Livros Proféticos
Os Livros Proféticos recebem o seu nome do fato de cada um deles aparecer
encabeçado pelo nome de um profeta, o qual, podendo não ser sempre o autor de
todo o texto, é, pelo menos, a figura histórica que lhe dá a sua personalidade.
O profetismo é um fenômeno cujas raízes se estendem pelo Médio Oriente Antigo.
Tem a ver, por um lado, com experiências religiosas e místicas fora do comum
(veja-se, nomeadamente, 1 Sm 19,20-24); e, por outro, com um olhar penetrante e
capaz de intuir ou receber a comunicação de verdades profundas (Nm 24,3-4), ou
com a autoridade na transmissão dessas verdades em nome de Deus (Jr 1,17-19).
PROFETISMO E PROFETA
Dentro da própria Bíblia nota-se que o fenômeno do profetismo se formou
de muitos elementos e experiências que foram evoluindo e criando um conceito
enriquecido de vários matizes, capazes de conter até alguns contrastes (Zc
13,2-6). A variedade de nomes utilizados para o exprimir é um sinal claro
disso; e o nome que ficou a ser mais utilizado (nabi) não é, afinal, o mais claro
de todos os que existiam para designar tal conceito.
Talvez as duas conotações mais marcantes de profeta sejam a de “vidente”
e a de “porta-voz” que transmite certa mensagem em nome de outro. O termo
“profeta”, usado em português, deriva do grego e sublinha esta segunda ideia,
isto é, alguém que fala como porta-voz de outro.
Na Bíblia, o conceito de profeta aparece também aplicado a muitas outras
figuras, cujos nomes não constam da lista definitiva dos livros sagrados.
A Bíblia hebraica chama “profetas anteriores” ou antigos a uma grande
parte dos livros que nós classificamos, na peugada dos Setenta, como livros
históricos; e “profetas posteriores”, ao conjunto de livros cuja autoria, de
algum modo, se atribui a um profeta. Aqueles que designamos aqui por Livros
Proféticos são as obras dos chamados “profetas escritores”, se bem que a
questão da autoria, como dissemos, não seja linear e tenha de ser estudada caso
a caso e em pormenor.
LIVROS
No Antigo Testamento, estes profetas costumam ser divididos em dois
grupos: “Profetas Maiores” e “Profetas Menores”, segundo a sua extensão e a
importância que foi atribuída a cada um deles.
“Profetas Maiores”. São Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel. O Livro das
Lamentações aparece como uma espécie de prolongamento do livro de Jeremias,
embora já não se costume traduzir o parágrafo inicial da tradução grega que o
atribuía expressamente a Jeremias. Como um segundo anexo a Jeremias temos o
livro profético de Baruc; faz parte dos livros “deuterocanônicos” e é atribuído
a um secretário de Jeremias, de nome Baruc.
Isaías, Jeremias e Ezequiel são identificáveis como três figuras
históricas de profetas dos séculos VIII, VII e VI, respectivamente, com
notórias e decisivas intervenções na cena histórica, especialmente os dois
primeiros.
Daniel aparece na tradição da Bíblia grega entre os “Profetas Maiores”;
mas na Bíblia Hebraica é classificado entre os “Escritos”, dando a entender que
é visto como um gênero de literatura diferente da dos profetas. E é realmente
diferente, apesar de ter muitos pontos de convergência.
“Profetas Menores”. Alguns apresentam-se como figuras historicamente mais
definidas; é o caso de Oseias, Amós, Miqueias, Ageu e Zacarias. De outros, como
Joel, Abdias, Naum, Habacuc, Sofonias e Malaquias, pouco se sabe ao certo,
podendo mesmo acontecer que alguns sejam apenas nomes simbólicos da própria
obra literária ou da respectiva mensagem.
Jonas também aparece na Bíblia grega entre os “Profetas Menores”; mas, na
Bíblia hebraica, faz parte dos “Escritos”. De facto, além da narração contida
no livro, historicamente nada mais se sabe acerca da personagem de quem recebe
o nome.
PROFETAS... Um pouco mais...
Textos: Lc. 24.27 - Rm. 9.25-29
OBJETIVO: Mostrar que os profetas do Antigo
Testamento, ainda que classificados como Maiores e Menores, todos foram
igualmente inspirados pelo Espírito Santo.
INTRODUÇÃO: Conforme destacamos no estudo
anterior, toda Escritura é inspirada por Deus e proveitosa (II Tm. 3.16,17). Os
profetas, por conseguinte, foram, indistintamente, impulsionados pelo Espírito
(II Pe. 1.19-21). Mesmo assim, a tradição judaico-cristã costuma fazer a
distinção entre profetas maiores e menores. No estudo desta semana, veremos a
respeito dessa diferença, em seguida, apresentaremos, panoramicamente, os
profetas maiores e menores. Ao longo do estudo, destacaremos aplicações desses
profetas para a igreja do Senhor.
1. A DISTINÇÃO ENTRE OS PROFETAS: A distinção entre profetas maiores e
menores é meramente quantitativa, e não qualitativa. O critério não repousa na
relevância dos escritos de um determinado profeta em detrimento de outro. O
tamanho do livro foi utilizado como critério para a categorização de um
determinado profeta ser considerado maior ou menor. Ao estudarmos os escritos
dos profetas do Antigo Testamento, é preciso ter em mente que tais livros não
se encontram em ordem cronológica. A distinção entre profetas maiores e menores
serviu para classificar, quantitativamente, os profetas que tinham livros
maiores daqueles cujos livros eram menores.
Alguns desses profetas anunciaram a palavra de Deus simultaneamente,
outros com vários anos de diferença, e para povos distintos. Por isso, para
compreender a mensagem de determinado profeta, faz-se necessário identificar
quando ele falou, em que lugar, e para quem. Para tanto, devemos levar em
consideração o contexto e não a disposição desses na Bíblia, haja vista que o
texto bíblico, e não a disposição dos livros e capítulos e versículos foram
inspirados pelo Espírito Santo. Para evitar confusão, alguns estudiosos do
Antigo Testamento preferem a divisão dos livros proféticos em: pré-exílicos,
exílicos e pós-exílicos.
Os profetas preexílicos advertiram a respeito do julgamento de Israel e
Judá: Obadias (que escreveu para Edom), Amós, Oséias e Joel (escreveram para o
Reino do Norte) e Isaias, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias e Jeremias (que
escreveram para Judá). Os profetas exílicos escreveram para encorajar o povo de
Deus a esperar pela restauração deles: Ezequiel e Daniel escreveram da
Babilônica para fortalecer a fé dos judeus exilados. Os profetas pós-exílicos
escreveram para confirmar a aliança de Deus com o Seu povo: Ageu, Zacarias e
Malaquias escreveram para o povo de Judá que havia retornado do cativeiro.
2. OS PROFETAS MAIORES:
1) Isaias é considerando o primeiro dos profetas maiores (Is. 1.1). Seu
ministério profético aconteceu entre 740 a 700 a. C., iniciando no ano em que o
rei Uzias morreu (Is. 6.1). Deus promete a vinda de Messias que viria para
salvar o povo dos seus pecados (Is. 53.5). O livro de Isaias é considerado o
“Quinto Evangelho” por causa das suas predições do nascimento, vida e morte de
Jesus (Is. 6.3; 7.14; 9.6; 53.6). O próprio Jesus se referiu ao livro de Isaias
como cumprimento das profecias a Ele alusivas (Is. 61.1-2).
2) Jeremias escreveu o seu livro com a assistência de Baruque (Jr. 1.1;
36.4) em aproximadamente 585 a.C., a fim de advertir Judá do julgamento
iminente por causa do seu pecado. Esse profeta foi vocacionado ainda na
juventude (Jr. 1.6) para trazer as más noticias a Judá (Jr. 5.15), e, por causa
delas, foi açoitado e depois preso dentro de um poço (Jr. 38), mas suas
palavras se cumpriram fielmente (Jr. 52). A punição de Deus a Judá não tinha
como meta a destruição, mas o arrependimento do Seu povo (II Pe. 3.9).
3) Lamentações também foi escrito pelo profeta Jeremias (II Cr. 35.25),
provavelmente em 586 a. C., após a queda de Jerusalém diante do babilônicos.
Trata-se de um poema no qual o profeta pranteia a destruição da cidade e do
povo de Judá (Lm. 1.5,16; 5.22). O profeta clama ao Senhor que renove os dias
do seu povo (Lm. 5.21). A disciplina do Senhor, para os Judeus, bem como para
todo crente, objetiva a correção (Hb. 12.11). 4) Ezequiel, o sacerdote, é o
autor do livro que leva o seu nome (Ez. 1.1-3). Esse livro foi escrito por
volta de 590 a 570 a. C., quando Judá se encontrava no exílio. Ainda que o povo
estivesse no Exílio, o Senhor revela que não se satisfaz com a morte do ímpio
(Ez. 18.32). Em seu livro o profeta destaca a importância da responsabilidade
pessoal (Ez. 18.4-9); e 5) Daniel, um jovem levado ao exílio babilônico, é o
autor do livro (Dn. 7.15; 2.14), escrito entre 605 a 538 a. C. Esse livro foi
originalmente escrito em duas línguas: hebraico (capítulos 1, 8-12) e aramaico
(capítulos 2-7). Esse livro mostra que Deus sempre tem um propósito e que não
abandonou o Seu povo (Rm. 11).
3. OS PROFETAS MENORES:
1) Oséias escreveu seu livro entre 750 e 722 a. C.. Em seu escrito ele
revela o amor de Deus por Israel através de um casamento que resulta em
adultério (Os. 1.2). Apesar da infidelidade de Israel, Deus, como Oséias a
Gomer, o ama e está disposto a perdoá-lo (Os. 14.4);
2) Joel, filho de Petuel (Jl. 1.1), escreveu em 586 a. C., advertindo
Israel das pragas que sobreviriam por causa do pecado (Jl. 2.11). O dia do
julgamento de Deus, no entanto, não é o fim, pois o Senhor salvará o Seu povo
(Jl. 2.32);
3) Amós, um pastor de Tecoa, próximo de Belém (Am. 1.1), escreveu em 760
a. C., orientando o povo de Israel a preparar-se para um encontro com o Senhor
(Am. 4.12) e denunciando as injustiças sociais daquele povo (Am. 5.24). Essa
mesma atitude ecoa nas palavras de Tiago, em sua Epístola (Tg. 2.14-18);
4) Obadias escreveu seu livro em 586 a. C., (Ob. 1.1), após a invasão da
Babilônia sobre Judá. Esse livro traz promessas de esperança (Ob. 1.17) para o
povo de Deus, em cumprimento às palavras proferidas a Abraão (Gn. 12.3);
5) Jonas, escrito em 760 a. C., mostra a atuação desse profeta nos tempos
do Rei Jeroboão II (II Rs. 14.23-25). Jonas é vocacionado pelo Senhor para
pregar arrependimento para Nínive, capital da Assíria (Jn. 4.11). O profeta
esperava que os ninivitas fossem destruídos, mas esses vieram a
arrependerem-se. Nesse livro vemos a demonstração do amor de Deus aos pecadores
(Rm. 5.8);
6) Miquéias profetizou por volta de 700 a. C., ressaltando o julgamento
de Deus que viriam em breve (Mq. 1.1). Esse livro conclama o povo ao
arrependimento, a amar a misericórdia, a andar humildemente com Deus (Mq. 6.8),
e revela, profeticamente, o local do nascimento do Messias (Mq. 5.2);
7) Naum, escrito por volta de 663 a 612 a. C., revela o julgamento que
sobreviria sobre Nínive (Na. 3.1). Esse livro seria uma espécie de continuação
de Jonas, mostrando que Deus é misericordioso, mas pune o pecado impenitente
(Na. 1.3);
8) Habacuque profetizou em aproximadamente 600 a. C., a respeito da
punição de Judá através dos caldeus (Hc. 1.6). Nesse livro o autor faz um
chamado à fé (Hc. 2.4), mesmo diante da adversidade (Hc. 3.18), texto citado
por Paulo em Rm. 1;
9) Sofonias data de 640 a 620 a. C., durante o reinado de Josias (Sf.
1.1), tratando a respeito do julgamento de Deus por causa da idolatria (Sf.
3.8), ainda que haja esperança para aqueles que se arrependem (Sf. 3.13);
10) Ageu data de 520 a. C., perído do segundo ano do reinado de Dario
(Ag. 1.1). Como profeta pós-exílico, Ageu encoraja o povo que havia estado
cativo na Babilônia a reconstruir o templo. A esse respeito, destaca que o povo
deva dar proeminência a Deus em suas contribuições e a confiar no Senhor (Ag.
2.4);
11) Zacarias, filho de Berequias, data de aproximadamente 520 a 475 a.
C., e, semelhantemente a Ageu, conclama o povo à reconstrução do templo em
Jerusalém. O livro alude à entrada triunfal de Jesus em Jerusalém (Zc. 9.9; Mt.
21.1-11). Deus, através do profeta, chama o povo a se voltar para Ele, e Ele,
por sua vez, se voltará para o Seu povo (Zc. 1.3);
12) Malaquias, o mensageiro do Senhor, escrito por volta de 450 a. C.,
denuncia o descaso do povo em relação a Deus, inclusive em relação à
contribuição (Ml. 3.8-10). A mensagem de Malaquias nos lembra que o culto
genuíno ao Senhor deva ser em espírito e em verdade (Jo. 4.24).
CONCLUSÃO: O estudo dos livros dos profetas,
sejam eles considerados maiores ou menores, é fundamental ao amadurecimento da
Igreja. Não podemos esquecer que o Antigo Testamento era a Bíblia que Jesus
lia. Ele mesmo fez menção da mensagem dos profetas ao revelar-se, após a
ressurreição, na estrada de Emaús, quando discorria a respeito do cumprimento
das profecias a seu respeito (Lc. 24.27,32). Ainda hoje, quando meditamos na
Palavra de Deus, nosso coração arde através da chama do Espírito, que nos
instiga à fé nessas palavras fieis e verdadeiras e dignas de toda aceitação (I
Tm. 4.9).
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