sábado, 12 de março de 2016

Isaías


Isaías

 

O Livro de Isaías é um livro profético do Antigo Testamento, vem depois do livro de Ben Sira e antes do Livro de Jeremias. É uma peça central da literatura profética do VT, na Bíblia. Sua importância é refletida também no Novo Testamento, considerando-se que há mais de 400 referências diretas ao livro, feitas pelos evangelistas e apóstolos.

 

O forte caráter e ênfase messiânicos percebidos em toda a extensão do documento, muito provavelmente colaboraram para conceder ao livro tamanha proporção referencial entre os autores do Novo Testamento. Por causa disto também, Isaías recebeu o epíteto de "o quinto evangelista".

 

Em seus dias, Isaías viveu e narrou a tensão política e militar que o território de Israel experimentava, com eventos decorrentes principalmente de um panorama marcado por intensas e contínuas atividades bélicas e expansionistas que estavam sendo realizadas pela monarquia egípcia, ao sul, e pelos caldeus, ao Leste.

 

O início do ministério profético de Isaías situa-se em 754 A.C., coincidindo com 2 datas históricas precisas: a morte do Rei Uzias de Judá, e a fundação de Roma.

 

O autor

 

Isaías, filho de Amoz (não Amós, o profeta vaqueiro), nasceu por volta de 765 AC e viveu na corte dos reis de Judá. Há indicações de que talvez fosse primo de Uzias. Escriba e relator dos anais históricos da casa davídica, tinha preeminência e liberdade suficiente para transitar próximo ao poder político e tomar conhecimento, em primeira mão, das políticas e estratégias do Estado monarca judeu.

 

Letrado, culto e politicamente privilegiado, pode ter feito parte da casta sacerdotal de Jerusalém.

 

Em 740 AC, ano da morte do Rei Uzias (ou Azarias ou Ozias), ele recebeu sua vocação profética, e exerceu seu ministério por quarenta anos, numa época de crescente ameaça que a Assíria fazia pesar sobre os Reinos de Israel e Judá, durante os reinados de Jotão, Acaz e Ezequias, e provavelmente também, durante seus últimos oito anos de vida, sob a opressão maligna do reinado de Manassés, que mandou serrar Isaías ao meio quando o profeta tinha 92 anos de idade, segundo um livro apócrifo do século I DC, Vida dos Profetas, escrito por um anônimo judeu da Palestina. Isaías, foi o primeiro profeta dos Profetas Maiores.

 

Pluralidade de autores

 

Embora a teologia tradicional judaico-cristã defenda a existência de um único autor, respaldada por Eclesiástico 48:24-25, existem fortes evidências de que o livro foi obra de mais de um autor, merecendo destaque o início do capítulo 40, onde se verifica a descontinuidade entre o Primeiro e o Segundo Isaías, pois ocorre uma mudança abrupta do século VIII AC para o período do Exílio na Babilônia (século VI AC), não se fala mais uma única vez de Isaías e a Assíria é substituída pela Babilônia, cujo nome é mencionado com frequência, assim como o nome de Ciro II, rei dos medos e persas. Havendo estudos que indicam que dos 66 capítulos do livro, menos de 20 foram escritos pelo profeta do século VIII AC que viveu durante os governos dos reis Joatão (739-734 AC), Acaz (734 ou 733 - 716 AC) e Ezequias (716 ou 715 - 699 ou 698 AC), estando tais capítulos concentrados na primeira parte do livro, que engloba os caps. 1 a 39, também conhecida como Proto-Isaías ou Primeiro Isaías.

 

Portanto, para alguns críticos o Livro de Isaías é uma coletânea de profecias proféticas de épocas bem diferentes, cuja redação final deve ter acontecido por volta de 400 AC, ou mesmo mais posteriormente. Segundo os mesmos, trezentos anos depois da morte de Isaías ainda se atualizavam suas palavras, pois mesmo as profecias da época dele foram relidos na perspectiva pós-exílica. A afirmação crítica baseia-se em que, seria impossível prever com mais de 300 anos de antecedência o nome do Rei (Ciro) que destruiria Babilônia, conforme declarado no livro de Isaías.

 

Porém, para outros estudiosos, verifica-se que, antes dos séculos XX e XI nunca se questionou sobre a, segundo sua crença, singularidade da autoria do livro de Isaías. Por exemplo, nos rolos de Isaías, conforme encontrados próximo ao Mar Morto, datados do Terceiro Século AC, a parte que se refere à divisão de autores afirmada por críticos (que seria do capítulo 40 em diante) não apresenta quaisquer alterações ou indicações na coluna de que o autor diferisse.

 

É digno de nota que, nesses escritos, a última linha do que hoje chamamos de capítulo 39 do livro de Isaías é sucedida, na mesma linha, pelo que hoje chamamos de capítulo 40. Foi somente na Idade Média que os rolos tornaram-se livros e posteriormente, foram divididos em capítulos e versículos. Portanto, segundo a evidência dos pergaminhos e rolos encontrados próximos ao Mar Morto, e para os copistas (os rolos possuem uma diferença de apenas 400 anos dos escritos originais), não havia pluralidade de escritores dos livros. Para os que defendem a unicidade da escrita do livro de Isaías, os copistas, se soubessem que havia mais de um escritor, assim declarariam e fariam uma clara divisão das partes do livro, assim como ocorre no que temos hoje compilado dos livros de Salmos e Provérbios, além de outros.

 

Outro fator ainda que, para os defensores de que Isaías é o único escritor do livro que hoje leva o seu nome é de que, segundo a tradição judaica, em hipótese alguma os copistas poderiam substituir palavras ou trocar seu significado. O cuidado ao fazer as cópias era muito grande, havendo revisores para o trabalho. Os copistas acreditavam que, se alterassem os escritos, poderiam sofrer maldições divinas. Porém, é de unânime concordância que os erros gramaticais são de fato encontrados, porém, não de sentido.

 

Hoje, não há suficientes provas para afirmar de modo veemente os dois lados da história, sendo que, ambos os lados, baseiam-se em teorias (de ambos os lados, fundamentadas na história e na ciência). Isso é ocasionado por, até o momento, os escritos originais não terem sido encontrados. Somente com os escritos originais, datados dos tempos que o livro de Isaías abrange poder-se-ia dar um ponto final na discussão. Isso é pouco provável de acontecer, em vista do passar do tempo e da deterioração. Portanto, os escritos mais confiáveis e antigos que contemos hoje são os encontrados próximo ao Mar Morto.

 

O horizonte de leitura do livro completo de Isaías é o da época persa e da comunidade judaica pós-exílica.

 

Plano da obra

 

O livro que traz o nome de Isaías pode ser dividido em três grandes partes:

 

Primeiro Isaías

 

Os capítulos 1 a 39 contêm a mensagem do profeta chamado Isaías, cuja preocupação central é a santidade de Deus, ou seja, só Deus é absoluto. Em meio a grandes mudanças políticas internacionais, Isaías condena a aliança com as grandes potências, mostrando que a nação só será salva se permanecer fiel a Deus e ao seu projeto, no qual a justiça é o valor supremo. Assim, uma espiritualidade baseada na santidade de Deus conduz o profeta a uma fé política, que combate os ídolos presentes na sociedade. Ele fala também do Emanuel (7,14), no qual o Novo Testamento viu Jesus Cristo, que veio ao mundo para salvar o seu povo,[6] mais especificamente, pode-se subdividir esta parte em quatro etapas cronológicas:

 

os capítulos 1 a 5 têm como foco a corrupção moral que a prosperidade tinha provocado em Judá e refletem o período até a subida de Acaz ao trono em 736 AC; no período seguinte o rei de Damasco: Rason e o rei do Reino de Israel Setentrional: Faceia chama o jovem Acaz a se aliar com eles contra o rei da Assíria: Tiglate-Pileser III, Acaz se alia à Assíria e é atacado;

 

Judá sob a tutela da Assíria, destruição do Reino de Israel Setentrional em 721 AC, Ezequias sucede Acaz em 716 AC, aliança com o Egito contra a Assíria; revolta contra a Assíria, Senaqueribe arrasa a Palestina em 701 AC, Jerusalém resiste.

 

Mesmo essa primeira parte não pode ser atribuída inteiramente ao Isaías histórico: os oráculos contra as nações estrangeiras (caps. 13 e 23), incorporam trechos posteriores, em particular os caps. 13 e 14 que são do tempo do Exílio na Babilônia, também são de composição posterior o Apocalipse de Isaías (caps 24 a 27), que não é anterior ao séc. V AC, e os caps 33 a 39. Outra possível subdivisão destes primeiros 39 capítulos seria na forma do seguinte sumário:

 

cap. 1 - Introdução ao conjunto do livro;

caps. 2 a 12 - Profecias sobre Israel e Judá;

caps. 13 a 23 - Profecias sobre as nações estrangeiras;

caps. 24 a 27 - Apocalipse de Isaías;

caps. 28 a 33 - Profecias de promessas e ameaças sobre Israel e Judá; (semelhante aos caps. 02 a 12);

caps. 34 a 35 - Outros fragmentos apocalípticos,que provavelmente foram escritos pelo Segundo Isaías, no tempo do Exílio na Babilônia;

caps. 36 a 39 - Relatos sobre a atividade de Isaías no momento da campanha de Senaqueribe contra Jerusalém.

 

Contra a falsa religião

 

Na época de Isaías, as pessoas frequentavam o Templo, mas para o profeta isso não basta, pois encher o Templo com iniquidade e solenidade é um erro enorme (1:10-20), isso porque as pessoas que levam ofertas para Jeová são as mesmas que não se importam em fazer o direito (mishpât) funcionar, que não fazem justiça ao desprotegido órfão e à abandonada viúva. Isaías, em um dos textos proféticos mais violentos contra um culto que funciona só para mascarar as injustiças que se cometem no dia-a-dia, pede aos príncipes de Sodoma e ao povo de - na verdade, de Jerusalém - para ouvirem a palavra do Senhor:

 

10 Escutem a palavra do Senhor, chefes de Sodoma; preste atenção ao ensinamento do nosso Deus, ó povo de Gomorra:11 Que me interessa a quantidade dos seus sacrifícios? - diz o Senhor. Estou farto dos holocaustos de carneiros e da gordura de novilhos. Não gosto do sangue de bois, carneiros e cabritos.12 Quando vocês vêm à minha presença e pisam meus átrios, quem exige algo da mão de vocês?13 Parem de trazer ofertas inúteis. O incenso é coisa nojenta para mim; luas novas, sábados, assembleias… não suporto injustiça junto com solenidade. (1:10-13).16 Lavem-se, purifiquem-se, tirem da minha vista as maldades que vocês praticam. Parem de fazer o mal,17 aprendam a fazer o bem: busquem o direito, socorram o oprimido, façam justiça ao órfão, defendam a causa da viúva. (1:16-17)

 

Crítica à injustiça social

 

O profeta denuncia o comportamento dos ricos e latifundiários, dos que vivem em grandes festas custeadas pelo trabalho dos pobres, dos que exploram o povo negando-lhe a justiça e dos que se fazem grandes e importantes vivendo em grandes banquetes (5:8-24).

Ai daqueles que juntam casa com casa e emendam campo a campo, até que não sobre mais espaço e sejam os únicos a habitarem no meio do país. (5:8)

 

Nesse aspecto destaca-se sua semelhança com o profeta Amós, até porque eles são quase contemporâneos: Amós é de 760 AC e Isaías inicia sua atividade em 740 AC. A problemática social era a mesma para ambos, embora Amós fosse um camponês e Isaías um homem culto ligado à corte, ambos atacam os grupos dominantes da sociedade: autoridades, magistrados, latifundiários, políticos.

 

Isaías é duro e irônico com as damas da classe alta de Jerusalém (3:16-24), assim como Amós o fora com as madames de Samaria em Am 4:1-3, além disso Isaías defende, com paixão, órfãos, viúvas, oprimidos, o povo explorado e desgovernado pelos governantes, denuncia igualmente a máscara da religião que encobre a injustiça (1:10-20), do mesmo modo que Amós em (2:6-16), (4:4-5) e 5:21-27.

 

Época de Acaz

 

Nessa época ocorreu uma grande crise política e militar em Judá, provocada pela crescente ameaça do Império Assírio e pelos muitos erros do governo de Judá. Era o tempo da política expansionista do rei Tiglate-Pileser III, iniciada em 745 AC, que implicava numa grave ameaça para os pequenos reinos da região. Israel Setentrional, Damasco e outros da região tornaram-se tributários da Assíria. Golpes de Estado em Israel, alianças contra ou a favor da Assíria faziam parte da política internacional da época.

 

Facéia, um rei golpista , de Israel, fez uma aliança com o Damasco e ambos decidiram invadir Judá, derrubar Acaz e colocar um estrangeiro em seu lugar, para usar o reino do sul numa coalizão militar contra a Assíria, trata-se da Guerra Siro-efraimita, iniciada em 734 AC. Acaz pede o auxílio da Assíria e Tiglate-Pileser III tomou Damasco e 3/4 de Israel, restando apenas a Samaria que, posteriormente (em 722 AC), foi tomada pelas tropas assírias de Salmanasar V e de Sargão II.

 

Como preço pelo auxílio da Assíria, Judá perdeu sua independência, Acaz viu-se obrigado a reconhecer os deuses assírios como seus libertadores e a prestar-lhes culto, apresentar-se a Tiglate-Pileser III para prestar-lhe obediência e pagar pesados tributos, o que resultou num aumento os impostos pagos pelo povo, aumentando as injustiças que antes já eram denunciadas por Isaías. Nesse contexto, a religião oficial procurava encobrir os problemas com grandes festas.

 

Esperança em Ezequias

 

Alguns teólogos denominam a parte do Livro de Isaías compreendida entre o início do cap. 7 até o sexto vers. do cap. 12 (7:1-12:6) como Livro do Emanuel (7:14), estima-se que essa parte da obra foi escrita e, portanto, deve ser interpretada no contexto da Guerra Siro-efraimita e da consequente dependência da Assíria. São seis capítulos organizados pelo redator do livro de Isaías em torno de três temas:

 

os sinais, como o do menino que vai nascer (7:14-15);

o binômio invasão/libertação, que aparece em vários textos;

o significado de nomes próprios.

 

O início do cap. 7 (7:1-17), revela a esperança do profeta em Ezequias. É um texto que deve ser lido considerando-se a existência de dois blocos distintos:

 

O primeiro bloco (7:1-9), relata o encontro de Isaías com Acaz, às vésperas da Guerra Siro-efraimita, em 734 ou 733 AC. Quando os reis de Damasco e de Samaria planejam invadir Judá para depor Acaz e no seu lugar colocar um rei não-davídico - o filho de Tabeel - que envolveria o país na coalizão contra o Império Assírio, Isaías vai ao encontro de Acaz, que está cuidando das defesas de Jerusalém.

 

O segundo bloco (7:10-17) relata novo encontro de Isaías com Acaz, desta vez, talvez, no palácio, no qual o profeta oferece ao rei um sinal de que tudo se arranjará diante da ameaça siro-efraimita. Com a recusa do rei em pedir um sinal a Jeová, Isaías muda de tom e relata a Acaz que Jeová, por própria iniciativa, dar-lhe-á um sinal, que consiste no seguinte: a jovem mulher dará à luz um filho, seu nome será Emanuel (Deus-conosco) e ele comerá coalhada e mel até que chegue ao uso da razão.

 

É razoável concluir que a jovem mulher seja jovem rainha, mãe de Ezequias, considerando-se que Isaías falou a Acaz nos primeiros meses de 733 AC, e Ezequias teria nascido no inverno de 733-32 AC.

 

Isaías volta a falar de Ezequias no início do cap. 9 (8:23b-9:6), pois este início de capítulo deve compreendido em conjunto com o final do cap. 8, no qual menciona as três regiões de Israel conquistadas entre 734 e 732 AC por [Tiglate-Pileser III]], que são: Zabulão (caminho do mar), Neftali (o além-Jordão) e a Galileia (o território das nações). Isaías fala destas regiões para despertar a esperança: Jeová, que humilhou estas terras, as cobrirá de glória. E o povo, que vivia nas trevas e na tristeza, viverá na luz e na alegria. Uma alegria enorme, que é causada pelo fim da opressão (o jugo, a canga e o bastão do opressor foram quebrados), pelo fim da guerra (a bota e o uniforme militar foram queimados) e, principalmente, pelo nascimento de um menino em Judá.

 

Este menino é um personagem da casa real, de acordo com os quatro títulos que lhe são atribuídos em 9:5, títulos que parecem ser características sobre-humanas e messiânicas, mas que podem caber bem aos reis, segundo a mentalidade da época: a sabedoria do rei na administração (Conselheiro), sua capacidade militar (Deus-forte), zelo pela prosperidade do povo (Pai), preocupação com a felicidade do povo (Príncipe-da-paz), além disso 9:6 esclarece que este menino é da "casa de David" e caracteriza suas ações: governará com direito e justiça, e, por isso, deve tratar-se de Ezequias.

 

Isaías volta a referir-se a Ezequias no início do cap. 11 (11:1-9), pois o ponto de referência do profeta continua sendo um rei da época, descendente de David, que salvaria o país da catástrofe. O texto fala de um personagem régio (11:1), de suas qualidades (11:2), de sua atuação (11:3b-5), da instauração de uma nova realidade (11:6-8) para concluir que então haverá em Israel conhecimento de Javé.

 

Este personagem esperado, fiel a Jeová, vai instaurar um reino de justiça e paz, onde o pobre e o oprimido serão protegidos contra a prepotência dos poderosos. Justiça e paz que são simbolizadas, no poema, pela convivência harmoniosa de animais selvagens e domésticos. A identificação deste personagem da família davídica é problemática. Alguns acreditam que o poema trata da utopia profética de Isaías por ocasião da coroação de Ezequias como rei em 716 ou 715 AC. Outros defendem que se Ezequias fora o objeto da esperança de Isaías de tirar o país da crise, como aparece em 7:1-17 e 8:23b-9:6, agora, decepcionado com sua política pró-egípcia que acaba provocando a invasão do assírio Senaqueribe, pensa em alguém que no futuro possa resgatar Israel.

 

Ezequias tomou posse como rei em 716 a.C. ou 715 a.C., após a morte de seu pai Acaz, e aproveitou a pouca vigilância assíria para fazer uma reforma em Judá. Foi uma reforma religiosa, social e econômica, na qual defendeu os artesãos dos exploradores, com a criação de associações profissionais, retirou do Templo de Jerusalém os símbolos idolátricos e construiu um novo bairro em Jerusalém, para abrigar os refugiados de Israel. Entretanto, em 701 a.C. Senaqueribe destruiu 46 cidades fortificadas de Judá e sitiou Jerusalém.

 

Segundo Isaías

 

Os capítulos 40 a 55 foram escritos por profeta anônimo, comumente chamado Segundo Isaías ou Dêutero Isaías, que iniciou a pregação após 550 AC, no final da época do Exílio na Babilônia, quando ocorriam as primeiras vitórias de Ciro II, apresentando uma mensagem de esperança e consolação. O fim do exílio, de sete semanas de anos (587AC - 538AC), é visto como um novo êxodo e, como no primeiro, Jeová será o condutor e a garantia dessa nova libertação. O povo de Deus convertido, mas oprimido, é denominado Servo de Jeová, ou o próprio Segundo Isaías segundo outra interpretação. O Novo Testamento, a partir de uma interpretação do judaísmo messiânico, atribui esse título a Jesus, o justo que sofreu e morreu para nos libertar. A comunidade, depois de convertida e libertada, se tornará missionária, luz para que as nações se voltem para o verdadeiro Deus.

 

O Segundo Isaías, pode ser subdividido em duas partes:

 

Caps. 40-48 - Queda da Babilônia, libertação por Ciro II;

Caps. 49-55 - Restauração de Sião, insistência no universalismo da salvação.

 

Servo de Deus - o Segundo Isaías emprega a palavra servo dezenove vezes no sentido de Servo de Deus, em catorze casos, este servo recebe como nome próprio: Israel ou Jacó, como forma de referir-se ao povo de Israel em seu conjunto. Veja a discussão em Cânticos do servo sofredor.

 

Terceiro Isaías

 

Os capítulos 56 a 66 são atribuídos ao Terceiro Isaías ou Trito-Isaías. Apresentam uma coleção de profecias que procuram estimular a comunidade que veio do Exílio na Babilônia e se reuniu em Jerusalém com os que estavam dispersos. Condena os abusos que começam de novo a aparecer e mostra qual é o verdadeiro jejum (58,1-12) necessário para que haja novos céus e nova terra.

 

O Terceiro Isaías não é um autor único, esta parte é uma coletânea diversificada: o Salmo de 63:7-64:11 parece anterior ao fim do Exílio na Babilônia, enquanto que a profecia de 66:1-4 é contemporâneo da reconstrução do Templo, aproximadamente em 520 AC, os caps. 60 a 62 aparentam-se com o Segundo Isaías, os caps 56-59 devem datar do séc. V AC, os caps. 65 e 66, com exceção de 66:1-4, poderiam datar da época grega ou da época imediatamente posterior ao Exílio.

 


 

sexta-feira, 11 de março de 2016

Livros Proféticos


Livros Proféticos
 
Os Livros Proféticos recebem o seu nome do fato de cada um deles aparecer encabeçado pelo nome de um profeta, o qual, podendo não ser sempre o autor de todo o texto, é, pelo menos, a figura histórica que lhe dá a sua personalidade. O profetismo é um fenômeno cujas raízes se estendem pelo Médio Oriente Antigo. Tem a ver, por um lado, com experiências religiosas e místicas fora do comum (veja-se, nomeadamente, 1 Sm 19,20-24); e, por outro, com um olhar penetrante e capaz de intuir ou receber a comunicação de verdades profundas (Nm 24,3-4), ou com a autoridade na transmissão dessas verdades em nome de Deus (Jr 1,17-19).
 
PROFETISMO E PROFETA
 
Dentro da própria Bíblia nota-se que o fenômeno do profetismo se formou de muitos elementos e experiências que foram evoluindo e criando um conceito enriquecido de vários matizes, capazes de conter até alguns contrastes (Zc 13,2-6). A variedade de nomes utilizados para o exprimir é um sinal claro disso; e o nome que ficou a ser mais utilizado (nabi) não é, afinal, o mais claro de todos os que existiam para designar tal conceito.
 
Talvez as duas conotações mais marcantes de profeta sejam a de “vidente” e a de “porta-voz” que transmite certa mensagem em nome de outro. O termo “profeta”, usado em português, deriva do grego e sublinha esta segunda ideia, isto é, alguém que fala como porta-voz de outro.
 
Na Bíblia, o conceito de profeta aparece também aplicado a muitas outras figuras, cujos nomes não constam da lista definitiva dos livros sagrados.
 
A Bíblia hebraica chama “profetas anteriores” ou antigos a uma grande parte dos livros que nós classificamos, na peugada dos Setenta, como livros históricos; e “profetas posteriores”, ao conjunto de livros cuja autoria, de algum modo, se atribui a um profeta. Aqueles que designamos aqui por Livros Proféticos são as obras dos chamados “profetas escritores”, se bem que a questão da autoria, como dissemos, não seja linear e tenha de ser estudada caso a caso e em pormenor.
 
LIVROS
 
No Antigo Testamento, estes profetas costumam ser divididos em dois grupos: “Profetas Maiores” e “Profetas Menores”, segundo a sua extensão e a importância que foi atribuída a cada um deles.
 
“Profetas Maiores”. São Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel. O Livro das Lamentações aparece como uma espécie de prolongamento do livro de Jeremias, embora já não se costume traduzir o parágrafo inicial da tradução grega que o atribuía expressamente a Jeremias. Como um segundo anexo a Jeremias temos o livro profético de Baruc; faz parte dos livros “deuterocanônicos” e é atribuído a um secretário de Jeremias, de nome Baruc.
 
Isaías, Jeremias e Ezequiel são identificáveis como três figuras históricas de profetas dos séculos VIII, VII e VI, respectivamente, com notórias e decisivas intervenções na cena histórica, especialmente os dois primeiros.
 
Daniel aparece na tradição da Bíblia grega entre os “Profetas Maiores”; mas na Bíblia Hebraica é classificado entre os “Escritos”, dando a entender que é visto como um gênero de literatura diferente da dos profetas. E é realmente diferente, apesar de ter muitos pontos de convergência.
 
“Profetas Menores”. Alguns apresentam-se como figuras historicamente mais definidas; é o caso de Oseias, Amós, Miqueias, Ageu e Zacarias. De outros, como Joel, Abdias, Naum, Habacuc, Sofonias e Malaquias, pouco se sabe ao certo, podendo mesmo acontecer que alguns sejam apenas nomes simbólicos da própria obra literária ou da respectiva mensagem.
 
Jonas também aparece na Bíblia grega entre os “Profetas Menores”; mas, na Bíblia hebraica, faz parte dos “Escritos”. De facto, além da narração contida no livro, historicamente nada mais se sabe acerca da personagem de quem recebe o nome.
 
 
PROFETAS... Um pouco mais...
 Textos: Lc. 24.27 - Rm. 9.25-29
 
OBJETIVO: Mostrar que os profetas do Antigo Testamento, ainda que classificados como Maiores e Menores, todos foram igualmente inspirados pelo Espírito Santo.
 
INTRODUÇÃO: Conforme destacamos no estudo anterior, toda Escritura é inspirada por Deus e proveitosa (II Tm. 3.16,17). Os profetas, por conseguinte, foram, indistintamente, impulsionados pelo Espírito (II Pe. 1.19-21). Mesmo assim, a tradição judaico-cristã costuma fazer a distinção entre profetas maiores e menores. No estudo desta semana, veremos a respeito dessa diferença, em seguida, apresentaremos, panoramicamente, os profetas maiores e menores. Ao longo do estudo, destacaremos aplicações desses profetas para a igreja do Senhor.
 
1. A DISTINÇÃO ENTRE OS PROFETAS: A distinção entre profetas maiores e menores é meramente quantitativa, e não qualitativa. O critério não repousa na relevância dos escritos de um determinado profeta em detrimento de outro. O tamanho do livro foi utilizado como critério para a categorização de um determinado profeta ser considerado maior ou menor. Ao estudarmos os escritos dos profetas do Antigo Testamento, é preciso ter em mente que tais livros não se encontram em ordem cronológica. A distinção entre profetas maiores e menores serviu para classificar, quantitativamente, os profetas que tinham livros maiores daqueles cujos livros eram menores.
 
Alguns desses profetas anunciaram a palavra de Deus simultaneamente, outros com vários anos de diferença, e para povos distintos. Por isso, para compreender a mensagem de determinado profeta, faz-se necessário identificar quando ele falou, em que lugar, e para quem. Para tanto, devemos levar em consideração o contexto e não a disposição desses na Bíblia, haja vista que o texto bíblico, e não a disposição dos livros e capítulos e versículos foram inspirados pelo Espírito Santo. Para evitar confusão, alguns estudiosos do Antigo Testamento preferem a divisão dos livros proféticos em: pré-exílicos, exílicos e pós-exílicos.
 
Os profetas preexílicos advertiram a respeito do julgamento de Israel e Judá: Obadias (que escreveu para Edom), Amós, Oséias e Joel (escreveram para o Reino do Norte) e Isaias, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias e Jeremias (que escreveram para Judá). Os profetas exílicos escreveram para encorajar o povo de Deus a esperar pela restauração deles: Ezequiel e Daniel escreveram da Babilônica para fortalecer a fé dos judeus exilados. Os profetas pós-exílicos escreveram para confirmar a aliança de Deus com o Seu povo: Ageu, Zacarias e Malaquias escreveram para o povo de Judá que havia retornado do cativeiro.
 
2. OS PROFETAS MAIORES:
 
1) Isaias é considerando o primeiro dos profetas maiores (Is. 1.1). Seu ministério profético aconteceu entre 740 a 700 a. C., iniciando no ano em que o rei Uzias morreu (Is. 6.1). Deus promete a vinda de Messias que viria para salvar o povo dos seus pecados (Is. 53.5). O livro de Isaias é considerado o “Quinto Evangelho” por causa das suas predições do nascimento, vida e morte de Jesus (Is. 6.3; 7.14; 9.6; 53.6). O próprio Jesus se referiu ao livro de Isaias como cumprimento das profecias a Ele alusivas (Is. 61.1-2).
 
2) Jeremias escreveu o seu livro com a assistência de Baruque (Jr. 1.1; 36.4) em aproximadamente 585 a.C., a fim de advertir Judá do julgamento iminente por causa do seu pecado. Esse profeta foi vocacionado ainda na juventude (Jr. 1.6) para trazer as más noticias a Judá (Jr. 5.15), e, por causa delas, foi açoitado e depois preso dentro de um poço (Jr. 38), mas suas palavras se cumpriram fielmente (Jr. 52). A punição de Deus a Judá não tinha como meta a destruição, mas o arrependimento do Seu povo (II Pe. 3.9).
 
3) Lamentações também foi escrito pelo profeta Jeremias (II Cr. 35.25), provavelmente em 586 a. C., após a queda de Jerusalém diante do babilônicos. Trata-se de um poema no qual o profeta pranteia a destruição da cidade e do povo de Judá (Lm. 1.5,16; 5.22). O profeta clama ao Senhor que renove os dias do seu povo (Lm. 5.21). A disciplina do Senhor, para os Judeus, bem como para todo crente, objetiva a correção (Hb. 12.11). 4) Ezequiel, o sacerdote, é o autor do livro que leva o seu nome (Ez. 1.1-3). Esse livro foi escrito por volta de 590 a 570 a. C., quando Judá se encontrava no exílio. Ainda que o povo estivesse no Exílio, o Senhor revela que não se satisfaz com a morte do ímpio (Ez. 18.32). Em seu livro o profeta destaca a importância da responsabilidade pessoal (Ez. 18.4-9); e 5) Daniel, um jovem levado ao exílio babilônico, é o autor do livro (Dn. 7.15; 2.14), escrito entre 605 a 538 a. C. Esse livro foi originalmente escrito em duas línguas: hebraico (capítulos 1, 8-12) e aramaico (capítulos 2-7). Esse livro mostra que Deus sempre tem um propósito e que não abandonou o Seu povo (Rm. 11).
 
3. OS PROFETAS MENORES:
 
1) Oséias escreveu seu livro entre 750 e 722 a. C.. Em seu escrito ele revela o amor de Deus por Israel através de um casamento que resulta em adultério (Os. 1.2). Apesar da infidelidade de Israel, Deus, como Oséias a Gomer, o ama e está disposto a perdoá-lo (Os. 14.4);
 
2) Joel, filho de Petuel (Jl. 1.1), escreveu em 586 a. C., advertindo Israel das pragas que sobreviriam por causa do pecado (Jl. 2.11). O dia do julgamento de Deus, no entanto, não é o fim, pois o Senhor salvará o Seu povo (Jl. 2.32);
 
3) Amós, um pastor de Tecoa, próximo de Belém (Am. 1.1), escreveu em 760 a. C., orientando o povo de Israel a preparar-se para um encontro com o Senhor (Am. 4.12) e denunciando as injustiças sociais daquele povo (Am. 5.24). Essa mesma atitude ecoa nas palavras de Tiago, em sua Epístola (Tg. 2.14-18);
 
4) Obadias escreveu seu livro em 586 a. C., (Ob. 1.1), após a invasão da Babilônia sobre Judá. Esse livro traz promessas de esperança (Ob. 1.17) para o povo de Deus, em cumprimento às palavras proferidas a Abraão (Gn. 12.3);
 
5) Jonas, escrito em 760 a. C., mostra a atuação desse profeta nos tempos do Rei Jeroboão II (II Rs. 14.23-25). Jonas é vocacionado pelo Senhor para pregar arrependimento para Nínive, capital da Assíria (Jn. 4.11). O profeta esperava que os ninivitas fossem destruídos, mas esses vieram a arrependerem-se. Nesse livro vemos a demonstração do amor de Deus aos pecadores (Rm. 5.8);
 
6) Miquéias profetizou por volta de 700 a. C., ressaltando o julgamento de Deus que viriam em breve (Mq. 1.1). Esse livro conclama o povo ao arrependimento, a amar a misericórdia, a andar humildemente com Deus (Mq. 6.8), e revela, profeticamente, o local do nascimento do Messias (Mq. 5.2);
 
7) Naum, escrito por volta de 663 a 612 a. C., revela o julgamento que sobreviria sobre Nínive (Na. 3.1). Esse livro seria uma espécie de continuação de Jonas, mostrando que Deus é misericordioso, mas pune o pecado impenitente (Na. 1.3);
 
8) Habacuque profetizou em aproximadamente 600 a. C., a respeito da punição de Judá através dos caldeus (Hc. 1.6). Nesse livro o autor faz um chamado à fé (Hc. 2.4), mesmo diante da adversidade (Hc. 3.18), texto citado por Paulo em Rm. 1;
 
9) Sofonias data de 640 a 620 a. C., durante o reinado de Josias (Sf. 1.1), tratando a respeito do julgamento de Deus por causa da idolatria (Sf. 3.8), ainda que haja esperança para aqueles que se arrependem (Sf. 3.13);
 
10) Ageu data de 520 a. C., perído do segundo ano do reinado de Dario (Ag. 1.1). Como profeta pós-exílico, Ageu encoraja o povo que havia estado cativo na Babilônia a reconstruir o templo. A esse respeito, destaca que o povo deva dar proeminência a Deus em suas contribuições e a confiar no Senhor (Ag. 2.4);
 
11) Zacarias, filho de Berequias, data de aproximadamente 520 a 475 a. C., e, semelhantemente a Ageu, conclama o povo à reconstrução do templo em Jerusalém. O livro alude à entrada triunfal de Jesus em Jerusalém (Zc. 9.9; Mt. 21.1-11). Deus, através do profeta, chama o povo a se voltar para Ele, e Ele, por sua vez, se voltará para o Seu povo (Zc. 1.3);
 
12) Malaquias, o mensageiro do Senhor, escrito por volta de 450 a. C., denuncia o descaso do povo em relação a Deus, inclusive em relação à contribuição (Ml. 3.8-10). A mensagem de Malaquias nos lembra que o culto genuíno ao Senhor deva ser em espírito e em verdade (Jo. 4.24).
 
CONCLUSÃO: O estudo dos livros dos profetas, sejam eles considerados maiores ou menores, é fundamental ao amadurecimento da Igreja. Não podemos esquecer que o Antigo Testamento era a Bíblia que Jesus lia. Ele mesmo fez menção da mensagem dos profetas ao revelar-se, após a ressurreição, na estrada de Emaús, quando discorria a respeito do cumprimento das profecias a seu respeito (Lc. 24.27,32). Ainda hoje, quando meditamos na Palavra de Deus, nosso coração arde através da chama do Espírito, que nos instiga à fé nessas palavras fieis e verdadeiras e dignas de toda aceitação (I Tm. 4.9).