Arte Pré-Histórica
A chamada arte pré-histórica é o que
podemos assemelhar com produção dita artística do homem ocidental dos dias de
hoje, feita pelos humanos pré-históricos, como gravuras rupestres, estatuetas,
pinturas e desenhos.
A arte pré-histórica não está necessariamente
ligada à ideia de "arte" e sim de comunicação que surgiu a partir do renascimento.
A relação que o homem pré-histórico tinha com
esses objetos é impossível definir. Pode-se, no entanto, formular hipóteses e
efetuar um percurso para as apoiar cientificamente.
Ainda hoje, povos caçadores-recolectores produzem
a dita "arte" e em algumas tribos de índios percebe-se a relação do
homem contemporâneo com o conceito atual de obras de arte e também de comércio.
Achados arqueológicos
Apesar de convencionar-se a consolidação da
religião no período Neolítico,
a arqueologia registra que, no período Paleolítico houve uma
religião primitiva baseada no culto a uma Deusa mãe, ao feminino e
a associação desta ao poder de dar a vida. Foram descobertas, no abrigo de
rochas Cro-Magnon em Les Eyzies,
conchas cauris, descritas como "O portal por onde uma criança vem ao
mundo." E cobertas por um pigmento de cor ocre vermelho, que simbolizava o
sangue, e que estavam intimamente ligados ao ritual de adoração às estatuetas
femininas; escavações apresentaram que estas estatuetas, as chamadas vênus neolíticas eram encontradas muitas vezes numa posição
central, em oposição aos símbolos masculinos localizados em posições
periféricas ou ladeando as estatuetas
femininas.
Arte na Pré-história e as
diferenças com a Arte na atualidade
A arte neste período pode ser inferida a partir
dos povos que vivem atualmente ou viveram até recentemente na pré-história (por
exemplo, os aborígenes,
os índios). Na pré-história,
a arte não era algo que pudesse ser separado das outras esferas da vida, da
religião, economia, política, e essas esferas também não eram separadas entre
si, formavam um todo em que tudo tinha que ser arte, ter uma estética, porque
nada era puramente utilitário, como são hoje um abridor de latas ou uma urna
eleitoral. Tudo era ao mesmo tempo mítico, político, econômico e estético.
A arte como uma palavra que designa uma esfera
separada de todo o resto só surgiu quando surgiram as castas, classes e Estados, isto é, quando todas
aquelas esferas da vida se tornaram especializações de determinadas pessoas: o governante com a
política, os camponeses
com a economia, os sacerdotes
com a religião e os artesãos
com a arte. Só aí é que surge a arte "pura", separada do resto da
vida, e palavra que a designa.
Mas antes do renascimento, os artesãos
eram muito ligados à economia, muitos eram mercadores e é daí que vem a palavra
"artesanato". Então a arte ainda era raramente separada da economia
(embora na Grécia
Antiga, a arte tenha chegado a ter uma relativa autonomia), por
isso, a palavra "arte" era sinônimo de "técnica", ou
seja,"produzir alguma coisa" num contexto urbano. No renascimento,
alguns artesãos foram sustentados por nobres (os Médici, por exemplo) apenas para
produzir arte, uma arte "pura". Aí é que surgiu a arte como a
conhecemos hoje.
Arte do Paleolítico
A arte do Paleolítico refere-se ao início
da história
da arte e à mais antiga produção artística
de que se tem conhecimento. A arte deste período situa-se na Pré-História, no Paleolítico (Idade da
Pedra Lascada), e tem início há cerca de dois milhões de anos estendendo-se até
c. 8000 a.C.
O Paleolítico é um dos três períodos da Idade da Pedra, ao qual
se segue o Mesolítico
e, posteriormente, o Neolítico
(Idade da Pedra Polida), e que se situa, do ponto de vista geológico, na Idade do gelo, mais
precisamente no Pleistoceno.
Somente no início do século XX são feitas as
primeiras descobertas de achados pré-históricos e a primeira reacção da classe
especialista é a de cepticismo relativamente à aparente maturidade artística
num nível tão embrionário da história da humanidade. Considerava-se até então
que a primeira semente artística teria sido lançada no Antigo Egipto e na Mesopotâmia. Embora ainda
hoje persistam dúvidas quanto ao efectivo objectivo das peças de arte
paleolíticas, a verdade é que a qualidade e criatividade que revelam são
inegáveis e de extrema importância para a compreensão da mentalidade do Homem.
São deste período instrumentos de pedra talhada,
decoração de objectos, jóias
para diferentes partes do corpo, pequena estatuária representando
a figura feminina ou animais, relevos
e pinturas parietais com
temática de caça e figuras isoladas de animais ou caçadores.
Contexto
De um modo geral, e para facilitar também a
caracterização da arte num espaço de tempo tão longo, divide-se o Paleolítico
em outros três sub-períodos:
- Paleolítico Inferior (2 500 000 - 2 000 000 até 120 - 100 000 a.C.),
- Paleolítico Médio (300 - 200 000 até 40 - 30 000 a.C.),
- Paleolítico Superior (40 - 30 000 até 10 - 8 000 a.C.).
Considera-se que é no último período (Paleolítico
Superior) que o Homem dá o mais significativo passo na produção artística
consciente, como resultado de uma necessidade espiritual. No entanto é
possível que este nível seja o culminar de um longo processo de amadurecimento
artístico e técnico, e que muito do que foi criado em épocas anteriores
simplesmente não tenha sobrevivido até aos nossos dias. Por esta razão
subsistem ainda muitas incógnitas e questões em aberto, podendo-se apenas
especular sobre quais seriam as verdadeiras motivações artísticas do Homem
pré-histórico.
Para uma abordagem mais próxima às primeiras
criações artísticas é essencial relacioná-las com o seu plano de fundo cultural, geográfico e social. Indissociável do
seu meio-ambiente, o qual nem
sempre é propício à vida humana, o Homem é por ele extremamente influenciado,
levando a que as suas decisões (deslocamentos a outros locais, etc) sejam
ditadas por condicionantes e factores naturais. Que os temas da arte
paleolítica foquem, acima de tudo, elementos do seu meio-ambiente (como o reino
animal, principalmente o
alvo da sua caça – manadas de renas das planícies e vales) surge
assim como uma consequência lógica.
Influências culturais e
especificidades regionais
Durante os dois primeiros períodos do Paleolítico
(Inferior e Médio) a área da ocupação humana vai estar reduzida à África, Ásia e Europa. O achado arqueológico por
excelência é o artefacto
talhado em pedra (machados, etc),
que se vai aperfeiçoando tecnicamente ao longo da Pré-História, e que transmite
já uma certa preocupação estética
pela procura da simetria.
Embora existam características específicas de
cada região, observa-se, simultaneamente, uma certa unidade entre os achados,
unidade esta que espelha a existência de contactos entre diferentes grupos de
diferentes regiões (p. ex.: a utilização generalizada do vermelho).
A partir do Paleolítico Médio dá-se um “corte”
na continuidade da influência cultural entre os continentes, em que a África
(exceptuando o norte) e a Ásia seguem caminhos distintos do da Europa. Durante
o Paleolítico Superior, quando o Homo sapiens surge no
lugar do Neandertal, segue-se o
alargamento da área de ocupação humana à América e Austrália, possibilitado
pela redução do nível do mar (época glaciar) e o consequente surgimento de “pontes”
térreas de ligação aos referidos continentes.
Os achados arqueológicos americanos denotam bem a
sua proveniência da Ásia oriental, mas acabam também por evoluir para
características próprias. No entanto, pouco se deixa reconstruir da produção
artística deste continente durante o Paleolítico devido à reduzida informação
arqueológica disponível. Quando a ligação natural à Austrália deixa de existir,
a comunicação de outros povos estabelecida até então com este continente leva o
mesmo caminho, e o isolamento que se segue resulta no “empobrecimento”
da cultura aí presente.
É por estes diversos factores que a Europa e a Índia são as regiões que oferecem,
até ao momento, os melhores testemunhos de estudo da cultura paleolítica, a
partir dos quais melhor se pode compreender a interpretação que o Homem
paleolítico faz do seu mundo. Na França e norte de Espanha podem-se observar dos mais
ricos exemplares de pintura rupestre, com base nos quais se pode afirmar a
existência de um importante florescer artístico nestas áreas. Mesmo assim
torna-se difícil precisar se terá tomado aqui lugar a origem do processo da
consciencialização humana e, consequentemente, se terá aqui iniciado a sua
evolução artística. A própria área actual dos achados a nível mundial não pode
ser entendida como definitiva, uma vez que a preservação das obras muito
depende das boas condições dos locais onde foram criadas.
O momento de transição
Após o início da produção manual de objectos
começam a surgir os primeiros indícios de decoração dos mesmos, mas só no Paleolítio
Superior se fazem as primeiras tentativas de transpôr algo real para um
determinado suporte. Para isto é necessário uma observação cuidada da natureza
envolvente e a percepção de que é possível a reprodução do mundo visível
através de um novo método.
Este método implica a captação da realidade e, no caso da pintura e do relevo, a passagem da
tridimensionalidade para um plano bidimensional que resulta, inicialmente, em
representações de grande naturalismo e realismo. O Homem faz também uso de rochas ou pedaços de osso ou madeira que se assemelhem a um
determinado animal, tirando partido dessa associação e das características
pré-existentes do suporte para criar uma escultura ou relevo (por vezes também
associando a pintura).
O Homem compreende que a arte lhe possibilita uma
relação mais estreita com a natureza e que ele próprio pode usar a sua
representação para exercer influência sobre o mundo que o rodeia. Através da
imagem os factores essenciais à sua existência podem ser dominados e o Homem
pode revelar as experiências dos seus sentidos. Mais tarde, quando começa a
reflectir sobre si próprio e o mundo envolvente, passa progressivamente a
representar imagens idealizadas, ao invés de simplesmente imagens
observadas. A partir deste momento começa a aproximando-se cada vez mais da
sintetização dos elementos e da sua esquematização simbólica (como o caso das
estatuetas femininas onde se realçam as características da feminilidade em linhas
simples).
Abordagens sobre o objectivo
da arte
De um modo geral, a hipótese mais defendida sobre
o objectivo da arte paleolítica é a que os primeiros objetos de arte não eram
utilitários ou adornos, mas uma tentativa de controlar forças sobrenaturais e,
segundo especulam os arqueólogos,
obter a simpatia dos deuses e bons resultados na caça. Considerando que as pinturas
descobertas em cavernas se encontram em locais de difícil acesso, e não à
entrada ao olhar de todos, pode-se supor que o objectivo não é proporcionar uma
imagem impressionante acessível a todo o grupo, a arte pela arte, mas
antes seguir um ritual mágico.
Assim, o resultado estético (de grande naturalismo) não será mais que uma
consequência secundária do objectivo principal. De qualquer modo não se pode
eliminar totalmente a hipótese de um objectivo estético consciente.
Talvez existisse uma ténue linha divisória entre
a realidade e a
representação e que, ao se pintar um animal, fosse necessário recriá-lo com o
maior realismo possível, para que a caça bem sucedida na pintura se
transportasse para a realidade, ou ainda, que a criação pictórica de uma manada
resultasse na sua criação real, e que o Homem pudesse assim beneficiar de muito
alimento e prosperidade. Do mesmo modo se crê que as pequenas estatuetas
femininas sejam amuletos relacionados com o culto da fertilidade, factor
crucial para a sobrevivência do grupo.
Porém é importante uma ressalva: precisamos pesar
as ações do homem, no caso no campo da representação em imagens, como não
estritamente vinculadas à representações religiosas ou a uma busca trancedental
de "um algo maior". Assim como uma criança que brinca com lápis de
cor e papel com formas e cores de forma lúdica, não podemos descartar a arte
paleolítica como uma atividade lúdica, um descobrir formas sem maiores
pretensões.
Vênus
Da escultura paleolítica são famosas as estatuetas
femininas de pequenas dimensões designadas genericamente por vénus.
Identificadas como possíveis ídolos para o culto da fertilidade e sexualidade estas figuras
apresentam características semelhantes entre si; são representadas nuas, de pé
e revelam os elementos mais representativos do corpo feminino em linhas
exacerbadas. O exagero destes elementos traduz-se num peito, ventre e ancas
voluminosos em oposição a braços e pernas delicados e cabeça pequena. A face,
tratada com linhas simples reduzidas ao essencial, onde não é possível
reconhecer traços individuais, transforma-se, com o tempo, num elemento cada
vez mais estilizado e simbólico, assim como todo o corpo da figura.
Estes ídolos surgem pela primeira vez
durante o Paleolítico e são a origem dos ídolos da arte cicládica de 2000 a.C.. A mais antiga
estatueta conhecida é a Vénus
de Tan-Tan encontrada em Marrocos do período Acheulense e com
6 cm de altura. Entre as mais antigas, com 30 000 anos, contam-se as vénus
encontradas na Europa, na área do Danúbio, como a Vénus
de Willendorf (Áustria), a Dame de
Sireuil (França), a Mulher com
corno de Bisonte (relevo na rocha, França) de formas realistas, ou a
Pintura paleolítica
No período do Paleolítico Superior são feitas as
primeiras pinturas em cavernas e paredes externas de pedra,
há aproximadamente 15.000 anos. A representação de vários animais (cavalos,
mamutes,
bois,
veados)
é comum, como se pode observar na caverna de Lascaux,
França - sítio arqueológico
descoberto em 1940.
Aproveitando-se das irregularidades naturais das
pedras, o homem do paleolítico chega, com suas pinturas,
próximo das formas reais da natureza. Utiliza para os seus trabalhos diversos materiais
como carvão, terra e sangue,
além de pincéis e osso oco como instrumento de sopro (ex.:
para pulverizar o contorno da mão obtendo um negativo).
Outras importantes pinturas rupestres foram descobertas na caverna de Altamira, Espanha,
por Marcelino Sanz de Sautuola.
Em Altamira encontram-se pinturas nas paredes e no próprio teto da caverna,
consideradas até hoje uma das maiores descobertas da história da arte.
Arte rupestre
Arte rupestre é o
termo que denomina as representações artísticas pré-históricas realizadas em
paredes, tetos e outras superfícies de cavernas e abrigos rochosos, ou mesmo
sobre superfícies rochosas ao ar livre. A arte rupestre divide-se em dois
tipos: a pintura rupestre, composições realizadas com
pigmentos, e a gravura rupestre, imagens gravadas em incisões
na própria rocha.
Em geral, trazem representações de animais,
plantas e pessoas, e sinais gráficos abstratos, às vezes usados em combinação.
Sua interpretação é difícil e está cercada de controvérsia, mas pensa-se
correntemente que possam ilustrar cenas de caça, ritual, cotidiano, ter caráter
mágico, e expressar, como uma espécie de linguagem visual, conceitos, símbolos,
valores e crenças.
Por tudo isso, muitos estudiosos atribuem à arte
pré-histórica funções e características comparáveis às da arte como hoje é
largamente entendida, embora haja uma tendência recente de substituir a
denominação "arte" rupestre por "registro" rupestre,
considerando a incerteza que cerca seu significado. Permanece, de todo modo,
como testemunho precioso de culturas que exercem grande fascínio contemporaneamente
mas são ainda pouco conhecidas.
Descoberta e autenticidade
Quando Marcelino Sanz de Sautuola encontrou pela
primeira vez as pinturas da caverna de Altamira, na Espanha,
em torno de 150 anos atrás, elas foram consideradas como fraude pelos
acadêmicos. Com base no novo pensamento darwiniano sobre a evolução das
espécies, considerou-se que os primitivos humanos não poderiam ter sido
suficientemente avançados para criar arte. Émile Cartailhac, um dos mais respeitados
historiadores da Pré-História do final do século XIX, acreditava que as
pinturas tinham sido forjadas pelos criacionistas
(que sustentavam a criação do homem por Deus) para apoiar suas ideias e
ridicularizar Darwin, mas depois ele veio a se retratar,
reconhecendo sua autenticidade.
Recentes avaliações têm atestado uma grande
antiguidade nas figuras pré-históricas encontradas. Estima-se que a arte
rupestre tenha começado quando o homem de Cro-Magnon se estabeleceu na Europa
deslocando o homem de Neanderthal, aparecendo no
período Aurignaciano e florescendo especialmente nos
períodos Solutreano e Magdaleniano
do Paleolítico,
sendo provavelmente posterior ao aparecimento de objetos "artísticos"
móveis, como artefatos em osso ou pedra esculpida. Porém, o conceito de
Pré-História é diferente quando aplicado à Europa e às outras partes do mundo,
pois está baseado fortemente sobre as características da cultura
material e não na cronologia. Na Europa a História inicia em torno
de 8 mil anos antes do presente, quando surgem os primeiros
registros de uma forma embrionária de escrita,
e nas Américas, segundo Funari & Noelli, é pré-histórico tudo o que veio
antes da chegada dos europeus no final do século XV, embora os maias possuíssem escrita,
os astecas
uma proto-escrita
e os incas,
um sistema de registro de eventos e contabilidade através de cordas com nós, os
quipos.
Mas são casos isolados. Para todas as outras culturas o que sobrevive para
estudo são registros visuais em rochas e artefatos em pedra, cerâmica e outros
materiais. A questão da idade exata das imagens permanece, de fato,
controvertida, dado que métodos como a datação por radiocarbono podem facilmente
levar a resultados errôneos pela contaminação
de amostras de material mais antigo ou mais novo. As cavernas e superfícies
rochosas estão tipicamente atulhadas com resíduos de diversas épocas.
Depois de ser considerada primeiro como fraude, e
em seguida como evidência de mentes primitivas, ao longo do século XX, a partir
da complexidade e da beleza de muitos exemplares de arte rupestre, formou-se
uma ideia, de larga aceitação, de que essas manifestações deveriam significar
que os homens pré-históricos há pelo menos 30 ou 40 mil anos possuíam uma
capacidade simbólica, intelectual e artística semelhante ao homem moderno. Os
exemplares mais antigos de pintura cuja datação é razoavelmente confiável estão
na Caverna de Chauvet, na França, criadas em torno
de 32 mil anos antes do presente. Tornaram-se famosas pela sua grande
sofisticação, e isso colocou mais dificuldades no estabelecimento de uma linha
evolutiva coerente e progressiva para a arte pré-histórica. Apesar das muitas
pesquisas realizadas tentando corroborar esta evolução linear, elas são
frágeis, baseadas em poucas evidências, pois apenas 5% das imagens foram
datadas com alguma confiabilidade.
De fato, a dificuldade na datação das relíquias é
tamanha que durante muitos anos a tendência foi de estudar a arte rupestre como
um bloco, na perspectiva da atemporalidade, mas considerando que a produção se
desenvolveu ao longo de muitos milênios e sobre variadas regiões, cultivada por
sociedades com características diferenciadas, esta abordagem tem problemas
óbvios. Este panorama só a partir dos anos 80 começou a se modificar, quando os
estudos especializados se multiplicaram rapidamente procurando definir melhor
as especificidades tipológicas, técnicas, cronológicas e geográficas. Avanços
recentes na tecnologia e na metodologia científica têm contribuído para
esclarecer melhor vários pontos obscuros, mas às vezes introduzem novas dúvidas
em conceitos consagrados. O estudo da arte rupestre é um campo em rápida
expansão e constante transformação.
Objetivo e temas
Em geral as imagens são formadas por figuras de
grandes animais selvagens, como bisões,
cavalos,
cervos,
entre outros. A figura humana surge menos vezes, mas também é muito comum,
sugerindo atividades como a dança, a luta e, principalmente, a caça,
mas normalmente em desenhos esquemáticos e não de forma naturalista, como
acontece com os dos animais. Paralelamente encontram-se também palmas de mãos
humanas e motivos abstratos. Os pigmentos mais usados são o carvão, argilas de várias cores e
minerais triturados. Os veículos para os pigmentos são de determinação mais
difícil, mas presume-se que possam ter sido usados sangue, excrementos e
gordura animal, ceras e resinas vegetais, clara ou gema de ovos e saliva
humana.
Acredita-se que estas pinturas tenham um cunho
ritualístico ou mágico, com uma simbologia relacionada principalmente à caça e
à fertilidade. Na Caverna de Altamira (a chamada Capela
Sistina da Pré-História), na Espanha, a pintura rupestre do bisonte
impressiona pelo tamanho e pelo volume conseguido com a técnica claro-escuro.
Em outros locais e em outras grutas, pinturas que impressionam pelo realismo.
Em algumas, pontos vitais do animal marcados por flechas. Para alguns, "a
magia propiciatória" destinada a garantir o êxito do caçador. Para outros
estudiosos, era a pura vontade de produzir arte. A importância do estudo da
arte rupestre deve-se não tanto à interpretação das figuras em si, mas antes à
possibilidade de obter um entendimento dos motivos e contextos que levaram uma
comunidade a usar muito do seu tempo e esforço na execução da dita arte. Como
estas sociedades primitivas se estendem no tempo e na sua essência são
consideravelmente diferentes das nossas vivências atuais, o estudo da arte
rupestre de forma científica permite analisar o comportamento do homem em
contextos muito díspares, pelo que acaba por ser um estudo transdisciplinar
entre a psicanálise, a antropologia e o nosso próprio conceito de arte.
Mas é difícil garantir qualquer coisa sobre seus
significados e funções, subsistindo grande polêmica. Vários estudos chegaram a
comparar a arte rupestre com a produção de crianças autistas,
e Robert Bednarik observou que há muito escassa evidência de que a arte
paleolítica tenha sido feita predominantemente por adultos, havendo evidências,
porém, de que parte expressiva do acervo foi criada por jovens e crianças.
Segundo Rodrigo Simas Aguiar, "Uma tradução
dos grafismos rupestres é impossível, pois para tanto seria necessário conhecer
com precisão os códigos que regem a composição destes símbolos. [...] Como não
podemos decifrar com precisão os desenhos, é fundamental estar atento às
técnicas de produção. Ciente disso, o arqueólogo registra informações diversas
sobre a arte rupestre, como estilo, maneira de pintar ou gravar, largura dos
sulcos ou linhas, tipos de associações de desenhos, fontes de água mais
próximas, e assim por diante. Essas informações, quando combinadas a outras,
vindas de escavações arqueológicas tradicionais, auxiliarão na composição do
contexto em que a arte rupestre está inserida."
Embora as conclusões dos estudiosos sejam muito
controversas, é um consenso que os registros podem proporcionar valiosas pistas
a respeito da cultura
e das crenças
daquela época. As imagens também têm sido usadas para desvendar a aparência da
fauna e da flora daqueles tempos, mas o grau de realismo das representações é variável,
e mesmo os exemplares mais sofisticados podem não ser realistas. Segundo estudo
de Pruvost et al., as figuras de cavalos tendem a ser as mais
confiáveis.
Sítios mais conhecidos
Os sítios mais conhecidos e estudados
encontram-se na Europa,
sobretudo França
e no norte da Espanha,
a denominada arte franco-cantábrica; em Portugal,
na Itália
e na Sicília;
Alemanha;
Balcãs
e Roménia.
No norte mediterrâneo da África; na Austrália
e Sibéria
são conhecidas milhares de localidades, porém não tão estudadas, como é o caso
do Brasil.
Portugal
Em Portugal
são conhecidas mais de trezentas localidades de arte rupestre, destacando-se os
complexos do Vale do rio Côa,
Patrimônio Mundial, e do Vale do Tejo, dos mais antigos
ao ar livre, a gruta do Escoural, fundamental no estudo do Cro-Magnon
e Neandertal,
e gravuras rupestres como o cavalo de Mazouco.
A Anta Pintada de Antelas, em Oliveira de
Frades, é um monumento nacional que apresenta as pinturas rupestres melhor
conservadas de toda a Península Ibérica.
Brasil
No Brasil são encontradas manifestações de arte rupestre em todo
o território nacional. Com base em suas características e localização, o acervo
foi dividido em "tradições": Agreste, Planalto, Nordeste, São
Francisco, Litorânea, Geométrica, Meridional e Amazônica, mas verificam-se
muitas interpenetrações entre esses grupos. O principal sítio é o Parque Nacional da Serra da Capivara
no Piauí,
Patrimônio Mundial da Unesco, com o maior acervo do continente americano, e um
dos mais estudados. No estado de Pernambuco encontram-se pinturas no Parque Nacional do Catimbau, o segundo
maior parque arqueológico do Brasil. Outros sítios importantes são os Lajedos de Corumbá, no
Mato Grosso do Sul; a Pedra do Ingá, na Paraíba; a Lapa do Boquete, a Lapa do Caboclo, e as
regiões de Varzelândia e Lagoa Santa,
em Minas Gerais. Em Santa Catarina se destacam registros em várias ilhas
litorâneas, como Campeche e Corais. No Rio Grande do Norte são encontrados
principalmente nas regiões do Seridó
e na chapada do Apodi,
com destaque para o Lajedo de Soledade. Muitos registros estão em
condições precárias, outros têm sofrido vandalismo,
ou são destruídos em obras de infraestrutura como barragens e estradas.
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