Desejo a todos uma belíssima experiência de fé e de vida, de amor e
paz, de re-encontro com familiares, amigos e companheiros de caminhada. Vamos
viver intensamente este tempo tão bonito, muitas vezes em contextos de tanta
desigualdade e violência, mas com esperança de dias melhores, pois “nasceu para
nós o salvador, que é Cristo, o Senhor.” Sl 95(96)
“E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós,
e vimos a sua glória, como a glória do unigênito
do Pai, cheio de graça e de
verdade.” Jo 1, 14.
O Ano Litúrgico…
O Ano Litúrgico começa com o Primeiro Domingo do Advento e termina na
última semana do Tempo Comum, onde se celebra a solenidade de Nosso Senhor
Jesus Cristo, Rei do Universo ( Cristo Rei). Em outras palavras, ele começa e
termina quatro semanas antes do Natal, cumprindo sempre três ciclos: A, B,e C.
No Ano (ou ciclo) A, predomina a leitura do Evangelho de São Mateus; no Ano (ou
ciclo) B, predomina a leitura do Evangelho de São Marcos e no Ano(ou ciclo) C,
predomina a leitura do Evangelho de São Lucas. O Ano Litúrgico é composto de
diversos "tempos litúrgicos" e sua estrutura é a seguinte: Tempo do
Advento, Tempo do Natal, Tempo Comum ( Primeira parte ), Tempo da Quaresma,
Tríduo Pascal, Tempo Pascal e Tempo Comum.
Particularmente gosto demais deste Tempo do Advento e tem sido muito
bom propor o material para o Retiro deste tempo tão bonito. Esse tempo é
dividido em duas partes: do início até o dia 16 de dezembro, a Igreja se volta
para a segunda vinda do Salvador, que vai acontecer no fim dos tempos. A partir
do dia 17 até o final, a Igreja se volta para a primeira vinda do Salvador, que
se encarnou no ventre de Maria e nasceu na pobre gruta de Belém.
“Disse-lhe, então, o anjo:
Maria, não temas, porque achaste graça diante de Deus.” Lc 1,30
O anjo apareceu para Zacarias, para Maria, para José e para os
pastores. Os encontros com os anjos são inusitados e bonitos em cada texto. O
anjo apareceu a José enquanto ele “ponderava nestas coisas” que estavam
acontecendo com Maria. Parece que José tomou tempo para meditar sobre o que
estava acontecendo em sua vida e assim, em sua calma, o anjo apareceu, e ele
ouviu o que o anjo lhe disse e assim fez. Em todos os casos, os anjos dizem uma
mesma palavra – palavra que é profundamente consoladora e plena de confiança e
coragem. Esta palavra é: Não temas! Maria, não temas! Não temais – disse o anjo
aos pastores. Não temas, Zacarias, pois a tua oração foi ouvida! José, não
temas receber Maria! Aqui podemos meditar sobre os medos e sobre a confiança.
Em todas as vezes, a voz do anjo foi ouvida, todos confiaram na voz do anjo.
Mas houve momentos em que aconteceram belos diálogos com o anjo, foram feitas
perguntas ao anjo e tudo foi esclarecido.
Esses textos são um convite para que em nossa vida saibamos ouvir a
voz de Deus que vem sussurrar em nossos ouvidos, aconselhar e orientar em
momentos difíceis, de medo e dúvida. Mas é somente no silêncio, no tempo, na
meditação e na fé que nós somos capazes de ouvir e de crer nas palavras que
Deus nos diz. Maria, Zacarias, José e os pastores confiaram naquilo que Deus
lhes sussurrava na voz do anjo. Cada qual escutou e confiou na voz do anjo. Por
isso, Deus pôde visitar o seu povo e anunciar a Boa-Nova. Se nós tivermos
capacidade de ouvir bem, certamente ouviremos a Boa-Nova de Deus para a nossa
vida e para o mundo.
Natal do Senhor… Maria deitou
seu filho numa manjedoura...
“E
tu, Belém Efrata, posto que pequena entre os milhares de Judá,
de
ti me sairá o que governará em Israel, e cujas saídas são desde
os
tempos antigos, desde os dias da eternidade.” Mq 5,2
Na segunda parte de nosso texto (Lucas 2,3-7), outra novidade nos é
apresentada. Diferentemente dos poderosos, cujo poder está calcado nas armas do
exército e nas riquezas acumuladas no centro do império, Jesus vem da
periferia. Ele não só não vem de Roma, capital do império, ou de Jerusalém,
capital dos judeus, mas vem de Belém, uma aldeia periférica na Judeia.
De um lado, seu nascimento é situado em Belém, especialmente para
colocar Jesus na tradição e na esperança profética de seu povo (Miqueias
5,1-3). De outro, é para dizer que, desde o começo de sua vida, Jesus tem a
mesa da partilha como centralidade de seu projeto. Como assim? É que Belém quer
dizer casa do pão. Daí ser teologicamente fundamental situar o nascimento de
Jesus em meio ao pão, indicando, assim, o foco de sua missão. Já dizia Noemi, a
sogra de Rute, que “o Senhor se lembrará do seu povo, dando-lhe pão” (cf. Rute
1,1.6). E, mais uma vez, em Jesus de Nazaré, Deus visita seu povo em Belém, a
casa do pão.
E mais. Não é por acaso, que Jesus assumiu como eixo de sua missão a
partilha dos pães de acordo com a necessidade de todas as pessoas. Temos,
inclusive, dois relatos exemplares dentre as muitas partilhas que sua presença
promovia em meio ao povo (cf. Marcos 6,30-44; 8,1-10). Além disso, não pode
escapar ao nosso olhar que Jesus colocou o pedido pelo pão no centro do
Pai-nosso, no coração de sua oração, de sua conversa com o Pai, síntese do seu
projeto (cf. Lucas 11,2-4; Mateus 6,9-13). Por fim, não é mera coincidência que
também a partilha do pão foi o sinal maior da Boa Nova do Pai, celebrada ao
redor da mesa na santa ceia (Lucas 22,14-20).
Como vimos, Jesus não só não vem de Roma, capital do império, nem de
Jerusalém, capital dos judeus, mas vem de Belém, uma aldeia periférica na
Judeia. Se Belém já é uma aldeia marginal, Jesus nasce ainda mais na exclusão,
nasce numa estrebaria, num estábulo nos arredores de Belém, “porque
não havia lugar para eles na hospedaria” (Lucas 2,7). Ali, seu primeiro
berço foi uma manjedoura, um cocho onde os animais fazem a sua refeição. Também
não é por acaso que o primeiro berço de Jesus é uma vasilha em que se coloca a
comida, o pão cotidiano dos animais. Segundo o relato, os pais de Jesus eram
forasteiros no lugar e não tinham onde pernoitar. É a partir dessa realidade
extrema de marginalidade e de fragilidade, de abandono e de solidão de uma mãe
dando à luz a sua primeira criança, que vem a força do Deus libertador que quer
incluir todas as pessoas de boa vontade em seu reinado de justiça e de paz.
Deus se revela na fragilidade e na ternura de uma criança. Jesus criança é o
rosto humano da ternura de Deus e, ao mesmo tempo, o rosto divino do ser
humano.
Hoje, podemos até concordar que o ambiente natalino respira um ar de
harmonia e de confraternização universal. No entanto, o que se vê, de fato, é
que a celebração do nascimento de Jesus foi manipulada e mascarada pelo mercado
em função do consumismo que legitima relações desiguais, portanto, injustas.
Quantas crianças ficam de fora desse natal do consumismo? Neste sentido, não é
o natal de Jesus um sinal subversivo, ao revelar que Deus está justamente nos
lugares dos quais muitas pessoas fazem questão de passar longe? Não é
revolucionária a estrela da criança de Belém por revelar a solidariedade de
Deus para quem se encontra bem longe, na periferia? Não será que a sociedade
capitalista justamente domesticou o natal de Jesus para manipular a sua força
transformadora de todas as formas de violência e de exclusão? (Ildo Bohn Gass)
Nas cores da experiência
latina…
Tem sido uma constante e uma característica de minhas pinturas esta
multiplicidade de cores e tonalidades. Que a população latino-americana é muito
miscigenada não é novidade para ninguém que já tenha andado por aqui. A grande
base indígena, maior em algumas regiões do que noutras, a colonização ibérica,
a escravidão de africanos e as várias ondas de imigrantes de outros
continentes, sobretudo da Europa, deram origem a uma população heterogênea.
E a variedade é imensa, pois se falarmos em nativos, não são de fato
latino-hispânicos! Não mesmo, são nativos, portanto representando cada país
onde nasceram, e no caso dos Países considerados Latinos nas Américas, os
nativos se diferenciam por grupos ou por raças, não por países em si. No entanto, a cor nativa é sempre com um tom
mais escuro que os considerados brancos, isto por se exporem mais ao ambiente
livre ou ao sol, como característica predominante, pois as raças em si já
possuem em sua genética um cor definida na média. Uma das cores mais difíceis
em um pintura, sempre foi a cor humana.
Desenhos indígenas
pré-colombianos…
Nas laterais da pintura coloquei vários símbolos, vários desenhos
indígenas… Entre os estudiosos da história latino-americana não há acordo sobre
o volume da população indígena no continente antes da chegada de Cristóvão
Colombo. Os dados flutuam entre cem milhões e três milhões habitantes nativos. A
verdade é que a América foi povoada por uma variedade de culturas, símbolos , tradições,
costumes, artes, conhecimento e sabedoria ..., que foram ignorados,
negligenciados e destruídos, principalmente pelos invasores que vieram da
Europa com o seu desejo de riqueza, dominação e sentimentos de uma
superioridade ilusória.
Que a luz da estrela do menino
de Belém ilumine nossos corações, nossos lares e nossos caminhos...
Luís Renato Carvalho de
Oliveira,SJ
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