir ao plano de Deus. É
importante perceber que memória, inteligência e vontade (coração) não são
separadas. Separamos em três momentos para tentar explicar o processo da
oração, mas quando estamos rezando, as coisas caminham juntas.
PARA REZAR:
Tome Jo 10,1-21 e aplique os passos que descrevemos, sem pressa, deixando
a Palavra de Deus ir ao mais fundo de seu ser. Para se fazer uma meditação é
necessário dar tempo ao tempo. Não ter pressa, buscar as coisas do Senhor sem
cálculos, para que Ele possa ir se doando sem medida.
O que sacia e satisfaz a alma não
é o muito saber, mas o sentir e saborear as coisas internamente
Fazer a oração tranqüilamente, sem pressa, até ficar saciado. Isto é
muito importante, não só para a meditação, mas para qualquer modo de orar.
Você deve sempre parar naquilo que mais lhe toca o coração, e ficar aí o
tempo necessário, sem pressa de ir adiante. Santo Inácio de Loyola ensina que
“o que sacia e satisfaz a alma não é o muito saber, mas o sentir e saborear as
coisas internamente”. Na oração, o que importa é sentir e saborear as coisas
que Deus lhe fala, para ser transformado por esta experiência. Nenhum de nós,
quando em oração, é um colegial que tem que apresentar os resultados da lição
ao professor no final da aula. A oração é pura gratuidade. O tempo que conta,
então, é o tempo de Deus. Este é o tempo da Graça, o tempo necessário para Ele
agir em sua vida, transformar sua vida, marcar sua vida com o seu Amor, na
medida em que você vai lhe permitindo esta presença. Enquanto uma palavra, uma
frase, uma idéia estiverem causando eco em seu íntimo, fique parado aí, porque
Deus ainda tem algo a lhe dizer com isto.
Deste modo, se você tomou um texto, e no final de um longo tempo de
oração, ficou somente na primeira palavra deste texto, não há nenhum problema,
pois Deus está lhe falando aí, e é importante ouvir com atenção demorada. Se no
dia seguinte você ainda se sente tocado por esta palavra, e se sente inspirado
a repetir o texto, ou repetir a oração sobre aquela única palavra, faça-o
tranqüilamente, até saciar-se, pois Deus estará lhe falando aí. Há pessoas que fazem os exercícios e ficam, a
semana ou mês inteiro, sobre um texto só. Enquanto Deus vem ao nosso encontro,
e vai saciando nossa sede interior, convém acolhe-Lo.
Conversar com o Senhor: o colóquio¹
Outro ponto muito importante é conversar com o Senhor, ou, como diz Santo
Inácio, fazer um colóquio: “o colóquio se faz propriamente falando como um
amigo fala a seu amigo”. Trata-se de uma convivência familiar com o Senhor,
comunicando-lhe o que se passa em seu coração. E esta convivência se dá num
clima de confiança, entre amigos, e você pode se manifestar sem reservas. Pode
ser um pedido, um agradecimento, uma queixa, uma descoberta feita na oração, um
questionamento, um desejo, uma busca, uma alegria, uma dor... Quando a Palavra
de Deus toca o seu coração, certamente você tem muito que conversar com Ele. O
colóquio pode ser feito durante o desenrolar da oração, ou no final dela. Note,
porém, que se trata de uma conversa amiga. É um diálogo, em que você fala e
escuta. Não é um monólogo, em que você fala sem parar, não deixando espaço para
Deus se manifestar.
Termine com uma oração vocal: um Pai Nosso, ou uma Ave Maria, ou alguma
outra prece.
¹ Colóquio: Inácio sugere que no final de cada
oração se faça um “colóquio” com Deus, um diálogo muito aberto, livre,
espontâneo, familiar, carregado de um imenso respeito, falando com Ele como um
amigo fala com outro. O colóquio é o ponto culminante da oração. Exprime a
presença total do homem diante de Deus, a resposta à sua Palavra, o meio mais
profundo de identificação com o Senhor. Como a iniciativa é sempre do Senhor,
há que deixar-se primeiro invadir pela sua Palavra, ouvir, “sentir internamente
a presença e depois falar”. O colóquio brota da contemplação da Palavra de Deus
e da ação do mesmo Deus no seu coração. O colóquio pode ser atingido a qualquer
momento da sua oração, não somente no fim. Pode mesmo prolongar-se durante todo
o decurso da oração.
PARA REZAR:
Tome Lc 15,1-24. Prepare sua oração. Medite sobre estes pontos e
aplique-os à sua vida:
1. Como o filho mais moço foi infiel ao amor do pai. 2. Como, ao cair em
si, ele confia no amor e na acolhida de seu pai, e volta decidido à casa do
pai. 3. Como o Pai Misericordioso acolhe incondicionalmente o filho que volta,
como vai ao encontro do filho, como fica feliz e faz a festa por tê-lo de
volta.
Passos para a oração de
meditação
1o PASSO: PREPARAR-SE
Buscar um lugar onde possa estar sozinho e sentir-se bem... O lugar e a
posição do corpo devem ajudar na concentração e devem ser razoavelmente
cômodos.
Escolher um bom horário e marcar o tempo da oração, sendo fiel a este
tempo.
Escolher com antecedência a matéria da Oração.
2o PASSO: SITUAR-SE.
Tranqüilizar-se, fazer silêncio interior: estar com os ouvidos e o
coração prontos para a escuta da palavra do Senhor.
Colocar-se na presença de Deus, ser presença na presença Dele: Tira as
sandálias...
Pedir uma Graça: pedir é reconhecer-se dependente de Deus.
3o PASSO: A MEDITAÇÃO.
Leia o texto uma vez, sem se deter. Leia mais uma vez.
Leia o texto novamente, detendo-se naquelas palavras ou frases que mais
tocaram você.
Mergulhe em profundidade, meditando, refletindo, sem pressa de passar
adiante. Saboreie demoradamente cada palavra, até saciar-se.
4o PASSO: DIALOGAR.
Falar e escutar... Louvar ... Pedir ... Perguntar ... Silenciar ...
Partilhe com o Senhor seus sentimentos, desejos, buscas, angústias, conquistas,
medos... Converse com Ele como um amigo conversa com outro amigo.
Termine com uma oração vocal: Pai Nosso, Ave Maria...
5o PASSO: REVISAR A ORAÇÃO.
Revendo o processo da oração, procure anotar em seu diário espiritual:
Quais as palavras e frases que mais me tocaram?
Quais os sentimentos fortes que experimentei?
Senti algum apelo de Deus?
Tive alguma dificuldade?
PARA REZAR:
Tome Mt 5,1-12 e aplique estes passos.
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