Bonjour, Monsieur Courbet, 1854. A pintura realista de
Gustave Courbet.
O realismo foi um movimento artístico e literário surgido nas
últimas décadas do século XIX na Europa, mais especificamente na França, em
reação ao romantismo. Entre 1850 e 1900 o movimento cultural, chamado realismo,
predominou na França e se estendeu pela Europa e outros continentes. Os
integrantes desse movimento repudiaram a artificialidade do neoclassicismo e do
romantismo, pois sentiam a necessidade de retratar a vida, os problemas e
costumes das classes média e baixa não inspirada em modelos do passado. O
movimento manifestou-se também na escultura e, principalmente, na pintura e em
alguns aspectos sociais
Características
Contexto
histórico
Jean-Baptiste Camille Corot, Jovem Garota Lendo, 1868,
Galeria Nacional de Arte.
Entende-se por "realismo literário" um estilo de
escrita que toma a realidade como princípio orientador de criação artística por
meio da palavra. Neste sentido, o realismo pode ser percebido em texto de
qualquer época, desde as primeiras manifestações da humanidade até hoje; mas,
como movimento relativamente organizado, começou na segunda metade do século
XIX, na França, difundindo-se por todos os países da Europa, com oposição declarada,
ou não, ao sentimento romântico. O movimento realista correspondeu à ascensão
da pequena burguesia. O pensamento filosófico que exerceu mais influência no
surgimento do realismo foi o positivismo. Ao contrário do gosto da alta
burguesia, interessada no jogo vazio das formas artísticas (a "arte pela
arte"), motivou-a uma arte voltada a solução dos problemas sociais, isto
é, uma arte "engajada" de "compromissos", que se colocava
também contra o tradicionalismo romântico e procurava incorporar os descobrimentos
científicos de seu tempo. O naturalismo é uma especie de prolongamento do
realismo. Não chegaram a ser movimentos literários distintos, tanto é que
muitos autores são simultaneamente realistas e naturalistas, sendo o
naturalismo cronologicamente posterior ao realismo. Para muitos, o realismo
representava uma alternativa do que era visto como um isolamento ou mesmo um
elitismo da vanguarda — ponto de vista que ganhou apoio a partir da adoção do
realismo socialista como a forma oficial de arte da União Soviética. Contudo,
outras vozes insistiam em que a vanguarda possuía um papel a exercer no
desenvolvimento de um realismo moderno adequado às condições do século XX.
Realismo não só foi moldado como uma importante escola e
períodos da história da literatura, mas também foi uma constante de toda a
literatura, a sua primeira formulação teórica foi o princípio da mimesis na
Poética de Aristóteles. Em geral, os realistas retratavam temas e situações em
contextos contemporâneos do cotidiano, e tentaram descrever indivíduos de todas
as classes sociais de uma maneira similar. O idealismo clássico, o
emocionalismo romântico e drama foram evitados de forma igual, e muitas vezes
os sórdidos ou não cuidados elementos de temas não foram suavizados ou
omitidos. O realismo social enfatiza a representação da classe trabalhadora, e
os tratam com a mesma seriedade que as outras classes de arte, mas o realismo,
como prevenção a artificialidade, no tratamento das relações humanas e as
emoções também eram um objetivo do realismo. Tratamentos de assuntos de uma
maneira heroica ou sentimental foram igualmente rejeitados.
Paralelismo
com o romantismo
Exemplos de pinturas do romantismo e do realismo
O Beijo (1859), de Francesco Hayez. Exemplar de pintura
romântica
Casa (1889), de Jožef Petkovšek. Exemplar de pintura realista
Embora alguns manuais de literatura estabeleçam uma grande
ruptura entre as propostas estéticas do romantismo e do realismo, acredita-se
que é possível considerar que há um momento de continuidade entre esses dois
importantes momentos na história da literatura. O romantismo conquistou o
direito de registrar e debater os grandes momentos da história nacional dos
países que floresceu; o realismo, a seu modo, amplificou esse interesse e
trouxe a reflexão sobre a realidade social e política para o centro das
narrativas realistas.
O termo realismo foi empregado pela primeira vez em 1850 para
descrever um novo estilo de pintura e logo se difundiu na literatura. Os
realistas literárias de meados do século XIX, foram distinguidos pela sua
rejeição deliberada do romantismo. Os realistas literários queriam lidar com
personagens comuns da vida real, em vez de heróis românticos em ambientes
incomuns. Eles também procuraram evitar línguas floridas e sentimentais por
meio de observação cuidadosa e descrição precisa e abordagem que os levaram a
rejeitar a poesia em favor de prosa e romance. Realistas muitas vezes
combinavam seu interesse na vida cotidiana com uma análise na busca de questões
sociais.
Artes
visuais
O realismo fundou uma escola artística que surgiu no século
XIX em reação ao romantismo e se desenvolveu baseada na observação da realidade
(como contexto social), na razão e na ciência. O realismo, como movimento
artístico do século XIX, que se caracterizava pela oposição ao idealismo das
escolas clássica, romântica e acadêmica, não deve ser confundindo com técnicas
realistas de execução de obras de arte, ou seja, com o esmero do artista em
reproduzir as imagens (em artes plásticas) tal qual as vê na realidade.
Técnicas realistas de pintura e de escultura existem desde, ao menos, a
Antiguidade clássica e foram e continuam sendo utilizadas por diversas escolas
(como, a dos surrealistas).
Como movimento artístico, surgiu na França, e sua influência
se estendeu a numerosos países. Esta corrente aparece no momento em que ocorrem
as primeiras lutas sociais contra o capitalismo progressivamente mais
dominador, ao mesmo tempo em que há um crescente respeito pelo fato
empiricamente averiguado, pelas ciências exatas e experimentais e pelo
progresso técnico. Das influências intelectuais que mais ajudaram no sucesso do
realismo denota-se a reação contra as excentricidades românticas e contra as
suas idealizações da paixão amorosa. A passagem do romantismo para o realismo
corresponde uma mudança do belo e ideal para o real e objetivo.
Pintura
O Enterro em Ornans, de Gustave Courbet, cerca de 1849-50.
Os impressionistas não pintavam temas religiosos, históricos
ou relacionados com o que viesse da imaginação. Na realidade, compartilhavam
muitas de suas ideias com o pintor realista Gustave Courbet. Courbet, porém,
queria pintar a realidade árdua da vida cotidiana, enquanto os impressionistas
se concentravam-se em temas agradáveis, belos ou considerados interessantes.
Para eles, essa era a realidade de sua vida: não tinha nenhuma mensagem social
a transmitir. O historiador Seymour Slive cita que quando se discute o realismo
em relação aos pintores de paisagem é importante especificar que esses artistas
quase nunca pintavam seus quadros em exteriores. A prática de fazer pinturas ao
ar livre só se tornou comum no século XIX. Em épocas anteriores as pinturas de
paisagem eram quase sempre compostas nos ateliês. A França foi o país europeu
que propôs, desenvolveu e alimentou o realismo durante todo o período de sua
permeância na literatura, ou seja, ao longo de toda segunda metade do século
XIX. Segundo Massaud Moisés, as artes plásticas francesas foram a primeira
manifestação contra a estética romântica:
As suas origens situam-se na França e nas artes plásticas:
antes que os literários, os pintores reagiram violentamente contra o
romantismo, a pintura idealista e imaginativa, não raro feita de memória. E
essa reação divisa a primeira característica do realismo. Em 1850 e 1853,
Gustave Courbet (1818-1877) expõe duas obras realistas (O Enterro em Ornans e
As Banhistas), nas quais procura traduzir os costumes, o aspecto de sua época,
faz arte atual.
A primeira característica divisada por Moisés na pintura
daquele momento é justamente a ênfase dada ao "retrato do real",
resultando na insatisfação com a expressão subjetiva e desfocada do inventário
da realidade que os realistas vão propor a partir daí. Principais pintores
realistas:
Jean-François Millet, As Catadoras, 1857.
Édouard
Manet era um artista pivô durante o século XIX. Não só o
seu trabalho crítico foi de princípios realistas, mas sua arte também
desempenhou um papel importante no desenvolvimento do Impressionismo em 1870.
Sua obra-prima, Le déjeuner sur l'herbe (O piquenique no bosque), retrata duas
mulheres, uma nua, e dois homens vestidos desfrutando um tipo de piquenique. Em
consonância com os princípios realistas, Manet baseava todas as figuras de
primeiro plano em pessoas vivendo.
Gustave
Courbet é a figura principal do movimento realista na arte do
século XIX. Na verdade, Courbet usou o termo realismo quando exibia suas obras,
mesmo tendo evitado rótulos. A sinceridade dos realistas em examinar seu
ambiente levou a retratação de objetos e imagens que nos últimos séculos
artistas tinham considerado indignas de representação — os mundanos e triviais
trabalhadores da classe operária e os camponeses, e assim por diante. Além
disso, realistas retratavam essas cenas em uma escala e com uma sinceridade e
seriedade anteriormente reservadas à grande pintura histórica.
Honoré
Daumier trabalhou como balconista de uma livraria, no Palais
Royal, um lugar perfeito para observar todos os passos da vida parisiense. As
pessoas que lá ele observava inspiraram sua carreira posterior de caricatura e
seu interesse em retratar a classe trabalhadora. Ele escolheu retratar a vida
urbana. Era litógrafo assim como pintor e fez muitas litografias para revistas
francesas liberais. Pintores realistas eram muitas vezes políticos radicais que
queriam transmitir opiniões políticas e sociais em suas obras. As caricaturas
de Honoré Daumier, por exemplo, criticaram acidamente a ordem social existente.
Jean-Baptiste
Camille Corot tem sido chamado de o último pintor neoclássico, ele
também tem sido chamado de o primeiro impressionista. Há verdades em ambas as
declarações. Também é verdade que há traços de naturalismo, realismo e
romantismo em suas obras. Ele admirava o estilo mais realista, natural da
pintura de paisagem no início do século dezenove pelo artista, como os pintores
ingleses Richard Bonington e John Constable, que estavam determinados a pintar
o que viam, e que muitas vezes eram pintadas no local, em vez de artisticamente
organizadas paisagens em estúdio.
Jean-François
Millet foi notável por sua interpretação "rigorosamente
sincera" da vida rural. Os camponeses mostrados em sua pintura parecem ser
"homens subjugados pelas forças da Natureza, mas também soberanos em
relação a isso." Millet infundiu sua pintura com uma aura solene,
oferecendo ao realismo um significado diferente, menos provocante, mais calmo
do que o de Coubert.
Théodore Rousseau - Escultura
Cópia de O Pensador, de Auguste Rodin. O original encontra-se
no Museu Rodin, em Paris.
Neste gênero os escultores, assim como os pintores, preferem
temas contemporâneos. Animam-se de intenções políticas e de propósitos
doutrinários. Procuram fazer uma escultura social, ao enaltecer os aspectos
realistas. Na escultura, o grande representante realista foi o Auguste Rodin
(1840-1917), dono de um estilo feito de naturalismo e passionalismo. Era grande
admirador de Donatello e Michelangelo, a principio apreciava os aspectos
naturalísticos e, no segundo, a dramaticidade. O escultor não se preocupou com
a idealização da realidade. Ao contrário, procurou recriar os seres tais como
eles são. Além disso, os escultores preferiam os temas contemporâneos,
assumindo muitas vezes uma intenção política em suas obras. Sua característica
principal é a fixação do momento significativo de um gesto humano. Para Duílio
Battistoni Filho "é difícil julgar Rodin, pois suas obras mais
significativas como O Beijo, O Pensador e Balzac, apresentam sugestões
patéticas góticas, a luminosidade dos impressionistas e a sobriedade dos
gregos". Em resumo: "foi um escultor que valorizou as sensações
imediatas".
Arquitetura
Os arquitetos e engenheiros procuram responder adequadamente
às novas necessidades urbanas, criadas pela industrialização. As cidades não
exigem mais ricos palácios e templos. Elas precisam de fábricas, estações
ferroviárias, armazéns, lojas, bibliotecas, escolas, hospitais e moradias,
tanto para os operários quanto para a nova burguesia.
Teatro
La Dame aux camélias, de Dumas filho (1848).
Com o realismo, problemas do cotidiano das camadas sociais
mais baixas ocupam os palcos. O teatro, inclusive o realista e o naturalista,
era definido pelo fato de que não só ilustrava o que se desviava da melhor
sociedade, mas também suplantava a vida real pela forma do drama. O herói
romântico é substituído por personagens do dia-a-dia e a linguagem torna-se
coloquial. A primeira grande obra dramática realista é A Dama das Camélias, de
fevereiro de 1852, do francês Alexandre Dumas, filho (1824-1895). Essa peça
conta a história de uma cortesã que é regenerada pelo amor, dando ao público a
constatação de um mundo real, observado, sem fantasiosas e lúdicas vivências, e
sim, do dia a dia que explica o comportamento dos personagens apresentados. O
realismo teatral francês apresenta a singularidade de combinar descrição com
prescrição. Assim, em Les Filles de Marbre (1853), por exemplo, Barrière e
Thiboust não se contentam em descrever o universo da prostituição ou os males
que uma prostituta pode causar a um jovem inexperiente. Eles introduzem um
raisonneur — personagem típico da comédia realista — que didaticamente expõe o
pensamento dos autores em relação a esse problema social. Em algumas peças
teatrais como Le Mariage d'Olympe (1855), de Augier; De Demi-monde (1855), de
Dumas Filho; e Dalila (1857), de Feuillet a prostituição é abordada com variações
sobre o mesmo tema. O teatro, tanto naturalista quanto realista, era definido
pelo fato de que não só ilustrava o que se desviava da melhor sociedade, mas também
suplantava a vida real pela forma do drama.
Fora da França, um dos expoentes é o norueguês Henrik Ibsen
(1828-1906), citado como o primeiro grande nome a despontar no realismo. Em
Casa de Bonecas, por exemplo, trata da situação social da mulher. Em obra
Espectros, Ibsen desenvolve um comentário cáustico sobre a moralidade da
sociedade norueguesa da época. O drama foi tratado duramente pelos críticos por
abrir completamente a moral da sociedade ao falar de promiscuidade e doenças
venéreas. São importantes também o dramaturgo e escritor russo Máximo Gorki
(1868-1936), autor de Ralé e Os Pequenos Burgueses, e o alemão Gerhart
Hauptmann (1862-1946), autor de Os Tecelões.
O realismo
na literatura
Motivados pelas teorias científicas e filosóficas da época,
os escritores realistas desejavam retratar o homem e a sociedade em sua
totalidade. Não bastava mostrar a face sonhadora ou idealizada da vida, como
fizeram os românticos; desejaram mostrar a face nunca antes revelada: a do
cotidiano massacrante, do amor adúltero, da falsidade e do egoísmo humano, da
impotência do homem comum diante dos poderosos.
Uma característica do romance realista é o seu poder de
crítica, adotando uma objetividade que faltou ao romantismo. Grandes escritores
realistas descrevem o que está errado de forma natural, ou por meio de
histórias como Machado de Assis. Se um autor desejasse criticar a postura de
alguma entidade, não escreveria um soneto para tanto, porém escreveria
histórias que envolvessem-na de forma a inserir nessas histórias o que eles
julgam ser a entidade e como as pessoas reagem a ela.
Em lugar do egocentrismo romântico, verifica-se um enorme
interesse de descrever, analisar e até em criticar a realidade. A visão
subjetiva e parcial da realidade é substituída pela visão objetiva, sem
distorções. Dessa forma os realistas procuram apontar falhas talvez como modo
de estimular a mudança das instituições e dos comportamentos humanos. Em lugar
de heróis, surgem pessoas comuns, cheias de problemas e limitações. Na Europa,
o realismo teve início com a publicação do romance realista Madame Bovary
(1857) de Gustave Flaubert.
Alguns expoentes do realismo europeu: Gustave Flaubert,
Honoré de Balzac, Eça de Queirós, Charles Dickens.
Realismo no
Brasil
No Brasil, entre as décadas de 1870 e 1880, as formas do
romantismo já se haviam convencionalizado. O culto a natureza, o panegírico da
pátria e o sentimentalismo, dividindo entre os arroubos patéticos e o pudor receoso
despertaram o fastio de alguns jovens poetas. As páticas estéticas românticas,
além do mais, estavam extremamente associadas ao modus vivendi do Segundo
Império, de maneira que sua composição estética nasceria em meio aos anseios de
uma geração, apologista de República e de abolição da escravatura. Antes mesmo
do parnasianismo se instalar com sucesso no Brasil, surgiu uma tendencia
chamada de "realista" na poesia nacional. Naquele tempo,
"realista" significava, antes de tudo, antirromântico, e o modelo
adotado por esses poetas seria Baudelaire, o que teve como resultado o
empréstimo de alguns expedientes de As Flores do Mal pelos poetas brasileiros.
Assim, em 1881, houve um marco na literatura no Brasil, Aluísio Azevedo publica
O Mulato (primeiro romance naturalista brasileiro) e Machado de Assis publica
Memórias Póstumas de Brás Cubas (primeiro romance realista do Brasil).
De Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas,
Fundação Biblioteca Nacional.
Machado de Assis foi um grande crítico e escritor do realismo
e também do romantismo no Brasil, suas principais obras foram: Memórias
Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba e Dom Casmurro. No artigo "Instinto
de Nacionalidade" (1899), Machado critica o principal ponto de honra do
romantismo brasileiro: o tema nacionalista. Ele vai dizer, em poucas palavras,
que para ser brasileiro não é necessário falar sempre de imagens nacionalistas
ou de símbolos — como a natureza exuberante do Brasil, ou mesmo a figura do
índio como marca nacional. Em relação ao realismo, Machado sempre se manteve
alheio aos preceitos explícitos da Escola. Para Carlos Fuentes, a produção de
Machado de Assis é um verdadeiro milagre no contexto limitado do realismo
latino-americano, pois:
O romance oitocentista hispano-americano, ao contrário, não
se atreve a abandonar um preceituário que constitui o enganoso chamariz da
modernidade: primeiro o romantismo, depois o realismo, por fim o naturalismo. O
romantismo, escreve Machado de Assis, é um cavaleiro que estafou o seu próprio
corcel "a tal, ponto que o foi preciso deixá-lo à margem, onde o realismo
o veio achar, comido de lazeira e vermes, e, por compaixão, o transportou para
seus livros". As informações absurdas do período das independências
pautaram-se em uma civilização Nescafé: poderíamos ser instantaneamente
modernos abolindo o passado, negando a tradição. O gênio de Machado reside no
contrário: não há criação sem tradição que a nutra, assim como não há tradição
sem criação que a renove.
Desde o seu início, o realismo brasileiro foi sobre tudo
urbano, no mais das vezes retratando a vida na cidade do Rio de Janeiro, como
já fazia em pleno romantismo, um precursor do realismo, Manuel Antônio de
Almeida (1831-1861). A novela de Manuel Antônio de Almeida ocupa um lugar especial
no cenário da ficção romântica brasileira, graças à sua originalidade, seu
único romance, Memórias de um Sargento de Milícias, publicado em 1852-53 sob a
forma de folhetins, difere em muitos aspectos dos romances comumente publicados
em folhetins do século XIX, o que explica sua franca popularidade na época, e
sua maior aceitação na posteridade. Suas narrações ganharam um caráter cômico
e, ao mesmo tempo, observador, que o aproxima muito do realismo, mas com
características arcaicas. Por essas razões Manuel Antônio de Almeida é
considerado um escritor em transição do romantismo para o realismo. Embora
ainda pertencendo à época romântica e não podendo ser consideradas realistas em
sentido escrito, as Memórias são, de acordo com Alfredo Bori, "de franca
aderência à realidade média", então "isentas de qualquer traço
idealizante" e recorrem a um "método objetivo de composição".
Nas ultimas décadas do século XIX, observa-se que os
escritores passaram a demostrar uma preocupação com uma descrição mais
detalhada dos costumes orientais, sob manifestações humanas, tais como gestos,
palavras e atitudes, e, procuraram apresentar também, animais e árvores dentro
de paisagens típicas. Com o declínio da poesia romântica e sob influência do
realismo, apareceu o movimento parnasianista que repudiou a expressão do Eu. Os
princípios dessa escola impuseram a impersonalidade, o cuidado artístico e os
poetas passaram a prender-se mais ainda que Vitor Hugo, ao esplendor do estilo,
à riqueza das rimas.
Leconte de Lisle, que foi uma das figuras mais influentes
desse movimento no Brasil, apresentou quadros com precisão impressionante,
resultados da observação direta e de informações tiradas da arqueologia ou da
história natural. Sob a sua influência, e de Gustave Flaubert, Olavo Bilac fez
sonetos sobre crenças religiosas que foram conhecidas sucessivamente pela
humanidade e sobre costumes de civilizações antigas. Bilac descreveu os países
exóticos e suas religiões em "A Missão de Purna", como havia feito
Leconte de Lisle em "Les Paraboles de Dom Guy" e
"Djihan-Ara". Provavelmente sobre a influência de Salombo de
Flaubert, escreveu "Delenda Cartago" e "Panoplias" onde fez
uso de cores e imagens do poeta francês.
Realismo em
Portugal
Antecedentes
Os críticos e historiadores identificaram três diferentes
momentos na literatura portuguesa romântica. O primeiro momento é de introdução
das novas ideias. Ele se personifica nas figuras de Almeida Garrett, Alexandre
Herculano e António Feliciano de Castilho. Os três escritores foram aqueles que
implementaram a semente da nova estética, mas que permaneceram bastante ligados
às velhas concepções, ainda embebidos da mentalidade árcade. O segundo momento
ficou conhecido como Ultrarromantismo, período de ápice da estética romântica,
quando se afirma o nome de, entre outros autores, Camilo Castelo Branco. Na
poesia, o Ultrarromantismo viu surgir poetas como Soares de Passos, que
produziram composições marcadas pelo exacerbamento amoroso e pelo exagero
sentimental e subjetivo. O terceiro e ultimo momento do romantismo é aquele que
assiste à transição para o realismo. O marco para estas passagens é a polêmica
literária que ficou conhecida como "A Questão Coimbrã" ou a
"Questão do Bom Senso e do Bom Gosto".[40] O Ultrarromantismo
português desenvolveu-se em torno da cidade do Porto e de Coimbra com origem
através da prosa de Camilo Castelo Branco, e o poeta típico Soares de Passos.
Sua obra Ultrarrealista era considerada 'piegas'. "Noivado do Sepulcro"
(Poesias, 1855), uma balada funérea, completamente distante da realidade
portuguesa era a obra mais executada nos saraus da literários da época. Viam-na
como um modismo importado desprovido de qualquer sentido artístico.
Surgimento
Introdutores do movimento realista em Portugal
Eça de Queirós
Antero de Quental
A primeira manifestação do realismo literário em Portugal
deu-se inicialmente após 1865, devido à polêmica Questão Coimbrã e às Conferências
do Casino, como resposta à artificialidade, formalidade e aos exageros do
romantismo de uma sentimentalidade mórbida. Nas palavras de Teófilo Braga “a
dissolução do romantismo”. Nela se manifestaram pela primeira vez as novas
ideias e o novo gosto de uma geração contemporânea que reagia contra o marasmo
em que tinha caído o romantismo. Eça de Queirós é apontado, junto a Antero de
Quental, como o autor que introduz este movimento no país junto ao naturalismo,
sendo o romance social, psicológico e de tese a principal forma de expressão.
Antero de Quental era o líder dos jovens poetas coimbreses, ele respondeu o
texto de António Feliciano de Castilho, que com seu livro Poema da Mocidade
(1865) fazia um posfácio com duras alusões à geração de jovens da Universiade
de Coimbra — especialmente ao próprio Antero, a Teófilo Braga e Vieira de
Castro — com o texto da polêmica do Bom Senso e Bom Gosto. Já o realismo
literário de Eça de Queirós no romance O Crime do padre Amaro faz uma crítica
violenta a vida social portuguesa, denuncia a corrupção do clero e da
hipocrisia dos valores burgueses. Com exceção de Teófilo Braga, que permaneceu
fiel à filosofia positivista, os realistas evoluíram de uma posição de crítica
radical para uma visão mais humanistas das artes e da literatura.
O segundo episódio verificou-se em 1871 nas Conferências do
Casino (ou Conferências Democráticas do Casino). Nessa nova manifestação da
chamada Geração de 70, os contornos do que seria o realismo apareceram desenhados
com maior nitidez, especialmente através da conferência realizada por Eça de
Queirós intitulada O realismo como nova expressão da arte. Sob a influência do
Cenáculo, e da sua figura central, Antero de Quental, Eça funde as teorias de
Taine, do determinismo social e da hereditariedade com as posições
estético-sociais de Proudhon. Atacando o estado das letras nacionais e propôs
uma nova arte, uma arte revolucionária, que respondesse ao "espírito dos
tempos" (zeitgeist), uma arte que agisse como regeneradora da consciência
social, que pintasse o real sem floreados. Para Eça só uma arte que mostrasse
efectivamente como era a realidade, mesmo que isso implicasse entrar em campos
sórdidos, poderia fazer um diagnóstico do meio social, com vista à sua cura. Assim
reagia contra o espírito da arte pela arte, visando mostrar os problemas morais
e assim contribuir para aperfeiçoar a Humanidade. Com este cientificismo, Eça
de Queirós já situava o realismo na sua posição extrema de naturalismo.
Houve reações: Pinheiro Chagas atacou Eça. Luciano Cordeiro
argumentou que ele próprio já tinha defendido posições parecidas.
Implementação cultural
A implantação efetiva do realismo dá-se com a publicação do O
Crime do Padre Amaro, seguida, dois anos mais tarde, pelo O Primo Basílio,
obras ambas de Eça, que são caracterizadas por métodos de narração e descrição
baseados numa minuciosa observação e análise dos tipos sociais, físicos e
psicológicos, aparecendo os factores como o meio, a educação e a hereditariedade
a determinarem o carácter moral das personagens. São romances que têm afinidade
com os de Émile Zola, com o intuito de crítica de costumes e de reforma social.
O primeiro desses romances foi acolhido pelos críticos de
então com um silêncio generalizado. O segundo provocou escândalo aberto. E a
polêmica e a oposição entre realismo e romantismo estala definitivamente.
Pinheiro Chagas ataca Eça considerando-o antipatriota, pelo modo como apresenta
a sociedade portuguesa. Chegaram a aparecer panfletos acusando os realistas de
desmoralização das famílias (Carlos Alberto Freire de Andrade: A escola
realista, opúsculo oferecido às mães).
Camilo Castelo Branco parodiou o realismo com Eusébio Macário
(1879) e voltou a parodiar com A Corja (1880). Mas curiosamente, mesmo através
da paródia, Camilo absorveu a nova escola, como é nítido na novela A Brasileira
de Prazins. (1882).
Entretanto o paladino do realismo, Eça, desorientou os seus
seguidores ortodoxos com a publicação de O Mandarim. O que faz com que Silva
Pinto (1848-1911) que tinha exposto a teoria da escola realista e elogiado Eça
num panfleto intitulado Do Realismo na Arte, vai agora atacar Eça em Realismos,
ridicularizando o novo estilo deste. Reis Dâmaso, na Revista de Estudos Livres
vai-se insurgir contra a publicação de O Mandarim acusando Eça de ter
atraiçoado o movimento. Estas acusações não eram infundadas porque de facto Eça
já estava a descolar de um realismo ortodoxo para o seu estilo mais pessoal
onde o seu humor e a sua fantasia se aliam num estilo único.
Desde a implantação do realismo com a conferência de Eça, o
movimento logrou um núcleo de apoiantes que se desmultiplicaram em explicar e
defender o seu credo estético. Esse núcleo resvalou, em geral, para uma posição
mais extremadamente Realista, o naturalismo, tornando-se ortodoxo e dogmático.
Os defensores dessa posição são José António dos Reis Dâmaso (1850-1895) e
Júlio Lourenço Pinto (1842-1907) autor da Estética naturalista, que pretendia
ser um evangelho do naturalismo. No entanto esses dois autores são fracos do
ponto de vista literário e totalmente esquecidos hoje em dia.
Aqueles que não enveredaram por posições tão rígidas estão
menos esquecidos, como Luís de Magalhães, que nos deixou O Brasileiro Soares
(1886), livro prefaciado por Eça. Outros nomes são Trindade Coelho, Fialho de
Almeida e Teixeira de Queirós.
Por volta de 1890 o realismo/naturalismo tinha perdido o seu
ímpeto em Portugal. Em 1893, o próprio Eça o declarava morto nas Notas
Contemporâneas: “o homem experimental, de observação positiva, todo
estabelecido sobre documentos, findou (se é que jamais existiu, a não ser em
teoria).
Embora por vezes doutrinariamente fraco e/ou confuso o
realismo em Portugal apresenta-se por isso mesmo, mais do que um movimento consistente,
como uma tendência estética, um sentir novo, que se opôs ao idealismo e ao
romantismo. A sua consequência mais importante foi a introdução em Portugal às
influências estrangeiras nos vários domínios do saber. Alargando as escolhas
literárias e renovando um meio literário que estava muito fechado sobre si
mesmo.
Continuidade e repercussão
Neorrealismo
italiano
Captura de uma das cenas de Roma, Cidade Aberta (1945).
O período do pós-guerra na Itália fez com que vários
cineastas começassem a trabalhar com o objetivo de revelar as condições sociais
contemporâneas. Essa tendencia tornou-se conhecida como movimento neorrealista
(1942 — 1951). O cinema rodado com atores apanhados pelas ruas, a realidade
fixada sem manipulações e sem preconceitos: essas são algumas fórmulas dentro
das quais se tentou sintetizar a experiência do cinema neorrealista italiano.
De fato, um dos pontos fortes do neorrealismo foi a capacidade de assimilar e
adaptar à realidade italiana modelos cinematográficos e literários diferentes,
num clima de frenética atualização vivida, como a reação ao fechamento da
cultura fascista. Entretanto, as esperanças de florescimento foram
desaparecendo. Entre as causas, a restauração política pós-eleições de 1948.
Ela solidificou o polo conservador representado pela Democracia Cristã, que não
favorecia um cinema de oposição. Com a exibição de Roma, Città Aperta, em
setembro de 1945, o cinema passa a ocupar um papel de destaque na cultura
italiana do pós-guerra. O protagonista desse renascimento do cinematográfico é
o neorrealismo. Luchino Visconti atribui a paternidade do termo a Mario
Serandrei, que o havia empregado ao se referir a Ossessione (1943), do qual
fora montador: "Não sei como poderia definir esse tipo de cinema se não
com o epíteto de 'neo-realístico'". Segundo outros autores, teria sido
cunhado pelo crítico Umberto Barbaro, que o havia usado ao resenhar o filme
Quai des Brumes, de Marcel Carné, na revista Film, a 5 de junho de 1943. O
nome, dessa forma, nascia dois anos antes do que o próprio fenômeno. Esses dois
anos, entretanto, são importantes para o amadurecimento do neorrealismo, em
face dos eventos que se sucederam na península itálica.
Uma questão que tem sido debatida nos campos das artes e das
ciências, mas que para o cinema em específico tornou-se primordial com o
surgimento do neorrealismo italiano após a Segunda Guerra Mundial, foi a de
"como conseguir aprender o real"? Para os cineastas que desejavam
narrar a experiência do mundo esfacelado do pós-guerra e configurado em termos
maniqueístas entre potências do Ocidente e do mundo soviético, era fundamental
criar outras formas de produção fora do padrão do grande cinema industrial e da
narrativa clássica, porque ela correspondia valores do mundo em que não se
acreditava mais.[53] No campo das artes, de acordo com Parente, "nenhum
artista se achava abstrato, ilusionista, quimérico, fantasioso": o que
diferencia e o que muda no trabalho dos artistas seria apenas a realidade. No
cinema direto, essa questão estava ligada à necessidade de empregar uma técnica
e métodos que interferissem pouco no real, tal como os procedimentos adotados
em documentário, no qual o som é sincronizado. Para ele, o rela não tem duplo,
no sentido de que ele é singular, ou seja, é um conjunto de acontecimentos não
representativos e de objetos não identificáveis.
Realismo socialista
Na Extensão Azul (1918), de Arkady Rylov.
O realismo socialista é a linguagem estética adotada
oficialmente desde os anos trinta pelos governos da antiga União Soviética e de
outros países comunistas. Por ocasião do Primeiro Congresso de Todos os
Sindicatos dos Escritores Soviéticos, realizado em Moscou em 1934, declarou-se
que o realismo socialista deveria ser o estilo artístico oficial da União
Soviética. Congressos semelhantes designados às outras artes seguiram-se a ele,
proclamando que o realismo socialista era também o único tipo de arte
aceitável. A produção de uma arte de propaganda ligada à ideologia
revolucionária e facilmente apreensível pelas massas foi encorajada pelo Comité
Central do partido bolchevique desde os primeiros anos após a Revolução de
Outubro. A partir de 1917, o governo comunista estava exercendo cada vez mais a
centralização e controle da produção cultural, procedendo então à
nacionalização dos museus e das coleções de arte privadas. A partir de 1934,
todos os artistas tiveram de fazer parte do Sindicato dos Artistas Soviéticos
controlado pelo Estado e de criar obras segundo o modelo aceito. O realismo
socialista, fundado sobre regras gramaticais rígidas e limitadas, abrangia um
espectro temático que incluía cenas populares, paisagens rurais e urbanas, a representação
de atividades cotidianas do proletariado ou do Exército Vermelho e o retrato
(geralmente dos grandes dirigentes e dos heróis da revolução).
Os três princípios condutores do realismo socialista foram a
lealdade ao partido (partiinose), a apresentação de uma ideologia correta
(ideinost) e a acessibilidade (narodnost). O mérito artístico era determinado
pelo grau com que uma obra contribuísse para a construção do socialismo; aquela
que não contribuísse tais requisitos era descartada. Confrontados com este
brutal processo de limitação da liberdade de expressão, grande parte dos
artistas ligados aos movimentos de vanguarda (como o construtivismo, o
raionismo e o suprematismo), pioneiros na produção de uma arte nova, ligada ao
nascimento da União Soviética e ao processo revolucionário, foram levados à
emigração. Entre estes contavam-se Marc Chagall, Naum Gabo (1890-1977), Wassily
Kandinsky, Antoine Pevsner (1886-1962). Este movimento destinava-se a
glorificar o Estado e a celebrar a superioridade de uma nova sociedade sem
classes que estava sendo construída pelos soviéticos. O realismo de socialista
de 1930 estendeu o principio da partiinost "a todo domínio da
cultura", como observou Henri Arvon, reduzindo portanto os artistas e
escritores à condição de "espectadores dóceis explicando as decisões
políticas do Comitê Central e dos déspotas do partido".
Recepção
O realismo clássico prevaleceu sobre as demais perspectivas
até meados de 1970. Nessa década, houve uma reação face às concepções teóricas
tradicionais, por não mais refletirem o cenário internacional. A influência do
neorrealismo italiano na inspiração da cinematografia de vários diretores
iranianos, inclusive Abbas Kiarostami e Makhmalbaf, fica claro no depoimento de
Kiarostami, em 1999:
O cinema italiano mostrou-nos direta e claramente pessoas nas
suas vidas normais, e eu pensei: "até o meu vizinho pode ser herói de um
filme, o meu pai pode ser o centro de um filme". O neorrealismo teve um
grande efeito sobre mim também porque eu era muito novo (quinze anos).
Nenhum comentário:
Postar um comentário