Mais uma pintura de Nossa Senhora com o menino Jesus.
Creio que nunca me cansarei de pintar este mistério... gostei demais das
palavras: “Após a encarnação, toda a criação é apta para expressar o mistério,
pois nela está encarnado o Filho de Deus.” Nunca será bastante falar, pintar,
rezar, refletir sobre este mistério que nos envolve e envolve o universo.
Gostei demais desta pintura, vou descobrindo tantas possibilidades!!! E vejam
que texto lindo!!!
ÍCONES – UMA JANELA PARA A ETERNIDADE
Pavel Evdokimov, um dos grandes teólogos russos
refugiados na França, definiu o ícone como “uma janela para eternidade”. Não se
olha a janela, mas, pela janela se olha o panorama externo. No caso do ícone,
pela fé o ícone nos abre os olhos e o coração para o eterno ali figurado. O
ícone é sempre dogmático: suas linhas e cores expressam um conteúdo da fé
cristã. O iconógrafo não é livre para pintar os ícones, pois deve obedecer à
linguagem da fé explicitada pela Igreja. Como exemplo: as possibilidades de pintar
um ícone da Natividade do Senhor são quase infinitas, porém, todas elas
necessariamente contém os mesmos traços e cenários. A Verdade é uma, sua
expressão é múltipla.
O ícone é palavra visível, pregação da verdade. Os judeus
tinham uma mentalidade acústica (ouvi dizer, disseram nossos pais, eu vos
digo...). Já os gregos são de mentalidade visiva (contemplar, meditar), donde a
importância teológica e espiritual do ícone: eu vejo uma imagem, através dela
ingresso no eterno, no divino. A Palavra se fez carne (Jo 1,14) é o fundamento
da arte sacra. A Apóstolo João inicia sua Carta declarando que escreve “o que
ouvimos, o que vimos” (1Jo1,1). Com a encarnação, o acústico judeu (ouvimos) se
une ao visivo grego (o que vimos). Essa unidade se dá no Cristo homem e Deus:
falando, se manifesta como imagem do Pai e, ao mesmo tempo, sua Palavra. Após a
encarnação, toda a criação é apta para expressar o mistério, pois nela está
encarnado o Filho de Deus. Toda a matéria utilizada na confecção de um ícone é
matéria santa por natureza. O artista, dando-lhe forma, revela um ângulo do
mistério da fé. Ele não inventa mistérios, e sim, desenha o conteúdo da fé da
Igreja. O Iconógrafo-sacerdote da beleza.
O iconógrafo não é um profissional
que ganha a vida com ícones. Se isso acontecer, estamos apenas diante de uma
obra humana, e não frente a uma obra divina. O iconógrafo pode ser comparado ao
sacerdote que celebra a liturgia: “Ensina com as palavras, escreve com as
letras, pinta com as cores, em conformidade com a tradição; a pintura é
verdadeira como aquilo que está escrito nos livros: ali está presente a graça
de Deus, porque o que é representado é santo” (Simeão o Novo Teólogo, Diálogo
contra as heresias 23). “O sacerdote nos apresenta o Corpo do Senhor com os
ofícios litúrgicos, com a força das palavras. O pintor o faz por meio da
imagem” (Podlinnik – manual russo para os pintores de ícones). Do mesmo modo
que o sacerdote se recolhe em oração antes de celebrar os mistérios, o
iconógrafo autorizado pela Igreja vive um mês de jejum a pão, água e sal,
buscando a purificação interior com a oração e a contemplação do mistério que
irá desenhar. A primeira pincelada é de cor branca, simbolizando a Luz que o
iluminará e dará resplendor ao ícone. Tradicionalmente, o primeiro ícone é o da
Transfiguração do Senhor: assim como o Cristo apareceu em forma luminosa no
Monte Tabor, do mesmo modo o artista transfigurará a criatura para que revele a
Verdade a ser contemplada.
Pe. José Artulino Besen
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