AS ANOTAÇÕES dos E.E. (EE 1-20)
(Tradução e resumo dos livros de Adolf
Haas e Santiago Arzubialde)
Que são?
Como todo o livro dos
Exercícios, também as Anotações são
para aquele que dá os exercícios. São uma espécie de “comentário
ou diretivas” para o desenvolvimento dos Exercícios. Contém a “pedagogia”;
pode-se considerar como o “diretório” inaciano mais próprio e
verdadeiro.
Fonte
As Anotações, que dão início
ao texto dos Exercícios Espirituais, refletem aprendizagens vitais de S. Inácio
em sua própria experiência espiritual. Não são recomendações idealizadas no
escritório de um intelectual, mas a sistematização de experiências
vividas em seu processo de crescimento espiritual e de busca da Vontade de
Deus.
O Pe. Gonçalves da
Câmara, um dos mais próximos de S. Inácio em seus últimos anos, relata, em seu
Memorial, sobre a maneira como o santo fundador vivia intensamente o que ele
mesmo havia recolhido em seus escrito sobre os Exercícios.
“De uma coisa me recordarei, a saber, quantas vezes
observei como o Padre Inácio em todo seu modo de proceder observa todas as
regras dos Exercícios exatamente, de tal forma que parece primeiro tê-las
plantado em sua alma, e dos atos que tinha nela, tiradas aquelas regras”
(Memorial, no. 226).
Portanto, trata-se
de recomendações que o mesmo Inácio vivia em sua cotidianidade e que surgiram
de sua experiência de acompanhar a outros nos Exercícios Espirituais.
Por outra parte, o
mesmo Gonçalves da Câmara nos conta como estas recomendações do Mestre Inácio
foram se configurando para encaminhar aos que acompanham os outros em seus
Exercícios:
“Disse
o Padre Inácio que desejava confeccionar um Diretório de como se deviam dar os
Exercícios, e que Polanco lhe perguntasse as dúvidas a qualquer hora, porque em
coisas de Exercícios não lhe seria necessário pensar muito para responder a
elas” (Memorial, n. 313).
Finalidade
Dar uma idéia geral, uma fórmula ou compêndio
dos Exercícios.
A idéia verdadeira só provém da prática
dos Exercícios. O livrinho não é para ser lido mas vivido.
As Anotações são fruto dessa experiência.
Como todo o livrinho , as Anotações
tem caráter indicativo.
Sua finalidade
é ajudar. Não são ordens nem
prescrições dentro das quais se terá que
comprimir a experiência, mas indicações para a prática, ajudas úteis para a
vida, metodologicamente abertas ao processo mesmo dos Exercícios.
Duas coisas
significativas aparecem no texto:
- Não há “mestre”
nem “diretor”
nos Exercícios. O texto fala só daquele que “dá os
exercícios”
e daquele
que “recebe
os exercícios”. O único e verdadeiro mestre e
diretor é o Senhor.
- Os
Exercícios tem o caráter de encontro
entre a pessoa que “dá os exercícios” e a pessoa que “recebe
os
exercícios”. As
Anotações pretendem ajudar neste
encontro, para que não haja nele unilateralidade nem
coação
ou imposição alguma, mas um “estar atento” e um constante pôr-se
em sintonia com o outro.
Se
aquele que “dá os exercícios” atua com imposições e
aquele que “recebe os exercícios” não leva em
conta
a ajuda que o outro lhe dá, não se consegue o fim para o qual tendem os
Exercícios: buscar e en-
contrar a vontade de Deus.
Porque
o caráter particular do encontro nos
Exercícios é este: tanto aquele que “dá os exercícios” co-
mo
aquele que “recebe os exercícios” se põem ambos em contato
com um terceiro – Deus.
As Anotações se ordenam a três fins
complementários:
- definir a experiência;
- delinear o papel daquele
que dá os Exercícios;
- sondar a atitude daquele que se
dispõe a entrar nos Exercícios.
É evidente que este
documento, em primeiro lugar, deve ser estudado e profundamente conhecido por
aquele “que se dispõe a dar a outro modo e ordem”.
Deste documento ele
deverá aprender três coisas:
- sua figura
e seu ofício, que tem alguns
limites bem precisos e deve ficar relativizada
por completo para
além de
todo protagonismo.
- em
segundo lugar o modo da entrevista e a matéria sobre a qual versa, já que
aquela não é nem psicológica nem
diretiva, nem moralizadora;
-
finalmente, sua relação com aquele que se exercita; é preciso que desde o
começo se dê uma inversão de
papéis:
aquele que “dá os Exercícios”, observa, o que se exercita é
o outro.
Por isso não lhe deve impressionar com seu
saber ou “santidade”; deve deixá-lo
só e saber-se retirar.
Os
Exercícios não são pregação. O protagonista não é ele, senão o Espírito, que
age a sós nessa relação
imediata entre Deus e a pessoa que agora entra em atividade.
A utilização deste
documento também por parte daquele que inicia a experiência tem seus objetivos
distintos. Não precisa conhecê-lo por inteiro, mas deverá ficar claro para ele
o que são os Exercícios; e isto deve ser dado a conhecer por aquele que “dá os Exercícios”.
O exercitante deverá
passar de uma atitude meramente passiva ou receptiva a outra
puramente ativa, mais responsável. Ele deverá sondar sua própria verdade,
sua situação real e sua sinceridade diante de Deus.
Como Moisés diante da
sarça (Ex. 3,5) ele deverá descalçar-se
de muitas coisas, atitudes, posições tomadas, apegos... e adotar uma
postura verdadeiramente positiva.
É ele que diante de
Deus se exercita e deve mudar.
Ele é o único
responsável por seus atos diante de Deus. Tudo depende de sua atitude e
sinceridade.
Deus só se faz
presente e se entrega, em suas graças e dons espirituais, a quem se dispõe e é
liberal e magnânimo com Ele, a quem não se reserva nada para si, não lhe
regateia algo concreto, nem oculta parte da verdade, nem atua ambiguamente...
mas que se entrega incondicionalmente à sua Vontade.
E tudo isto requer um
tempo prolongado de preparação a fundo antes de iniciar a experiência, tanto
daquele que “dá os Exercícios”
como daquele que os recebe, para ajudar-se mutuamente.
O papel daquele que “dá os Exercícios”
O conteúdo principal
das Anotações é o papel
daquele que “dá os Exercícios”. Sua
atitude é claramente normativa, mas não enquanto
ao que possa acontecer na experiência, senão só enquanto ao método.
Não é diretiva,
porque não induz o outro a nada, nem lhe exorta, nem sequer moraliza.
Sua disposição
capital é a de ser neutro, “como o fiel da balança” (EE. 15).
Sua função consiste em pôr o outro corretamente diante de Deus, livre de todo
condicionamento, para “deixar que seja Deus mesmo
quem atue diretamente”(EE.
15); ele então deve retirar-se.
“Isto
exige daquele que dá os Exercícios que ele mesmo esteja livre de tais afeições,
que verifique que não vai projetar seus desejos ou suas interpretações... Sua
relação de ajuda ao serviço do
exercitante exige que esteja indiferente:
sua presença seria muito enganosa se viesse a ocupar (encobrir) o espaço desta relação imediata
(do exercitante com Deus) com suas idéias,
sua doutrina, ou seus desejos, por mais elevados que fossem...”
“A imagem do fiel da balança
expressa aqui a disponibilidade a Deus que cria
a indiferença”.
Aquele
que dá os Exercícios é o primeiro a ser chamado a esta indiferença”.
Seu ofício não se
identifica com o do confessor (EE. 17). Por isso não deve querer saber (ou indagar
= pedir) nem a vida, nem os pensamentos, nem os pecados daquele que se
exercita. Se o interroga ou escuta, deverá fazê-lo sem curiosidade, porque esta
dificultaria em grande medida a confiança e liberdade do indivíduo.
Mas quando aquele que
se exercita não lhe ocorre nada, não lhe vem moções, “muito
lhe deve interrogar sobre os exercícios” (EE. 6), porque é muito
provável que ainda não tenha entrado na experiência. Muitos bloqueios, típicos
de quem diz que não experimenta nada ou de quem se crê imune, são mecanismos de
autodefesa da pessoa que não deseja experimentar. Porque a transcendência,
assim como as moções na qual alguém se encontra imerso, a pessoa as “sente”.
“Sua função deve
ser respeitosa ao extremo em matéria de consciência mas, por outra parte, totalmente livre para perguntar sobre tudo o que diz respeito à
prática concreta dos Exercícios: se os faz, quê acontece neles, quê
moções experimenta ao realizar tal exercício...”
Sua atividade é sóbria:
ordena-se a informar sobre quê são os Exercícios e a oferecer matéria
de meditação ou contemplação, mas sem explicá-la pormenorizadamente, porque
isto deformaria seu papel, convertendo-o em pregador e mediatizando a
atividade daquele que se exercita. Este é o que deve entrar em atividade por si
mesmo, “discorrer e raciocinar por si mesmo” (EE. 2), sabendo
de antemão que neste terreno o que Deus dá a sentir e saborear internamente,
sua linguagem, é o único que verdadeiramente sacia e satisfaz; o “descobrimento”
experiencial recebido ilumina e faz saborear a história.
E isto, normalmente,
não são idéias, mas realidades muito simples que afetam a pessoa por inteira e
os seus desejos mais profundos de felicidade
“Tem que experimentar por própria conta algo que
ordinariamente será novo e distinto. Deverá penetrar no
interior do mistério proposto ou da história. Não se trata de que repita idéias. Quando Deus se
apresenta, sempre há novidade. E esta não deve ser oferecida por aquele que dá os
Exercícios, pois privaria aquele que exercita de buscar e poder encontrar a Deus. Sempre
que a pessoa tem uma vivência de Deus descobre algo novo”.
Seu papel será
regulado por um princípio equilibrador:
- deve
relativizar o tempo da consolação (“muito fervor” EE.14) de tal modo que
aquele que se exercita
não se
envaideça e nem se precipite à ação, porque no tempo da consolação tudo é fácil
e leve (EE.13)
- deve
evitar que se venha abaixo com a desolação
(EE. 7); porque então não somente é muito difícil
cumprir a hora de oração inteira (EE. 13), senão que sua inclinação
espontânea lhe induzirá a fugir
e
abandonar o que começou; então deverá inspirar-lhe ânimo e forças para que siga
adiante, mostrando-se
com
ele brando e suave (EE. 7);
- deverá
inspirar-lhe sempre a segura confiança da proximidade de Deus que nunca lhe abandona;
- o
princípio equilibrador se funda, portanto, no abandono confiado na ação
gratuita de Deus; e o segredo, da parte
do indivíduo, consiste em proceder sempre para frente, com
grande ânimo e liberalidade (EE5), pondo o
olhar no futuro, confiando só em Deus.
Aquele que “dá
os Exercícios” deverá ter sempre muito em conta quem
tem diante de si:
Sua
capacidade intelectual (EE. 18), sua aptidão (dons naturais) e idoneidade, sua
complexão (forças físicas e saúde corporal)(EE. 18), seu desejo de aproveitar
(EE. 18), e finalmente sua situação social
(EE.19) e suas possibilidades de afastamento (EE. 20), para que, segundo
isto, adapte a experiência à situação
pessoal de cada indivíduo, já que a experiência sempre deverá ser personalizada. O discernimento da
sinceridade e do desejo profundo de “em
tudo aproveitar” por parte do indivíduo é a peça mestra desta relação que
se estabelece entre aquele que “dá os
Exercícios” e aquele que “recebe os
Exercícios”.
Em resumo, deve adaptar sempre a experiência, meios e
atividades, às moções-agitações e às possibilidades do indivíduo, de tal modo
que seja algo que este compreenda, lhe torne fácil e apetecível, e ele possa
levar o processo descansadamente (EE.
18).
Poderíamos sintetizar
a figura e o papel daquele que “dá os Exercícios”
dizendo que não tem porque ser melhor que aquele que se exercita. É um pecador
que acompanha a outro.
Por esta razão não
deve ser idealizado. Nem pode criar dependências que possam mediatizar ou
substituir tanto a responsabilidade daquele que faz a experiência quanto o
primado da ação imediata de Deus (EE.15), que é o único importante.
G. Fessard sintetiza deste modo
a atitude daquele que “dá
os Exercícios”:
iniciador
breve e fiel (EE2), ad-
Monitor circunspecto (EE. 8; 9; 10; 14) e doce (EE.
7), que é zeloso (EE. 6) e exigente (EE. 12), ouvinte reservado de confidências
consoladas ou desoladas (EE. 17), espelho detector de seu sentido e de suas
motivações ocultas (EE. 7), enfim, sobretudo agente compensador, pronto a neutralizar
as oscilações desordenadas de uma liberdade que ainda não alcançou o equilíbrio
(EE. 15).
Àquele que “dá
os Exercícios” lhe cabe conhecer exatamente seu ofício e
relativizar-se a si mesmo por completo; ser sóbrio e ganhar em objetividade.
Deve dar “modo e ordem” para meditar
ou contemplar, sucinta e brevemente (EE. 2); adaptar a experiência (EE 18);
vigiar a sinceridade do indivíduo (EE. 6) e velar pela qualidade de seu
processo; instruir sobre as coisas do espírito e sobre os possíveis enganos (EE.
8; 17): moções, tentações, enganos, fervores indiscretos ou desânimos... para
que nem se volte atrás e nem se desvie do caminho começado.
E finalmente, terá de
acompanhá-lo e sustentá-lo, dando-lhe ânimo e forças (EE. 7), para que sempre
prossiga adiante. Em resumo, terá de ser uma mediação sincera, que
jogue limpo, procure instruir, levar a Deus e saber-se retirar.
Por outra parte, lhe cabe fazer a função de espelho, numa entrevista
breve e simples, podendo ser diária. Que
não distraia nem tire o indivíduo de sua solidão, mas ao mesmo tempo de tal
maneira que aquele que
se exercita se sinta acompanhado pela mediação do sacramento da Igreja que o
acompanha em seu itinerário para Deus, seja o seu reflexo, e o ajude ao mesmo tempo a
objetivar-se e discernir.
Na mesma
transferência e reflexo que retorna agora do espelho, aquele que se
exercita, se é veraz, se sente refletido. Porque no
mesmo exercício de expressar-se, ao formular o que lhe acontece, ele mesmo se
discerne. Com frequência não é preciso acrescentar mais nada.
Talvez só algumas
breves observações, seja para situá-lo mais corretamente diante de Deus, seja
para objetivar ainda mais exatamente o que lhe passa.
Em todo caso, o espelho
deverá ajudar àquele que se exercita a que abandone sua própria linguagem, que
em definitiva é a única que o bloqueia, para que se abra à linguagem de Deus,
ao seu amor e ao seu perdão.
Finalmente, “muito
lhe deve interrogar”
(EE. 6) sobre como faz os exercícios e como vai a
experiência, sem temor de denunciar, de dizer a verdade, ou inclusive abreviar
a experiência se não houver jogo limpo ou se constatar que aquele que se
exercita simplesmente deseja contentar sua alma, faltando tempo para tudo (EE.
18). Não se trata nem de ficar bem nem de agradar, mas só de ajudar o outro a
que, superando toda desordem, possa encontrar a Vontade de Deus na disposição
de sua vida.
“Uma
das idéias-força de toda a obra de Inácio é esta: Deus vem ao encontro, age
diretamente e sem intermediário com o homem por Ele criado, em relação de mútua
abertura e comunhão.
Por
sua vez, o homem pode fazer esta experiência do imediato de Deus, da
comunicação direta de Deus em sua vida.
Paradoxalmente, Inácio pareceria contradizer essa sua primordial convicção por
uma tentativa de cercar por todos os lados e de todos os ângulos a experiência
dos Exercícios, com pequenas práticas, prescrições e esforços que a canalizem e
afunilem em determinada direção. Esta
aparente contradição, no entanto, é o que dá ao método e à teologia inacianas
seu sêlo de originalidade. O “fazer tudo
como se tudo dependesse de ti; confiar, sabendo que em última instância, tudo
depende de Deus”, é o resumo desta tensão dialética que perpassa o livro
dos Exercícios e que se encontra nitidamente expressa nas Anotações.
Tensão
dialética entre os meios e o fim; entre o empenho prático, objetivo, e a
abertura confiante à ação da Graça; entre a literalidade do texto e o Espírito
que o originou e que o anima desde dentro”
(Bingemer,
M. Clara – Em tudo amar e servir – Loyola)
1a.
anotação
1. Os
Exercícios são essencialmente “exercitações” que Inácio, para dar a entender o que quer,
compara
com os exercícios físicos (andar,
correr...).
Os Exercícios são atividades
sujeitas a método e observação. Tendem a crescer
até alcançar a altura da capacidade natural. No início deles é preciso ater-se,
quase mecanicamente, a indicações precisas, repetir quantas vezes seja
necessário, superar pouco a pouco as resistências. Lentamente o exercítante vai
fazendo própria a forma dos exercícios e sua execução e, em um terceiro
momento, ele relativizará o método porque terá encontrado o seu próprio método.
2. Os
Exercícios são essencialmente “espirituais”.
a) enquanto a sua
natureza: os
EE abraçam todo gênero de ações espirituais, manifestam uma grande abertura a
toda espécie de atividade intelectual e espiritual. Inácio enumera aquelas que
mais se hão de praticar durante os EE: o exame de
consciência, a meditação, a contemplação evangélica, a oração vocal, mas sem excluir outras.
b) enquanto à atitude ou
comportamento interior: os EE são “todo
modo de se preparar e dispor”. Orientam-se a conseguir sinceridade e disposição interior
para – negativamente – libertar-se de afetos desordenados e – positivamente –
buscar e encontrar a vontade de Deus “na
disposição de sua vida para sua salvação”.
3.
Indica-se o fim supremo para o qual deve orientar-se a atividade
espiritual, o dispor-se internamente e o libertar-se de desordens: a busca e o
encontro da vontade divina.
“Buscar e encontrar Deus em
todas as coisas” é um dos axiomas da
espiritualidade inaciana.
É uma abertura ao infinito,
que delimita e anima ao mesmo tempo a mecânica própria dos Exercícios. Delimita-a,
pois o exercitante (visto em relação ao sumo fim) só pode dispor-se, abrir-se,
assumir uma atitude receptiva; de nenhum modo isso pode ser entendido como uma
manobra para capturar a Vontade divina.
Anima-a, porque em todo conhecimento
ou amor adquirido, abre-se à busca de um posterior conheci-mento e amor, dentro
de uma dinâmica de contínua superação. Neste buscar e encontrar e novamente
buscar, realiza-se o mais profundo da existência humana espiritual.
E é nesta perspectiva é
preciso situar a necessidade dos meios e dos métodos:
não há autêntica busca da verdade sem método, ainda que tenha que ser livre
frente ao método e procurar sua justa aplicação.
Desta forma, os métodos são
a expressão da disposição interior de abertura à Graça. Por isto, S. Inácio não
fala simplesmente de “exercitante”, senão “daquele que recebe os Exercícios”: a humilde dispo-sição para
receber relativiza os método
2a.
anotação
Esta breve anotação
expressa claramente em que consiste o “dar os Exercícios”.
O fato de não se
levar em conta esta anotação, com muita freqüência os EE não dão o fruto que
poderiam dar. Freqüentemente não se “fazem Exercícios”, mas são feitos como se
segue um curso, como se fosse ouvir umas esplêndidas e longas conferências
sobre temas religiosos, teológicos ou morais, esquecendo assim o essencial do
EE: colaborar ou cooperar com a graça de Deus.
Os EE não são um curso teórico, no qual o diretor
tem que fazer o maior trabalho. Por mais importante que seja seu papel, o
mestre dos EE autênticos se retira completamente. Somente está ali para indicar
caminhos, mas quem tem que transita-los é o exercitante. Este é quem faz o
trabalho.
Estrutura interna da 2a.
anotação
O eixo
fundamental encontra-se nesta frase: “encontrando alguma coisa que a
esclareça ou faça sentir mais a história”. O exercitante
deve aspirar a encontrar algo na história que lhe é apresentada; não
necessariamente tem que ser uma descoberta objetivamente significativa, mas
simplesmente “alguma
coisa” que
seja existencialmente nova e a história o ilumine, lhe faça “saborear”,
“sentir”. Esta descoberta é como penetrar no mistério ou “história” proposta;
algo que, por pequeno ou sem importância que seja, é como uma porta necessária.
Ela se torna importante só quando se entra por ali e começa então o “sentir e
saborear as coisas internamente”, que é o fruto do
exercício. Isto é o fundamental.
Vejamos agora
a estrutura da anotação:
1. Como acontece esta
descoberta que ilumina e faz “saborear” a “história”?
Quê
condições são requeridas da parte “daquele que dá os EE” e da parte do
exercitante?
a) Condições
da parte “daquele que dá os Exercícios”.
Ao propor a matéria para a contemplação ou
meditação, ele deverá procurar ajudar o exercitante a realizar essa “descoberta”; e para isto:
* Deve propor fielmente a
história ou “mistério”. O exercitante deve “tomar o verdadeiro fundamento da
história”. Isto quer dizer que se deve dar a ele o texto verdadeiro
da Escritura sem ampliações nem acréscimos apócrifos, que o próprio Inácio
encontrou em sua vida e evitou quase completamente em seus EE. Mas quer dizer
também que deve procurar oferecer simplesmente o verdadeiro fundamento
histórico que cada contemplação tem. Quando isto não acontece e, ao contrário,
“aquele que dá exerci-cios” se estende em explicações pormenorizadas, de seu
próprio saber ou invenção, o exercitante pode desorientar-se e sua “descoberta”
pode caminhar por outras vias diferentes daquelas que o mistério em si propõe.
* A exposição da história deve ser breve
e sumária (“com
breve e sumária declaração”, diz S. Inácio). A tendência a dar
explicações exaustivas atenta contra a possibilidade de que o exercitante
descubra por si mesmo algo existencialmente novo para ele na “história”
exposta.
No Diretório de 1599 isto é destacado:
“Ao
dar os pontos para a contemplação, não é conveniente exagera-los ou enucleá-los
tão amplamente que o contemplante já não possa, por si mesmo, descobrir nada
novo ou tenha que descobri-lo com muita dificuldade. A experiência ensina que
todas as pessoas experimentam maior alegria e se sentem mais movidas por
aquelas coisas que encontraram por sua própria conta e, por conseguinte, basta
indicar, por assim dizer, com o dedo o “veio de ouro” que o outro poderá
escavar com seus próprios meios. No caso de pessoas escassamente dotadas,
poder-se-á ampliar um pouco mais” (MI,
Exerc. Sp. 1130).
Assim pois, a exposição
ou consideração da “história” deve ser de maneira sintética, “sumária”,
contendo os pontos principais e nada mais. É óbvio supor que uma apresentação
assim requer, por parte “daquele que dá os EE”, um maior trabalho preparatório.
A experiência lhe irá ensinando.
b) Condições da
parte do exercitante. Como ele chega a descobrir
algo novo na “história” apresentada?
S. Inácio
responde: “refletindo
e raciocinando por si mesmo”.
Da reflexão
pessoa, que na contemplação tem, obviamente, um caráter particular,
existencial, surge um novo entendimento da “história”. Trata-se
de um novo conhecimento ou descoberta que pertence à pessoa mesma do
exercitante. Com os verbos “discorrer e raciocinar” não se quer determinar um método concreto,
senão simplesmente apontar a qualquer forma de “conhecer” que conduza à
profun-didade da existência. De nenhuma maneira se privilegia aqui um tipo de
conhecimento puraramente “racional”, como veremos na continuação.
2. Características deste
descoberta intelectual:
a) É
uma compreensão que parte, de alguma maneira, do motivo ou fundamento da
história: “tomando
o
fundamento verdadeiro da história, diz S. Inácio.
“Aquele que dá os EE” se limita, como temos dito,
apresentar o fundamento verdadeiro da história, que vem a ser o quadro dentro
do qual o exercitante realiza sua descoberta intelectual. Por mais
insignifican-te que seja esta descoberta, deve sempre ter relação com a raiz da
“história”, deve ser, em certo sentido, fundamental. Toda reflexão que não
aponte a dar um passo – por pequeno que seja – em profundidade, para as bases
da “história”, não poderá conduzir a este novo conhecimento.
E, pelo contrário, todo movimento, por mais
insignificante que pareça, em direção ao fundamento da história, tem uma grande
importância e deve ser apoiado, reconhecido, impulsionado a uma maior
profundidade. A razão disto é que, neste movimento inicial mas fundamental do
exercitante, se abre já o caminho para o fim que se pretende:
“sentir
e saborear a coisa internamente”.
b) A
nova descoberta é fruto de uma atividade de ordem intelectual que inclui
discurso e raciocínio.
Sem o exercício, às vezes árduo, do espírito, sem a
reflexão que aprofunda a “história” e sem o racioci-nar sobre as relações
internas da “história” e as relações da “história” consigo mesmo, é impossível
que se dê realmente uma nova descoberta que faça sentir e saborear.
É certo que alguns guias espirituais argumentarão
aqui sobre os perigos do refletir e raciocinar, mas, na perspectiva que estamos
falando fica claro que se trata de empenhar todas as faculdades cognitivas que,
de fato, incluem e canalizam os chamados “dons do Espírito Santo”.
O redutivo seria ver no discorrer e raciocinar
próprio dos EE somente uma prática da lógica aristotélica ou do racionalismo
cartesiano.
A partir da 1a. Anotação é evidente que se trata de
exercícios “espiritu-ais”, que abarcam toda atividade intelectual
capaz de “preparar
e dispor a pessoa”.
c) A
nova descoberta tem duas propriedades essenciais: “clarificar um
pouco mais ou sentir a história”, ou seja, uma iluminação
ilustrativa e um sentimento interior.
Em um primeiro
momento, a descoberta pode manifestar-se de maneira ainda pouco vistosa
(somente “um
pouco mais clarificar ou sentir a história”). Então
intervém o método inaciano das repetições.
A descoberta é apoiada, sustentada e aprofundada em
contemplações sucessivas, vai-se integrando e ampliando com novas descobertas,
de modo que o mistério proposto inicialmente não só se vai clarificando “um
pouco mais”, senão sempre mais, cada vez mais.
Trata-se, pois, de uma iluminação
crescente do espírito, que abarca cada vez mais a totalidade da pessoa, ao
abarcar cada vez mais a “história”. Toda a pessoa vai sendo implicada,
inclusive os sentidos.
Sendo o ser humano uma realidade concreta, seu
espírito não pode ser iluminado sem que também sejam “tocados”, de alguma
maneira, os sentidos.
Mas, também dado que com a pura experiência
sensível não se pode alcançar a profundidade das coisas, a via para o “sentir e
saborear internamente” fica
aqui bem definida: começa-se sempre com a atividade espiritual do “discorrer e
raciocinar” para penetrar ao menos “um pouco” no fundamento da “história”; dali
brotará uma descoberta fundamental (mesmo que pequeno ainda), capaz de iluminar o mistério em sua profundidade;
desta primeira luz pouco se poderá tirar para iluminar a existência global da
pessoa, incluídos seus sentidos; haverá que aprofundá-la com novas descobertas.
Então, os sentidos, em união com o espírito,
conseguirão perceber algo que eles não podiam por si mesmos: o interior da
“coisa”; e o espírito, enfim, ajudado com a contribuição dos sentidos, poderá
alcançar esse conhecimento universal, que não lhe pode vir só com o raciocínio:
o sentir e saborear a coisa internamente.
Concluindo: é
toda a personalidade, de acima a baixo, que deve ser tocada pela descoberta,
inclusive os sentidos, os sentimentos,
as emoções. Mas – cuidado! – isto não tem nada a ver com o fanatismo que
procede sempre de uma ideologização unilateral.
A descoberta
espiritual comove, é certo, mas ela não fica na comoção, a impulsiona mais
além, para novas razões que são novas tentativas de aprofundamento no mistério.
Não se pode
esquecer, enfim, que o “sentir e saborear” próprio dos EE está sempre a serviço
da disponibilidade para a vontade de Deus. O fanatismo
sentimental e ideologizado, por sua vez,
bloqueia a abertura de disponibilidade porque absolutiza sempre
determinadas teses, determinados modos de comportamento, interesse, etc...
3. A “descoberta intelectual”
se realiza sempre no plano da fé e, por isso, é o resultado de um exercício especificamente espiritual (meditação
ou contemplação).
A descoberta
espiritual é graça, “recebe-se”. Toda a atividade do exercitante há de
estar impregnada desta atitude de receptividade. Esta é a razão
pela qual S. Inácio prefere falar da pessoa que faz os EE como “aquela que
recebe os Exercícios”.
O “sentir
e saborear” internamente é fruto
da graça, é dom que se recebe. Agora bem, pensar que esta graça vai
ficar deteriorada ou vai ser posta de lado como supérflua pela atividade
intelectual da pessoa, é um engano que é preciso cuidar. Todo nosso agir
(inclusive exercitar-nos intelectualmente nos exercícios espirituais) está
sempre condicionado, apoiado metafísica e indissoluvelmente ligado a Deus, que
não cessa de cooperar com nosso agir.
A cooperação
de Deus (o concurso divino), segundo a espiritualidade inaciana, é um dos
pilares da vida espiritual. É justamente esta doutrina da contínua cooperação
de Deus a que move mais a pessoa a um contínuo e sempre novo agir. Esta é a
razão que levou, quem sabe, a Inácio a promover exercícios espirituais que
empenham tanto a atividade pessoal em coisas espirituais. Se algo quis Inácio
demonstrar, ao longo de sua vida e em todas as suas obras, é que a vida
ativa constitui um autêntico lugar para o encontro com Deus, que
a atividade não impede a contemplação e que ambas referem-se
continuamente uma à outra. Este é o sentido da fórmula atribuída a ele: “in actione
contemplativus”.
Em todo caso, o que a Inácio lhe interessa é que o
exercitante, fazendo uso de todas as suas faculdades intelectuais e
espirituais, alcance uma “descoberta” nova que o faça “sentir e saborear” o
mistério que, para ele, não é outra coisa que o mistério do encontro com
Deus em Jesus Cristo.
Em última instância, a descoberta e o sentir e
saborear internamente não é outra coisa que penetrar na história de Jesus que
domina todos os exercícios; não é outra coisa, portanto, que encontrar-se com
Jesus “nosso Criador e Senhor”.
3a. anotação
A 3a.
anotação vem a ser uma conseqüência da anterior, com respeito à conduta ou
comportamento do exercitante: a “maior reverência”. É um conceito
fundamental que faz relação com a vida e doutrina de Inácio e não convém
menosprezar.
A “maior reverência” designa esse
espaço no qual o exercitante quis entrar ou já entrou, quando começa a “sentir
e saborear as coisas espirituais” e os sentimentos de seu coração o levam
naturalmente ao diálogo: é o
espaço dialogal, por assim dizer, o espaço do sagrado, do encontro com Deus
nosso Criador e Senhor. Ali é natural que surja a atitude de “maior
reverência”.
Enquanto ato
ou comportamento próprio do amor, a “maior reverência” pode estar
duplamente ameaçada:
a) Primeiro, pela ameaça do temor. Nada
destrói mais o amor que o medo ou o temor.
Quando lhe invade o medo ou o temor, a pessoa se
faz incapaz do autêntico dom de si mesma, sem o qual é impensável o encontro
amoroso. Quando o medo atua, a pessoa imagina o encontro com o outro
como uma ocasião para a agressão, pensa que poderia ser atacada pelo outro.
Tudo o que induz ao medo ou temor destrói,
portanto, essa expressão do amor que Inácio chama reverência. (Nota:
em seu Diário Espiritual, Inácio faz referência contínua a este “amor
reverencial”).
A reverência (também chamada de respeito)
permite esperar e acolher o outro tal como ele é e portar-se frente a ele tal
como se é. É reconhecer o outro e reconhecer-se.
Este “amor reverencial” está,
portanto, em estreita união com a humildade: com a coragem de
reco-nhecer realmente o que se é. Aquele que atua por medo não se reconhece nem
se aceita em sua realida-de; por isso mesmo, tampouco pode reconhecer e aceitar
realmente o ser-distinto do Outro que vem a seu encontro. Percebe o
ser-distinto do Outro mais como separação que como possibilidade de relação.
Ao encontrar-se frente ao Outro, só atina a
olhar-se a si mesmo e a projetar no outro o que primeiro projetara dele dentro
de si. O espaço da doação gratuita se converte em campo de batalha.
A história do ateísmo e da incredulidade de todos
os tempos demonstra o quão desastroso é, seja no encontro com Deus ou com o Homem-Deus, o temor que separa e o medo
que conduz à hostilidade.
b) A segunda
ameaça do amor reverencial é o contrário da separação: a fusão com o
companheiro.
Pessoas que se fundem entre si, que não podem
guardar as distâncias da própria identidade, tampouco podem estabelecer relação
entre si. A reverência, por outro lado, é a atitude fundamental
que nem separa nem funde os interlocutores ou companheiros, senão que
estabelece a relação de encontro sobre a base de um estar reciprocamente
presente.
A fusão conduz, no ato religioso, à mentira, porque
encobre quem sou eu e quem é o Criador que encontro. Por isto, é também
contrária à humildade que é valor para aceitar a realidade e a verdade.
“A reverência
é aquele afeto primitivo do espírito humano através do qual se abre a realidade
de Deus, do mundo e do ser humano em toda sua profundidade e riqueza de
valores.
Começa
com o estupor, com o abrir os olhos à plenitude do ser e se
desenvolve com um duplo movimento de “timidez que retrocede” e de “amor que impulsiona para frente”, contrário
ao movimento de fuga pelo temor e de violação privada do tato da distância. Seu
objeto é, sem exceção, todo ser que esteja abaixo, ao lado ou sobre o ser
humano.
A reverência
para com “aquilo que está por debaixo de nós” (Goethe) só é possível
porque em qualquer nível do ser se manifestam a nós as pegadas do Espírito
Criador.
Do
mesmo modo, a reverência para com o próximo só se realiza retamente
quando o ser humano é valorizado como imagem de Deus. Por isso, toda reverência
é, no fundo, piedade, está na origem de toda religião e é em si
mesma um ato religioso” (F. Wolff).
Podemos agora
entender a observação de Inácio: que quando falamos mental ou vocalmente com
Deus ou com os santos, “requer-se de nossa parte maior reverência,
que quando usamos do entendimento para
compreender”. Quando temos ocupada nossa energia reflexiva
na matéria proposta ou em nós mesmos, não se dá ainda a situação que requer maior
reverência. Também aqui ela é necessária, certamente, mas será tanto
maior quanto mais diretamente o sujeito se encontra em diálogo com o “Deus
cada vez maior” (com o “Deus semper maior” de que falava
S. Agostinho).
Os EE.
procuram favorecer o encontro da pessoa humana, enquanto criatura, com o Deus Criador
que se fez homem. Neste encontro aparece a realidade total do ser humano
e também a realidade total de Deus que sai ao encontro do ser
humano em seu Filho Jesus.
Por ser
encontro com o “Deus cada vez maior”, a pessoa se situa, desde o começo, em um plano
de reve-rência cada vez maior. Através dele surge uma consciência
clara das distâncias e uma crescente entrega amorosa.
É o que dizia
S. Agostinho: “Estremeço-me
e me inflamo; estremeço-me porque sou diferente dele; inflamo-me por sou semelhante a
Ele”
(Conf. XI,9)
4a.
anotação
1. Os
comentaristas estão de acordo em afirmar que o essencial desta anotação se
encontra em sua segunda parte e, mais concretamente, na frase: “buscando
as coisas segundo a matéria subiecta”.
A quê se refere
Inácio com este termo: “matéria subiecta”?
Através de estudos
comparativos das diferentes versões do livro dos EE, sabemos já que não se
refere à “matéria” dos
exercícios em sim, mas àqueles aspectos da matéria que levaram o exercitante a “sentir e saborear as coisas
internamente”; vem a ser, portanto, a “matéria” enquanto experienciada subjetiva-mente pelo
exercitante (matéria carregada de vida). A pessoa do exercitante, a situação
existencial na qual se encontra (seu progresso em buscar e encontrar, seu
empenho ou sua acomodação, as moções do espírito que ocorrem nele) constitui a
medida para prolongar ou encurtar cronologicamente os EE.
Uma tradução livre, mas
correta da frase inaciana poderia ser: “buscando
dispor de tudo segundo a situação do sujeito”. De fato, por sua relação
com o latim, a frase espanhola “según la materia subiecta” pode significar “segundo a matéria proposta”, ou também “segundo a circunstância
proposta”. Os
franceses foram mais livres ainda em sua tradução do texto: “Buscar-se-ão as coisas segundo
o ponto no qual alguém se encontra”. Este ponto ou situação na qual o exercitante se
encontra será medido pelo fruto espiritual obtido e é o único critério para
determinar se ele conclui uma meditação ou torna a repeti-la.
Este fixar-se na situação
subjetiva do exercitante vale, antes de tudo, para a forma mais própria de dar
os EE, que é a forma personalizada; quando são dados a um grupo é mais difícil.
Neste caso, aquele que dá os EE deverá ter tempo suficiente para poder falar
com os exercitantes e traduzir à situação de cada um o que ele está dando. Os
EE. não são para dar fórmulas a priori, nem criar hábitos artificiais; S.
Inácio era inimigo disto.
2. Tendo
estabelecido o princípio de que a medida verdadeira do tempo depende da
disposição subjetiva
do exercitante, a 4a. Anotação
indica, grosso modo, um lapso de tempo de quatro semanas. É um período
estruturado sobre a orientação geral dos EE que vimos na 1a.
Anotação: “...
por este nome, exercícios espirituais, entende-se todo modo de... preparar e
dispor a alma para tirar de si todas as afeições desordenadas, e depois de
tiradas, para buscar e encontrar a vontade divina na disposição de sua vida
para a salvação da alma”.
Esta orientação geral dos EE
aparece agora, por assim dizer, em seu âmbito temporal de 4 semanas: primeiro,
tirar de si as afeições desordenadas (1a. Semana: pecado); depois,
buscar e encontra a Vontade de Deus na disposição da própria vida para a
salvação (2a. – 4a. Semanas).
Quando dizemos que,
antes de tudo, o exercitante deve “tirar os afetos desordenados”, isto não
significa, em primeiro lugar, que ele deve se fazer “impecável” para em seguida buscar a vontade de Deus.
O ser humano é e
permanece sempre pecador e por isso necessita, até o fim de sua vida, da
justificação que vem de Deus. O que
Inácio quer dizer é o que na Bíblia se chama “metanoia”, a
conversão atual, a mudança, o dispor a vida não mais em base às antigas
decisões equivocadas, sobretudo no campo dos afetos.. Porque, de fato, é ali,
nesse nível profundo da personalidade humana, onde acontecem as decisões mais
obstinadas, que bloqueiam toda nova disposição de busca e encontro da vontade
de Deus.
Sem esta radical conversão ou sintonia de toda a
pessoa com qualquer nova vontade de Deus, as semanas 2, 3 e 4 dos EE são
impensáveis.
A razão disto é que toda Vontade
nova de Deus, cuja busca e encontro se demonstra com a disposição da
própria vida, vem a nós e se concretiza no Deus que se faz Homem para mostrar-nos
o “caminho, a
verdade e a vida”. Por isso, buscar e encontrar a vontade de Deus encontra seu caminho,
sua verdade e vida em Jesus. Na humanidade de Jesus se encontra a salvação para
o ser humano, razão pela qual tudo o que se faz na 2a., 3a.
e 4a. semanas pode chamar-se simplesmente “seguimento de Jesus”.
Os EE destas semanas não são
outra coisa que um alinhar nossa vida – libertada de decisões errôneas – na
direção da vida de Jesus: sua vida pública, sua morte, sua ressurreição e seu
retorno ao Pai.
3. Nesta
anotação, ressalta-se também o caráter de encontro pessoal dos EE. A duração destes depende totalmente
deste caráter. Só através do encontro pessoal do exercitante com “aquele que dá
os EE” se pode captar a situação subjetiva e, segundo ela, prolongá-los ou
interrompê-los.
Além disso, o fato de
dedicar-se durante a 2a., 3a. e 4a. semanas à
contemplação da vida de Cristo, demonstra que “buscar e encontrar a vontade de
Deus e a sua salvação” não se realizam através de uma referência a princípios
ou a prioris teológicos.
No fundo, pois, o
caráter próprio dos EE é este: um encontro pessoal com Jesus Cristo.
Do que foi acima dito brota
a exigência máxima de reverência consciente por parte “daquele
que dá os EE” com respeito àquilo que ocorre no interior do exercitante.
Exige-se dele um alto grau de conheci-mento das moções e razões do
coração humano, para poder intervir onde e quando seja realmente necessário.
Exige-se dele, enfim, demonstrar uma distância reverencial no ato de dar ou
propor os exercícios, a fim de poder “oferecer” verdadeiramente a pessoa de
Jesus e não oferecer-se a si mesmo.
5a.
anotação
1.
Significado da 5a. anotação: explica em que
consiste a disposição fundamental.
É fundamental,
em primeiro lugar, porque com este fundamento inicia-se a construção dos EE.
Em segundo lugar, porque esta disposição
é o ponto de partida dos EE.
“Muito
aproveita entrar neles”, diz o texto, com este fundamento
interior ou atitude básica.
Base
e fundamento indicam algo seguro, duradouro. A disposição
fundamental há de sustentar tudo. Todos os EE dependerão de que o exercitante e
“aquele que dá os EE” mantenham, desde o começo, esta disposição. Inclusive se
pode dizer que ela deve estar no início e no final: razão pela qual, no
colóquio do último exercício (na contemplação para alcançar amor, n. 234)
aparece a recomendação semelhante à da 5a. anotação.
Mas, poder-se-á
perguntar: como se pode exigir do exercitante
que tenha, já no começo, uma disposição tal que aparecerá ao final dos EE,
precisamente como o fruto maduro que lhe fará dizer: “Tomai, Senhor, e recebei
toda minha liberdade...?”
A resposta pode ser
dupla:
a) Os EE de trinta dias não são
algo rápido, senão que requerem preparativos e equipamentos interiores e
exteriores, semelhantes aos de uma grande expedição.
Uma real esperança de êxito na expedição, a alegria
antecipada de alcançar a meta (por ex., chegar ao cume de um monte), a coragem
e valentia para superar dificuldades imprevistas, a firme disposição de levar o
empreendimento a termo apesar das dificuldades..., são atitudes básicas que
devem estar presentes no começo da expedição, ainda que, de fato, elas vão se
manifestando durante a mesma.
Assim também, no começo dos
EE devem estar presentes as disposições que farão possível percorrer
este difícil caminho; antes de tudo, a valentia para percorrê-lo;
em segundo lugar, a liberdade.
S. Inácio chama a estas duas
atitudes: magnanimidade (grandeza de ânimo) e liberalidade.
E se há de entender que estão no começo não como fruto maduro, senão como “disposição
prévia”.
b) Se consideramos estas
atitudes na configuração final , que deverão ser alcançadas no último
exerci-cio, vemos que seu conteúdo mais profundo é o da entrega
amorosa e o do amor entregue.
E dado que a entrega amorosa
só se alcança pelo encontro pessoal, devemos dizer que o encontro
pessoal com Cristo é a nota fundamental dos Exercícios, pois isso é o que eles
pretendem acima de tudo.
De modo que o “grande ânimo
e liberalidade” não são senão formas de expressão deste amor e entrega a Jesus.
Nada do que se faz nas
quatro semanas tem sentido sem este amor (valente e livre). Cada uma das
semanas tem este amor por tema, embora com diferentes perspectivas de
acordo com o fim próprio de cada uma. A partir deste ponto de vista, poder-se-ia
dizer que os EE são a aventura do amor do ser humano em direção
ao Homem-Deus, realizada com radicalidade.
Que a pessoa se atreva a
esta aventura, que acolha o convite a empreendê-la, supõem em todo caso que já
de antemão ama e está disposta à entrega.
É neste sentido que a
disposição fundamental deve estar presente no começo dos EE como algo
prévio, sem o qual não se poderá percorrer o caminho. Sem o amor que, do
princípio ao fim, dá forma a todos os exercícios, o caminho dos EE poderia
conduzir ao fanatismo indomável, egocêntrico, patológico.
O fato de que eles
estejam orientados ao encontro pessoal com Cristo, lhes confere o
caráter próprio que Inácio condensa no verbo “receber”: fazem-se
exercícios, medita-se, contempla, ora, para que a graça do encontro
nos seja concedida.
Este é o sentido do empenho
pessoal: não como oferta ou demanda do “partner” que encontro, senão
como disponibilidade, como disposição para receber. Por isto, a forma de amor
própria do começo dos EE se chama “magnanimidade e liberalidade”
(generosidade).
2. Do
começo ao fim, os
EE se situam no âmbito do Homem-Deus que se entrega livremente e no âmbito do ser humano que responde com ânimo e
generosidade.
“A liberalidade de seu Senhor –
na qual só há doação de liberdade crescente, sem nada de coerção- é a que deverá levar o discípulo à magnanimidade
e liberalidade para com seu Criador e Senhor, oferecendo-lhe toda sua
vontade e liberdade. O vínculo que os Exercícios estabelecem conduz à liberdade
que se impõe a si mesma o vínculo mais total e mais estreito. O ilimitado do
dom de si é a expressão da mais ilimitada liberdade. No vínculo mais total
respira a mais total liberdade”
(Przywara, Deus semper maior).
3.
Quê significa “grande ânimo?” Equivale a “magnanimitas”,
em latim: grandeza do estado de ânimo, extensão ou tendência do ânimo a grandes
coisas (segundo S. Tomás), valentia para o que é grande. O beato Pedro Fabro
traduzia como “um
certo ânimo amplo e liberal”.
O “grande ânimo” ou
“magnanimidade” designa, pois, em primeiro lugar, “amplitude de
espírito”, contrária à “restrição de espírito” ou “restrição de horizontes”, que
impede perceber e buscar grandes coisas. Quem deseja amar a Deus, quem quer
encontrar a Deus – mesmo quando Deus, pela Encarnação, venha a seu encontro no
Homem-Deus – deve dilatar, abrir amplamente seu espírito para a imensidade do
divino-humano.
Em segundo lugar, o “grande
ânimo” quer dizer “ânimo
valoroso para grandes coisas”(Tomás
de Aquino). Segundo
S. Tomás, um empreendimento pode ser grande em dois sentidos: relativamente
grande, quando se leva a cabo uma coisa pequena da melhor maneira; simplesmente
grande, quando se usa de maneira ótima uma coisa grandiosa. O primeiro se situa
no nível das coisas exteriores, valores e relações; o segundo, no nível das
coisas de Deus, que tem a ver com a grandeza moral do ser humano.
Nos EE, o “grande
ânimo” está sempre unido à “reverência”
(3a. anotação). O exercitante mostrará seu “grande ânimo” como
coragem para oferecer-se a Cristo, “eterno
Senhor de todas as coisas”
(Medi-tação do Reino), como busca do maior serviço e como
petição do que é mais alto e profundo (“dá-me
teu amor e graça, que esta me basta”, na contemplação para alcançar amor).
A “reverência”,
por sua parte, confere a esta valentia
ou coragem pelo sublime a medida de uma esperança humilde.
Atentam contra o
“grande ânimo”, por uma parte, a presunção, a ambição e a sede de vanglória;
por outra, a pusilanimidade (fraqueza de ânimo, falta de coragem).
4.
Quê significa “liberalidade”? Partindo de Deus,
consiste em deixar o outro na liberdade própria do amor. Só assim, livremente, se dá a entrega
própria do amor.
Só quem foi
libertado, antes de tudo, de si mesmo pode dar-se a si mesmo ao outro
livremente.
Deus é quem possui a fonte
e suma medida da liberdade, pois é quem
situa a criatura na liberdade pessoal; mas o sentido da liberdade, seja
da parte de Deus como da parte da criatura, é o amor que se entrega.
6a.
anotação
1. Da
6a. à 10a. anotação são dados princípios para o
acompanhamento.
A 6a. anotação indica o
que se há de fazer quando o exercitante está com o ânimo tranqüilo, sem
experimentar “moção” alguma.
Àquele que “dá os EE”
lhe é exigido calma, firmeza e exame da situação do exercitante.
A 7a.
anotação assinala o comportamento que se deve ter no caso de desolação ou
tentação.
Àquele que “dá os EE”
lhe é pedido mansidão e bondade em seu trato com o exercitante.
As anotações 8a.,
9a. e 10a. descrevem a maneira como “aquele que dá os
EE” há de adaptar-se à situação pessoal do exercitante e os princípios de
discernimento de espíritos que há de aplicar.
Exige-se perspicácia
e capacidade de discernimento.
São anotações para
“aquele que dá os EE”; o exercitante se ocupará delas mais tarde (na 2a.
Semana), quando examine as regras de discernimento. Além disso, são anotações
que servem para todo tipo de acompanhamento, dentro ou fora dos
EE. Junto com as regras de discernimento de espíritos elas consti-tuem toda uma
doutrina de comportamento intelectual e espiritual que, por sua brevidade,
sabedoria, intuição psicológica e profundidade teológica, nem sempre é fácil de
assimilar.
2. A
“mocionalidade” intelectual e espiritual do exercitante.
Os EE, por estarem diretamente orientados a
promover um encontro com Deus, sempre vem carrega-dos de movimentos internos,
psicológicos, intelectuais e espirituais. Não procedem com “estável
sistema-cidade”, senão com altos e baixos, consolações e desolações, agitações
de variados espíritos. Não transcor-rem numa direção retilínea, com uma “moção”
permanente, senão através de uma pluralidade de “mo-ções” que exigem
análise e discernimento, tanto por parte do exercitante, como, sobretudo, por
parte “da-quele que dá os EE”.
Estando claro que as moções
intelectuais-espirituais não manifestam somente situações da psique profunda da
pessoa, senão que, ao mesmo tempo, nessa mesma profundidade interior se revela
o contraste entre a luz e as trevas, entre o “inimigo da natureza humana” e o
Deus feito Homem, estes íntimos movimentos psicológicos devem ser clarificados
com a ajuda das “regras para o discernimento dos espíritos”.
Esta é a razão pela qual, quando o exercitante não
experimenta nenhum “movimento interior”, “aquele que dá os EE” tem de
perguntar-lhe se entrou deveras nos EE ou se, pelo contrário, está se negando a
fazê-los com seriedade.
3. Comportamento “daquele que dá os EE”.
A 6a. anotação destaca a
relação pessoal que deve existir entre “aquele que dá os EE” e o exercitante;
só assim poderá aquele dar-se conta daquilo que se passa no ânimo deste.
Esta relação
mútua se baseia na confiança para poder comunicar-se e interrogar-se um
ao outro.
Interrogar o exercitante se faz
particularmente necessário quando nenhuma moção parece surgir dentro dele e ele
se encontra numa espécie de indolência, descompromisso ou falta de participação
ativa.
Este imobilismo, para Inácio, é sinal de que o exercitante ainda não tomou a
sério o exercitar-se. Como nos exercícios físicos, não acontece progresso
se o sujeito não se exercita com certa regularidade e constância, com certo
zelo e fidelidade. Por isso, “aquele que dá os EE” deve interrogar seriamente o
exercitante, e fazer isso da seguinte maneira:
1.
Se está fazendo os exercícios ou não, e se os
faz nos tempos estabelecidos.
2.
De quê modo os está fazendo, ou seja, se, de
acordo com a 2a. anotação está se empenhando para
descobrir algo novo e conseguir assim “sentir e saborear as coisas
internamente”; se, de acordo
com a 3a anotação, expressa maior reverência quando dialoga com Deus
nosso Senhor; se, conforme à 5a. anotação, entra na oração com
“grande ânimo e liberalidade”.
3.
Se observa cuidadosamente as “adições”.
De modo que
são muitas as coisas que se devem perguntar, inclusive com detalhes, para poder
captar bem a situação concreta na qual se encontra o exercitante. Obviamente, o
tom das perguntas deve ser delica-do, que desperte benévola confiança e
não o bloqueie ou o atemorize; não é tom inquisidor mas fraterno.
No entanto, pode acontecer que o repouso ou
aparente imobilismo do exercitante não seja devido à falta de magnanimidade ou
seriedade na prática dos EE, mas à Vontade de Deus que, no momento, não quer o
exercitante em outro estado. Inácio não exclui este caso, mesmo que não
mencione explicitamente.
Todos os comentaristas dos EE afirmam, não
obstante, que uma situação de ausência de moções psico-lógicas não
deveria durar muito tempo. Se isto ocorrer, seria sinal claro de que não está
fazendo real-mente os exercícios.
7a. anotação
1. A
7a. Anotação prossegue com a temática da 6a. anotação e
trata o caso da desolação e tentação do exercitante e como deve comportar-se, nesse
caso, “aquele que dá os EE”.
Inácio parece
considerar a desolação como um fenômeno muito corrente, razão pela qual
continua tratando dela nas anotações 8a., 9a. e 10a.
Geralmente, as
desolações e tentações do exercitante exigem “daquele que dá os EE” uma maior
reflexão inteligente, respeito pelas distâncias e discrição, assim como firmeza
e claridade de visão, junto com prontidão para ajudar, sustentada por sua
experiência de acompanhar pessoas.
Em tempo de consolação, exige-se menos de
tudo isto. O exercitante se sente impulsionado pelo Espírito e pela presença do
Senhor, vê-se atuar nele a Graça e, então, a ajuda psicológica “daquele que dá
os EE” pode retirar-se. Somente a 14a. anotação se ocupa da
consolação e faz isso para advertir que não se deve tomar decisões muito
apressadas.
Em tempo de desolação,
pelo contrário, a ajuda “daquele que dá os EE” se faz necessária.
A 7a.
anotação descreve claramente o comportamento que se deve ter para
com o exercitante: “não
se mostre duro nem áspero para com ele, mas brando e suave”.
Hão de ser atitudes
que brotem naturalmente “daquele que dá os EE”; suavidade e bondade que
desper-tem confiança no exercitante e que lhe façam ver na pessoa “daquele que
dá os EE” alguém que está ali para ajudá-lo.
Esta presença “daquele que dá os EE” é sempre discreta:
não aparece como uma intromissão invasora nos assuntos do exercitante,
nem tampouco como uma distância fria da situação de necessidade em que ele se
encontra.
Intromissão e distância
equivaleria ao que Inácio qualifica de “duro e áspero”.
Além disso, neste caso “aquele que dá os EE”
demonstraria que fora golpeado subjetivamente pela desolação do exercitante e que
“desabafa” com ele seu próprio estado de ânimo, empurrando ainda mais o
exercitante na desolação.
Mas, o mais grave é que, com este comportamento
errôneo, poder-se-iam destruir os últimos restos de confiança do exercitante
para com o acompanhante e, em definitiva, para com Deus. Esta atitude esque-ce
algo essencial: que “o
segredo do êxito no acompanhamento espiritual consiste em saber reani-mar a
confiança em Deus”
(Olivaint).
2. Para
infundir no exercitante “ânimo e forças para ir adiante”,
Inácio recomenda dois meios principais:
a. “Descobrir as
astúcias do inimigo da natureza humana”. Inácio está convencido de
que a desolação é expressão e sinal de uma situação
“enganosa” e que a descoberta do “engano” pode ajudar o exercitante a sair da
desolação.
É tarefa “daquele que dá
os EE” reconhecer a astúcia e engano da situação e fazer que o exercitante veja
isso.
Em
quê consiste o “enganoso” da situação de desolação, que pode envolver tanto o
exercitante como “aquele que dá os EE”?
Par entender isso,
convém ter presente as notas características da desolação que Inácio
enumera na regra 4a. do discernimento de espíritos (EE. n. 317) e
confrontá-las com as notas próprias da consolação da regra 3a.
(n. 316). Finalmente, é preciso recordar também a regra 2a. acerca
do comportamento do bom espírito e do mau espírito. (n. 315).
Segundo estas regras,
podemos dizer que o fenômeno mais presente em todos os sintomas da desolação
é a sensação de separação e de perda de confiança.
O exercitante se sente
como que arrancado da relação, até então segura e confiada, com Deus e também
com “aquele que dá os EE”; surge a obscuridade e perturbação em seu interior e
impulso a abandonar o caminho empreendido.
Mas, para onde ir? Não
encontra nenhum caminho claro senão, antes, a pluralidade de “moções para
coisas baixas e terrenas, inquietude, com diversas agitações e tentações”, como
diz Inácio na 4a. regra de discernimento. Isto pode lhe fazer
afundar numa perturbação maior, “achando-se a pessoa toda preguiço-sa, tíbia,
triste”.
O enganoso
da situação consiste no fato de que nem Deus nem “aquele que dá os EE” se
separaram do exercitante, senão que foi ele mesmo quem, por suas dificuldades
internas e externas, deixou de estar atento a esta confiança sempre presente e
crê tê-la perdido totalmente.
Por que? Provavelmente
porque projeta as próprias dificuldades – que afloram agora de improviso -,
umas vezes sobre Deus, outras sobre “aquele que dá os EE”, convertendo-os em
“bode expiatório” de sua própria perturbação psicológica e reforçando o impulso
a separar-se deles.
Então é quando deve
intervir a ajuda “daquele que dá os EE”: em primeiro lugar, criando as bases de
confiança no diálogo, mediante um comportamento “brando e suave”;
em segundo lugar,buscando clarificar, para o exercitante, os elementos
enganosos de sua situação para que possa manejá-los corretamente; em terceiro
lugar – segundo a regra 9a. de discernimento de espíritos –
descobrindo as causas pelas quais entrou em desolação (negligência nos
exercícios, prova por parte de Deus, tomada de consciência de que a conso-lação
é graça).
2. O segundo meio
que deve empregar “aquele que dá os EE” para ajudar o exercitante a superar a
desolação consiste em mostrar-lhe a maneira de “preparar-se e dispor-se para a consolação futura”.
Deve dirigir o olhar do
exercitante para o futuro: aquilo que já se vislumbra como a meta real do
caminho empreendido, sua conversão e santificação, deve ser recordado e
manifestado como alcançável.
Se o exercitante volta a
ter fé em seu caminho, não lhe será difícil recobrar a esperança. Lentamente
irá se dissolvendo a situação de obscuridade própria da desolação, porque tudo
voltou a ser animado pelo espírito de amor e de confiança.
Se o exercitante aprende
a não voltar mais o olhar sobre si mesmo, sobre suas dificuldades e suas falsas
projeções sobre Deus ou sobre “aquele que dá os EE”, senão a olhar valentemente
o futuro, então será neces-sário exortá-lo à paciência (regra 8a.
do discernimento, n. 321).
De fato, as novas
consolações virão através de um processo muitas vezes silencioso, lento e mais
laborioso. Requer-se paciência porque nem o exercitante nem “aquele que dá os
EE” podem dispor da consolação; a consolação espiritual não é, em última
instância, um mecanismo psíquico senão uma graça particular de Deus.
Enquanto aos meios
concretos que se hão de aplicar na situação de desolação, a 6a.
regra de discernimento assinala os seguintes:
1.
não fazer mudanças, senão manter-se firme nos
propósitos já feitos;
2.
mover-se contra a mesma desolação,
intensificando a oração e a meditação, examinando-se frequentemente
(para ajudar a encontrar o enganoso da situação);
3.
renovar o “grande ânimo e liberalidade”
(por ex., mediante uma penitência generosa).
Recordemos,
por outra parte, que Inácio designa o espírito mau como “inimigo da
natureza humana” e que a partir desta 7a.
anotação manterá esta designação ao longo dos EE. Isto quer dizer duas coisas.
1. A desolação,
que se expressa como inquietude psíquica, obscuridade, perturbação, confusão,
etc., não é só um fenômeno psicológico, senão que pode ser
entendido também como uma influência das potências do mal, das quais fala S.
Paulo em suas cartas. Estas “potências” podemos entendê-las hoje como a história de
minha vida enquanto marcada por forças sociais ou circunstâncias ambientais,
que agora afloram em uma situação de crise nos Exercícios.
Mas sobre isso atua
também a influência do espírito do mal, inimigo da natureza humana, cujo
comporta-mento Inácio descreve com três imagens: a da mulher fraca mas
traiçoeira (regra 12 do discernimento, n. 325), a do falso amante (regra 13, n.
326) e a do capitão que tenta invadir um castelo (regra 14, n. 327).
2. Se aceitamos
como verdade de fé o conhecimento acerca do espírito do mal, com a mesma
intensidade devemos aceitar que este “inimigo da
natureza humana” somente pode exercer sua influência no âmbito das
forças psíquicas naturais e do ambiente exterior que cerca todo ser humano, ou
seja, no âmbito próprio da “natureza humana”e, precisamente, como potência
inimiga que busca perturbar e, por último, destruir esta natureza.
Isto suposto, o que ele
mais busca destruir é o processo iniciado de conversão e santificação, no qual
atua justamente o “amigo” da natureza humana, o Deus feito homem.
Deste modo, a psicologia
da natureza humana que se adquire nos EE (e em geral em toda vida espiritual
séria) adquire uma nota característica de história de salvação. É ali,
no jogo das forças psicológicas da natureza humana, onde se realizam as opções
em favor ou contra Deus; ali se situa o campo de batalha das Duas Bandeiras,
que Inácio voltará a recordar ao exercitante antes da eleição.
8a., 9a. e 10a.
Anotação
1. Depois
das instruções fundamentais sobre a desolação, as anotações seguintes (8a.-10a)
indicam, com mais detalhes, as adaptações que devem ser
feitas sucessivamente, segundo as circunstâncias de desola-ção ou consolação.
Na 8a.
anotação recomenda-se “àquele que dá os EE” explicar ao exercitante as regras
de discerni-mento de espíritos próprias da 1a. e da 2a.
semanas de Exercícios. Mas, o importante desta anotação é o condicional: “segundo a
necessidade que sentir aquele que recebe os EE”.
Não se trata
de dar de uma vez todas as regras em um tempo determinado; é melhor aplicá-las segundo
a circunstância que se apresenta; num momento uma regra, noutro momento outra
regra, para que o exerci-tante as aplique ao que está vivendo.
Os EE devem se adaptar à situação concreta. A arte
“daquele que dá os EE” consiste justamente neste discernimento que lhe ensina a
escolher o justo para cada caso.
A este propósito diz-nos um especialista: “Também aqui (na anotação
8) aparece claro que os Exercícios de 30 dias não são destinados para um
grupo qualquer de pessoas, mas para aquelas pessoas que se inclinam ao “mais”
e, em geral, à vida apostólica” (ª Denis).
Pode haver, portanto, tantas maneiras de dar os EE
quantos tipos de pessoas que desejam fazê-los. Da abundância enorme dos EE é preciso selecionar
sempre o que mais convém a cada caso particular.
2. A
9a. anotação prossegue com as adaptações que devem ser feitas
e indica dois tipos de exercitantes que merecem especial atenção e aos quais
não se pode propor as regras de discernimento da 2a. semana.
Estes são:
a) os inexperientes em coisas espirituais, que se
encontram ainda, cronológica e “materialmente”, em exercícios
de 1a. Semana;
b) os que são tentados grosseira e abertamente.
S. Inácio
destaca três tentações que podem ser consideradas como típicas e servem para
reconhecer o estado do exercitante:
1) A aversão pelo esforço pessoal que é preciso
fazer nos EE;
2) O respeito humano e a mania de querer agradar;
3) O medo (em todas as suas formas), que se
manifesta sobretudo como aversão a todo sacrifício.
Pode
acontecer, com freqüência, que tudo isto se dê em uma só pessoa.
Pois bem,
explicar a estes exercitantes as regras de discernimento da 2a.
Semana não só não teria nenhuma utilidade, senão que seria inclusive
contraproducente.
As regras
de 2a. Semana são para pessoas avançadas na vida espiritual, que
superaram já as dificuldades mencionadas. Dá-las a principiantes seria criar
ilusão, dado o caráter sutil destas regras; inclusive poderiam aumentar suas
dificuldades e medos. A confiança que estes precisam podem ser obtidas com as
regras de 1a. Semana e, a partir daí, tirar força e valor para
ultrapassar esta etapa inicial.
3. É
preciso ter em conta nesta anotação que um principiante nas coisas espirituais
pode muito bem ser uma pessoa douta e instruída; por outro
lado, um operário ou um camponês pode ser um “expert” nas coisas de Deus e
chegar a desenvolver uma grande capacidade espiritual. Por isso, a expressão inaciana: “versado em
coisas espirituais” não deve ser entendida no sentido de um
simples saber profano, senão de uma experiência religiosa prática.
Quando falta
no sujeito esta experiência existencial, facilmente se revelam em seu
comportamento os cri-térios ou sinais antes mencionados (aversão pelo esforço
pessoal, respeito humano ou mania por agradar, medo diante do sacrifício);
aparecem também a falta de magnanimidade e generosidade
em sua relação com Deus (Anotação 5a.) e as tentações “grosseiras e
abertas”, impedindo-o avançar nos EE.
Ser tentado “grosseira e abertamente” não significa
que, de fato, o sujeito tenha estas tentações, senão que, ou ainda continuam
pesando nele, estimulando seu consentimento deliberado em forma direta e
rápida, ou ainda manifesta incapacidade e falta de forças para superá-las.
4. A
10a. anotação continua com o raciocínio da 9a.
anotação: àqueles que “sob a aparência de bem”
são tentados nos EE ou, em geral, na vida
espiritual, hão de ser dadas e explicadas a eles as regras da 2a.
Semana.
O “espírito do
mal” sabe adaptar-se às condições psicológicas do exercitante e muda seu método
de influ-ência com a pessoa que procede “de bem para melhor”,
como diz Inácio. Se se trata de um principiante triste e abatido, influi nele
para faze-lo perder a paciência, deixar tudo ou compensar-se com a
“consola-ção” sensível; se se trata de um tipo superficialmente alegre e de bom
humor, influi nele com distrações contínuas e tendências a lhe subtrair
seriedade aos EE; se é um exercitante atormentado pelos escrúpulos, o
impulsiona ao desespero por força de objeções e dificuldades inventadas; por
último, no caso de uma pessoa que procede zelosamente, com ânimo grande e
generoso em sua busca de Deus, o espírito do mal não contradiz esta tendência
ao progresso, pois não teria nenhum resultado nas disposições psicológicas da
pessoa.
Neste último caso,
o “espírito do mal” muda completamente de tática: transfigura-se em “anjo de
luz” e faz passar suas tentações sob aparência de bem (“sob a
aparência de bem”).
Estabelece-se, pois, uma situação de engano –
análoga ao caso da desolação (Anotação 7a.) – mas agora muito mais
difícil de desmascarar. “Aquele que dá os EE” deve por em ação toda sua
inteligência e experiência. O zelo do exercitante é posto à prova e pode vir a
cair em duas tentações: a falta de medida e o orgulho.
Contra elas só há um meio de salvação: exercitar-se profundamente na humildade,
atitude cristã que ocupará um lugar central nos Exercícios.
11a. – 17a.
anotação
As anotações
11-17 nos dão importantes indicações para uma reta execução dos Exercícios:
a)
Concentração em cada exercício (11a.
anotação). Este conselho vale sobretudo para a 1a. Semana.
Aproveita ao exercitante “que não saiba coisa alguma do que
fará na segunda semana”. Não é preciso levar isso ao pé da letra.
A idéia é que se requer concentração em cada coisa, em cada matéria, em cada
exercício.
Só quando o
exercitante chegar a descobrir e encarar as inclinações e afetos desordenados
por meio dos exercícios da primeira semana é que ele poderá avançar com a
renovação da vida. Antecipar contempla-ções decisivas, tiradas da 2a.
Semana, seria contraproducente: o exercitante poderia fechar-se nelas para
fugir das duras conseqüências da 1a. Semana, isto é, cairia na
tentação de evadir-se.
Contra esta
tentação, Inácio recorda a máxima: “Age quod agis!” – “Faz o que
deve fazer!”
Convém ler
esta anotação 11a. junto com a 1a. nota da 2a.
semana (EE. 127), na qual S. Inácio recomenda que o exercitante se ocupe
somente do mistério que tem de contemplar em cada momento, sem querer ler os
outros mistérios que fará em outro momento, “a fim de que a consideração de
um mistério não atra-palhe a do outro”.
Esta regra da anotação 11a. deveria
servir não só para os EE senão para toda a vida espiritual. É preciso que se dê
a cada momento o que lhe é próprio. Nem o passado e nem o futuro estão à
disposição de nosso agir. É preciso aproveitar ao máximo o que o presente
oferece; se se perde, não se recupera.
b) Fidelidade
e perseverança nos exercícios (12a. e 13a.
anotação). Trata-se de algo importante que é preciso saber valorizar acima dos detalhes, aparentemente
insignificantes, que S. Inácio propõe. O conselho é que se procure guardar o
tem-po fixado para cada exercício e que é melhor alongá-lo que encurtá-lo.
A razão é
dupla:
1. Só o fato de perseverar mais tempo que
menos é já um sinal objetivo de fidelidade que, para Inácio, tem um
grande valor. Esta fidelidade objetiva vem a ser uma amostra do “grande ânimo
e generosidade para com seu Criador e Senhor” (Anotação 5a.).
2. Com a infidelidade à prática dos
exercícios, Inácio teme uma rápida e fácil irrupção do inimigo da natureza
humana no processo do exercitante. Isto pode ocorrer facilmente em situação de
desolação é quando
o exercitante mais mostra ao inimigo seus flancos frágeis.
Nesta
situação, o exercitante deverá perseverar
na oração para além do tempo
estabelecido (Anotação 13a.) Esta atitude encontra sua expressão
cunhada na célebre máxima de Inácio: “Agere contra”.
c) Em tempo de
consolação não agir de modo inconsiderado e precipitado
(14a. anotação). A razão é
que, nesta situação, o exercitante tende a super-valorizar-se. “Aquele que dá
os EE”, com o conhecimento que tem dele, deve advertir-lhe acerca de sua
condição e índole pessoal.
d) O contato
direto do exercitante com Deus (15a.
anotação). Esta anotação mostra uma vez mais onde se situa a autêntica relação de encontro profundo dos EE: “contudo, em
tais Exercícios espirituais, mais conveniente e muito melhor é que, procurando
a vontade divina, o mesmo Criador e Senhor se comunique à pessoa espiritual,
abraçando-a em seu amor e louvor e dispondo-a para o caminho em que melhor
poderá servi-lo para frente”.
“Aquele que dá
os EE”, cujo encontro de ajuda com o exercitante foi descrito e considerado de
maneira tão importante nas notas precedentes, agora, no entanto, se retira
completamente. Sua ajuda aparece neste momento como absolutamente instrumental
com relação ao que os EE realmente pretendem: o contato direto do exercitante
com seu Criador e Senhor. Ele é, e somente Ele, quem cria as condições e
disposi-ções necessária para que o exercitante lhe possa servir melhor no
futuro.
“Aquele que dá os EE” ocupa unicamente o lugar de
mediador instrumental, que, segundo S. Inácio, se assemelha ao fiel de uma
balança, sem inclinar-se a uma parte nem a outra, sem influenciar nem num
sentido nem noutro do caminho futuro do exercitante.
Este contato
direto do exercitante com Deus exige, no entanto, por parte do mesmo
exercitante, uma ordenada disponibilidade e liberalidade (16a.
anotação). Assim “se,
porventura, a pessoa está afeiçoada e inclinada desordenadamente a alguma
coisa”, ou seja, se busca unicamente seu próprio
proveito ou interesses puramente temporais (que não estão, certamente, na linha
de uma maior glória de Deus e salvação de si mesmo), deverá corrigir este
defeito, “empenhando-se
com todas as suas forças para chegar ao contrário daquilo a que está mal
afeiçoada”.
Sem esta
liberdade interior não é possível um contato direto com Cristo nosso Criador e
Senhor.
e) A síntese
entre contato direto do exercitante com Deus e mediação instrumental “daquele
que
dá os EE (17a.
Anotação). Na Anotação 17a, S. Inácio retorna ao papel “daquele que
dá os EE”.
Para que este
não se intrometa neste contato direto do exercitante com Deus, mas ofereça, de
todas as maneiras, uma ajuda eficaz a este mesmo encontro, recomenda-se o
seguinte:
a) Tomar distância frente aos pensamentos e
pecados do exercitante. “Aquele que dá os EE” não deve pretender indagar e conhecer a vida íntima do exercitante: esse núcleo
interior da personalidade deve estar
reservado somente a Deus.
b) Ter uma visão exata e completa das
diferentes reações e reflexões que o exercitante vai tendo e que devem ser submetidas às
regras de discernimento de espíritos. Aqui é onde intervém “aquele que dá os
EE”: ajuda o exercitante a captar e distinguir os diversos movimentos. Sem esta
ajuda, o exerci-tante poderia enganar-se, deixar-se levar por ilusões e
resvalar por um caminho equivocado.
c) Adaptar os diversos exercícios à condição
particular de cada exercitante, reconhecida através do discernimento
de espíritos.
f) Adaptação
dos EE a pessoas diferentes em idade e grau de cultura e duração proporcional (18a-20a. Anotações).
Anotação 18a.:
A pessoas “rudes e de pouca resistência”,
mas que querem instruir-se e chegar “até certo grau de
satisfação espiritual”, pode-se dar a elas: o exame geral de
consciência, o exame particular, meia hora de meditação diária segundo o 1o.
modo de orar, uma instrução sobre a prática do sacramento da reconciliação e da
eucaristia.
S. Inácio
recomenda, além disso, que se dê a elas uma certa formação moral, mas que não
se avance para frente propondo-lhes matéria de eleição, nem meditação que não
estariam a seu alcance.
Anotação 19a.:
A pessoas que estão muito ocupadas e não podem dedicar-se a
fazer os EE de 30 dias,
mas são
pessoas “cultas
e capazes”, pode-se dar a elas todos os EE mas em sua vida
diária, fazendo cada dia uma hora de meditação.
É o que
atualmente se chama: “Exercícios a vida corrente”.
Anotação 20a.:
A pessoas que “desejam aproveitar quanto for
possível” e tem,
além disso, a possibilidade de
retirar-se por um espaço de 30 dias, pode-se dar a elas todos os exercícios.
Neste caso, S.
Inácio adverte: “tanto
mais se aproveitará quanto mais se afastar de todos os amigos e conhecidos e de
toda preocupação terrena, como, por exemplo, mudando-se da casa”.
Os três
proveitos principais que se obtém com isto são:
a) maior mérito em
dedicar-se somente a Deus;
b) maior facilidade
para concentrar-se sem distrações;
c) maior disposição
para o encontro pessoal com Deus.
x.x.x.x.x.x.x.x.x.
Texto muito bom! Nos dá a possibilidade de entender melhor a dinâmica dos Exercícios Santo Inácio.
ResponderExcluir