APLICAÇÃO
DOS SENTIDOS
(EE. 121-126)
Na contemplação evangélica nos aproximamos da cena e do mistério
nela relatado por meio dos sentidos da visão e da audição (“olhar as pessoas, escutar o que falam”).
A aplicação dos outros sentidos terá lugar conforme voltemos
sucessivamente à cena, por meio de repetições que nos ajudem a passar do
global ao particular, do exterior
ao interior, da inteligencia ao coração.
Com efeito, por meio dos cinco sentidos, passamos do mais distante ao mais próximo:
vemos o que ainda não conseguimos
escutar (uma pessoa ao longe sem ruído de passos);
escutamos o
que ainda não conseguimos sentir com o olfato;
sentimos o
odor antes de poder tocar (uma flor, uma comida...),
e o saborear
nos faz estar mais próximo ainda que o tocar.
Vamos passando do
mais exterior ao mais íntimo.
O mesmo dizemos dos sentidos interiores ao contemplar as
realidades espirituais.
Esta compreensão interior e
intuitiva do mistério contemplado, feita na fé e graça do Espírito, se
apoia no trabalho (da imaginação, dos sentidos) e na passividade
(recebo o que está oculto/revelado na cena).
O mistério toma corpo.
Modo de proceder
* Preparar meu tempo de oração sobre um texto já
contemplado. O “olhar” sobre as pessoas,
a “escuta” de suas palavras ou o “sentir” internamente me introduziram já
no interior da cena.
* Entrar na oração de maneira habitual: imaginar o lugar
pelo qual desejo entrar e seguir mais uma vez o caminho que vai do mais exterior ao mais interior.
* Entro no que vejo, e o que vejo entra em mim.
* Deixo que cheguem aos meus ouvidos interiores as
palavras, o silêncio. Procuro, com paz, aproximar-me cada vez mais à interioridade do mistério através dos
aspectos concretos da cena.
* Sinto, toco, saboreio como se estivesse presente: os objetos, a
atmosfera, a “infinita suavidade e doçura”
da divindade, segundo a pessoa que
contemplo.
* Demoro-me neste conhecimento interior, às vezes sensível,
mas respeitoso, do Senhor. “Tocar com o tato, assim como abraçar e beijar os lugares
onde tais pessoas pisam e se detém, procurando sempre tirar proveito disso”(EE.
125).
* Posso permanecer, gratuitamente, nesta relação profunda e
simples com o mistério de Deus que se entrega a mim nesta cena. Saboreando o que me é concedido,
disponível e aberto, acolhendo o DOM.
* Recolho por meio dos sentidos o que aflora desta cena.
* Termino concretamente: uma expressão pessoal ao Senhor, uma ação
de graças ou uma oração da Igreja
Como diz S.João da
Cruz falando da contemplação em relação à meditação:
“A diferença que há entre ir
agindo e saborear já da obra feita, e a que há entre ir recebendo e
aproveitando já do recebido, ou a que há entre o trabalho de ir caminhando e o
descanso e quietude que há no final; que é também como estar preparando a
comida ou estar comendo-a e saboreando-a já preparada”.
( A subida
ao Monte Carmelo,L.2.c.14,no. 7)
Alguns pontos importantes
- Não se trata de buscar sensações, mas de buscar o Senhor
e de tirar proveito.
- A oração contemplativa é chamada a dar frutos na vida
cotidiana: estes são prova da autenticidade de minha oração.
- A imaginação espiritual recebe mas não violenta. Não se deixa
levar pelo imaginário. No coração da oração
contemplativa se vive uma certa pureza e desprendimento. Estar sempre “puramente ordenado a serviço e louvor de
sua divina Majestade...”
- O conhecimento interno que obtenho nela fica verificado e
autenticado pelo que foi revelado pelo Senhor à Igreja e que professamos na fé.
Por quê
aplicar nossos SENTIDOS a uma cena bíblica?
Orar com os sentidos sobre uma cena
bíblica tem seu fundamento na fé:
* O VERBO fez-se carne e corpo. Sua Palavra viva não pode
chegar até nós fora de nossas faculdades humanas, inclusive corporais, através
das quais captamos as realidades espirituais.
* A Aplicação dos sentidos é sinal de uma oração simplificada, que chegou ao coração. Se é verdadeira, nos
dará paz, humildade e simplicidade; se forçada, nos cansará e se desviará.
* As repetições e a aplicação dos sentidos nos
unificam pouco a pouco.
A pessoa inteira se “recolhe” para o essencial e “colhe” um fruto maduro.
* Deus responde nela à petição da graça: “conhecimento interno do Senhor, para que mais o ame e o siga”.
“A práxis expontânea depende da sensibilidade
e enquanto essa sensibilidade não for evangelizada, não podemos ter certeza de reagir
evangelicamente na vida.Por isso S. Inácio convida o exercitante a se aplicar
assídua e amorosamente, usando olhos e ouvidos, tato, gosto e olfato no exame da cena contemplada, com a
esperança de que fiquem tão banhados e atingidos por ela que, quando mais tarde
entrarem em contato com a vida real, possam reagir diante dela com uma sensibilidade
nova, diferente, transformada.
Só assim a práxis espontânea será
uma práxis evangélica”.
(J. Antonio Garcia Rodrigues).
Modo de proceder
a) Trazer pela memória, com a ajuda das revisões da oração, o que
de mais significativo aconteceu em
você, na contemplação dos textos.
b) Tomar um aspecto central (imagem, atrativo profundo, uma
disposição interior, abandono, confiança...) e “saborear internamente”. Deixar que este aspecto vá penetrando todo
o ser.
c) Tomar consciência de uma presença;
aí, permanecer longamente, silenciosamente, procurando entrar em sintonia com
seus sentimentos, estabelecendo a comunicação pela comunhão, o que só acontece quando duas pessoas que se amam estão
presentes uma à outra. Repousar
silenciosamente n’Ele, de maneira intuitiva, sem discorrer.
d) O importante não é se preocupar com os cinco sentidos; não é se
preocupar em usá-los durante o exercício. O importante é fazer uma oração não
discursiva, uma oração mais simples, de sintonia profunda, de comunhão.
e) Quando este clima interior de intimidade não for possível, não
inquietar-se. Deixar o Espírito Santo, que vive em nós, falar e não
importuná-lo com a nossa ansiedade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário