quarta-feira, 8 de junho de 2016

A Aplicação dos Sentidos nos EE


 
APLICAÇÃO DOS SENTIDOS

(EE. 121-126)

 

Na contemplação evangélica nos aproximamos da cena e do mistério nela relatado por meio dos sentidos da visão e da audição (“olhar as pessoas, escutar o que falam”).

A aplicação dos outros sentidos terá lugar conforme voltemos sucessivamente à cena, por meio de repetições que nos ajudem a passar do global ao particular, do exterior ao interior, da inteligencia ao coração.

       

Com efeito, por meio dos cinco sentidos, passamos do mais distante ao mais próximo:

         vemos o que ainda não conseguimos escutar (uma pessoa ao longe sem ruído de passos);

         escutamos o que ainda não conseguimos sentir com o olfato;

         sentimos o odor antes de poder tocar (uma flor, uma comida...),

         e o saborear nos faz estar mais próximo ainda que o tocar.

         Vamos passando do mais exterior ao mais íntimo.

 

O mesmo dizemos dos sentidos interiores ao contemplar as realidades espirituais.

Esta compreensão interior e intuitiva do mistério contemplado, feita na fé e graça do Espírito, se apoia no trabalho (da imaginação, dos sentidos) e na passividade (recebo o que está oculto/revelado na cena).

O mistério toma corpo.

 

Modo de proceder


 

* Preparar meu tempo de oração sobre um texto já contemplado. O “olhar” sobre as pessoas, a “escuta” de suas palavras ou o “sentir” internamente me introduziram já no interior da cena.

* Entrar na oração de maneira habitual: imaginar o lugar pelo qual desejo entrar e seguir mais uma vez o caminho que vai do mais exterior ao mais interior.

* Entro no que vejo, e o que vejo entra em mim.

* Deixo que cheguem aos meus ouvidos interiores as palavras, o silêncio. Procuro, com paz, aproximar-me cada vez mais à interioridade do mistério através dos aspectos concretos da cena.

* Sinto, toco, saboreio como se estivesse presente: os objetos, a atmosfera, a “infinita suavidade e doçura” da  divindade, segundo a pessoa que contemplo.

* Demoro-me neste conhecimento interior, às vezes sensível, mas respeitoso, do Senhor. “Tocar com o  tato, assim como abraçar e beijar os lugares onde tais pessoas pisam e se detém, procurando sempre tirar proveito disso”(EE. 125).

* Posso permanecer, gratuitamente, nesta relação profunda e simples com o mistério de Deus que se entrega a mim nesta cena. Saboreando o que me é concedido, disponível e aberto, acolhendo o DOM.

* Recolho por meio dos sentidos o que aflora desta cena.

* Termino concretamente: uma expressão pessoal ao Senhor, uma ação de graças ou uma oração da Igreja

 

         Como diz S.João da Cruz falando da contemplação em relação à meditação:

           

“A diferença que há entre ir agindo e saborear já da obra feita, e a que há entre ir recebendo e aproveitando já do recebido, ou a que há entre o trabalho de ir caminhando e o descanso e quietude que há no final; que é também como estar preparando a comida ou estar comendo-a e saboreando-a já preparada”.

                                                       ( A subida ao Monte Carmelo,L.2.c.14,no. 7)

 

Alguns pontos importantes


 

- Não se trata de buscar sensações, mas de buscar o Senhor e de tirar proveito.

- A oração contemplativa é chamada a dar frutos na vida cotidiana: estes são prova da autenticidade de minha oração.

- A imaginação espiritual recebe mas não violenta. Não se deixa levar pelo imaginário.  No coração da oração contemplativa se vive uma certa pureza e desprendimento. Estar sempre “puramente ordenado a serviço e louvor de sua divina Majestade...”

- O conhecimento interno que obtenho nela fica verificado e autenticado pelo que foi revelado pelo Senhor à Igreja e que professamos na fé.

 

 

Por quê aplicar nossos SENTIDOS a uma cena bíblica?

 

             Orar com os sentidos sobre uma cena bíblica tem seu fundamento na fé:

 

* O VERBO fez-se carne e corpo. Sua Palavra viva não pode chegar até nós fora de nossas faculdades humanas, inclusive corporais, através das quais captamos as realidades espirituais.

* A Aplicação dos sentidos é sinal de uma oração simplificada, que chegou ao coração. Se é verdadeira, nos dará paz, humildade e simplicidade; se forçada, nos cansará e se desviará.

* As repetições e a aplicação dos sentidos nos unificam pouco a pouco.

   A pessoa inteira se “recolhe” para o essencial e “colhe” um fruto maduro.

* Deus responde nela à petição da graça: “conhecimento interno do Senhor, para que mais o ame e o siga”.

 

“A práxis expontânea depende da sensibilidade e enquanto essa sensibilidade não for evangelizada, não podemos ter certeza de reagir evangelicamente na vida.Por isso S. Inácio convida o exercitante a se aplicar assídua e amorosamente, usando olhos e ouvidos, tato, gosto e olfato no exame da cena contemplada, com a esperança de que fiquem tão banhados e atingidos por ela que, quando mais tarde entrarem em contato com a vida real, possam reagir diante dela com uma sensibilidade nova, diferente, transformada.

Só assim a práxis espontânea será uma práxis evangélica”.

(J. Antonio Garcia Rodrigues).

 

Modo de proceder


 

a) Trazer pela memória, com a ajuda das revisões da oração, o que de mais significativo aconteceu em você, na contemplação dos textos.

 

b) Tomar um aspecto central (imagem, atrativo profundo, uma disposição interior, abandono, confiança...) e “saborear internamente”. Deixar que este aspecto vá penetrando todo o ser.

 

c) Tomar consciência de uma presença; aí, permanecer longamente, silenciosamente, procurando entrar em sintonia com seus sentimentos, estabelecendo a comunicação pela comunhão, o que só acontece quando duas pessoas que se amam estão presentes uma à outra. Repousar silenciosamente n’Ele, de maneira intuitiva, sem discorrer.

 

d) O importante não é se preocupar com os cinco sentidos; não é se preocupar em usá-los durante o exercício. O importante é fazer uma oração não discursiva, uma oração mais simples, de sintonia profunda, de comunhão.

 

e) Quando este clima interior de intimidade não for possível, não inquietar-se. Deixar o Espírito Santo, que vive em nós, falar e não importuná-lo com a nossa ansiedade.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário